O valor das ideias: Virginia: veteranos, metro-Washington e afro-americanos

29-09-2009
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(mapas criados por Jay Cost, disponíveis no seu blogue)Sendo indisputável que as sondagens anteriores às convenções e escolhas dos VPs indicavam um empate técnico, num estado que apenas por duas vezes não escolheu maioritariamente o GOP em eleições presidenciais, o potencial existente para uma vitória de Barack Obama está repeleto de minas. Este é claramente um caso difícil de prever, e contrariamente às sugestões dos amigos José Gomes André e Nuno Gouveia aqui, parece-me que Tim Kaine, Jim Webb e Mark Warner não são necessariamente exemplos extrapoláveis. Olhando para o resultado de Jim Webb na corrida para o Senado de 2006, o que os números me sugerem é que esta repousou em dois vectores: numa muito ampla margem de vitória na área metropolitana de Washington (cerca de 15 pontos percentuais) e numa vitória (por 3 pontos) na área metropolitana de Virginia Beach. Cerca de 20% da população em idade de votar nesta área é formada por veteranos. Jim Webb é ele próprio um veterano e ganhou 42% do veteran vote. John Kerry só ganhou 36% desses votos em 2004, e perdeu por 6 pontos na área de Virginia Beach. A vitória de Jim Webb na corrida para o Senado pode assim ter dependido de um factor com que Barack Obama não pode contar. Em sentido inverso, importa notar que a presença de Joe Biden no ticket, pode ser apelativa para alguns veteranos de guerra. Mas, por instinto apenas, tenho dúvidas que Obama não tenha um score efectivamente pior que o de Kerry neste grupo. Porquê? O seu oponente, John McCain, é um homem cujo principal argumento para ser presidente reside precisamente em ser um veterano do Vietname, um antigo POW, um "American Hero". A convenção republicana não se cansou de exaltar isso mesmo. Por isso, se há estado em que me parece que aquela verdadeira parada militar que foi a RNC pode produzir efeitos é a Virginia, com as suas bases navais e os seus veteranos.As primárias democratas, em que Obama ganhou a Hillary por 63%-35%, sugerem, contudo, que existem oportunidades para Obama na Virginia. Mas dependem criticamente de dois factores:1) Além da área metropolitana de Washington, Obama teve um enorme sucesso nas primárias em zonas do sul e do este da Virginia, como Richmond, Virginia Beach e Danville. O segredo desse facto teve muito a ver com a afluência às urnas da população afro-americana. As exit polls estimaram que 42% do voto em Obama nas primárias da Virginia foi proveniente de afro-americanos. A sobreposição do mapa eleitoral das primárias e da distribuição de afro americanos pelo Estado revela que este facto não é negligenciável. O primeiro dos mapas acima mostra essa distribuição demográfica pelos counties da Virginia, e o segundo os resultados por county das primárias democratas.Em 2004, cerca de 20% do voto presidencial na Virginia era afro americano (o que está em proporção da representação dos afro americanos no estado: 19,9% a dados de 2006). Se a 4 de Novembro Obama conseguir uma representação desse mais nítida, digamos, com Jay Cost, 25%?) espera-se que tenha reais chances no Estado.2) Obama precisa também, o que porventura não será mais complexo, de melhorar as margens de vitória de Kerry na zona de Washington. Kerry venceu por cerca de 6 pontos. Note-se que mesmo que tivesse tido um resultado três vezes melhor continuava a ter perdido o Estado. Mas se Obama conseguir uma performance em Washington próxima da de Jim Webb e conseguir o aumento da participação afro-americana no proceso eleitoral, a Virginia poderá, pela terceira vez na história cair na coluna democrata.Importa dizer, que as fontes da campanha de Obama, de acordo com notícias recentes, estão satisfeitas com o registo de novos eleitores na Virginia. Fala-se no registo de 28000 novos eleitores em Junho, 36500 em Julho e 49000 em Agosto. O objectivo traçado de 150000 novos eleitores registados até ao início de