Interrupções: Os novos Índex

18-07-2005
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(Im: Fernand Léger)É hoje bem patente que muito há a fazer no que toca às minorias e à sua inclusão no espaço público europeu. Este compromisso estende-se, obviamente, aos quadrantes, géneros, sectores... historicamente arredados dos seus direitos e de si mesmos. Devemos à História uma leitura lúcida e consequente da sua herança, que nos permita progredir no vazio dos seus erros e omissões, mas também nas virtudes da sua marcha. Até aqui...Mas hoje, o vício do imediatismo das respostas, do conforto das soluções, volta as costas ao que Hegel chamava a "paciência do conceito", facilitando caminho às posições extremadas e fundamentalismos latentes. E, por tudo e por nada, lá vão surgindo à flor do discurso as acusações de homofobia, heterocentrismo, machismo, chauvinismo, qualquer outro “ismo” como anátema sem conta nem medida, confundindo-se uma vigilância necessária, uma obrigação pedagógica e cívica de livre crítica, com pura e simples censura. E deixem de poetar os poetas, parem de escrever os artistas, os cientistas, os professores, os investigadores, que anda aí a armada de costumes, arrancada ao pó dos vários “ismos” com que cismam os incautos!Os exemplos são imensos. Passo a contar um, que testemunhei recentemente.Falava com um colega, discutindo umas publicações de foro académico em que estamos a trabalhar. No seguimento da conversa, fala-me de um artigo seu, que, apesar de ter sido genericamente bem recebido, mereceu críticas por parte de um grupo de estudos feministas que não terá gostado de uma frase (!), por alegadamente revelar uma concepção subalterna da Mulher… Ele leu e releu a frase, desconfiando, com honestidade, de si mesmo e não encontrou nada que o fizesse incorrer em tal crime. Eu próprio virei e revirei o texto e… nada!É função de todos, muito particularmente das instituições artísticas e educativas, tal como eu as entendo, velar pela liberdade de pensamento e de expressão, servindo-se das armas da crítica como salvaguarda dos direitos e da responsabilidade. Por isto mesmo, é necessário reconhecer que os géneros, raças, grupos não-dominantes das sociedades ao longo dos tempos... – e muito particularmente a nossa sociedade no nosso tempo – têm vindo a sofrer na pele a exclusão e a injustiça. No entanto, é preciso saber recusar estes grupúsculos do politicamente correcto, erigidos em novas inquisições, com as garras proibicionistas sedentas de sangue. Eles são a negação dos princípios em nome dos quais agem, não passando, por isso mesmo, de parasitas das próprias causas que defendem, impedindo o tratamento sério das questões em jogo. Veja-se a ridícula posição da Ana Drago quanto ao arrastão de Carcavelos; oponha-se-lhe o tratamento de Andringa e do jornalismo que só informa na condição de previamente se informar... - e, muito honestamente, saibamos criticar as tantas vezes lamentáveis "acções" dos novos censores militantes......Para que, com o verso de Paul Éluard, com as várias vozes e matizes do tempo, se possa pronunciar o teu nome – liberdade.

(Im: Fernand Léger)É hoje bem patente que muito há a fazer no que toca às minorias e à sua inclusão no espaço público europeu. Este compromisso estende-se, obviamente, aos quadrantes, géneros, sectores... historicamente arredados dos seus direitos e de si mesmos. Devemos à História uma leitura lúcida e consequente da sua herança, que nos permita progredir no vazio dos seus erros e omissões, mas também nas virtudes da sua marcha. Até aqui...Mas hoje, o vício do imediatismo das respostas, do conforto das soluções, volta as costas ao que Hegel chamava a "paciência do conceito", facilitando caminho às posições extremadas e fundamentalismos latentes. E, por tudo e por nada, lá vão surgindo à flor do discurso as acusações de homofobia, heterocentrismo, machismo, chauvinismo, qualquer outro “ismo” como anátema sem conta nem medida, confundindo-se uma vigilância necessária, uma obrigação pedagógica e cívica de livre crítica, com pura e simples censura. E deixem de poetar os poetas, parem de escrever os artistas, os cientistas, os professores, os investigadores, que anda aí a armada de costumes, arrancada ao pó dos vários “ismos” com que cismam os incautos!Os exemplos são imensos. Passo a contar um, que testemunhei recentemente.Falava com um colega, discutindo umas publicações de foro académico em que estamos a trabalhar. No seguimento da conversa, fala-me de um artigo seu, que, apesar de ter sido genericamente bem recebido, mereceu críticas por parte de um grupo de estudos feministas que não terá gostado de uma frase (!), por alegadamente revelar uma concepção subalterna da Mulher… Ele leu e releu a frase, desconfiando, com honestidade, de si mesmo e não encontrou nada que o fizesse incorrer em tal crime. Eu próprio virei e revirei o texto e… nada!É função de todos, muito particularmente das instituições artísticas e educativas, tal como eu as entendo, velar pela liberdade de pensamento e de expressão, servindo-se das armas da crítica como salvaguarda dos direitos e da responsabilidade. Por isto mesmo, é necessário reconhecer que os géneros, raças, grupos não-dominantes das sociedades ao longo dos tempos... – e muito particularmente a nossa sociedade no nosso tempo – têm vindo a sofrer na pele a exclusão e a injustiça. No entanto, é preciso saber recusar estes grupúsculos do politicamente correcto, erigidos em novas inquisições, com as garras proibicionistas sedentas de sangue. Eles são a negação dos princípios em nome dos quais agem, não passando, por isso mesmo, de parasitas das próprias causas que defendem, impedindo o tratamento sério das questões em jogo. Veja-se a ridícula posição da Ana Drago quanto ao arrastão de Carcavelos; oponha-se-lhe o tratamento de Andringa e do jornalismo que só informa na condição de previamente se informar... - e, muito honestamente, saibamos criticar as tantas vezes lamentáveis "acções" dos novos censores militantes......Para que, com o verso de Paul Éluard, com as várias vozes e matizes do tempo, se possa pronunciar o teu nome – liberdade.

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