mind this gap

04-07-2009
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Sílvia Martins, Engenheira Civil, Asilah, MarrocosA minha vida profissional começou em Setembro de 2000, com 22 anos.Munida de um canudo do IST em Engenharia Civil, não me foi difícil arranjar emprego. Se hoje os colegas que acabam o curso estão sujeitos às mesmas vicissitudes da grande maioria dos licenciados nesse nosso jardim à beira mar plantado, em 2000 o emprego estava assegurado.As minhas funções na empresa onde ingressei e para a qual ainda hoje trabalho foram desde sempre ligadas à produção. Realizei o meu sonho de criança : “trabalhar nas obras”. Um meio que ainda hoje não é fácil para alguém do “sexo fraco” mas que me acolheu de braços abertos e com um conjunto de colaboradores fantástico que me ensinou muito, me apoiou ainda mais e que permitiu a minha evolução profissional.Em finais de Setembro de 2006 as perspectivas em termos de mercado interno eram muito más e a empresa continuou o esforço de internacionalização que vinha sendo uma constante desde 2004 … de repente os países do Magreb, nomeadamente Marrocos e Argélia, descobriram necessidades a nível de infra-estruturas que, aliadas ao crescimento económico, permitiram a entrada em força de empresas de construção estrangeiras. O mercado é gigantesco, tem dinheiro, está em movimento e necessita do know-how ocidental como de água para beber.Com este panorama, um mercado nacional em queda livre e potenciais mercados estrangeiros em ascensão, rapidamente foi fácil aperceber me que a estrutura da empresa em Portugal em termos de quadros técnicos se ia esvaziando … uns porque aceitavam as condições de “expatriamento” e partiam para sítios como Oran, Béjaia, Meknes … outros porque não estavam preparados para a saída de Portugal e pura e simplesmente abandonavam a empresa.Tendo em atenção que os mercados emergentes eram países muçulmanos e tendo em atenção que eu era a única “Directora de Obra” da casa, sempre pensei que estaria “segura” em Portugal … no entanto, no inicio de 2007 fui confrontada com uma situação que, só por ingenuidade, foi surpresa. A proposta de uma ida para Marrocos, coordenar uma obra com a duração de 14 meses …. Cedo percebi que não existiam alternativas a esta proposta porque pura e simplesmente não há obras em Portugal …A renda da casa para pagar, a vontade de trabalhar e o gosto em trabalhar com uma equipa que era já minha conhecida hà anos fez me dizer que sim no tempo exacto que me foi dado para pensar: 48 horas ….Hoje, em Marrocos (Asilah-Tanger) há três meses, já percebi que esta é mais uma experiência que me vai fazer aprender e crescer … crescer mesmo muito … fez me perceber que Portugal é cada vez mais um pais sem perspectivas para a minha geração e que a solução passa mesmo por uma saída para o estrangeiro … por muito que me custe, começo a aceitar que o mais certo é não ir criar os meus filhos na terra que me viu nascer …Marrocos, apesar de não ser uma terra “má”, apesar de ter tudo o que temos na Europa, não é um sítio onde quero ficar por muito tempo. As diferenças culturais são óbvias e previsíveis, e o tratamento e respeito devido às mulheres é muito baixo … mesmo para as estrangeiras com cargos de responsabilidade …Sempre que posso procuro na net oportunidades de emprego … fora de Portugal … já são alguns os currículos enviados para sítios tão diversos como Angola, Irlanda, Africa do Sul … não por vontade de estar fora de casa, mas por sentir que em casa não há lugar para mim …A esperança é de um dia sair de Marrocos … mas a certeza é que dificilmente voltarei a Portugal … custa … mas é a realidade e mais vale encara-la de frente …


Sílvia Martins, Engenheira Civil, Asilah, MarrocosA minha vida profissional começou em Setembro de 2000, com 22 anos.Munida de um canudo do IST em Engenharia Civil, não me foi difícil arranjar emprego. Se hoje os colegas que acabam o curso estão sujeitos às mesmas vicissitudes da grande maioria dos licenciados nesse nosso jardim à beira mar plantado, em 2000 o emprego estava assegurado.As minhas funções na empresa onde ingressei e para a qual ainda hoje trabalho foram desde sempre ligadas à produção. Realizei o meu sonho de criança : “trabalhar nas obras”. Um meio que ainda hoje não é fácil para alguém do “sexo fraco” mas que me acolheu de braços abertos e com um conjunto de colaboradores fantástico que me ensinou muito, me apoiou ainda mais e que permitiu a minha evolução profissional.Em finais de Setembro de 2006 as perspectivas em termos de mercado interno eram muito más e a empresa continuou o esforço de internacionalização que vinha sendo uma constante desde 2004 … de repente os países do Magreb, nomeadamente Marrocos e Argélia, descobriram necessidades a nível de infra-estruturas que, aliadas ao crescimento económico, permitiram a entrada em força de empresas de construção estrangeiras. O mercado é gigantesco, tem dinheiro, está em movimento e necessita do know-how ocidental como de água para beber.Com este panorama, um mercado nacional em queda livre e potenciais mercados estrangeiros em ascensão, rapidamente foi fácil aperceber me que a estrutura da empresa em Portugal em termos de quadros técnicos se ia esvaziando … uns porque aceitavam as condições de “expatriamento” e partiam para sítios como Oran, Béjaia, Meknes … outros porque não estavam preparados para a saída de Portugal e pura e simplesmente abandonavam a empresa.Tendo em atenção que os mercados emergentes eram países muçulmanos e tendo em atenção que eu era a única “Directora de Obra” da casa, sempre pensei que estaria “segura” em Portugal … no entanto, no inicio de 2007 fui confrontada com uma situação que, só por ingenuidade, foi surpresa. A proposta de uma ida para Marrocos, coordenar uma obra com a duração de 14 meses …. Cedo percebi que não existiam alternativas a esta proposta porque pura e simplesmente não há obras em Portugal …A renda da casa para pagar, a vontade de trabalhar e o gosto em trabalhar com uma equipa que era já minha conhecida hà anos fez me dizer que sim no tempo exacto que me foi dado para pensar: 48 horas ….Hoje, em Marrocos (Asilah-Tanger) há três meses, já percebi que esta é mais uma experiência que me vai fazer aprender e crescer … crescer mesmo muito … fez me perceber que Portugal é cada vez mais um pais sem perspectivas para a minha geração e que a solução passa mesmo por uma saída para o estrangeiro … por muito que me custe, começo a aceitar que o mais certo é não ir criar os meus filhos na terra que me viu nascer …Marrocos, apesar de não ser uma terra “má”, apesar de ter tudo o que temos na Europa, não é um sítio onde quero ficar por muito tempo. As diferenças culturais são óbvias e previsíveis, e o tratamento e respeito devido às mulheres é muito baixo … mesmo para as estrangeiras com cargos de responsabilidade …Sempre que posso procuro na net oportunidades de emprego … fora de Portugal … já são alguns os currículos enviados para sítios tão diversos como Angola, Irlanda, Africa do Sul … não por vontade de estar fora de casa, mas por sentir que em casa não há lugar para mim …A esperança é de um dia sair de Marrocos … mas a certeza é que dificilmente voltarei a Portugal … custa … mas é a realidade e mais vale encara-la de frente …

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