O valor das ideias: O abraço da China aos países ASEAN (I): a mundança geoeconómica

29-09-2009
marcar artigo


Coms as eleições indianas a meio caminho, mas muito próximas, segundo as sondagens de deixar como legado um parlamento profundamente instável, tema a que voltaremos este Sábado, e com a Rússia a assumir a necessidade de cruciais investimentos externos, dos 4 tradicionais países BRIC, o Brasil e a China assumem uma preponderânci muito clara. Ainda que, em muitos termos, incomparável. A China já é uma superpotência, mas o Brasil está a jogar pelas mãos de Lula da Silva as suas peças numa direcção interessante. Ao Brasil voltaremos também depois.Quando se fala em G2, é claramente ainda, e será durante algum tempo da China e dos EUA que conversamos. E da recente cimeira do G20, que, como já aqui dei conta, foi percebida pela China, e pela generalidade dos analistas de geopolítica e geoeconomia, como um sucesso claro para Pequim, um questao pareceu na altura paradoxal: nas semanas anteriores à cimeira de Londres, o facto de a China ter a maior reserva de divisas do mundo, parecia torná-la um candidato óbvio ao financiamento dos programas do FMI, pelo menos aos olhos ocidentais. O que batia certo com as pretensões chinesas de obter uma representatividade e um poder na organização condicentes com o seu estatuto de 2ª / 3ª maior potência económica mundial. Contudo, é também verdade, que a China foi dando nota nos dias anteriores a essa cimeira de uma resistência à ideia, pela voz do vice PM Wang Qishan que declarava ser injusto avaliar a obrigação de contribuições de um país apenas pelo volume de reservas. Quando após a cimeira do G20 se soube que da primeira tranche de financiamento do FMI a China contribuiria com 40 mil milhões de dólares, numa altura em que o Japão se tinha comprometido com 100 mil milhões tal como a UE, levantaram-se diversas dúvidas sobre o que teria levado a declaração final a estabelecer as mesmas metas de poder para o FMI para a China, apesar deste menor contributo. Na altura, debati a importância da concertação de posições entre Barack Obama e Hu Jintao, no que respeita a múltiplos interesses geopolíticos, da Coreia do Norte, à Birmânia, ao Irão e a África. Além da óbvia interdependência financeira dos dois países. Dito de outra forma, com ou sem auxílio económico adicional ao FMI, o entendimento entre Obama e Jintao ers suficientemente relevante para compreender a força com que o Presidente Americano defendeu a China nas suas pretensões nas grandes instituições financeiras internacionais. Aliás os comunicados do Spring Meeting do FMI e do Banco Mundial a semana passada reflectiram isso mesmo: a implementação do sistema de quotas previsto desde Abril de 2008, e o início dos trabalhos da revisão de um novo sistema de quotas e votos, que traduza o papel das economias emergentes. Esses trabalhos, pode ler-se no documento acima, devem começar antes dos encontros anuais de Setembro / Outubro de 2009. A retórica defensiva chinesa foi revelada posteriormente em entrevista ao China Daily por Wang Qishan. Por um lado, em termos de rendimento per capita a China situar-se-ia ainda abaixo dos 100 primeiros países do mundo. O indicador vale de pouco, qualquer economista o sabe, mas não deixa de ser uma boa arma de arremesso. Por outro lado Qishan defendeu ainda que as reservas e o estádio de desenvolvimento de um país e o seu grau de dependência das reservas para a sua própria viabilidade e segurança económica deverão ser tidos em conta. Em síntese, Wang Qishan enviou através de um dos jornais de expressão inglessa mais controlados pelo PCC um recado explicativo ao mundo. E o jornalista fez o resto do trabalho explicando que 40 mil milhões de dólares são mais, percentualmente, que a quota da China no FMI. Nesse sentido, será um contributo complementar o potentado económico em que a China se tornou numa revisão de direitos de voto. Para concluir, dizendo: "It is not fair that IMF member economies will enjoy the benefits that China's contribution will bring, although they fail to recognize its economics status." O que sabemos hoje é que a China não adormeceu desde a reunião do G20, além um alastrar, que já vinha de trás, da sua influência na América Latina, por via de currency swaps em yuans, começa a ser claro todo o domínio geoeconómico que a China pretende alcançar no ASEAN. A reunião falhada na Tailândia, impediu que fosse o PM Wen Jiabao a a anunciar o que sabe hoje: A China constituirá um fundo de