dissonantes

25-02-2008
marcar artigo

Recuperar a verdadeira identidade portuguesa

De todos os séculos da História de Portugal, o mais confuso para mim foi o séc. XIX. Multiplicaram-se as personagens. E o enredo complexificou-se. Lembro-me de ter gostado muito de D. Pedro V, por exemplo, ligado na minha memória ao caminho-de-ferro. E sempre achei muito injusta a imagem negativa que tentaram dar-nos do rei D. Carlos, que nunca abandonou o seu país, nem no meio das convulsões internas. E que, ao não se defender do seu próprio povo, acabou por morrer de forma trágica. E como sempre apreciei a sensibilidade artística e a curiosidade científica, este rei sempre me foi simpático. Pode ter sido pecador, mas as melhores alminhas, as humanas, são necessariamente pecadoras. Insensatas mas também generosas. Humanas.

Sinistras aos meus olhos, são essas personagens conspiradoras, em caves escuras, a jurar fidelidades unidas pelo ódio. Pela filosofia da morte. Pela filosofia fanática da intolerância e da violência. Quando estas personagens sinistras, sem alma nem vida, detêm o poder, espalham a morte e o ódio. Há vários exemplos na História.

Não é à primeira que distinguimos estas personagens das outras. Por vezes até as confundimos. Por vezes até as consideramos modelos de determinação, competência, pragmatismo e realismo. Mas hoje estamos mais preparados para as distinguir. E é importante fazê-lo, desmontando os seus discursos, os seus gestos, e quanto mais insignificantes mais significativos.

Fernando Rosas e o seu ódio, a sua intolerância, o seu fanatismo. O governo socialista e quem se deixou levar por essa lógica do ódio, da intolerância e do fanatismo. São apenas uma amostra das personagens que promovem divisões. Que usam o poder de forma conspirativa e secreta. Que manipulam, eles sim, a História.

Hoje é mais fácil desmontar e revelar. Façamo-lo sistematicamente. Para nosso bem. Neutralizemos o ódio que não nos pertence como povo, que não nos caracteriza. Nascemos com um rei que foi tolerante com outros povos e culturas. Crescemos assim. Viajámos assim. Essa é talvez a nossa melhor qualidade, a tolerância. E talvez esse seja o nosso papel histórico, unir, conciliar, pacificar, colar as pontas soltas da História.

sinto-me: confiante

música: Bernardo Sassetti - Caminho Até Aqui - Índigo

Governo censurado

Do que vi e ouvi esta semana, fica-me a esperança de ainda existirem pessoas neste país que defendem valores e princípios, mantêm autonomia face ao poder estabelecido, assumem compromissos, valorizam a integridade, a “honra”, como diz Bagão Félix. Integridade e credibilidade que serão cada vez mais valorizadas pelos cidadãos que querem ser informados e respeitados.

O BE, enfrentando a hostilidade paternalista do PS, mostrou que em democracia vale a pena defender valores e princípios. O maior valor, a meu ver, o do compromisso, o contrato estabelecido com os eleitores. O valor que confere credibilidade, no fundo. Fora isso, fica o vazio político. Aquele vazio que vemos agora no governo e na sua claque mimética.

Em relação à decisão de não referendar o Tratado de Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa também já o tinha lembrado nas “Escolhas de Marcelo” na RTP 1, dia 13: O Parlamento não tem mandato popular para ratificar por via parlamentar. O mandato que tem é para referendar. E prevê um preço elevado a pagar por esta opção. “A curto-prazo é mais fácil, mas vai pagar-se um preço elevado.”

Mas voltemos ao Parlamento e à apresentação da Moção de Censura ao governo pelo BE:

Nova gafe no protocolo parlamentar (e sintomática da falta de respeito do PS pelos partidos da oposição): o Presidente da Assembleia da República permitiu que o primeiro-ministro delegasse o encerramento da discussão da Moção de Censura no ministro dos Assuntos Parlamentares. Numa tentativa de retirar importância ou dignidade à iniciativa do BE. Louçã bem ergueu o livro do Regulamento mas nada a fazer. Com argumentos frágeis e esfarrapados lá deram mais um pontapé no protocolo, mas quem é o BE afinal?

Como disse Louçã, “o debate foi esclarecedor em relação à qualidade da democracia do país.” E gostei da frase: “é a razão da vossa força contra a força da nossa razão”. Tem toda a razão. Senão vejamos:

Magníficos momentos de verdades inconvenientes sobre um Tratado, sobretudo no brilhante discurso de Fernando Rosas, abordando questões fundamentais que se mantêm em relação ao Tratado Constitucional, nas intervenções inspiradas de Francisco Louçã e nos argumentos inteligentes e certeiros de Ana Drago. Aliás, todos os intervenientes do BE disseram o essencial e de forma clara. Irrepreensível. Estão de Parabéns.

