Octávio V Gonçalves: Para que ninguém afirme que a divisão arbitrária da carreira passou incólume. A minha reacção foi imediata (vejam a data de postagem)

05-10-2009
marcar artigo


"Êxito! Êxito!..." - disse ela.As recentes declarações da Sra. Ministra da Educação a propósito do concurso para professor titular são chocantes, pelas razões que passo a expor, ainda que reveladoras da falta de consistência e de exigência que caracterizam as actuais políticas educativas.Como é possível considerar que o concurso para professor titular foi um "êxito", quando o mesmo assentou na irracionalidade e na arbitrariedade que a seguir se expõe:1) Os cargos tidos na escola foram altamente pontuados, mas não houve lugar a nenhuma avaliação do desempenho dos mesmos, pelo que tão pontuados foram os competentes, como os incompetentes (isto sim é seriedade e rigor na avaliação se comparada com a que existia e tão diabolizada foi por esta equipa ministerial - haja pudor intelectual!...);2) E quem dedicou toda uma vida à escola e ao ensino antes de 1999? Passa-se uma borracha?... Será que há algum elemento da equipa ministerial com a presunção de que descobriu a pólvora da pedagogia e da gestão escolar nesta data? Ou é uma qualquer fixação cinematográfica?...;Ainda por cima, quando aconteceram muitos trajectos profissionais, como foi o meu caso, de quem deu tudo à escola (mesmo o famigerado desempenho de cargos) antes de 1999 e depois prosseguiu a sua valorização científica e profissional, a partir de opções legalmente cobertas e não penalizantes à data. Mas, o concurso para professor titular traduziu-se num golpe mortal em quem se quis valorizar academicamente (cientifica e tecnicamente). Contradição insanável: o estado em que encontraram as escolas era péssimo, mas é esse empirismo basista que valorizaram para efeito de concurso? De facto, cantam cigarras no país da qualificação...;3) Depois, há cargos altamente pontuados, como o de presidente da assembleia de escola, mas que, na maioria das escolas, estão reduzidos a meras funções de quase mestres de cerimónias (conduzir três reuniões por ano lectivo). Que desproporção é esta, face, por exemplo, aos directores de turma que trabalham diaria e afincadamente na escola e são os grandes protagonistas da imagem das escolas para o exterior?;4) E que pensar da valorização escandalosa dos directores dos centros de formação de professores? Lembramo-nos bem do ataque que foi feito à qualidade da formação que era aí ministrada (então, em que é que ficamos?...), mas, mais uma vez, a coerência tem pernas curtas. E não é que foram atribuídos 8 pontos anuais a estes colegas por leccionação, o que prefigura um embuste grosseiro, sobretudo quando se atribuiram apenas 6 pontos a quem leccionava em universidades (de facto, que trivialidade e desqualificação!...), com a agravante de que estes senhores directores não leccionaram nenhuma disciplina, mesmo;5) E que pensar da desvalorização absoluta da graduação profissional dos professores? Os docentes são uma classe profissional, não são tarefeiros ou contratados políticos...6) E as discrepâncias entre promovidos e não promovidos de departamento para departamento ou de escola para escola?...Que se divida a classe docente em duas categorias é um postulado de eficácia duvidosa, mas susceptível de implementação, agora que sejam promovidos gratuita e arbitrariamente a um corpo "altamente qualificado" aqueles que têm menos currículo, isso é que me parece absolutamente inaceitável. Este concurso não pode, seriamente, ser apresentado como um "êxito", por que ele foi, na prática, uma "golpada" na hierarquização qualitativa dos professores (comparem-se currículos e percursos profissionais entre providos e não providos e publiquem-se os resultados... muita gente morreria de vergonha ou de riso...).Aquilo a que a Sra. Ministra da Educação chama "êxito" é tão-só, pelas razões apontadas, o acto administrativo e pedagógico de maior facilitismo, leviandade e arbitrariedade alguma vez praticado pelo Ministério da Educação em concursos de professores desde o 25 de Abril de 1974. Assim, tout court...E só num país de jornalistas meramente treinados para a propagação de ecos (essa nova casta de especialistas em tudo e em coisa nenhuma, que reproduzem com a mesma convicção, verdades, meias-verdades, ficções, insinuações ou produtos propagandísticos) e de órgãos de soberania (Presidência da República incluída) mais preocupados com as suas agendas narcísicas e auto-promocionais, mas com distracções e níveis de exigência terceiro-mundistas, é que esta infantilidade de concurso passaria incólume à sua mais que merecida ridicularização pública.Este concurso para professores titulares é bem o barómetro do nosso nível intelectual e da pouca seriedade e exigência que colocamos no futuro do ensino e do país. O embevecimento narcísico da Sra. Ministra da Educação com o seu pequeno "êxito" arrepia à qualidade da vida escolar e à inteligência dos seus professores, enquadrando-se apenas em três objectivos: vender um retrato distorcido e desvalorado à comunicação social de um acto precipitado, inconsistente e tremendamente injusto; iludir a pressão que vem de Belém (os inefáveis resultados!...); exercitar um ritual auto-flagelatório de difamação pública da sua própria (in)competência.Resta-nos esperar que o(a) futuro(a) Ministro(a) da Educação tenha a verticalidade intelectual e moral para anular as distorções e as injustiças provocadas por esta aberração de concurso.