investimento de 10 mil milhões de dólares para projectos para projectos com países da ASEAN no que diz respeito a projectos de construção de infraestruturas, redes energéticas, aproveitamento de recursos naturais, e tecnologias de informação e comunicação.Um linha de crédito de 15 mil milhões de dólares será constituída para ajuda aos países em dificuldades em função da crise internacional, com vencimento a 5 anos;Uma linha adicional de 39,7 milhões de dólares é destinada exclusivamente ao Cambdja, Laos e Myanamar, a aos páises mais próximos de Pequim e em necessidade urgente de ajuda.5 milhões dólares serão ainda doados ao fundo de cooperação China-ASEAN e 900 mil dólares ao fundo China, Japão e Coreia do Sul - ASEAN.Outras formas de apoio envolverão bolsas a estudantes, formação profissional de agricultores, doações de colheitas de arroz, e ensino de técnicas agrícolas mais eficientes.A China prepara assim o verdadeiro abraço da jibóia aos países ASEAN. E, como sempre em Pequim, não de forma desinteressada. Em mente importa ter as palvras recentes do Adjunto do Ministro do Comércio Chinês, Gao Husheng, que previa que a ASEAN substituisse em breve o Japão como terceiro maior parceiro comercial da China.Adicionalmente, uma zona de integração económica entra a China e os países da ASEAN está já prevista, devendo arrancar em 2010. Os media chineses preveem fluxos comerciais na ordem dos 1,2 milhões de milhões de dólares. A geopolítica das manobras chinesas será analisada em detalhe mais logo na 2ª e última parte deste texto. Mas não há como evitar reconhecer o jogo em curso, e a forma cuidadosa como ele é feito. Ao não doar simplesmente estas verbas ao FMI, a China tinha consciência, a meu ver, da má reputação que o FMI ganhou na região aquando da crise financeira do final dos anos 90, dado que os seus empréstimos traduziam muitas vezes associadas imposições draconianas sobre a política e a economia doméstica, e previlegiavam alguns interesses externos. A China, por seu turno, durante muito tempo gozou da fama de não se preocupar excessivamente em ajudar os países ASEAN, que assim tinham que recorrer a um ocidente que queria interferir em opções de regime político e de direitos humanos. A nova abordagem da China, mostrando uma maior preocupação com os países ASEAN vem precisamente na sequência da crise financeira do final dos anos 90, mostrando-se, oferecendo um tipo de ajuda sem contrapartidas: mantendo a sua moeda estável enquanto os países da zona podiam desvalorizar as suas, o que lhes permitiu retomar o crescimento via exportações. Em simultâneo a China começou a prestar assistência financeira directa a alguns países da região, sendo estimado que nos últimos anos ultrapassou os EUA como principal doador externo aos países da região. Ninguém duvida, reitero, que a gradual mudança de Pequim teve em mente o seu interesse nacional: a construção de infraestruturas portuárias na Tailância, a exploração agrícola em grande escala nas Filipinas, a exploração energética de Myanamar. Mas nesta encruzilhada de interesses geoeconómicos, os países da região preferiam em geral um China estabilizadora do que uma China perturbadora de regimes internos, como nos anos 70. E do ponto de vista da geopolítica chinesa, houve claramente a intenção de difundir junto das populações do ASEAN um sentimento pró-chinês que facilitou que essas explorações económicas não fossem percebidas como as tradicionais contrapartidas do FMI.Continua contudo a precisar-se de uma melhor explicação do porquê do interesse da China na construção desta network no sudeste asiático. E a resposta que desenvolveremos mais logo, assenta em dois vectores: a) dinheiro conferido ao FMI podia ir ajudar a reerguer a UE, designdamente com auxílios a leste, e não é um objectivo da China, muito antes pelo contrário, ter na Europa uma potência económica;b) este fortalecer do sentimento pró-China permite a uma superpotência ter aliados de defesa económica, diplomática ou outra, face à primeira superpotência mundial: os EUA. Por muito bem que as coisas corram entre Obama e a China, não é apanágio dos chineses confiar na sorte. E aproveitam a falta de fundos da UE e dos EUA para ajuda externa, para consolidarem uma região em que nunca foram aceites como a potência dominante. A Europa e os EUA neste momento só podem assistir. Uma eventual fragilidade do parlamento indianao pós 16 de Maio ajudaria ainda mais. Não que a Índia possa verdadeiramente disputar a hegemonia chinesa. Mas na óptica de Pequim. Se nem o tentar, melhor.(continua)


