O valor das ideias: Portugal2009: a ditadura dos pobres de espírito e o julgamento kafkiano e pidesco...de 3 crianças de 7 e 8 anos

30-09-2009
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O local é um concelho do centro de Portugal. A Escola Primária de uma freguesia desse concelho. O André....o André é uma criança. Tem 7 anos. Eu repito: o André é uma criança de 7 anos. Que na escola convivia e brincava com os colegas da mesma idade. Aparentemente, há alguns dias o André corria com mais rapazes da mesma idade. Corriam sem camisola. Não sei se já disse, mas cada um deles tinha 7 anos. Que fossem 8. Os três miúdos corriam sem camisola em redor de uma amiga. Ia escrever colega, ou aluna. Mas aos 7 anos, eu acho que não temos bem colegas, nem pensamos nos colegas como tal ou como alunos, projectando reuniões de curso 20 anos depois. Aos 7 anos, o normal, conceito sempre perigoso, mas,.....bolas, são 7 anos. Aos 7 anos três alunos corriam sem camisola em redor de uma amiga, numa aula extra-curricular, de educação musical. É isto. Não sei se me faço entender, a história do que se passou há dias é esta. Pelo menos no que diz respeito ao que as quatro crianças fizeram. Infelizmente, o estado persecutório de algumas mentalidades (lembram-se do elogio da tortura?), e as mentalidades que ficaram presas a um espirito que eu diria de Antigo Regime, mas falando mesmo do Ancién Régime, o que motivou a revolução francesa!, está bem vivo entre nós. E não, não é num meio ruralizado ou perdido em nenhures. Este episódio sucedeu em ambiente urbano e o do comentário do militante de direita sobre a tortura, também. E em nenhum dos casos falamos do interior desertificado. Antes do litoral. As mentalidades reaccionárias aparecem onde menos as tipologias de auto defesa de quem, no fundo, as tem, esperaria que aparecessem. Em meios urbanos, do litoral. Eram 3 crianças de 7 anos que numa aula de educação musical, extra-curricular, correram à volta de uma amiga. Quando na semana seguinte, os pais do André foram a uma reunião na escola, nada sabiam quanto ao motivo porque tinham sido chamados. E entraram numa sala de onde estavam:- um docente de AEC;- uma professora em representação do agrupamento de escolas;- a professora da turma do André;- a directora da escola;- o Vereador da Educação!!- ....e dois, eu repito, DOIS POLÍCIAS!! A história terá sido relatada aos pais das crianças: dos três perigosos meliantes e da jovem em perigo. Foi-lhes dito que a primeira reacção foi escrever um relatório para a Polícia de Escola. Sabiam que existia?Eu não. Mas deve ser defeito meu. O facto é as 3 crianças de 7 anos levaram a cabo acções consideradas suficientemente gravosas para se escrever um relatório à polícia de escola. Que terá tido, ao que sei, o maior bom senso no meio disto, ao desaconcelhar tal medida: o relatório, pasme-se, implicaria investigação, ministério público, tribunais, e levar os pais das crianças a tribunal. Nestes entretantos, a mãe de um dos miúdos, nervosa por ver o filho naquela lista negra de potenciais criminosos, desmaiou. A polícia terá explicado que tinha meios escassos para tantas escolas (eu continuo sem resposta: escolas primárias têm polícia?), que estas situações eram muito frequentes, que não precisavam de relatórios para actuar, e que estavam disponíveis para uma acção de sensibilização (lembram-se da política não dialogante do tempo do cavaquismo? Estes agentes mereciam, quanto a mim, uma comenda no 10 de Junho, por exemplificarem que a polícia não existe apenas para se impôr pela violência). O tribunal improvisado naquela sala, procurando meios de impedir a óbvia e "escrita nas estrelas" progressão do André e dos seus dois amigos para violadores e pedófilos aos 12 anos. A senhora que tinha desmaiado, voltou a desmaiar, sendo desta feita necessário chamar os bombeiros. E a culpa dançou, num bolero kafkiano, entre a falta de professores mais velhos para acompanhar as AEC, a falta de mais professores, a culpa óbvia dos pais que não tinham conseguido em casa educar aquelas crianças: para evitarem tão bárbaros actos, presumo. Aliás já tomei nota, quando tiver um filho, antes de lhe ensinar a andar de bicicleta vou-lhe dizer que nunca se tira a camisola na escola, e se corre à volta de uma colega. Acho que logo aos 3 anos eles devem saber isto. A directora, diz quem lá estava, continuava a agir no gozo e