O valor das ideias: A reinterpretação keynesiana do PSD: investimentos de comunidade??

29-09-2009
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Da tradicional reacção blogosférica, surge agora um post de Manuel Pinheiro, sobre Investimentos Públicos. Naturalmente, para dizer mal. Mas antes do debate económico, eu queria perceber alguns detalhes semânticos. Quando se quer insultivo, convém não dar azo a ser insultado. Por isso, fiquei a meditar em "não deixar à solta comportamentos de um alegado novo rico com síndrome de endeusamento do ego." A frase refere-se, pasmem, a José Sócrates. E pretendendo ser insultiva eu não percebo bem o uso do "alegado". Porque se a ideia é acusar A de um crime sem sujar as mãos, dir-se-ia "o alegado criminoso", ou se a ideia é contestar uma ideia que A tem de si mesmo, por exemplo genialidade, dir-se-ia, "o alegado génio". Agora...o alegado novo rico? Que me conste JS não reclama essa característica para si próprio, o novo riquismo não é crime (o PSD deve estar baralhado com o enriquecimento ilícito) e não me parece também que entre o rosário de piropos com que o PM é mimado pela oposição se costume incluir um novo riquismo, de que essa oposição duvide, caso em que o alegado só retira eficácia. Fica a dica para futuros textos do Manuel Pinheiro. Quanto à economia, Manuel Pinheiro sugere-nos uma interessante reintrepretação keynesiana, mas que lhe proponho submeta a outro fórum, porque terá de ser validada. Diz ele que "Se aceitarmos a ideia da importância da estabilidade dos factores de Keynes e de como alguma flutuação de investimento público pode amenizar variações mais desagradáveis na procura agregada, a visão de curto prazo para a acção do Governo seria desde já fazer avançar os investimentos tácticos e adiar os estratégicos. Os tácticos seriam pequenos investimentos mais próximos das comunidades, com maior rapidez de organização e implementação e com incorporação de factores sobretudo locais." Meu caro amigo, eu gostava mesmo muito que me dissesse onde na obra de John Maynard Keynes foi buscar a diferenciação entre investimentos tácticos e estratégicos. É que, e juro pelo sobre a tumba do próprio, eu, que até sou keynesiano, nunca li outra. Do próprio. A Dra- Ferreira Leite e o Dr. Relvas já vieram com essa, mas AINDA não gozam da autoridade de substituirem ao John Maynard. Lá chegarão...Por isso, na prática, sob uma pseudo aurea de sapiência o que se está a debitar é a cartilha do partido: a diferença para si não é entre tática e estratégia, é entre investimentos menores, que estima lhe custem menos em termos fiscais, e investimentos maiores que estima lhe venham a custar mais. E como a solidariedade social parece que fugiu da social democracia, não está para isso. Mas assumam que é essa a ideia: o John Maynard Keynes não tem nada a ver com isso. Em segundon lugar a "expressão estabilidade dos factores" é sua. O Keynes fala em estabilização conjuntural. Eu nem sei o que "estabilidade dos factores" quer dizer neste contexto. Porque é uma expressão com raízes não keynesianas. Sei contudo o que quer dizer, mas aconselho, por via de regra um político que quer falar de economia, a ler uns livrinhos...tipo resumos. Senão ainda lhe acontece de dizer os disparates de outra gente que por aí escreve. Mas vamos ao âmago do que diz: nada de novo, você regressa à tese de que os chamados "investimentos de proximidade" são melhores para combater a recessão que os estruturais. Pois, eu percebo. Só que isso de investimentos de proximidade é daquelas expressões que o gabinete de estudos do Dr. Relvas criou, e que é um conjunto vazio de significado. Chama-lhe de "comunidade". Vai dar ao mesmo. A capacidade de criar emprego no curto prazo passa por investir em projectos já existentes, permitindo o arranque rápido. Se eles são na sua rua ou no Pulo do Lobo é indiferente, percebe? Havendo desemprego em ambos os lados, não é a proximidade ao que quer que seja que determina se um projecto é bom ou mau a gerar emprego.Depois há o óbvio:- se há projectos de grande envergadura prontos a arrancar, então este é preferível, porque emprega mais gente durante mais tempo. A não ser que esteja convicto que a crise é passageira e que tudo se resolverá a bem. Mas isso é outro debate. E lamento dizer, não concordo consigo.- a ideia de que preferia que o Estado pagasse a tempo às empresas, é gira. Eu també gostava. E não sou detentor de nenhuma. Mas a questão é esta: pagar a tempo às empresas é uma obrigação. Investir em projectos públicos é uma opção política. No contexto actual de quebra de procura, pagar a tempo às empresas é bom, e pode permitir evitar falências por dificuldades de tesouraria. Mas não retira um desempregado da lista. Evita juntar mais. Só que para diminuir a lista, eu sugeriria que pensasse bem se não é melhor aumentar as encomendas das empresas, via investimento público e consumo das famílias. Percebe a diferença? O que está em causa não é negar o direito a receber, é dar o direito a um governo com maioria parlamentar de levar a cabo o seu programa de política económica.