Voltando ao debate, esteve bem o PCP. Bernardino Soares aplicou um “cognome” ao PM: “Sócrates, o Quebra-promessas.” Também referiu que para o PM “o Tratado é um dogma”!

Estiveram bem os Verdes: Heloísa Apolónia até acabou por colocar ao PM a pergunta mais inconveniente: “Zapatero defende o mesmo em Espanha mas por razões completamente diferentes: este Tratado é essencialmente o mesmo que o Tratado Constitucional, ao qual os espanhóis já votaram “Sim”. O senhor diz-nos que este Tratado é completamente diferente do Constitucional. Em que é que ficamos? Afinal quem é que está a mentir, Sócrates ou Zapatero?”

Esteve bem o CDS/PP em todas as intervenções, e até no novo slogan que vai certamente pegar: “Promessa Sócrates, promessa não cumprida.” E Paulo Portas conseguiu a proeza de levar o PM a admitir que a descida do índice de risco da pobreza, calculado pelo INE, se refere ao governo anterior e não ao seu!? Nota-se no CDS/PP um renovar de entusiasmo, a capacidade de mobilizar inteligências e vontades. Está no bom caminho, numa boa fase, de reorganização, de definição clara de objectivos e prioridades, de propostas realistas e fiáveis.

No PSD algumas vozes, poucas, com alguma frescura e esperança. Está a perder credibilidade política ao não se demarcar do PS na sua colaboração na deformação da democracia saudável (exemplos: esta ratificação parlamentar do Tratado de Lisboa, a nova lei eleitoral, a tentativa de extinguir os pequenos partidos, etc.)

O PS há muito que perdeu toda a chama. A qualidade dos seus argumentos é a mais frágil. Não vem dali nenhuma ideia, só o mimetismo do chefe, a repetição de preconceitos que revelam fracos conhecimentos de História, de Sociologia e de Política. Nota-se até uma crise de identidade. Para se demarcar do BE, o PM já referia que há uma Esquerda democrática (a sua, claro!) e uma Esquerda conservadora (a do BE). Mau Maria! Então não é o PS o autor e representante da tal “esquerda conservadora” (como referiu Silva Pereira)? Afinal, em que é que ficamos? Definam-se de uma vez por todas!

Outras frases reveladoras do pensamento iluminado do PM:

“Os portugueses conhecem bem este governo e o seu programa”. (Que programa?)

“O povo português vota Europa sempre que vota no PS e no PSD!” (Salazar não diria melhor. Era a União Nacional, não era? Agora é o Centrão!?)

“O voto só deve ser usado em determinadas circunstâncias e bem usado…” (quando vota PS ou PSD?) Razão tem Ana Drago quando diz que o PM “trata o povo português com paternalismo, como crianças. É o seu tutor. Os portugueses não podem decidir sobre o seu próprio futuro.”

“Os que defendem o referendo é que querem dividir o povo dos políticos!” (Esta é tão trapézica que nem eu consigo atingir…)

O PS “é favorável à Europa social e da solidariedade!” (Defina “social”… SA? Sociedade anónima? Banco central? E já agora “solidariedade”. Vá, coragem, a palavra não morde… So-li-da-rie-da-de. Vá lá… Nós esperamos…)

O que um tecnocrata é capaz de dizer para se equilibrar na espuma da onda europeia!?

Para finalizar esta análise da censura ao governo:

Uma relação de confiança com os eleitores, e os cidadãos em geral, constrói-se todos os dias. O CDS/PP sabe-o, o BE sabe-o, o PCP sabe-o e os Verdes, embora pequeninos, também me parece que o sabem. Será um valor a apresentar em eleições daqui a um ano e meio.

O PSD está a esquecê-lo, distraído com a ideia, que lhe vai sair cara, de ser a única alternativa à actual maioria e ao não se saber demarcar e distanciar do PS.