usofruto da autoridade de circunstância, como ditadorazinha local, pronunciando soturnas e sábias palavras: "Temos que arranjar uma solução!" Porque ninguém lhe explicou que o que não é um problema, não precisa de ter uma solução. Descartes, penso eu. Assim de cabeça. Mas se o país tem 30 e tal anos de democracia, teve muito mais de bolorento salazarismo, que ainda vive em algumas cabeças. E o poder pelos vistos corrompe mesmo: ao nível de director de escola primária. Havia um tipo de bigode que o Chaplin imitava bem... Bom, ao que sei, mas a história continua, a ideia mais consensual era que os pais dos terroristas fossem pedir desculpa aos colegas. Não sem que antes se tenha para o ar um genial. E no meio de tudo isto, nesta cena digna daquela Praga dominada pelo castelo que atormentava os sonhos de Kafka, e naquele clamor de CULPA que levou Joseph K. à condenação sem saber do que estava a ser acusado, numa cabala digna de um Umberto Eco onde o protagonista Jacopo Belpo acaba por morrer às mãos dos que acreditaram na história que ele criou, e em todos os inexplicáveis actos da natureza humana que a literatura capturou naquele fatídico suicídio de Ana Karenina, que Kundera bem caracteriza dizendo que o fez por impulso, no meio de todos os absurdos enfim, que marcam este recambolesco e pidesco pequeno portugal, dá-se o surreal. A mãe de miúda, alegadamente vítima potencial dos 3 perigosos putos, perguntou: "Mas eu não estou a perceber porque estão a fazer um caso tão grande, de uma coisa sem importância nenhuma!" Eu não sei o fim da história. Chegou até mim através dos relatos do pai do André aqui. Um blogue de amigos. E só ocorre dizer com ele, eu que nem conheço a criança, "Desculpa, André!" Para acompanhar vão lá por favor. Eu tinha que denunciar. Porque a isso fui autorizado por quem de direito. E porque esta parte da história chega para voltar a fazer a pergunta que fiz aqui:"Têm mesmo a certeza que fascismo nunca mais?" [NOTA: Para mim esta é uma história de mentalidades e culturas. De produtos da ditadura e de gentes que vive para exercer o seu pequeno poder. Nada disto pode ser uma arma partidária contra a Ministra da Educação ou quem quer que seja. É uma história política: no sentido da nossa falta de cultura política!]


O local é um concelho do centro de Portugal. A Escola Primária de uma freguesia desse concelho. O André....o André é uma criança. Tem 7 anos. Eu repito: o André é uma criança de 7 anos. Que na escola convivia e brincava com os colegas da mesma idade. Aparentemente, há alguns dias o André corria com mais rapazes da mesma idade. Corriam sem camisola. Não sei se já disse, mas cada um deles tinha 7 anos. Que fossem 8. Os três miúdos corriam sem camisola em redor de uma amiga. Ia escrever colega, ou aluna. Mas aos 7 anos, eu acho que não temos bem colegas, nem pensamos nos colegas como tal ou como alunos, projectando reuniões de curso 20 anos depois. Aos 7 anos, o normal, conceito sempre perigoso, mas,.....bolas, são 7 anos. Aos 7 anos três alunos corriam sem camisola em redor de uma amiga, numa aula extra-curricular, de educação musical. É isto. Não sei se me faço entender, a história do que se passou há dias é esta. Pelo menos no que diz respeito ao que as quatro crianças fizeram. Infelizmente, o estado persecutório de algumas mentalidades (lembram-se do elogio da tortura?), e as mentalidades que ficaram presas a um espirito que eu diria de Antigo Regime, mas falando mesmo do Ancién Régime, o que motivou a revolução francesa!, está bem vivo entre nós. E não, não é num meio ruralizado ou perdido em nenhures. Este episódio sucedeu em ambiente urbano e o do comentário do militante de direita sobre a tortura, também. E em nenhum dos casos falamos do interior desertificado. Antes do litoral. As mentalidades reaccionárias aparecem onde menos as tipologias de auto defesa de quem, no fundo, as tem, esperaria que aparecessem. Em meios urbanos, do litoral. Eram 3 crianças de 7 anos que numa aula de educação musical, extra-curricular, correram à volta de uma amiga. Quando na semana seguinte, os pais do André foram a uma reunião na escola, nada sabiam quanto ao motivo porque tinham sido chamados. E entraram numa sala de onde estavam:- um docente de AEC;- uma professora em representação do agrupamento de escolas;- a professora da turma do André;- a directora da escola;- o Vereador da Educação!!