O Acidental: Coisas simples que eu não quero entender

21-07-2005
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Só ao final da tarde consegui ler os jornais. Só ao final da tarde é que percebi que o arrastão nunca existiu. Curioso ia jurar que ontem o arrastão ainda existia. Deve-se ter passado qualquer coisa enquanto estive a jantar. Os mesmos jornais que antes falavam sobre arrastões falam hoje, com a mesma veemência, sobre manipulações.Confesso que me irrita o tema do arrastão. Irrita-me o pobre imbecil que se lembrou da palavra na televisão. Irritam-me os polícias que para gabar o serviço logo falaram em centenas e mais os jornalistas que logo insistiram em milhares. Pareciam as contas do Constâncio. Tudo isso me irrita e o pior foi o que se seguiu. O ministro que anunciava reforços policiais, os tontinhos de botas da tropa marchando no Martim Moniz, a baixinha em S. Bento disparando disparates e o homem do café que alegremente comentava "então? o arrastão". O país até pensava que era evoluído ter coisa tão moderna como gangs e criminalidade em massa. E como na cabeça de uns tudo é ideologia logo houve quem mais erudito explicasse: quem acredita nessas coisas é um porco racista.E mais ainda. Porque depois veio a Andringa fazer um documentário. A jornalista que era sindicalista. Aquela que falava contra a manipulação dos jornalistas pela isenção e pelo rigor e que depois foi candidata a deputada. Ficou feito o documentário e mais a prova que faltava. O país rende-se às evidências: se a jornalista desempregada que até é candidata diz que não houve arrastão é porque não houve mesmo. O povo entusiasmado aplaude tamanho exercício de altruísmo. Um pouco mais e vai a correr lamentar-se à Ana Drago. Pois é deputada, pois é, os jovens do arrastão pelos vistos fugiam de uma carga policial ordenada sem razão.Fiquei contente por hoje saber que não existiu arrastão. Fiquei contente por hoje saber que fui manipulado pelos polícias, pelos media, pelos ministros, pela extrema-direita e pela extrema-esquerda. Sinto-me melhor e mais seguro. Nem quero saber se existiu ou não. Para mim, pior, é que esta coisa se arraste.[Rodrigo Moita de Deus]

Só ao final da tarde consegui ler os jornais. Só ao final da tarde é que percebi que o arrastão nunca existiu. Curioso ia jurar que ontem o arrastão ainda existia. Deve-se ter passado qualquer coisa enquanto estive a jantar. Os mesmos jornais que antes falavam sobre arrastões falam hoje, com a mesma veemência, sobre manipulações.Confesso que me irrita o tema do arrastão. Irrita-me o pobre imbecil que se lembrou da palavra na televisão. Irritam-me os polícias que para gabar o serviço logo falaram em centenas e mais os jornalistas que logo insistiram em milhares. Pareciam as contas do Constâncio. Tudo isso me irrita e o pior foi o que se seguiu. O ministro que anunciava reforços policiais, os tontinhos de botas da tropa marchando no Martim Moniz, a baixinha em S. Bento disparando disparates e o homem do café que alegremente comentava "então? o arrastão". O país até pensava que era evoluído ter coisa tão moderna como gangs e criminalidade em massa. E como na cabeça de uns tudo é ideologia logo houve quem mais erudito explicasse: quem acredita nessas coisas é um porco racista.E mais ainda. Porque depois veio a Andringa fazer um documentário. A jornalista que era sindicalista. Aquela que falava contra a manipulação dos jornalistas pela isenção e pelo rigor e que depois foi candidata a deputada. Ficou feito o documentário e mais a prova que faltava. O país rende-se às evidências: se a jornalista desempregada que até é candidata diz que não houve arrastão é porque não houve mesmo. O povo entusiasmado aplaude tamanho exercício de altruísmo. Um pouco mais e vai a correr lamentar-se à Ana Drago. Pois é deputada, pois é, os jovens do arrastão pelos vistos fugiam de uma carga policial ordenada sem razão.Fiquei contente por hoje saber que não existiu arrastão. Fiquei contente por hoje saber que fui manipulado pelos polícias, pelos media, pelos ministros, pela extrema-direita e pela extrema-esquerda. Sinto-me melhor e mais seguro. Nem quero saber se existiu ou não. Para mim, pior, é que esta coisa se arraste.[Rodrigo Moita de Deus]

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