Quanto a nós, cidadãos deste estranho país tão mal governado… porque não pegamos no maldito Tratado e começamos a debatê-lo, ponto por ponto? Mesmo que nos tenha sido retirada a possibilidade de manifestar a nossa opinião de forma vinculativa, nada nos impede de o descodificar e debater noutras instâncias… na internet, nos cafés, nas praças, nas feiras… Vamos a isso!

sinto-me: perplexa

música: When The Ship Went Down-Joe Maneri, Barre Philips, Mat Maner

Recuperar a verdadeira identidade portuguesa

De todos os séculos da História de Portugal, o mais confuso para mim foi o séc. XIX. Multiplicaram-se as personagens. E o enredo complexificou-se. Lembro-me de ter gostado muito de D. Pedro V, por exemplo, ligado na minha memória ao caminho-de-ferro. E sempre achei muito injusta a imagem negativa que tentaram dar-nos do rei D. Carlos, que nunca abandonou o seu país, nem no meio das convulsões internas. E que, ao não se defender do seu próprio povo, acabou por morrer de forma trágica. E como sempre apreciei a sensibilidade artística e a curiosidade científica, este rei sempre me foi simpático. Pode ter sido pecador, mas as melhores alminhas, as humanas, são necessariamente pecadoras. Insensatas mas também generosas. Humanas.

Sinistras aos meus olhos, são essas personagens conspiradoras, em caves escuras, a jurar fidelidades unidas pelo ódio. Pela filosofia da morte. Pela filosofia fanática da intolerância e da violência. Quando estas personagens sinistras, sem alma nem vida, detêm o poder, espalham a morte e o ódio. Há vários exemplos na História.

Não é à primeira que distinguimos estas personagens das outras. Por vezes até as confundimos. Por vezes até as consideramos modelos de determinação, competência, pragmatismo e realismo. Mas hoje estamos mais preparados para as distinguir. E é importante fazê-lo, desmontando os seus discursos, os seus gestos, e quanto mais insignificantes mais significativos.

Fernando Rosas e o seu ódio, a sua intolerância, o seu fanatismo. O governo socialista e quem se deixou levar por essa lógica do ódio, da intolerância e do fanatismo. São apenas uma amostra das personagens que promovem divisões. Que usam o poder de forma conspirativa e secreta. Que manipulam, eles sim, a História.

Hoje é mais fácil desmontar e revelar. Façamo-lo sistematicamente. Para nosso bem. Neutralizemos o ódio que não nos pertence como povo, que não nos caracteriza. Nascemos com um rei que foi tolerante com outros povos e culturas. Crescemos assim. Viajámos assim. Essa é talvez a nossa melhor qualidade, a tolerância. E talvez esse seja o nosso papel histórico, unir, conciliar, pacificar, colar as pontas soltas da História.

sinto-me: confiante

música: Bernardo Sassetti - Caminho Até Aqui - Índigo

Governo censurado

Do que vi e ouvi esta semana, fica-me a esperança de ainda existirem pessoas neste país que defendem valores e princípios, mantêm autonomia face ao poder estabelecido, assumem compromissos, valorizam a integridade, a “honra”, como diz Bagão Félix. Integridade e credibilidade que serão cada vez mais valorizadas pelos cidadãos que querem ser informados e respeitados.

O BE, enfrentando a hostilidade paternalista do PS, mostrou que em democracia vale a pena defender valores e princípios. O maior valor, a meu ver, o do compromisso, o contrato estabelecido com os eleitores. O valor que confere credibilidade, no fundo. Fora isso, fica o vazio político. Aquele vazio que vemos agora no governo e na sua claque mimética.

Em relação à decisão de não referendar o Tratado de Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa também já o tinha lembrado nas “Escolhas de Marcelo” na RTP 1, dia 13: O Parlamento não tem mandato popular para ratificar por via parlamentar. O mandato que tem é para referendar. E prevê um preço elevado a pagar por esta opção. “A curto-prazo é mais fácil, mas vai pagar-se um preço elevado.”

Mas voltemos ao Parlamento e à apresentação da Moção de Censura ao governo pelo BE:

Nova gafe no protocolo parlamentar (e sintomática da falta de respeito do PS pelos partidos da oposição): o Presidente da Assembleia da República permitiu que o primeiro-ministro delegasse o encerramento da discussão da Moção de Censura no ministro dos Assuntos Parlamentares. Numa tentativa de retirar importância ou dignidade à iniciativa do BE. Louçã bem ergueu o livro do Regulamento mas nada a fazer. Com argumentos frágeis e esfarrapados lá deram mais um pontapé no protocolo, mas quem é o BE afinal?

Como disse Louçã, “o debate foi esclarecedor em relação à qualidade da democracia do país.” E gostei da frase: “é a razão da vossa força contra a força da nossa razão”. Tem toda a razão. Senão vejamos:

Magníficos momentos de verdades inconvenientes sobre um Tratado, sobretudo no brilhante discurso de Fernando Rosas, abordando questões fundamentais que se mantêm em relação ao Tratado Constitucional, nas intervenções inspiradas de Francisco Louçã e nos argumentos inteligentes e certeiros de Ana Drago. Aliás, todos os intervenientes do BE disseram o essencial e de forma clara. Irrepreensível. Estão de Parabéns.

