mind this gap

04-07-2009
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Helena Alemão, Estudos Portugueses. Haia, HolandaHá muito que a vontade de sair de Portugal me invadia. Estava farta da mentalidade mesquinha, da submissão injusta, do trabalho precário, das inexistentes perspectivas de melhoria e do comodismo ridículo perante o declínio iminente.Mais do que a busca de um melhor emprego, de uma situação financeira mais agradável, de uma vida melhor, buscava um sítio onde não me sentisse uma outsider, pois era isso mesmo que sentia em Portugal! Estava cansada de ouvir: “tens de engolir alguns sapos...”, “temos de nos sujeitar....”, “eles tem a faca e o queijo na mão...”, etc, etc.... I beg your pardon??? Porque devo eu ficar calada quando vejo uma injustiça? Porque é que eu tenho de viver com medo de dizer aquilo que penso? Medo de perder o miserável emprego que me paga a renda ao final do mês, medo de que o Prof. XPTO me chumbe a sua cadeira...Mas as minhas escolhas académicas não me prometiam muitas opções lá fora e fui ficando, inadaptada, incompreendida. Perdida e sem saber ao certo o rumo a seguir.Quis a sorte (?!) que o meu marido fosse um dos “felizes” contemplados professores da Universidade Independente que ficaram sem receber o salário, pois alguém andava a encher os bolsos com o dinheiro que os alunos pagavam mensalmente a esta “famosa” instituição. A desilusão foi tão grande que a busca por algo além fronteiras ganhou vida. Após o envio de muitos CV’s (cerca de mil e tal!) viemos parar a Haia.A Holanda nem sequer tinha passado pelos nossos planos: tínhamos apontado mais para Inglaterra (facilidade da língua) ou Suíça (pois adoramos o país). Quis o destino que viéssemos parar ao país das tulipas e em boa hora o fez! Temos ambos bons e promissores empregos. Bons salários. Óptimas perspectivas de crescimento profissional e pessoal.Adaptamo-nos com bastante facilidade a esta nova cultura onde cada um leva a sua vidinha sem se preocupar com a marca das calças do vizinho ou do colega de trabalho. Onde se pode ter um piercing na língua sem que isso seja um factor de exclusão. Onde quando as coisas não estão bem as pessoas falam e tentam chegar a acordos. Onde a nossa opinião é tida como uma mais valia e apreciada. Onde o teu trabalho vale pelo teu trabalho e não pelas pessoas influentes que conheces. E onde o carro, o telemóvel topo de gama e o visa gold não tem qualquer relevância.Saudades? Família, amigos, alguns locais, uma boa bica, um pastel de nata e os dias soalheiros de Inverno.Voltar? É um local óptimo para passar férias!


Helena Alemão, Estudos Portugueses. Haia, HolandaHá muito que a vontade de sair de Portugal me invadia. Estava farta da mentalidade mesquinha, da submissão injusta, do trabalho precário, das inexistentes perspectivas de melhoria e do comodismo ridículo perante o declínio iminente.Mais do que a busca de um melhor emprego, de uma situação financeira mais agradável, de uma vida melhor, buscava um sítio onde não me sentisse uma outsider, pois era isso mesmo que sentia em Portugal! Estava cansada de ouvir: “tens de engolir alguns sapos...”, “temos de nos sujeitar....”, “eles tem a faca e o queijo na mão...”, etc, etc.... I beg your pardon??? Porque devo eu ficar calada quando vejo uma injustiça? Porque é que eu tenho de viver com medo de dizer aquilo que penso? Medo de perder o miserável emprego que me paga a renda ao final do mês, medo de que o Prof. XPTO me chumbe a sua cadeira...Mas as minhas escolhas académicas não me prometiam muitas opções lá fora e fui ficando, inadaptada, incompreendida. Perdida e sem saber ao certo o rumo a seguir.Quis a sorte (?!) que o meu marido fosse um dos “felizes” contemplados professores da Universidade Independente que ficaram sem receber o salário, pois alguém andava a encher os bolsos com o dinheiro que os alunos pagavam mensalmente a esta “famosa” instituição. A desilusão foi tão grande que a busca por algo além fronteiras ganhou vida. Após o envio de muitos CV’s (cerca de mil e tal!) viemos parar a Haia.A Holanda nem sequer tinha passado pelos nossos planos: tínhamos apontado mais para Inglaterra (facilidade da língua) ou Suíça (pois adoramos o país). Quis o destino que viéssemos parar ao país das tulipas e em boa hora o fez! Temos ambos bons e promissores empregos. Bons salários. Óptimas perspectivas de crescimento profissional e pessoal.Adaptamo-nos com bastante facilidade a esta nova cultura onde cada um leva a sua vidinha sem se preocupar com a marca das calças do vizinho ou do colega de trabalho. Onde se pode ter um piercing na língua sem que isso seja um factor de exclusão. Onde quando as coisas não estão bem as pessoas falam e tentam chegar a acordos. Onde a nossa opinião é tida como uma mais valia e apreciada. Onde o teu trabalho vale pelo teu trabalho e não pelas pessoas influentes que conheces. E onde o carro, o telemóvel topo de gama e o visa gold não tem qualquer relevância.Saudades? Família, amigos, alguns locais, uma boa bica, um pastel de nata e os dias soalheiros de Inverno.Voltar? É um local óptimo para passar férias!

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