O deputado que só diz mal da Assembleia da República

15-02-2008
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Parlamento

O deputado que só diz mal da Assembleia da República

Aceitou o lugar para “quebrar a rotina” da AR, “dominada por cinquentões enfatiotados que não representam a sociedade” Alterar tamanho FOTO JORGE SIMÃO Idade: 23 anos; Habilitações Literárias: Licenciatura em Sociologia; Hóbis: Teatro; Clube Desportivo: Já teve simpatia pelo Salgueiros e pelo Leixões. Qualquer deles era “muito popular” e “não funcionava como empresa” É um radical nas palavras e nos actos. O deputado ‘bloquista’ José Moura Soeiro, que veio substituir Alda Macedo até às férias de Verão, ainda não está plenamente convencido das virtudes do Parlamento - “as grandes transformações da sociedade não passam por aqui” - embora reconheça que “temos de estar presentes, porque se discute a vida das pessoas”. Na verdura dos seus 23 anos, propõe-se mudar o estado de coisas no Palácio de São Bento: “Vou ter dificuldades porque se trata de uma instituição pesada, mas tudo farei para dar visibilidade a propostas que confrontem o poder e possam mudar efectivamente a vida dos portugueses”. É um radical nas palavras e nos actos. O deputado ‘bloquista’ José Moura Soeiro, que veio substituir Alda Macedo até às férias de Verão, ainda não está plenamente convencido das virtudes do Parlamento - “as grandes transformações da sociedade não passam por aqui” - embora reconheça que “temos de estar presentes, porque se discute a vida das pessoas”. Na verdura dos seus 23 anos, propõe-se mudar o estado de coisas no Palácio de São Bento: “Vou ter dificuldades porque se trata de uma instituição pesada, mas tudo farei para dar visibilidade a propostas que confrontem o poder e possam mudar efectivamente a vida dos portugueses”. José Borges de Araújo de Moura Soeiro (não confundir com o parlamentar comunista José Baptista Mestre Soeiro) é natural da Sé (Porto) e licenciou-se em Sociologia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. ‘Aterrou’ há duas semanas na Assembleia da República, encontrando-se ainda em “período de adaptação”. Se no que respeita a regras e mecanismos de funcionamento já se considera “por dentro”, o mesmo não se poderá dizer da sua integração no ambiente reinante: “Os problemas reais não têm expressão nesta casa, são traduzidos numa linguagem política que se distancia das pessoas”. Mais: “é cheio de formalidades e de salamaleques”, comenta, com um certo desdém. Está visto que não tenciona trocar as «jeans», a «sweat» e os ténis por uma indumentária mais convencional. Quando esta semana subiu ao púlpito para fazer uma declaração política sobre a violência das praxes académicas, aceitou vestir uma camisa de ganga por cima da «T-shirt» para não chocar os colegas mais conservadores, mas garante que o esforço de contemporização com o sistema vigente atingiu o limite. O mais jovem deputado, que foi dirigente estudantil na Escola Secundária António Sérgio, em Gaia, e na Faculdade de Letras do Porto, promete bater-se por quatro grandes causas: a Educação - defende o direito ao sucesso para todos - a luta contra as discriminações (sejam de género, orientação sexual ou de nacionalidade) e contra a precariedade (“marca distintiva da minha geração”) e a democratização do acesso aos bens culturais. Como membro da comissão parlamentar de Ética, Sociedade e Cultura terá oportunidade de mostrar o que vale na defesa do quarto objectivo. A sua formação cívica e política foi decisivamente influenciada pelo movimento estudantil que reivindicou a inclusão da educação sexual nos currículos do ensino secundário e pelos fóruns sociais internacionais que contestaram a “globalização capitalista”. José Soeiro participou nos «meetings» de Londres e de Atenas, que considera, de resto, “inesquecíveis”. O BE atraiu-o no momento em que lançou campanhas de rua “por causas que estavam invisíveis: a despenalização das drogas e a justiça fiscal”, conta ao Expresso, acrescentando que a participação nas iniciativas do Bloco “me abriram muito a cabeça”. Nas suas palavras, o partido é “uma plataforma útil para mudarmos a nossa vida, porque soube integrar na lógica socialista a libertação sexual, a ecologia e os direitos para todos”. Na qualidade de ‘homem do Norte’, esteve solidário com os ocupantes do Teatro Rivoli, no Porto, contra a concessão daquele espaço cultural a privados. “Foi uma acção poético-política. Entre os que estavam cá fora, como eu, e os ocupantes do teatro circularam poemas a toda a hora. Foram momentos muito felizes”, refere, sublinhando que os tribunais acabaram por dar razão aos manifestantes. Durante a sua estada em Lisboa, quer aproveitar os tempos livres para conhecer o que se vai fazendo em matéria de artes cénicas. Em mente, tem uma agenda alternativa (não se pense que Soeiro adere aos espectáculos «mainstream»!). A onda dele é definitivamente marginal.

