mind this gap

04-07-2009
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Joana Pedroso, Conservadora-Restauradora de Papel. Haarlem, HolandaEntão aqui fica mais uma história de uma imigrante da nova geração.Acabada de fazer o curso sentia-me super insegura em relação ao que ao fim de cinco anos aprendi. A educação em conservação e restauro em Portugal é bastante mais generalista que no resto da Europa e para quem, como eu, deseja a especialização na área de papel, a educação em Portugal roça o ridículo.Fiz o estágio de final de curso num museu na Holanda (Haarlem), confirmei o que já suspeitava em relação ao meu curso e apercebi-me das diferenças abismais a nível de profissionalismo e produtividade quando comparando os dois países. Dando um exemplo bem explícito: os conservadores restauradores de papel da área de Amesterdão e Haarlem reúnem-se de 4 em 4 meses para partilhar experiências, dar a conhecer novos materiais e técnicas que descobriram, e também para contar os "erros" e os "desastres" que aconteceram. Em Portugal reina o segredo, é ainda uma profissão de mezinhas e receitas secretas (claro que há excepções! e espero que os meus colegas que ficaram possam pouco a pouco mudar este panorama).Decidi então tentar ficar, o meu plano era melhorar enquanto profissional para ter mais hipóteses de me empregar em Portugal quando voltasse. Ainda durante o estágio enviei currículos a pedir estágios profissionais (não remunerados) em regime de part time com o plano de depois arranjar outro emprego para suportar os custos. Assim o fiz e arranjei um emprego e o estágio no mesmo atelier, ou seja, trabalho cinco dias por semana e apenas recebo três. Para o único holandês que conheço fora do trabalho a minha situação é ridícula, pois não percebe como me posso submeter a estas condições, trabalhar de graça dois dias por semana. Sim, talvez esteja a ser explorada mas na verdade o que estou a aprender e todas as experiências que até agora o atelier me proporcionou (trabalhamos com os museus mais conceituados da Holanda e não é raro passar um dia a tratar de um Rembrandt ou de um van Gogh) justificam este sacrifício.Mesmo apenas recebendo 3 dias por semana, recebo mais de qualquer um dos meus colegas que recebem os 5 dias por semana em Portugal. Partilho um apartamento com duas outras expatriadas (uma búlgara e uma alemã), não preciso de contar os tostões quando vou ao supermercado, saio quase todos os fins-de-semana, dou-me a alguns (poucos) luxos, mas não poupo nada no fim do mês.Após quase um ano e meio fora já não penso em voltar tão cedo. Tenho saudades do meu país, tenho saudades da minha língua, da família e amigos e claro, do clima.No futuro pretendo sair da Holanda, o clima e a minha vida social pouco estimulante são as causas. Ainda não sei para onde e quando, mas Portugal não aparece nas opções.É preciso alguma coragem para mudar de país sem conhecer ninguém e sem conhecer a língua (apesar de todos falarem inglês aqui, falar holandês é um passo muito importante para a integração). Ficar por outro lado é mais fácil, a rotina rapidamente tomou conta de mim e saber o que me espera em Portugal torna o retorno pouco aliciante.Não posso aconselhar ficar ou sair de Portugal porque depende de cada um, do que desejam e do que precisam para se sentirem felizes. No fundo é isso que todos procuramos, a felicidade, em Portugal ou no resto do Mundo.


Joana Pedroso, Conservadora-Restauradora de Papel. Haarlem, HolandaEntão aqui fica mais uma história de uma imigrante da nova geração.Acabada de fazer o curso sentia-me super insegura em relação ao que ao fim de cinco anos aprendi. A educação em conservação e restauro em Portugal é bastante mais generalista que no resto da Europa e para quem, como eu, deseja a especialização na área de papel, a educação em Portugal roça o ridículo.Fiz o estágio de final de curso num museu na Holanda (Haarlem), confirmei o que já suspeitava em relação ao meu curso e apercebi-me das diferenças abismais a nível de profissionalismo e produtividade quando comparando os dois países. Dando um exemplo bem explícito: os conservadores restauradores de papel da área de Amesterdão e Haarlem reúnem-se de 4 em 4 meses para partilhar experiências, dar a conhecer novos materiais e técnicas que descobriram, e também para contar os "erros" e os "desastres" que aconteceram. Em Portugal reina o segredo, é ainda uma profissão de mezinhas e receitas secretas (claro que há excepções! e espero que os meus colegas que ficaram possam pouco a pouco mudar este panorama).Decidi então tentar ficar, o meu plano era melhorar enquanto profissional para ter mais hipóteses de me empregar em Portugal quando voltasse. Ainda durante o estágio enviei currículos a pedir estágios profissionais (não remunerados) em regime de part time com o plano de depois arranjar outro emprego para suportar os custos. Assim o fiz e arranjei um emprego e o estágio no mesmo atelier, ou seja, trabalho cinco dias por semana e apenas recebo três. Para o único holandês que conheço fora do trabalho a minha situação é ridícula, pois não percebe como me posso submeter a estas condições, trabalhar de graça dois dias por semana. Sim, talvez esteja a ser explorada mas na verdade o que estou a aprender e todas as experiências que até agora o atelier me proporcionou (trabalhamos com os museus mais conceituados da Holanda e não é raro passar um dia a tratar de um Rembrandt ou de um van Gogh) justificam este sacrifício.Mesmo apenas recebendo 3 dias por semana, recebo mais de qualquer um dos meus colegas que recebem os 5 dias por semana em Portugal. Partilho um apartamento com duas outras expatriadas (uma búlgara e uma alemã), não preciso de contar os tostões quando vou ao supermercado, saio quase todos os fins-de-semana, dou-me a alguns (poucos) luxos, mas não poupo nada no fim do mês.Após quase um ano e meio fora já não penso em voltar tão cedo. Tenho saudades do meu país, tenho saudades da minha língua, da família e amigos e claro, do clima.No futuro pretendo sair da Holanda, o clima e a minha vida social pouco estimulante são as causas. Ainda não sei para onde e quando, mas Portugal não aparece nas opções.É preciso alguma coragem para mudar de país sem conhecer ninguém e sem conhecer a língua (apesar de todos falarem inglês aqui, falar holandês é um passo muito importante para a integração). Ficar por outro lado é mais fácil, a rotina rapidamente tomou conta de mim e saber o que me espera em Portugal torna o retorno pouco aliciante.Não posso aconselhar ficar ou sair de Portugal porque depende de cada um, do que desejam e do que precisam para se sentirem felizes. No fundo é isso que todos procuramos, a felicidade, em Portugal ou no resto do Mundo.

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