A outra Varinha Mágica: "Salvaremos todas as empresas que pudermos"

20-05-2009
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A frase pertence a José Sócrates e é expoente máximo do populismo e da demagogia. Claro que salvaremos todas as que pudermos. Sejam elas uma ou nenhuma, desde que sejam as que pudermos, a frase está certa, é verdadeira e calha bem. A questão, contudo, é outra. Atirar com milhões para fogueiras a arder é a melhor solução? Que Sócrates, enquanto Primeiro-Ministro deverá pensar em salvar "todas as que puder", não me parece mal, mas a política é a arte da escolha e também da responsabilização, e o que importa é saber se as escolhas deste Governo foram correctas. Vejamos quais foram as empresas que Sócrates "pôde", ou melhor, "escolheu" salvar.Qimonda: o processo de recuperação da Qimonda foi apresentado mais de dez vezes, com o Primeiro-Ministro e o Ministro da Economia a orgulharem-se de terem salvo a empresa. Chegaram a apontá-la como o exemplo do que deveria ser feito cerca de um mês antes de abrir falência. A Caixa Geral de Depósitos emprestou milhões de euros à Qimonda, tendo as verbas sido transferidas para a Alemanha e desaparecido. A Qimonda está fechada, mais de mil trabalhadores qualificados estão à beira do desemprego. Desapareceu o maior exportador português.Pirites Alentejanas. Seis meses depois do Governo ter anunciado com pompa que tinha salvado as minas, através de um contrato com uma empresa estrangeira, as minas fecharam. O Governo "salvou" pela segunda vez a empresa, dando benefícios fiscais a um grupo nacional e oferecendo-lhe a exploração de outras minas, sem custos. Apesar da produção dever estar já em laboração, a única coisa que aconteceu foi a venda da maquinaria que lá se encontrava. Os funcionários da empresa continuam sem trabalho e as minas estão fechadas. Não se sabe o que vai acontecer.BPN: O Banco foi nacionalizado "para garantir os depósitos do portugueses" e para "devido ao perigo sistémico e ao rating da Nação". Um pouco mais de meio ano depois, já se gastaram mais de dois mil milhões de euros no BPN. O Banco perdeu os seus clientes, o rating da Nação baixou, não se sabe quanto mais dinheiro vai ser necessário para "tapar" os buracos do BPN. A marca BPN não vale qualquer dinheiro neste momento e a nacionalização não apenas colocou problemas novos à Caixa Geral de Depósitos como descapitalizou o banco público. O mesmo princípio não foi usado para o BPP, em situação semelhante. Há depositantes desesperados por não conseguirem reaver os seus depósitos.Indústria Automóvel. O Governo correu a injectar mais de mil milhões de euros na indústria automóvel, sem que alguma vez explicasse porquê naquele sector. Dois ou três meses depois do anúncio, Citroen, Peugeot e Renault começam a dispensar funcionários e ameaçam fechar as suas fábricas em Portugal. A Autoeuropa dispensa sub-contratados, pára produção e agora pondera o futuro.Pequenas e micro-empresas. O Governo apresenta constantemente linhas de créditos para as PME, mas a verdade é que estas se queixam da dificuldade de obter empréstimos e dos juros elevados. A maioria das empresas não cumpre os requisitos estabelecidos pelo Governo. Basta ter um dívida ao fisco para ser excluída do programa. Ou seja, as empresas com dificuldades são excluídas... apesar destes programas, o desemprego dispara, as falências aumentam de forma exponencial."Salvar" empresas não apenas não deveria ser a função do Governo como evidentemente não é a sua vocação. Os valores gastos nestas operações desequilibram as contas públicas, paradigma da governação nos últimos anos com o sacrifício de todos os portugueses e já dariam para construir um aeroporto ou fazer um TGV. Mas os desempregados continuam sem a medida insistentemente preconizada pela União Europeia: a extensão do subsídio de desemprego de forma excepcional. As empresas em dificuldade continuam a pagar o IVA antes de receberem os pagamentos e a pagar impostos sobre rendimentos presumidos. O Estado continua a pagar mal e tarde e a adjudicar dentro do mesmo círculo de sempre. Generalizou-se a adjudicação directa, acabaram-se com os concursos em vários sectores. A JP Sá Couto (que produz o Magalhães) cresceu 3.000%."O Governo salvará as empresas que puder". Só que o Estado não pode ser usado para salvar "algumas" ou "as que puder". O Estado deve criar as condições para salvar o Pais das distorções e dar a todos as mesmas possibilidades de desenvolverem as suas actividades. Este Estado de José Sócrates falhou completamente. Minto. Numa coisa não falhou, na defesa dos interesses corporativos de alguns sectores, de muito poucos empresários e de dois ou três clientes políticos. Um Estado onde desaparecem papéis, onde há permanentemente uma fúria controlista de tudo e de todos, até mesmo dos agentes da Justiça.Não precisamos que o Estado salve as empresas "que puder" da falência a que estão condenadas. Precisamos de um Estado que nos salve deste Governo.