Outubro parece possível (adicionalmente aos 142000 que se registaram durante as primárias). A campanha revela que o perfil demográfico dos eleitores registados em Agosto (em que 40% têm no máximo 25 anos de idade) os deixa encorajados. O número foi pensado tendo em conta que se espera que 75% dos novos eleitores compareçam às urnas, que 80% votem em Obama (ver mais detalhes).Em síntese, a estrutura militar presente na Virginia, o elevado número de veteranos e a forte tradição de voto republicano do estado tornam este um desafio apreciável para Obama. Contudo, a perspectiva de uma boa performance na área metropolitana de Washington, o registo de novos eleitores e a mobilização da população afro americana criam um nicho de oportunidade. Não é, contudo, fácil. Se tivesse que adivinhar, eu seria menos optimista que os 40% de chances que o José Gomes André atribui a Obama. Mas o seu argumento e o do Nuno Gouveia são válidos: a Virginia está este ano em disputa, e pelo menos até à RNC, estava longe de estar perdida para os democratas.A jeito de conclusão, permitam-me dizer que quando neste blogue defendi a escolha de Tim Kaine como VP de Obama, tinha em mente entre outras coisas (como o seu excelente potencial na comunidade hispânica) o empurrão adicional que ele poderia dar para Obama vencer o estado. É certo que os VPs têm progressivamente menos um peso geográfico, mas Kaine parecia poder inverter a regra que vigora desde LBJ: ele foi capaz de ganhar na área metropolitana de Richmond, coisa que nem Jim Webb conseguiu. Em todo o caso, nem Webb, nem Kerry nem Kaine foram capazes de ganhar na zona Oeste da virginia, mais rural e com pequenas cidades. Obama foi aí trucidado por HRC nas primárias, e previsivelmente, sê-lo-á também nas eleições de Novembro. As cultural wars de Sarah Palin têm aí chão fértil. Se Obama tiver uma chance real na Virginia as sondagens deverão prever sempre algo próximo de um empate até então. O risco é se McCain surge pós RNC, com um bounce grande no Estado, em função do seu passado militar.


(mapas criados por Jay Cost, disponíveis no seu blogue)Sendo indisputável que as sondagens anteriores às convenções e escolhas dos VPs indicavam um empate técnico, num estado que apenas por duas vezes não escolheu maioritariamente o GOP em eleições presidenciais, o potencial existente para uma vitória de Barack Obama está repeleto de minas. Este é claramente um caso difícil de prever, e contrariamente às sugestões dos amigos José Gomes André e Nuno Gouveia aqui, parece-me que Tim Kaine, Jim Webb e Mark Warner não são necessariamente exemplos extrapoláveis. Olhando para o resultado de Jim Webb na corrida para o Senado de 2006, o que os números me sugerem é que esta repousou em dois vectores: numa muito ampla margem de vitória na área metropolitana de Washington (cerca de 15 pontos percentuais) e numa vitória (por 3 pontos) na área metropolitana de Virginia Beach. Cerca de 20% da população em idade de votar nesta área é formada por veteranos. Jim Webb é ele próprio um veterano e ganhou 42% do veteran vote. John Kerry só ganhou 36% desses votos em 2004, e perdeu por 6 pontos na área de Virginia Beach. A vitória de Jim Webb na corrida para o Senado pode assim ter dependido de um factor com que Barack Obama não pode contar. Em sentido inverso, importa notar que a presença de Joe Biden no ticket, pode ser apelativa para alguns veteranos de guerra. Mas, por instinto apenas, tenho dúvidas que Obama não tenha um score efectivamente pior que o de Kerry neste grupo. Porquê? O seu oponente, John McCain, é um homem cujo principal argumento para ser presidente reside precisamente em ser um veterano do Vietname, um antigo POW, um "American Hero". A convenção republicana não se cansou de exaltar isso mesmo. Por isso, se há estado em que me parece que aquela verdadeira parada militar que foi a RNC pode produzir efeitos é a Virginia, com as suas bases navais e os seus veteranos.As primárias democratas, em que Obama ganhou a Hillary por 