O valor das ideias: A insistência no erro de promover deslocalizações (agora no Cachimbo)

30-09-2009
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A Maria João Marques desenvolve um post no Cachimbo corroborando tese anterior do mesmo espaço e do 31 que considera o spot web do esquerda.net ofensivo para os eslovacos. E solicita que o BE peça desculpa. Ou que se proiba o investimento estrangeiro em Portugal.Como respeito intelectualmente a Maria João, e sei que ela é economista, vou tentar responder de uma forma que creio ambos percebemos:- é ilegal, como sabes, na UE, impedir a livre circulação de pessoas e capitais. Seguramente a proposta do bloco não passava por aí. Nem por acessos de xenofobia contra eslovacos, ou quem fosse.- sucede que a Eslováquia e Portugal fazem parte de uma realidade económica onde é suposto circularem pessoas e capitais. No plano de direito. No plano de facto, sabes bem que não é assim.- o capital circula livremente na UE. Mas mesmo que Schengen chegasse a todos os páises, a mobilidade do trabalho, mostram os números, é muito baixa. O que tem explicações óbvias: culturais, sociais, ligações familiares, raízes e amigos, etc. A UE não são os EUA onde a unidade política existe há muito tempo.- se o capital circula, pode ir para a Eslováquia procurando mão de obra barata. O desenho liberal da UE acreditava que os mercados corrigiam isto. Como? Bolsas de desemprego em Portugal levavam a uma migração de trabalhadores portugueses para onde os salários fossem mais elevados. Isto elevava o salário nas zonas de onde o capital fugiu, e aumentava a oferta de mão de obra em zonas de emprego abundante. Para os liberais, isto significa que os salários reais, ajustados à paridade dos poderes de compra iam convergir na Europa. A Eslováquia, ao registar um aumento de procura de trabalhadores ia assistir a uma subida de salários que seria travada pela migração de trabalhadores de outros sítios. - esta ideia é tão utópica, como a ilha de nome semelhante. Porque se o trabalho não se desloca de facto (nem dentro dos mesmos países: o norte e o sul de Inglaterra são um exemplo claro), a mitologia neoliberal de que basta abolir barreiras legais para o modelo de mercado funcionar falha. Que eu saiba, não tens dados sobre nenhum tipo de convergência de salários reais na UE ajustados à PPC. - a conclusão não passa por proibir o investimento estrangeiro. Passa por nos apercebermos que o problema ainda é mais grave por uma crise do crédito onde se assiste a um refluxo dos movimentos internacionais de capitais para os países de origem. No post sobre a Índia, abaixo, o sucesso asiático passou precisamente para não abdicar da regulação e no caso indiano por não depender excessivamente do IDE. O peso do comércio externo no PIB é muito baixo. E a procura interna privada muito dinâmica. Por isso (e por outras razões) a Índia não precisa de um pacote de estímulos à la Obama (como os EUA ou a UE precisam). Numa expressão, MJ, o problema é que alguém se esqueceu que um grego não fala dinamarquês.Eu não falo checo. Tu falas línguas de eslavas? E a generalidade da mão-de-obra portuguesa? Só que isto cai mal nos modelos neoliberais. Em armadilha de liquidez, como a crise em que estamos, com riscos de deflação a aposta no investimento público proposta pelo PS é totalmente adequada. E a preocupação do BE com o desemprego mais que justificada: não vai aparecer tão cedo um vaga nova de IDE para corrigir o desemprego gerado pelas deslocalizações. Pretender que isto é atacar os eslovacos não é sério. Mais a mais depois da trapalhada de ontem do Vasco Campilho. A solução não passa por "acabar com isto tudo", como pareces sugerir. Eu diria que o que o BE sugere é uma profunda reforma no modo de fucionamento da UE, e da UEM em particular. E não falta na imprensa internacional quem faça coro dessa necessidade. Porque a UEM foi criada como zona monetária óptima onde as crises se resolviam pela circulação de factores. Se há coisa que é consensual há muito, é que em boa verdade nunca fomos uma zona monetária óptima. Em síntese o investimento público é necessário. E o anúncio web do BE não obriga a desculpas nenhumas, antes denuncia as falácias que expus resumidamente acima. Já diferente é o famoso investimento de proximidade da Manuela F. Leite: conceito que, sabes tão bem como eu, é oco de sentido. Irá o PSD pedir desculpa por uma campanha anti BE que se traduz na apologia do desemprego? E que medidas socias se propõe aprovar para apoiar esses desempregados da Europa neoliberal? Além do mais os modelos de desenvolvimento assentes em IDE (tipo Irlanda e Europa de Leste) estão ái para mostrar porque passou o eixo da geoconomia para o Pacífico.