A frase pertence a José Sócrates e é expoente máximo do populismo e da demagogia. Claro que salvaremos todas as que pudermos. Sejam elas uma ou nenhuma, desde que sejam as que pudermos, a frase está certa, é verdadeira e calha bem. A questão, contudo, é outra. Atirar com milhões para fogueiras a arder é a melhor solução? Que Sócrates, enquanto Primeiro-Ministro deverá pensar em salvar "todas as que puder", não me parece mal, mas a política é a arte da escolha e também da responsabilização, e o que importa é saber se as escolhas deste Governo foram correctas. Vejamos quais foram as empresas que Sócrates "pôde", ou melhor, "escolheu" salvar.Qimonda: o processo de recuperação da Qimonda foi apresentado mais de dez vezes, com o Primeiro-Ministro e o Ministro da Economia a orgulharem-se de terem salvo a empresa. Chegaram a apontá-la como o exemplo do que deveria ser feito cerca de um mês antes de abrir falência. A Caixa Geral de Depósitos emprestou milhões de euros à Qimonda, tendo as verbas sido transferidas para a Alemanha e desaparecido. A Qimonda está fechada, mais de mil trabalhadores qualificados estão à beira do desemprego. Desapareceu o maior exportador português.Pirites Alentejanas. Seis meses depois do Governo ter anunciado com pompa que tinha salvado as minas, através de um contrato com uma empresa estrangeira, as minas fecharam. O Governo "salvou" pela segunda vez a empresa, dando benefícios fiscais a um grupo nacional e oferecendo-lhe a exploração de outras minas, sem custos. Apesar da produção dever estar já em laboração, a única coisa que aconteceu foi a venda da maquinaria que lá se encontrava. Os funcionários da empresa continuam sem trabalho e as minas estão fechadas. Não se sabe o que vai acontecer.BPN: O Banco foi nacionalizado "para garantir os depósitos do portugueses" e para "devido ao perigo sistémico e ao rating da Nação". Um pouco mais de meio ano depois, já se gastaram mais de dois mil milhões de euros no BPN. O Banco perdeu os seus clientes, o rating da Nação baixou, não se sabe quanto mais dinheiro vai ser necessário para "tapar" os buracos do BPN. A marca BPN não vale qualquer dinheiro neste momento e a nacionalização não apenas colocou problemas novos à Caixa Geral de Depósitos como descapitalizou o banco público. O mesmo princípio não foi usado para o BPP, em situação semelhante. Há depositantes desesperados por não conseguirem reaver os seus depósitos.Indústria Automóvel. O Governo correu a injectar mais de mil milhões de euros na indústria automóvel, sem que alguma vez explicasse porquê naquele sector. Dois ou três meses depois do anúncio, Citroen, Peugeot e Renault começam a dispensar funcionários e ameaçam fechar as suas fábricas em Portugal. A Autoeuropa dispensa sub-contratados, pára produção e agora pondera o futuro.Pequenas e micro-empresas. O Governo apresenta constantemente linhas de créditos para as PME, mas a verdade é que estas se queixam da dificuldade de obter empréstimos e dos juros elevados. A maioria das empresas não cumpre os requisitos estabelecidos pelo Governo. Basta ter um dívida ao fisco para ser excluída do programa. Ou seja, as empresas com dificuldades são excluídas... apesar destes programas, o desemprego dispara, as falências aumentam de forma exponencial."Salvar" empresas não apenas não deveria ser a função do Governo como evidentemente não é a sua vocação. Os valores gastos nestas operações desequilibram as contas públicas, paradigma da governação nos últimos anos com o sacrifício de todos os portugueses e já dariam para construir um aeroporto ou fazer um TGV. Mas os desempregados continuam sem a medida insistentemente preconizada pela União Europeia: a extensão do subsídio de desemprego de forma excepcional. As empresas em dificuldade continuam a pagar o IVA antes de receberem os pagamentos e a pagar impostos sobre rendimentos presumidos. O Estado continua a pagar mal e tarde e a adjudicar dentro do mesmo círculo de sempre. Generalizou-se a adjudicação directa, acabaram-se com os concursos em vários sectores. A JP Sá Couto (que produz o Magalhães) cresceu 3.000%."O Governo salvará as empresas que puder". Só que o Estado não pode ser usado para salvar "algumas" ou "as que puder". O Estado deve criar as condições para salvar o Pais das distorções e dar a todos as mesmas possibilidades de desenvolverem as suas actividades. Este Estado de José Sócrates falhou completamente. Minto. Numa coisa não falhou, na defesa dos interesses corporativos de alguns sectores, de muito poucos empresários e de dois ou três clientes políticos. Um Estado onde desaparecem papéis, onde há permanentemente uma fúria controlista de tudo e de todos, até mesmo dos agentes da Justiça.Não precisamos que o Estado salve as empresas "que puder" da falência a que estão condenadas. Precisamos de um Estado que nos salve deste Governo.

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