- ....e dois, eu repito, DOIS POLÍCIAS!! A história terá sido relatada aos pais das crianças: dos três perigosos meliantes e da jovem em perigo. Foi-lhes dito que a primeira reacção foi escrever um relatório para a Polícia de Escola. Sabiam que existia?Eu não. Mas deve ser defeito meu. O facto é as 3 crianças de 7 anos levaram a cabo acções consideradas suficientemente gravosas para se escrever um relatório à polícia de escola. Que terá tido, ao que sei, o maior bom senso no meio disto, ao desaconcelhar tal medida: o relatório, pasme-se, implicaria investigação, ministério público, tribunais, e levar os pais das crianças a tribunal. Nestes entretantos, a mãe de um dos miúdos, nervosa por ver o filho naquela lista negra de potenciais criminosos, desmaiou. A polícia terá explicado que tinha meios escassos para tantas escolas (eu continuo sem resposta: escolas primárias têm polícia?), que estas situações eram muito frequentes, que não precisavam de relatórios para actuar, e que estavam disponíveis para uma acção de sensibilização (lembram-se da política não dialogante do tempo do cavaquismo? Estes agentes mereciam, quanto a mim, uma comenda no 10 de Junho, por exemplificarem que a polícia não existe apenas para se impôr pela violência). O tribunal improvisado naquela sala, procurando meios de impedir a óbvia e "escrita nas estrelas" progressão do André e dos seus dois amigos para violadores e pedófilos aos 12 anos. A senhora que tinha desmaiado, voltou a desmaiar, sendo desta feita necessário chamar os bombeiros. E a culpa dançou, num bolero kafkiano, entre a falta de professores mais velhos para acompanhar as AEC, a falta de mais professores, a culpa óbvia dos pais que não tinham conseguido em casa educar aquelas crianças: para evitarem tão bárbaros actos, presumo. Aliás já tomei nota, quando tiver um filho, antes de lhe ensinar a andar de bicicleta vou-lhe dizer que nunca se tira a camisola na escola, e se corre à volta de uma colega. Acho que logo aos 3 anos eles devem saber isto. A directora, diz quem lá estava, continuava a agir no gozo e usofruto da autoridade de circunstância, como ditadorazinha local, pronunciando soturnas e sábias palavras: "Temos que arranjar uma solução!" Porque ninguém lhe explicou que o que não é um problema, não precisa de ter uma solução. Descartes, penso eu. Assim de cabeça. Mas se o país tem 30 e tal anos de democracia, teve muito mais de bolorento salazarismo, que ainda vive em algumas cabeças. E o poder pelos vistos corrompe mesmo: ao nível de director de escola primária. Havia um tipo de bigode que o Chaplin imitava bem... Bom, ao que sei, mas a história continua, a ideia mais consensual era que os pais dos terroristas fossem pedir desculpa aos colegas. Não sem que antes se tenha para o ar um genial. E no meio de tudo isto, nesta cena digna daquela Praga dominada pelo castelo que atormentava os sonhos de Kafka, e naquele clamor de CULPA que levou Joseph K. à condenação sem saber do que estava a ser acusado, numa cabala digna de um Umberto Eco onde o protagonista Jacopo Belpo acaba por morrer às mãos dos que acreditaram na história que ele criou, e em todos os inexplicáveis actos da natureza humana que a literatura capturou naquele fatídico suicídio de Ana Karenina, que Kundera bem caracteriza dizendo que o fez por impulso, no meio de todos os absurdos enfim, que marcam este recambolesco e pidesco pequeno portugal, dá-se o surreal. A mãe de miúda, alegadamente vítima potencial dos 3 perigosos putos, perguntou: "Mas eu não estou a perceber porque estão a fazer um caso tão grande, de uma coisa sem importância nenhuma!" Eu não sei o fim da história. Chegou até mim através dos relatos do pai do André aqui. Um blogue de amigos. E só ocorre dizer com ele, eu que nem conheço a criança, "Desculpa, André!" Para acompanhar vão lá por favor. Eu tinha que denunciar. Porque a isso fui autorizado por quem de direito. E porque esta parte da história chega para voltar a fazer a pergunta que fiz aqui:"Têm mesmo a certeza que fascismo nunca mais?" [NOTA: Para mim esta é uma história de mentalidades e culturas. De produtos da ditadura e de gentes que vive para exercer o seu pequeno poder. Nada disto pode ser uma arma partidária contra a Ministra da Educação ou quem quer que seja. É uma história política: no sentido da nossa falta de cultura política!]

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