Parlamento
O deputado que só diz mal da Assembleia da República
Aceitou o lugar para quebrar a rotina da AR, dominada por cinquentões enfatiotados que não representam a sociedade Alterar tamanho FOTO JORGE SIMÃO Idade: 23 anos; Habilitações Literárias: Licenciatura em Sociologia; Hóbis: Teatro; Clube Desportivo: Já teve simpatia pelo Salgueiros e pelo Leixões. Qualquer deles era muito popular e não funcionava como empresa É um radical nas palavras e nos actos. O deputado bloquista José Moura Soeiro, que veio substituir Alda Macedo até às férias de Verão, ainda não está plenamente convencido das virtudes do Parlamento - as grandes transformações da sociedade não passam por aqui - embora reconheça que temos de estar presentes, porque se discute a vida das pessoas. Na verdura dos seus 23 anos, propõe-se mudar o estado de coisas no Palácio de São Bento: Vou ter dificuldades porque se trata de uma instituição pesada, mas tudo farei para dar visibilidade a propostas que confrontem o poder e possam mudar efectivamente a vida dos portugueses. É um radical nas palavras e nos actos. O deputado bloquista José Moura Soeiro, que veio substituir Alda Macedo até às férias de Verão, ainda não está plenamente convencido das virtudes do Parlamento - as grandes transformações da sociedade não passam por aqui - embora reconheça que temos de estar presentes, porque se discute a vida das pessoas. Na verdura dos seus 23 anos, propõe-se mudar o estado de coisas no Palácio de São Bento: Vou ter dificuldades porque se trata de uma instituição pesada, mas tudo farei para dar visibilidade a propostas que confrontem o poder e possam mudar efectivamente a vida dos portugueses. José Borges de Araújo de Moura Soeiro (não confundir com o parlamentar comunista José Baptista Mestre Soeiro) é natural da Sé (Porto) e licenciou-se em Sociologia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Aterrou há duas semanas na Assembleia da República, encontrando-se ainda em período de adaptação. Se no que respeita a regras e mecanismos de funcionamento já se considera por dentro, o mesmo não se poderá dizer da sua integração no ambiente reinante: Os problemas reais não têm expressão nesta casa, são traduzidos numa linguagem política que se distancia das pessoas. Mais: é cheio de formalidades e de salamaleques, comenta, com um certo desdém. Está visto que não tenciona trocar as «jeans», a «sweat» e os ténis por uma indumentária mais convencional. Quando esta semana subiu ao púlpito para fazer uma declaração política sobre a violência das praxes académicas, aceitou vestir uma camisa de ganga por cima da «T-shirt» para não chocar os colegas mais conservadores, mas garante que o esforço de contemporização com o sistema vigente atingiu o limite. O mais jovem deputado, que foi dirigente estudantil na Escola Secundária António Sérgio, em Gaia, e na Faculdade de Letras do Porto, promete bater-se por quatro grandes causas: a Educação - defende o direito ao sucesso para todos - a luta contra as discriminações (sejam de género, orientação sexual ou de nacionalidade) e contra a precariedade (marca distintiva da minha geração) e a democratização do acesso aos bens culturais. Como membro da comissão parlamentar de Ética, Sociedade e Cultura terá oportunidade de mostrar o que vale na defesa do quarto objectivo. A sua formação cívica e política foi decisivamente influenciada pelo movimento estudantil que reivindicou a inclusão da educação sexual nos currículos do ensino secundário e pelos fóruns sociais internacionais que contestaram a globalização capitalista. José Soeiro participou nos «meetings» de Londres e de Atenas, que considera, de resto, inesquecíveis. O BE atraiu-o no momento em que lançou campanhas de rua por causas que estavam invisíveis: a despenalização das drogas e a justiça fiscal, conta ao Expresso, acrescentando que a participação nas iniciativas do Bloco me abriram muito a cabeça. Nas suas palavras, o partido é uma plataforma útil para mudarmos a nossa vida, porque soube integrar na lógica socialista a libertação sexual, a ecologia e os direitos para todos. Na qualidade de homem do Norte, esteve solidário com os ocupantes do Teatro Rivoli, no Porto, contra a concessão daquele espaço cultural a privados. Foi uma acção poético-política. Entre os que estavam cá fora, como eu, e os ocupantes do teatro circularam poemas a toda a hora. Foram momentos muito felizes, refere, sublinhando que os tribunais acabaram por dar razão aos manifestantes. Durante a sua estada em Lisboa, quer aproveitar os tempos livres para conhecer o que se vai fazendo em matéria de artes cénicas. Em mente, tem uma agenda alternativa (não se pense que Soeiro adere aos espectáculos «mainstream»!). A onda dele é definitivamente marginal.