"Êxito! Êxito!..." - disse ela.As recentes declarações da Sra. Ministra da Educação a propósito do concurso para professor titular são chocantes, pelas razões que passo a expor, ainda que reveladoras da falta de consistência e de exigência que caracterizam as actuais políticas educativas.Como é possível considerar que o concurso para professor titular foi um "êxito", quando o mesmo assentou na irracionalidade e na arbitrariedade que a seguir se expõe:1) Os cargos tidos na escola foram altamente pontuados, mas não houve lugar a nenhuma avaliação do desempenho dos mesmos, pelo que tão pontuados foram os competentes, como os incompetentes (isto sim é seriedade e rigor na avaliação se comparada com a que existia e tão diabolizada foi por esta equipa ministerial - haja pudor intelectual!...);2) E quem dedicou toda uma vida à escola e ao ensino antes de 1999? Passa-se uma borracha?... Será que há algum elemento da equipa ministerial com a presunção de que descobriu a pólvora da pedagogia e da gestão escolar nesta data? Ou é uma qualquer fixação cinematográfica?...;Ainda por cima, quando aconteceram muitos trajectos profissionais, como foi o meu caso, de quem deu tudo à escola (mesmo o famigerado desempenho de cargos) antes de 1999 e depois prosseguiu a sua valorização científica e profissional, a partir de opções legalmente cobertas e não penalizantes à data. Mas, o concurso para professor titular traduziu-se num golpe mortal em quem se quis valorizar academicamente (cientifica e tecnicamente). Contradição insanável: o estado em que encontraram as escolas era péssimo, mas é esse empirismo basista que valorizaram para efeito de concurso? De facto, cantam cigarras no país da qualificação...;3) Depois, há cargos altamente pontuados, como o de presidente da assembleia de escola, mas que, na maioria das escolas, estão reduzidos a meras funções de quase mestres de cerimónias (conduzir três reuniões por ano lectivo). Que desproporção é esta, face, por exemplo, aos directores de turma que trabalham diaria e afincadamente na escola e são os grandes protagonistas da imagem das escolas para o exterior?;4) E que pensar da valorização escandalosa dos directores dos centros de formação de professores? Lembramo-nos bem do ataque que foi feito à qualidade da formação que era aí ministrada (então, em que é que ficamos?...), mas, mais uma vez, a coerência tem pernas curtas. E não é que foram atribuídos 8 pontos anuais a estes colegas por leccionação, o que prefigura um embuste grosseiro, sobretudo quando se atribuiram apenas 6 pontos a quem leccionava em universidades (de facto, que trivialidade e desqualificação!...), com a agravante de que estes senhores directores não leccionaram nenhuma disciplina, mesmo;5) E que pensar da desvalorização absoluta da graduação profissional dos professores? Os docentes são uma classe profissional, não são tarefeiros ou contratados políticos...6) E as discrepâncias entre promovidos e não promovidos de departamento para departamento ou de escola para escola?...Que se divida a classe docente em duas categorias é um postulado de eficácia duvidosa, mas susceptível de implementação, agora que sejam promovidos gratuita e arbitrariamente a um corpo "altamente qualificado" aqueles que têm menos currículo, isso é que me parece absolutamente inaceitável. Este concurso não pode, seriamente, ser apresentado como um "êxito", por que ele foi, na prática, uma "golpada" na hierarquização qualitativa dos professores (comparem-se currículos e percursos profissionais entre providos e não providos e publiquem-se os resultados... muita gente morreria de vergonha ou de riso...).Aquilo a que a Sra. Ministra da Educação chama "êxito" é tão-só, pelas razões apontadas, o acto administrativo e pedagógico de maior facilitismo, leviandade e arbitrariedade alguma vez praticado pelo Ministério da Educação em concursos de professores desde o 25 de Abril de 1974. Assim, tout court...E só num país de jornalistas meramente treinados para a propagação de ecos (essa nova casta de especialistas em tudo e em coisa nenhuma, que reproduzem com a mesma convicção, verdades, meias-verdades, ficções, insinuações ou produtos propagandísticos) e de órgãos de soberania (Presidência da República incluída) mais preocupados com as suas agendas narcísicas e auto-promocionais, mas com distracções e níveis de exigência terceiro-mundistas, é que esta infantilidade de concurso passaria incólume à sua mais que merecida ridicularização pública.Este concurso para professores titulares é bem o barómetro do nosso nível intelectual e da pouca seriedade e exigência que colocamos no futuro do ensino e do país. O embevecimento narcísico da Sra. Ministra da Educação com o seu pequeno "êxito" arrepia à qualidade da vida escolar e à inteligência dos seus professores, enquadrando-se apenas em três objectivos: vender um retrato distorcido e desvalorado à comunicação social de um acto precipitado, inconsistente e tremendamente injusto; iludir a pressão que vem de Belém (os inefáveis resultados!...); exercitar um ritual auto-flagelatório de difamação pública da sua própria (in)competência.Resta-nos esperar que o(a) futuro(a) Ministro(a) da Educação tenha a verticalidade intelectual e moral para anular as distorções e as injustiças provocadas por esta aberração de concurso.

marcar artigo