Maria de Lurdes Rodrigues ficará na história da educação, em Portugal, como a ministra que bateu todos os recordes em termos de contestação, com 2 greves muito acima dos 90% e com 3 mega-manifestações, sem paralelo na história da democracia portuguesa e sem nada que lhe seja comparável em termos da resistência de uma classe profissional. E, desta vez, é um argumento intelectualmente indigente vir falar de instrumentalização sindical ou partidária dos professores, pois foram estes que, organizados escola a escola e através de movimentos espontâneos, reconduziram e estimularam os sindicatos para uma contestação duradoura e de uma eficácia surpreendente.Maria de Lurdes Rodrigues está a 4 meses de ser despedida pelos portugueses e, especialmente, pelos professores, não deixando saudades a ninguém e levando, ela própria, um fardo de incompetência técnica e política em cima dos ombros, que não deixará de lhe amargurar o futuro pessoal e profissional, qualquer que seja. A nível político geral, foi o membro do Governo com pior imagem junto da opinião pública, além de que nunca foi capaz de ter a confiança de professores e de alunos, gerando uma antipatia e um afastamento crescentes com todos, de tal modo que se tornou incapaz de enfrentar, nas escolas, professores e alunos, programando iniciativas para os fins-de-semana, trocando horários, saindo pelas portas das traseiras, etc. Numa palavra, a ministra da Educação vive cerceada por fantasmas de resistências e de hostilidades, não podendo contar com ninguém na sua retaguarda, a não ser a obstinação de Sócrates, ainda que mais por medo de perder a face do que por convicção política.Relativamente à herança que a ministra deixa, o julgamento não podia ser mais negativo, traduzindo-se esta legislatura num rotundo fracasso, com implicações severas sobre a imagem dos professores e a qualidade da escola pública, que demorarão anos a reverter, e de que destacamos os seguintes aspectos:1) sistemática hostilização dos professores, denegrindo o seu prestígio e arruinando a sua autoridade;2) degradação do clima das escolas, gerando injustiças, promovendo chico-espertismos e instalando conflitualidades inúteis que corroem o espírito cooperativo e a motivação imprescindíveis à docência de qualidade;3) tentativas, a que muitas escolas e professores têm resistido estoicamente, de institucionalização do facilitismo e de redução da função docente a uma espécie de "animadores" e de "damas de companhia";4) submissão de medidas impositivas e demagógicas (como as aulas de substituição) a meras mensagens propagandísticas, mesmo que no terreno tal corresponda a folclore ou a ocupação inconsequente de alunos;5) projectos atabalhoados, desenquadrados e impreparados (como o "Magalhães") ou prazos por cumprir (como os do Plano Tecnológico), mas que ninguém avalia e pelos quais ninguém é responsabilizado;6) publicação de um Estatuto do Aluno que confunde impossibilidade de frequentar as aulas (por motivos de força maior) com decisões irresponsáveis de fazer "gazeta" às aulas, tratando tudo por igual e, desta forma, desincentivando à assiduidade e ao empenhamento;7) paralisação, durante a legislatura, dos centros de Formação, de tal modo que milhares e milhares de professores chegam ao fim do seu período de avaliação, sem que o ME lhes tenha disponibilizado qualquer formação;8) destruição de um modelo de gestão, positivamente avaliado pela IGE, substituindo-o por uma aventura gestionária que transporta para as escolas o pior das guerras partidárias e que amputa a democracia, traduzindo um regresso ao antes do 25 de Abril de 1974;9) incapacidade para implementar um modelo de avaliação sério, credível e justo, dando-se a situação que nunca antes tinha acontecido de se ter passado uma legislatura completa sem que milhares de professores tenham sido objecto de avaliação (recorde-se que estamos no final do ano lectivo e no final da legislatura, havendo 60.000 professores que não participaram em nenhum acto relacionado com este modelo de avaliação e outros quase 70.000 que se limitaram a entregar uma mera folha de objectivos individuais, muitos retirados da Internet e a maioria entregues, caricaturalmente, em cima do final do período sob avaliação).Senhora ministra, vá-se embora, pois ninguém aprecia, nem as suas políticas, nem o seu estilo prepotente de confrontação. Aproveite o pós-eleições para fazer uma cura de humildade democrática.
