Embora seja sempre interessante ler o que escreve o João Galamba, a sequência de posts sobre a encílica Caritas in Veritate, toca pontos muito interessantes da aproximação da Doutrina Social da Igreja à genuina social democracia, afastando aquilo que Stiglitz chamava há tempos de "visão de Direita do Mercado". Eu diria que são posts de leitura obrigatória.Aliás, o João terá visto, senão recomendo-lhe e a todos os leitores, o disparatado final da crónica do Henrique Raposo no Expresso deste Sábado, que dá bem conta do incómodo que a encíclica causou a toda a ala neoliberal da direita portuguesa. Não será por acaso que ainda não vi sobre o texto papal ou sobre a crónica em causa, qualquer referência na blogosfera que endeusa o mercado. Num tom inesperadamente rude, o Henrique Raposo, escreveu que "até gostava dos católicos", como se falasse de uma subespécie qualquer face ao patamar de sobrehumano em que se coloca, e depois tentou fazer o impensável: doutrinar o Papa. Se há coisa que se sabe, é que Joseph Ratzinger foi um proeminente teólogo. Contudo, Henrique Raposo disse que o Papa se devia abster de verter Karl Marx sobre os textos bíblicos (??), o que só prova que não leu nem uns nem outros, e no que considerei de uma arrogância imprópria até para Raposo, ele sugere que o Papa devia ter presente a passagem bíblica "A César o que é de César, a Deus o que é de Deus", deixando claro que os assuntos da organização do sistema económico e da justiça social deviam estar para além daquilo sobre que a Igreja poderia falar.Quando a direita chega ao ponto de tentar censurar o Vaticano, estamos conversados sobre a sua cegueira quanto à crise do modo de produção capitalista puro. Mas se me permitem, isto defendo há algum tempo. Pode algum libertário reivindicar-se como herdeiro de um património que vem da Rerum Novarum, a base da Doutrina Social da Igreja?Falava da blogosfera que endeusa o mercado, mas quem já falou, foi o mentor dos neoliberais portugueses, o homem que já defendia o liberalismo absoluto quando os PCs ainda eram 286.Falo da como sempre enviesada leitura da economia do inefável Pedro Arroja, o homem que em tempos defendeu "Se uma pessoa tem direito a um voto mas não quer usá-lo, tem de o deitar fora. Noutro sistema, poderá vendê-lo a alguém que queira votar várias vezes. Já viu quantos pobrezinhos ficavam beneficiados?", e que agora se insurje contra a encíclica querer submeter o mercado e a globalização a um processo de governação global, de controlo político.De Pedro Arroja, já ninguém que tenha conhecido os seus gloriosos dislates da primeira metade dos anos 90, pode esperar nada de bom, mas para Henrique Raposo talvez ainda houvesse esperança. Afinal o neoliberalismo é mesmo incurável.
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Embora seja sempre interessante ler o que escreve o João Galamba, a sequência de posts sobre a encílica Caritas in Veritate, toca pontos muito interessantes da aproximação da Doutrina Social da Igreja à genuina social democracia, afastando aquilo que Stiglitz chamava há tempos de "visão de Direita do Mercado". Eu diria que são posts de leitura obrigatória.Aliás, o João terá visto, senão recomendo-lhe e a todos os leitores, o disparatado final da crónica do Henrique Raposo no Expresso deste Sábado, que dá bem conta do incómodo que a encíclica causou a toda a ala neoliberal da direita portuguesa. Não será por acaso que ainda não vi sobre o texto papal ou sobre a crónica em causa, qualquer referência na blogosfera que endeusa o mercado. Num tom inesperadamente rude, o Henrique Raposo, escreveu que "até gostava dos católicos", como se falasse de uma subespécie qualquer face ao patamar de sobrehumano em que se coloca, e depois tentou fazer o impensável: doutrinar o Papa. Se há coisa que se sabe, é que Joseph Ratzinger foi um proeminente teólogo. Contudo, Henrique Raposo disse que o Papa se devia abster de verter Karl Marx sobre os textos bíblicos (??), o que só prova que não leu nem uns nem outros, e no que considerei de uma arrogância imprópria até para Raposo, ele sugere que o Papa devia ter presente a passagem bíblica "A César o que é de César, a Deus o que é de Deus", deixando claro que os assuntos da organização do sistema económico e da justiça social deviam estar para além daquilo sobre que a Igreja poderia falar.Quando a direita chega ao ponto de tentar censurar o Vaticano, estamos conversados sobre a sua cegueira quanto à crise do modo de produção capitalista puro. Mas se me permitem, isto defendo há algum tempo. Pode algum libertário reivindicar-se como herdeiro de um património que vem da Rerum Novarum, a base da Doutrina Social da Igreja?Falava da blogosfera que endeusa o mercado, mas quem já falou, foi o mentor dos neoliberais portugueses, o homem que já defendia o liberalismo absoluto quando os PCs ainda eram 286.Falo da como sempre enviesada leitura da economia do inefável Pedro Arroja, o homem que em tempos defendeu "Se uma pessoa tem direito a um voto mas não quer usá-lo, tem de o deitar fora. Noutro sistema, poderá vendê-lo a alguém que queira votar várias vezes. Já viu quantos pobrezinhos ficavam beneficiados?", e que agora se insurje contra a encíclica querer submeter o mercado e a globalização a um processo de governação global, de controlo político.De Pedro Arroja, já ninguém que tenha conhecido os seus gloriosos dislates da primeira metade dos anos 90, pode esperar nada de bom, mas para Henrique Raposo talvez ainda houvesse esperança. Afinal o neoliberalismo é mesmo incurável.