Coms as eleições indianas a meio caminho, mas muito próximas, segundo as sondagens de deixar como legado um parlamento profundamente instável, tema a que voltaremos este Sábado, e com a Rússia a assumir a necessidade de cruciais investimentos externos, dos 4 tradicionais países BRIC, o Brasil e a China assumem uma preponderânci muito clara. Ainda que, em muitos termos, incomparável. A China já é uma superpotência, mas o Brasil está a jogar pelas mãos de Lula da Silva as suas peças numa direcção interessante. Ao Brasil voltaremos também depois.Quando se fala em G2, é claramente ainda, e será durante algum tempo da China e dos EUA que conversamos. E da recente cimeira do G20, que, como já aqui dei conta, foi percebida pela China, e pela generalidade dos analistas de geopolítica e geoeconomia, como um sucesso claro para Pequim, um questao pareceu na altura paradoxal: nas semanas anteriores à cimeira de Londres, o facto de a China ter a maior reserva de divisas do mundo, parecia torná-la um candidato óbvio ao financiamento dos programas do FMI, pelo menos aos olhos ocidentais. O que batia certo com as pretensões chinesas de obter uma representatividade e um poder na organização condicentes com o seu estatuto de 2ª / 3ª maior potência económica mundial. Contudo, é também verdade, que a China foi dando nota nos dias anteriores a essa cimeira de uma resistência à ideia, pela voz do vice PM Wang Qishan que declarava ser injusto avaliar a obrigação de contribuições de um país apenas pelo volume de reservas. Quando após a cimeira do G20 se soube que da primeira tranche de financiamento do FMI a China contribuiria com 40 mil milhões de dólares, numa altura em que o Japão se tinha comprometido com 100 mil milhões tal como a UE, levantaram-se diversas dúvidas sobre o que teria levado a declaração final a estabelecer as mesmas metas de poder para o FMI para a China, apesar deste menor contributo. Na altura, debati a importância da concertação de posições entre Barack Obama e Hu Jintao, no que respeita a múltiplos interesses geopolíticos, da Coreia do Norte, à Birmânia, ao Irão e a África. Além da óbvia interdependência financeira dos dois países. Dito de outra forma, com ou sem auxílio económico adicional ao FMI, o entendimento entre Obama e Jintao ers suficientemente relevante para compreender a força com que o Presidente Americano defendeu a China nas suas pretensões nas grandes instituições financeiras internacionais. Aliás os comunicados do Spring Meeting do FMI e do Banco Mundial a semana passada reflectiram isso mesmo: a implementação do sistema de quotas previsto desde Abril de 2008, e o início dos trabalhos da revisão de um novo sistema de quotas e votos, que traduza o papel das economias emergentes. Esses trabalhos, pode ler-se no documento acima, devem começar antes dos encontros anuais de Setembro / Outubro de 2009. A retórica defensiva chinesa foi revelada posteriormente em entrevista ao China Daily por Wang Qishan. Por um lado, em termos de rendimento per capita a China situar-se-ia ainda abaixo dos 100 primeiros países do mundo. O indicador vale de pouco, qualquer economista o sabe, mas não deixa de ser uma boa arma de arremesso. Por outro lado Qishan defendeu ainda que as reservas e o estádio de desenvolvimento de um país e o seu grau de dependência das reservas para a sua própria viabilidade e segurança económica deverão ser tidos em conta. Em síntese, Wang Qishan enviou através de um dos jornais de expressão inglessa mais controlados pelo PCC um recado explicativo ao mundo. E o jornalista fez o resto do trabalho explicando que 40 mil milhões de dólares são mais, percentualmente, que a quota da China no FMI. Nesse sentido, será um contributo complementar o potentado económico em que a China se tornou numa revisão de direitos de voto. Para concluir, dizendo: "It is not fair that IMF member economies will enjoy the benefits that China's contribution will bring, although they fail to recognize its economics status." O que sabemos hoje é que a China não adormeceu desde a reunião do G20, além um alastrar, que já vinha de trás, da sua influência na América Latina, por via de currency swaps em yuans, começa a ser claro todo o domínio geoeconómico que a China pretende alcançar no ASEAN. A reunião falhada na Tailândia, impediu que fosse o PM Wen Jiabao a a anunciar o que sabe hoje: A China constituirá um fundo de investimento de 10 mil milhões de dólares para projectos para