É uma história que já me incomoda há muito tempo. É verdade que sou escritor profissional. Ou seja, ganho a vida a escrever letras no jornal. Tenho semanas que escrevo 7 mil caracteres. Noutras, escrevo catorze, vinte e um ou mesmo vinte e oito mil. E escrevo sempre a mesma coisa: notícias, reportagens, crónicas, opiniões. Ou mesmo reportagens disfarçadas de crónicas, opiniões escondidas nas notícias, notícias em crónica ou reportagens que são notícas. E vou sempre contra o mesmo muro: faltam-me palavras que consigam dar a entender o que sinto. Não percebo nada de metonímias, paralaxes, distopias e outras palavras caras. Falho as concordâncias, dou o meu erro ocasional e nunca sei onde é que hei-de pôr as vírgulas. Não vou escrever livros, ganhar prémios ou ser nobel como o Saraiva. Mas isso não me irrita. É mais não conseguir descrever a indignação que vai cá dentro. Sim, estou a falar do assassinato do travesti doente. Faltam-me as palavras.(actualizado)
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É uma história que já me incomoda há muito tempo. É verdade que sou escritor profissional. Ou seja, ganho a vida a escrever letras no jornal. Tenho semanas que escrevo 7 mil caracteres. Noutras, escrevo catorze, vinte e um ou mesmo vinte e oito mil. E escrevo sempre a mesma coisa: notícias, reportagens, crónicas, opiniões. Ou mesmo reportagens disfarçadas de crónicas, opiniões escondidas nas notícias, notícias em crónica ou reportagens que são notícas. E vou sempre contra o mesmo muro: faltam-me palavras que consigam dar a entender o que sinto. Não percebo nada de metonímias, paralaxes, distopias e outras palavras caras. Falho as concordâncias, dou o meu erro ocasional e nunca sei onde é que hei-de pôr as vírgulas. Não vou escrever livros, ganhar prémios ou ser nobel como o Saraiva. Mas isso não me irrita. É mais não conseguir descrever a indignação que vai cá dentro. Sim, estou a falar do assassinato do travesti doente. Faltam-me as palavras.(actualizado)