63%-35%, sugerem, contudo, que existem oportunidades para Obama na Virginia. Mas dependem criticamente de dois factores:1) Além da área metropolitana de Washington, Obama teve um enorme sucesso nas primárias em zonas do sul e do este da Virginia, como Richmond, Virginia Beach e Danville. O segredo desse facto teve muito a ver com a afluência às urnas da população afro-americana. As exit polls estimaram que 42% do voto em Obama nas primárias da Virginia foi proveniente de afro-americanos. A sobreposição do mapa eleitoral das primárias e da distribuição de afro americanos pelo Estado revela que este facto não é negligenciável. O primeiro dos mapas acima mostra essa distribuição demográfica pelos counties da Virginia, e o segundo os resultados por county das primárias democratas.Em 2004, cerca de 20% do voto presidencial na Virginia era afro americano (o que está em proporção da representação dos afro americanos no estado: 19,9% a dados de 2006). Se a 4 de Novembro Obama conseguir uma representação desse mais nítida, digamos, com Jay Cost, 25%?) espera-se que tenha reais chances no Estado.2) Obama precisa também, o que porventura não será mais complexo, de melhorar as margens de vitória de Kerry na zona de Washington. Kerry venceu por cerca de 6 pontos. Note-se que mesmo que tivesse tido um resultado três vezes melhor continuava a ter perdido o Estado. Mas se Obama conseguir uma performance em Washington próxima da de Jim Webb e conseguir o aumento da participação afro-americana no proceso eleitoral, a Virginia poderá, pela terceira vez na história cair na coluna democrata.Importa dizer, que as fontes da campanha de Obama, de acordo com notícias recentes, estão satisfeitas com o registo de novos eleitores na Virginia. Fala-se no registo de 28000 novos eleitores em Junho, 36500 em Julho e 49000 em Agosto. O objectivo traçado de 150000 novos eleitores registados até ao início de Outubro parece possível (adicionalmente aos 142000 que se registaram durante as primárias). A campanha revela que o perfil demográfico dos eleitores registados em Agosto (em que 40% têm no máximo 25 anos de idade) os deixa encorajados. O número foi pensado tendo em conta que se espera que 75% dos novos eleitores compareçam às urnas, que 80% votem em Obama (ver mais detalhes).Em síntese, a estrutura militar presente na Virginia, o elevado número de veteranos e a forte tradição de voto republicano do estado tornam este um desafio apreciável para Obama. Contudo, a perspectiva de uma boa performance na área metropolitana de Washington, o registo de novos eleitores e a mobilização da população afro americana criam um nicho de oportunidade. Não é, contudo, fácil. Se tivesse que adivinhar, eu seria menos optimista que os 40% de chances que o José Gomes André atribui a Obama. Mas o seu argumento e o do Nuno Gouveia são válidos: a Virginia está este ano em disputa, e pelo menos até à RNC, estava longe de estar perdida para os democratas.A jeito de conclusão, permitam-me dizer que quando neste blogue defendi a escolha de Tim Kaine como VP de Obama, tinha em mente entre outras coisas (como o seu excelente potencial na comunidade hispânica) o empurrão adicional que ele poderia dar para Obama vencer o estado. É certo que os VPs têm progressivamente menos um peso geográfico, mas Kaine parecia poder inverter a regra que vigora desde LBJ: ele foi capaz de ganhar na área metropolitana de Richmond, coisa que nem Jim Webb conseguiu. Em todo o caso, nem Webb, nem Kerry nem Kaine foram capazes de ganhar na zona Oeste da virginia, mais rural e com pequenas cidades. Obama foi aí trucidado por HRC nas primárias, e previsivelmente, sê-lo-á também nas eleições de Novembro. As cultural wars de Sarah Palin têm aí chão fértil. Se Obama tiver uma chance real na Virginia as sondagens deverão prever sempre algo próximo de um empate até então. O risco é se McCain surge pós RNC, com um bounce grande no Estado, em função do seu passado militar.

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