Categorias
Entidades
Maria de Lurdes Rodrigues ficará na história da educação, em Portugal, como a ministra que bateu todos os recordes em termos de contestação, com 2 greves muito acima dos 90% e com 3 mega-manifestações, sem paralelo na história da democracia portuguesa e sem nada que lhe seja comparável em termos da resistência de uma classe profissional. E, desta vez, é um argumento intelectualmente indigente vir falar de instrumentalização sindical ou partidária dos professores, pois foram estes que, organizados escola a escola e através de movimentos espontâneos, reconduziram e estimularam os sindicatos para uma contestação duradoura e de uma eficácia surpreendente.Maria de Lurdes Rodrigues está a 4 meses de ser despedida pelos portugueses e, especialmente, pelos professores, não deixando saudades a ninguém e levando, ela própria, um fardo de incompetência técnica e política em cima dos ombros, que não deixará de lhe amargurar o futuro pessoal e profissional, qualquer que seja. A nível político geral, foi o membro do Governo com pior imagem junto da opinião pública, além de que nunca foi capaz de ter a confiança de professores e de alunos, gerando uma antipatia e um afastamento crescentes com todos, de tal modo que se tornou incapaz de enfrentar, nas escolas, professores e alunos, programando iniciativas para os fins-de-semana, trocando horários, saindo pelas portas das traseiras, etc. Numa palavra, a ministra da Educação vive cerceada por fantasmas de resistências e de hostilidades, não podendo contar com ninguém na sua retaguarda, a não ser a obstinação de Sócrates, ainda que mais por medo de perder a face do que por convicção política.Relativamente à herança que a ministra deixa, o julgamento não podia ser mais negativo, traduzindo-se esta legislatura num rotundo fracasso, com implicações severas sobre a imagem dos professores e a qualidade da escola pública, que demorarão anos a reverter, e de que destacamos os seguintes aspectos:1) sistemática hostilização dos professores, denegrindo o seu prestígio e arruinando a sua autoridade;2) degradação do clima das escolas, gerando injustiças, promovendo chico-espertismos e instalando conflitualidades inúteis que corroem o espírito cooperativo e a motivação imprescindíveis à docência de qualidade;3) tentativas, a que muitas escolas e professores têm resistido estoicamente, de institucionalização do facilitismo e de redução da função docente a uma espécie de "animadores" e de "damas de companhia";4) submissão de medidas impositivas e demagógicas (como as aulas de substituição) a meras mensagens propagandísticas, mesmo que no terreno tal corresponda a folclore ou a ocupação inconsequente de alunos;5) projectos atabalhoados, desenquadrados e impreparados (como o "Magalhães") ou prazos por cumprir (como os do Plano Tecnológico), mas que ninguém avalia e pelos quais ninguém é responsabilizado;6) publicação de um Estatuto do Aluno que confunde impossibilidade de frequentar as aulas (por motivos de força maior) com decisões irresponsáveis de fazer "gazeta" às aulas, tratando tudo por igual e, desta forma, desincentivando à assiduidade e ao empenhamento;7) paralisação, durante a legislatura, dos centros de Formação, de tal modo que milhares e milhares de professores chegam ao fim do seu período de avaliação, sem que o ME lhes tenha disponibilizado qualquer formação;8) destruição de um modelo de gestão, positivamente avaliado pela IGE, substituindo-o por uma aventura gestionária que transporta para as escolas o pior das guerras partidárias e que amputa a democracia, traduzindo um regresso ao antes do 25 de Abril de 1974;9) incapacidade para implementar um modelo de avaliação sério, credível e justo, dando-se a situação que nunca antes tinha acontecido de se ter passado uma legislatura completa sem que milhares de professores tenham sido objecto de avaliação (recorde-se que estamos no final do ano lectivo e no final da legislatura, havendo 60.000 professores que não participaram em nenhum acto relacionado com este modelo de avaliação e outros quase 70.000 que se limitaram a entregar uma mera folha de objectivos individuais, muitos retirados da Internet e a maioria entregues, caricaturalmente, em cima do final do período sob avaliação).Senhora ministra, vá-se embora, pois ninguém aprecia, nem as suas políticas, nem o seu estilo prepotente de confrontação. Aproveite o pós-eleições para fazer uma cura de humildade democrática.