A Maria João Marques desenvolve um post no Cachimbo corroborando tese anterior do mesmo espaço e do 31 que considera o spot web do esquerda.net ofensivo para os eslovacos. E solicita que o BE peça desculpa. Ou que se proiba o investimento estrangeiro em Portugal.Como respeito intelectualmente a Maria João, e sei que ela é economista, vou tentar responder de uma forma que creio ambos percebemos:- é ilegal, como sabes, na UE, impedir a livre circulação de pessoas e capitais. Seguramente a proposta do bloco não passava por aí. Nem por acessos de xenofobia contra eslovacos, ou quem fosse.- sucede que a Eslováquia e Portugal fazem parte de uma realidade económica onde é suposto circularem pessoas e capitais. No plano de direito. No plano de facto, sabes bem que não é assim.- o capital circula livremente na UE. Mas mesmo que Schengen chegasse a todos os páises, a mobilidade do trabalho, mostram os números, é muito baixa. O que tem explicações óbvias: culturais, sociais, ligações familiares, raízes e amigos, etc. A UE não são os EUA onde a unidade política existe há muito tempo.- se o capital circula, pode ir para a Eslováquia procurando mão de obra barata. O desenho liberal da UE acreditava que os mercados corrigiam isto. Como? Bolsas de desemprego em Portugal levavam a uma migração de trabalhadores portugueses para onde os salários fossem mais elevados. Isto elevava o salário nas zonas de onde o capital fugiu, e aumentava a oferta de mão de obra em zonas de emprego abundante. Para os liberais, isto significa que os salários reais, ajustados à paridade dos poderes de compra iam convergir na Europa. A Eslováquia, ao registar um aumento de procura de trabalhadores ia assistir a uma subida de salários que seria travada pela migração de trabalhadores de outros sítios. - esta ideia é tão utópica, como a ilha de nome semelhante. Porque se o trabalho não se desloca de facto (nem dentro dos mesmos países: o norte e o sul de Inglaterra são um exemplo claro), a mitologia neoliberal de que basta abolir barreiras legais para o modelo de mercado funcionar falha. Que eu saiba, não tens dados sobre nenhum tipo de convergência de salários reais na UE ajustados à PPC. - a conclusão não passa por proibir o investimento estrangeiro. Passa por nos apercebermos que o problema ainda é mais grave por uma crise do crédito onde se assiste a um refluxo dos movimentos internacionais de capitais para os países de origem. No post sobre a Índia, abaixo, o sucesso asiático passou precisamente para não abdicar da regulação e no caso indiano por não depender excessivamente do IDE. O peso do comércio externo no PIB é muito baixo. E a procura interna privada muito dinâmica. Por isso (e por outras razões) a Índia não precisa de um pacote de estímulos à la Obama (como os EUA ou a UE precisam). Numa expressão, MJ, o problema é que alguém se esqueceu que um grego não fala dinamarquês.Eu não falo checo. Tu falas línguas de eslavas? E a generalidade da mão-de-obra portuguesa? Só que isto cai mal nos modelos neoliberais. Em armadilha de liquidez, como a crise em que estamos, com riscos de deflação a aposta no investimento público proposta pelo PS é totalmente adequada. E a preocupação do BE com o desemprego mais que justificada: não vai aparecer tão cedo um vaga nova de IDE para corrigir o desemprego gerado pelas deslocalizações. Pretender que isto é atacar os eslovacos não é sério. Mais a mais depois da trapalhada de ontem do Vasco Campilho. A solução não passa por "acabar com isto tudo", como pareces sugerir. Eu diria que o que o BE sugere é uma profunda reforma no modo de fucionamento da UE, e da UEM em particular. E não falta na imprensa internacional quem faça coro dessa necessidade. Porque a UEM foi criada como zona monetária óptima onde as crises se resolviam pela circulação de factores. Se há coisa que é consensual há muito, é que em boa verdade nunca fomos uma zona monetária óptima. Em síntese o investimento público é necessário. E o anúncio web do BE não obriga a desculpas nenhumas, antes denuncia as falácias que expus resumidamente acima. Já diferente é o famoso investimento de proximidade da Manuela F. Leite: conceito que, sabes tão bem como eu, é oco de sentido. Irá o PSD pedir desculpa por uma campanha anti BE que se traduz na apologia do desemprego? E que medidas socias se propõe aprovar para apoiar esses desempregados da Europa neoliberal? Além do mais os modelos de desenvolvimento assentes em IDE (tipo Irlanda e Europa de Leste) estão ái para mostrar porque passou o eixo da geoconomia para o Pacífico.

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