Da tradicional reacção blogosférica, surge agora um post de Manuel Pinheiro, sobre Investimentos Públicos. Naturalmente, para dizer mal. Mas antes do debate económico, eu queria perceber alguns detalhes semânticos. Quando se quer insultivo, convém não dar azo a ser insultado. Por isso, fiquei a meditar em "não deixar à solta comportamentos de um alegado novo rico com síndrome de endeusamento do ego." A frase refere-se, pasmem, a José Sócrates. E pretendendo ser insultiva eu não percebo bem o uso do "alegado". Porque se a ideia é acusar A de um crime sem sujar as mãos, dir-se-ia "o alegado criminoso", ou se a ideia é contestar uma ideia que A tem de si mesmo, por exemplo genialidade, dir-se-ia, "o alegado génio". Agora...o alegado novo rico? Que me conste JS não reclama essa característica para si próprio, o novo riquismo não é crime (o PSD deve estar baralhado com o enriquecimento ilícito) e não me parece também que entre o rosário de piropos com que o PM é mimado pela oposição se costume incluir um novo riquismo, de que essa oposição duvide, caso em que o alegado só retira eficácia. Fica a dica para futuros textos do Manuel Pinheiro. Quanto à economia, Manuel Pinheiro sugere-nos uma interessante reintrepretação keynesiana, mas que lhe proponho submeta a outro fórum, porque terá de ser validada. Diz ele que "Se aceitarmos a ideia da importância da estabilidade dos factores de Keynes e de como alguma flutuação de investimento público pode amenizar variações mais desagradáveis na procura agregada, a visão de curto prazo para a acção do Governo seria desde já fazer avançar os investimentos tácticos e adiar os estratégicos. Os tácticos seriam pequenos investimentos mais próximos das comunidades, com maior rapidez de organização e implementação e com incorporação de factores sobretudo locais." Meu caro amigo, eu gostava mesmo muito que me dissesse onde na obra de John Maynard Keynes foi buscar a diferenciação entre investimentos tácticos e estratégicos. É que, e juro pelo sobre a tumba do próprio, eu, que até sou keynesiano, nunca li outra. Do próprio. A Dra- Ferreira Leite e o Dr. Relvas já vieram com essa, mas AINDA não gozam da autoridade de substituirem ao John Maynard. Lá chegarão...Por isso, na prática, sob uma pseudo aurea de sapiência o que se está a debitar é a cartilha do partido: a diferença para si não é entre tática e estratégia, é entre investimentos menores, que estima lhe custem menos em termos fiscais, e investimentos maiores que estima lhe venham a custar mais. E como a solidariedade social parece que fugiu da social democracia, não está para isso. Mas assumam que é essa a ideia: o John Maynard Keynes não tem nada a ver com isso. Em segundon lugar a "expressão estabilidade dos factores" é sua. O Keynes fala em estabilização conjuntural. Eu nem sei o que "estabilidade dos factores" quer dizer neste contexto. Porque é uma expressão com raízes não keynesianas. Sei contudo o que quer dizer, mas aconselho, por via de regra um político que quer falar de economia, a ler uns livrinhos...tipo resumos. Senão ainda lhe acontece de dizer os disparates de outra gente que por aí escreve. Mas vamos ao âmago do que diz: nada de novo, você regressa à tese de que os chamados "investimentos de proximidade" são melhores para combater a recessão que os estruturais. Pois, eu percebo. Só que isso de investimentos de proximidade é daquelas expressões que o gabinete de estudos do Dr. Relvas criou, e que é um conjunto vazio de significado. Chama-lhe de "comunidade". Vai dar ao mesmo. A capacidade de criar emprego no curto prazo passa por investir em projectos já existentes, permitindo o arranque rápido. Se eles são na sua rua ou no Pulo do Lobo é indiferente, percebe? Havendo desemprego em ambos os lados, não é a proximidade ao que quer que seja que determina se um projecto é bom ou mau a gerar emprego.Depois há o óbvio:- se há projectos de grande envergadura prontos a arrancar, então este é preferível, porque emprega mais gente durante mais tempo. A não ser que esteja convicto que a crise é passageira e que tudo se resolverá a bem. Mas isso é outro debate. E lamento dizer, não concordo consigo.- a ideia de que preferia que o Estado pagasse a tempo às empresas, é gira. Eu també gostava. E não sou detentor de nenhuma. Mas a questão é esta: pagar a tempo às empresas é uma obrigação. Investir em projectos públicos é uma opção política. No contexto actual de quebra de procura, pagar a tempo às empresas é bom, e pode permitir evitar falências por dificuldades de tesouraria. Mas não retira um desempregado da lista. Evita juntar mais. Só que para diminuir a lista, eu sugeriria que pensasse bem se não é melhor aumentar as encomendas das empresas, via investimento público e consumo das famílias. Percebe a diferença? O que está em causa não é negar o direito a receber, é dar o direito a um governo com maioria parlamentar de levar a cabo o seu programa de política económica.

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