Voltando ao debate, esteve bem o PCP. Bernardino Soares aplicou um “cognome” ao PM: “Sócrates, o Quebra-promessas.” Também referiu que para o PM “o Tratado é um dogma”!

Estiveram bem os Verdes: Heloísa Apolónia até acabou por colocar ao PM a pergunta mais inconveniente: “Zapatero defende o mesmo em Espanha mas por razões completamente diferentes: este Tratado é essencialmente o mesmo que o Tratado Constitucional, ao qual os espanhóis já votaram “Sim”. O senhor diz-nos que este Tratado é completamente diferente do Constitucional. Em que é que ficamos? Afinal quem é que está a mentir, Sócrates ou Zapatero?”

Esteve bem o CDS/PP em todas as intervenções, e até no novo slogan que vai certamente pegar: “Promessa Sócrates, promessa não cumprida.” E Paulo Portas conseguiu a proeza de levar o PM a admitir que a descida do índice de risco da pobreza, calculado pelo INE, se refere ao governo anterior e não ao seu!? Nota-se no CDS/PP um renovar de entusiasmo, a capacidade de mobilizar inteligências e vontades. Está no bom caminho, numa boa fase, de reorganização, de definição clara de objectivos e prioridades, de propostas realistas e fiáveis.

No PSD algumas vozes, poucas, com alguma frescura e esperança. Está a perder credibilidade política ao não se demarcar do PS na sua colaboração na deformação da democracia saudável (exemplos: esta ratificação parlamentar do Tratado de Lisboa, a nova lei eleitoral, a tentativa de extinguir os pequenos partidos, etc.)

O PS há muito que perdeu toda a chama. A qualidade dos seus argumentos é a mais frágil. Não vem dali nenhuma ideia, só o mimetismo do chefe, a repetição de preconceitos que revelam fracos conhecimentos de História, de Sociologia e de Política. Nota-se até uma crise de identidade. Para se demarcar do BE, o PM já referia que há uma Esquerda democrática (a sua, claro!) e uma Esquerda conservadora (a do BE). Mau Maria! Então não é o PS o autor e representante da tal “esquerda conservadora” (como referiu Silva Pereira)? Afinal, em que é que ficamos? Definam-se de uma vez por todas!

Outras frases reveladoras do pensamento iluminado do PM:

“Os portugueses conhecem bem este governo e o seu programa”. (Que programa?)

“O povo português vota Europa sempre que vota no PS e no PSD!” (Salazar não diria melhor. Era a União Nacional, não era? Agora é o Centrão!?)

“O voto só deve ser usado em determinadas circunstâncias e bem usado…” (quando vota PS ou PSD?) Razão tem Ana Drago quando diz que o PM “trata o povo português com paternalismo, como crianças. É o seu tutor. Os portugueses não podem decidir sobre o seu próprio futuro.”

“Os que defendem o referendo é que querem dividir o povo dos políticos!” (Esta é tão trapézica que nem eu consigo atingir…)

O PS “é favorável à Europa social e da solidariedade!” (Defina “social”… SA? Sociedade anónima? Banco central? E já agora “solidariedade”. Vá, coragem, a palavra não morde… So-li-da-rie-da-de. Vá lá… Nós esperamos…)

O que um tecnocrata é capaz de dizer para se equilibrar na espuma da onda europeia!?

Para finalizar esta análise da censura ao governo:

Uma relação de confiança com os eleitores, e os cidadãos em geral, constrói-se todos os dias. O CDS/PP sabe-o, o BE sabe-o, o PCP sabe-o e os Verdes, embora pequeninos, também me parece que o sabem. Será um valor a apresentar em eleições daqui a um ano e meio.

O PSD está a esquecê-lo, distraído com a ideia, que lhe vai sair cara, de ser a única alternativa à actual maioria e ao não se saber demarcar e distanciar do PS.

Quanto a nós, cidadãos deste estranho país tão mal governado… porque não pegamos no maldito Tratado e começamos a debatê-lo, ponto por ponto? Mesmo que nos tenha sido retirada a possibilidade de manifestar a nossa opinião de forma vinculativa, nada nos impede de o descodificar e debater noutras instâncias… na internet, nos cafés, nas praças, nas feiras… Vamos a isso!

sinto-me: perplexa

música: When The Ship Went Down-Joe Maneri, Barre Philips, Mat Maner

marcar artigo