Isabel Oliveira

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O deputado que só diz mal da Assembleia da República

Aceitou o lugar para “quebrar a rotina” da AR, “dominada por cinquentões enfatiotados que não representam a sociedade” Alterar tamanho FOTO JORGE SIMÃO Idade: 23 anos; Habilitações Literárias: Licenciatura em Sociologia; Hóbis: Teatro; Clube Desportivo: Já teve simpatia pelo Salgueiros e pelo Leixões. Qualquer deles era “muito popular” e “não funcionava como empresa” É um radical nas palavras e nos actos. O deputado ‘bloquista’ José Moura Soeiro, que veio substituir Alda Macedo até às férias de Verão, ainda não está plenamente convencido das virtudes do Parlamento - “as grandes transformações da sociedade não passam por aqui” - embora reconheça que “temos de estar presentes, porque se discute a vida das pessoas”. Na verdura dos seus 23 anos, propõe-se mudar o estado de coisas no Palácio de São Bento: “Vou ter dificuldades porque se trata de uma instituição pesada, mas tudo farei para dar visibilidade a propostas que confrontem o poder e possam mudar efectivamente a vida dos portugueses”. É um radical nas palavras e nos actos. O deputado ‘bloquista’ José Moura Soeiro, que veio substituir Alda Macedo até às férias de Verão, ainda não está plenamente convencido das virtudes do Parlamento - “as grandes transformações da sociedade não passam por aqui” - embora reconheça que “temos de estar presentes, porque se discute a vida das pessoas”. Na verdura dos seus 23 anos, propõe-se mudar o estado de coisas no Palácio de São Bento: “Vou ter dificuldades porque se trata de uma instituição pesada, mas tudo farei para dar visibilidade a propostas que confrontem o poder e possam mudar efectivamente a vida dos portugueses”. José Borges de Araújo de Moura Soeiro (não confundir com o parlamentar comunista José Baptista Mestre Soeiro) é natural da Sé (Porto) e licenciou-se em Sociologia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. ‘Aterrou’ há duas semanas na Assembleia da República, encontrando-se ainda em “período de adaptação”. Se no que respeita a regras e mecanismos de funcionamento já se considera “por dentro”, o mesmo não se poderá dizer da sua integração no ambiente reinante: “Os problemas reais não têm expressão nesta casa, são traduzidos numa linguagem política que se distancia das pessoas”. Mais: “é cheio de formalidades e de salamaleques”, comenta, com um certo desdém. Está visto que não tenciona trocar as «jeans», a «sweat» e os ténis por uma indumentária mais convencional. Quando esta semana subiu ao púlpito para fazer uma declaração política sobre a violência das praxes académicas, aceitou vestir uma camisa de ganga por cima da «T-shirt» para não chocar os colegas mais conservadores, mas garante que o esforço de contemporização com o sistema vigente atingiu o limite. O mais jovem deputado, que foi dirigente estudantil na Escola Secundária António Sérgio, em Gaia, e na Faculdade de Letras do Porto, promete bater-se por quatro grandes causas: a Educação - defende o direito ao sucesso para todos - a luta contra as discriminações (sejam de género, orientação sexual ou de nacionalidade) e contra a precariedade (“marca distintiva da minha geração”) e a democratização do acesso aos bens culturais. Como membro da comissão parlamentar de Ética, Sociedade e Cultura terá oportunidade de mostrar o que vale na defesa do quarto objectivo. A sua formação cívica e política foi decisivamente influenciada pelo movimento estudantil que reivindicou a inclusão da educação sexual nos currículos do ensino secundário e pelos fóruns sociais internacionais que contestaram a “globalização capitalista”. José Soeiro participou nos «meetings» de Londres e de Atenas, que considera, de resto, “inesquecíveis”. O BE atraiu-o no momento em que lançou campanhas de rua “por causas que estavam invisíveis: a despenalização das drogas e a justiça fiscal”, conta ao Expresso, acrescentando que a participação nas iniciativas do Bloco “me abriram muito a cabeça”. Nas suas palavras, o partido é “uma plataforma útil para mudarmos a nossa vida, porque soube integrar na lógica socialista a libertação sexual, a ecologia e os direitos para todos”. Na qualidade de ‘homem do Norte’, esteve solidário com os ocupantes do Teatro Rivoli, no Porto, contra a concessão daquele espaço cultural a privados. “Foi uma acção poético-política. Entre os que estavam cá fora, como eu, e os ocupantes do teatro circularam poemas a toda a hora. Foram momentos muito felizes”, refere, sublinhando que os tribunais acabaram por dar razão aos manifestantes. Durante a sua estada em Lisboa, quer aproveitar os tempos livres para conhecer o que se vai fazendo em matéria de artes cénicas. Em mente, tem uma agenda alternativa (não se pense que Soeiro adere aos espectáculos «mainstream»!). A onda dele é definitivamente marginal.

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