projectos com países da ASEAN no que diz respeito a projectos de construção de infraestruturas, redes energéticas, aproveitamento de recursos naturais, e tecnologias de informação e comunicação.Um linha de crédito de 15 mil milhões de dólares será constituída para ajuda aos países em dificuldades em função da crise internacional, com vencimento a 5 anos;Uma linha adicional de 39,7 milhões de dólares é destinada exclusivamente ao Cambdja, Laos e Myanamar, a aos páises mais próximos de Pequim e em necessidade urgente de ajuda.5 milhões dólares serão ainda doados ao fundo de cooperação China-ASEAN e 900 mil dólares ao fundo China, Japão e Coreia do Sul - ASEAN.Outras formas de apoio envolverão bolsas a estudantes, formação profissional de agricultores, doações de colheitas de arroz, e ensino de técnicas agrícolas mais eficientes.A China prepara assim o verdadeiro abraço da jibóia aos países ASEAN. E, como sempre em Pequim, não de forma desinteressada. Em mente importa ter as palvras recentes do Adjunto do Ministro do Comércio Chinês, Gao Husheng, que previa que a ASEAN substituisse em breve o Japão como terceiro maior parceiro comercial da China.Adicionalmente, uma zona de integração económica entra a China e os países da ASEAN está já prevista, devendo arrancar em 2010. Os media chineses preveem fluxos comerciais na ordem dos 1,2 milhões de milhões de dólares. A geopolítica das manobras chinesas será analisada em detalhe mais logo na 2ª e última parte deste texto. Mas não há como evitar reconhecer o jogo em curso, e a forma cuidadosa como ele é feito. Ao não doar simplesmente estas verbas ao FMI, a China tinha consciência, a meu ver, da má reputação que o FMI ganhou na região aquando da crise financeira do final dos anos 90, dado que os seus empréstimos traduziam muitas vezes associadas imposições draconianas sobre a política e a economia doméstica, e previlegiavam alguns interesses externos. A China, por seu turno, durante muito tempo gozou da fama de não se preocupar excessivamente em ajudar os países ASEAN, que assim tinham que recorrer a um ocidente que queria interferir em opções de regime político e de direitos humanos. A nova abordagem da China, mostrando uma maior preocupação com os países ASEAN vem precisamente na sequência da crise financeira do final dos anos 90, mostrando-se, oferecendo um tipo de ajuda sem contrapartidas: mantendo a sua moeda estável enquanto os países da zona podiam desvalorizar as suas, o que lhes permitiu retomar o crescimento via exportações. Em simultâneo a China começou a prestar assistência financeira directa a alguns países da região, sendo estimado que nos últimos anos ultrapassou os EUA como principal doador externo aos países da região. Ninguém duvida, reitero, que a gradual mudança de Pequim teve em mente o seu interesse nacional: a construção de infraestruturas portuárias na Tailância, a exploração agrícola em grande escala nas Filipinas, a exploração energética de Myanamar. Mas nesta encruzilhada de interesses geoeconómicos, os países da região preferiam em geral um China estabilizadora do que uma China perturbadora de regimes internos, como nos anos 70. E do ponto de vista da geopolítica chinesa, houve claramente a intenção de difundir junto das populações do ASEAN um sentimento pró-chinês que facilitou que essas explorações económicas não fossem percebidas como as tradicionais contrapartidas do FMI.Continua contudo a precisar-se de uma melhor explicação do porquê do interesse da China na construção desta network no sudeste asiático. E a resposta que desenvolveremos mais logo, assenta em dois vectores: a) dinheiro conferido ao FMI podia ir ajudar a reerguer a UE, designdamente com auxílios a leste, e não é um objectivo da China, muito antes pelo contrário, ter na Europa uma potência económica;b) este fortalecer do sentimento pró-China permite a uma superpotência ter aliados de defesa económica, diplomática ou outra, face à primeira superpotência mundial: os EUA. Por muito bem que as coisas corram entre Obama e a China, não é apanágio dos chineses confiar na sorte. E aproveitam a falta de fundos da UE e dos EUA para ajuda externa, para consolidarem uma região em que nunca foram aceites como a potência dominante. A Europa e os EUA neste momento só podem assistir. Uma eventual fragilidade do parlamento indianao pós 16 de Maio ajudaria ainda mais. Não que a Índia possa verdadeiramente disputar a hegemonia chinesa. Mas na óptica de Pequim. Se nem o tentar, melhor.(continua)

marcar artigo