Isabel Oliveira
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O deputado que só diz mal da Assembleia da República
Aceitou o lugar para quebrar a rotina da AR, dominada por cinquentões enfatiotados que não representam a sociedade Alterar tamanho FOTO JORGE SIMÃO Idade: 23 anos; Habilitações Literárias: Licenciatura em Sociologia; Hóbis: Teatro; Clube Desportivo: Já teve simpatia pelo Salgueiros e pelo Leixões. Qualquer deles era muito popular e não funcionava como empresa É um radical nas palavras e nos actos. O deputado bloquista José Moura Soeiro, que veio substituir Alda Macedo até às férias de Verão, ainda não está plenamente convencido das virtudes do Parlamento - as grandes transformações da sociedade não passam por aqui - embora reconheça que temos de estar presentes, porque se discute a vida das pessoas. Na verdura dos seus 23 anos, propõe-se mudar o estado de coisas no Palácio de São Bento: Vou ter dificuldades porque se trata de uma instituição pesada, mas tudo farei para dar visibilidade a propostas que confrontem o poder e possam mudar efectivamente a vida dos portugueses. É um radical nas palavras e nos actos. O deputado bloquista José Moura Soeiro, que veio substituir Alda Macedo até às férias de Verão, ainda não está plenamente convencido das virtudes do Parlamento - as grandes transformações da sociedade não passam por aqui - embora reconheça que temos de estar presentes, porque se discute a vida das pessoas. Na verdura dos seus 23 anos, propõe-se mudar o estado de coisas no Palácio de São Bento: Vou ter dificuldades porque se trata de uma instituição pesada, mas tudo farei para dar visibilidade a propostas que confrontem o poder e possam mudar efectivamente a vida dos portugueses. José Borges de Araújo de Moura Soeiro (não confundir com o parlamentar comunista José Baptista Mestre Soeiro) é natural da Sé (Porto) e licenciou-se em Sociologia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Aterrou há duas semanas na Assembleia da República, encontrando-se ainda em período de adaptação. Se no que respeita a regras e mecanismos de funcionamento já se considera por dentro, o mesmo não se poderá dizer da sua integração no ambiente reinante: Os problemas reais não têm expressão nesta casa, são traduzidos numa linguagem política que se distancia das pessoas. Mais: é cheio de formalidades e de salamaleques, comenta, com um certo desdém. Está visto que não tenciona trocar as «jeans», a «sweat» e os ténis por uma indumentária mais convencional. Quando esta semana subiu ao púlpito para fazer uma declaração política sobre a violência das praxes académicas, aceitou vestir uma camisa de ganga por cima da «T-shirt» para não chocar os colegas mais conservadores, mas garante que o esforço de contemporização com o sistema vigente atingiu o limite. O mais jovem deputado, que foi dirigente estudantil na Escola Secundária António Sérgio, em Gaia, e na Faculdade de Letras do Porto, promete bater-se por quatro grandes causas: a Educação - defende o direito ao sucesso para todos - a luta contra as discriminações (sejam de género, orientação sexual ou de nacionalidade) e contra a precariedade (marca distintiva da minha geração) e a democratização do acesso aos bens culturais. Como membro da comissão parlamentar de Ética, Sociedade e Cultura terá oportunidade de mostrar o que vale na defesa do quarto objectivo. A sua formação cívica e política foi decisivamente influenciada pelo movimento estudantil que reivindicou a inclusão da educação sexual nos currículos do ensino secundário e pelos fóruns sociais internacionais que contestaram a globalização capitalista. José Soeiro participou nos «meetings» de Londres e de Atenas, que considera, de resto, inesquecíveis. O BE atraiu-o no momento em que lançou campanhas de rua por causas que estavam invisíveis: a despenalização das drogas e a justiça fiscal, conta ao Expresso, acrescentando que a participação nas iniciativas do Bloco me abriram muito a cabeça. Nas suas palavras, o partido é uma plataforma útil para mudarmos a nossa vida, porque soube integrar na lógica socialista a libertação sexual, a ecologia e os direitos para todos. Na qualidade de homem do Norte, esteve solidário com os ocupantes do Teatro Rivoli, no Porto, contra a concessão daquele espaço cultural a privados. Foi uma acção poético-política. Entre os que estavam cá fora, como eu, e os ocupantes do teatro circularam poemas a toda a hora. Foram momentos muito felizes, refere, sublinhando que os tribunais acabaram por dar razão aos manifestantes. Durante a sua estada em Lisboa, quer aproveitar os tempos livres para conhecer o que se vai fazendo em matéria de artes cénicas. Em mente, tem uma agenda alternativa (não se pense que Soeiro adere aos espectáculos «mainstream»!). A onda dele é definitivamente marginal.
Isabel Oliveira
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