Ouvi, finalmente, a entrevista de Ana Manso. Reconheço que a entrevistada foi correcta, serena e, aqui e ali, pertinente. E, nalguns casos, tem mesmo razão. Longe parecem estar os tempos de uma Ana Manso demasiado frenética. Está mais calma, reflecte mais e já não tem o coração ao pé da boca. O calcanhar de Aquiles dela (do PSD e de parte do PS) é mesmo a falta de um discurso sobre a cultura. Que política cultural ela defende? Ninguém sabe. Perante a insistência do entrevistador ela não conseguiu dizer o que mudava na gestão dos equipamentos culturais. Não é preciso que os políticos saibam de todos os assuntos, mas é necessário que tenham a humildade suficiente para o admitir e de se rodearem de colaboradores que tenham alguma ideia acerca do assunto.Por outro lado, só por puro marketing percebo que a Rádio Altitude declare até à exaustão que Manso pode ser candidata à Câmara da Guarda. Ela limitou-se a responder a uma pergunta como outro militante o faria, dizendo que o futuro só a Deus pertence e que não viraria as costas ao partido. Mas a auto-promoção dos órgãos de informação "obriga-os" a empolarem situações ou a criarem factos (ela não anunciou nada, respondeu a uma pergunta que já continha meia resposta. Ela só podia dar aquela resposta ou... acham expectável que ela dissesse, tendo a posição que tem, que voltava costas a uma obrigação de todos os militantes?!!!) que, num processo de frenesim a que ninguém resiste, serão comentados e recomentados. Neste caso, os comentários foram de João Prata e Virgílio Bento - os dois, com uma correcção indesmentível- e também por essa sumidade da análise política que dá pelo nome de Curto, agora catapultado pelo Rádio Altitude à condição de estrela (embora decadente) das ondas hertzianas. Claro que este Curto não desperdiçou a oportunidade de espetar umas farpas a Valente e ao seu (dele, Curto) "ódio de estimação", Maria do Carmo, fingindo, ao mesmo tempo, elogiar o espírito de lutadora de Manso. Quem não o perceba que o "compre"! O Rádio conhecia-o e, no entanto, "comprou-o".Resumindo: Manso esteve bem como entrevistada, mas de tudo o que disse a Rádio aproveitou uma resposta (não poderia haver outra) que pudesse alimentar um processo de auto-promoção. Ou seja, estamos perante um caso de autofagia jornalística. Porém, paradoxalmente, ninguém pode negar que Manso não admitiu estar disponível para uma terceira corrida! O director do Rádio, que também conduziu a entrevista, sabe disto melhor que ninguém. Não resistiu a criar um facto político que, noutras circunstâncias, não teria qualquer importância. Facto político aproveitado a favor do Rádio mas não de Ana Manso. Logo a seguir o mesmo rádio lembrou que João Prata dissera já o mesmo que Ana.A voragem, o frenesim e o sensacionalismo são muito difíceis de evitar. São...uma tentação.
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Ouvi, finalmente, a entrevista de Ana Manso. Reconheço que a entrevistada foi correcta, serena e, aqui e ali, pertinente. E, nalguns casos, tem mesmo razão. Longe parecem estar os tempos de uma Ana Manso demasiado frenética. Está mais calma, reflecte mais e já não tem o coração ao pé da boca. O calcanhar de Aquiles dela (do PSD e de parte do PS) é mesmo a falta de um discurso sobre a cultura. Que política cultural ela defende? Ninguém sabe. Perante a insistência do entrevistador ela não conseguiu dizer o que mudava na gestão dos equipamentos culturais. Não é preciso que os políticos saibam de todos os assuntos, mas é necessário que tenham a humildade suficiente para o admitir e de se rodearem de colaboradores que tenham alguma ideia acerca do assunto.Por outro lado, só por puro marketing percebo que a Rádio Altitude declare até à exaustão que Manso pode ser candidata à Câmara da Guarda. Ela limitou-se a responder a uma pergunta como outro militante o faria, dizendo que o futuro só a Deus pertence e que não viraria as costas ao partido. Mas a auto-promoção dos órgãos de informação "obriga-os" a empolarem situações ou a criarem factos (ela não anunciou nada, respondeu a uma pergunta que já continha meia resposta. Ela só podia dar aquela resposta ou... acham expectável que ela dissesse, tendo a posição que tem, que voltava costas a uma obrigação de todos os militantes?!!!) que, num processo de frenesim a que ninguém resiste, serão comentados e recomentados. Neste caso, os comentários foram de João Prata e Virgílio Bento - os dois, com uma correcção indesmentível- e também por essa sumidade da análise política que dá pelo nome de Curto, agora catapultado pelo Rádio Altitude à condição de estrela (embora decadente) das ondas hertzianas. Claro que este Curto não desperdiçou a oportunidade de espetar umas farpas a Valente e ao seu (dele, Curto) "ódio de estimação", Maria do Carmo, fingindo, ao mesmo tempo, elogiar o espírito de lutadora de Manso. Quem não o perceba que o "compre"! O Rádio conhecia-o e, no entanto, "comprou-o".Resumindo: Manso esteve bem como entrevistada, mas de tudo o que disse a Rádio aproveitou uma resposta (não poderia haver outra) que pudesse alimentar um processo de auto-promoção. Ou seja, estamos perante um caso de autofagia jornalística. Porém, paradoxalmente, ninguém pode negar que Manso não admitiu estar disponível para uma terceira corrida! O director do Rádio, que também conduziu a entrevista, sabe disto melhor que ninguém. Não resistiu a criar um facto político que, noutras circunstâncias, não teria qualquer importância. Facto político aproveitado a favor do Rádio mas não de Ana Manso. Logo a seguir o mesmo rádio lembrou que João Prata dissera já o mesmo que Ana.A voragem, o frenesim e o sensacionalismo são muito difíceis de evitar. São...uma tentação.