O país do Burro: "Na cabeça de Sócrates"

29-09-2009
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«Há um consenso alargado sobre algumas das características de José Sócrates, eleito faz hoje dois anos. Como reage o primeiro-ministro a uma crítica? Como se prepara para uma reunião de trabalho? Como ensaia um debate televisivo? Como recruta os colaboradores? Resposta num perfil político de um homem que não acredita no acasoSe um dia se cruzar com José Sócrates, é bom que saiba o seguinte: o primeiro-ministro só o ouvirá com atenção, durante mais de cinco minutos, se tiver algo para lhe dizer que ele não saiba e queira muito saber. Considerandos filosóficos, políticos, históricos, contextualizações financeiras, geoestratégicas interessam-lhe pouco; por duas razões, essencialmente: José Sócrates julga conhecer mais do que ninguém sobre tudo e, frequentemente, conhece mesmo.No caso de as suas teses colidirem com as dele, ou se disser algo que lhe desagrada, a reacção pode ainda ser brusca. "Isso é um disparate", é o tipo de frase que José Sócrates usa frequentemente para cortar a palavra ao seu interlocutor. Nestas circunstâncias, a sua expressão de desagrado ou enfado é violenta, por vezes arrogante: como se o que acabasse de dizer fosse uma enormidade, uma estupidez. Na sequência do diálogo, para rematar a questão, o primeiro-ministro pode também discorrer longamente sobre o assunto, apresentando factos, com a segurança de quem diz uma verdade indiscutível. Atenção: ele pode discorrer longamente sobre o assunto - só ele.Outro conselho importante é usar piadas com parcimónia. Ou não usar, de todo: sobretudo se não for alguém do seu círculo de amigos, sobretudo se se tratar de uma conversa de trabalho. Mesmo socialistas populares pela sua bonomia, mesmo a esquerda pândega, já foram censurados pelo líder devido a notas de humor fora de tempo. Alberto Arons de Carvalho, que foi seu secretário de Estado no Governo de António Guterres, atesta isso mesmo. "Ele é transmontano, pode ser frio. Não gosta de brincar com coisas sérias e faz ver isso às pessoas", diz o deputado socialista. (…)»Natal ou Carnaval, um artigo destes faz sentido em qualquer destas duas quadras. A quem interessar, este retrato elogioso do homem continua aqui. O das suas políticas, esse, continuará a fazer-se ainda durante pelo menos mais dois anos. Um líder autoritário? Para muitos, talvez a maioria, será uma qualidade, evita a chatice de ter de pensar e de ter opinião. A pose sebastianista de salvador da pátria e os sacrifícios de uma austeridade "a bem da Nação", que lembram tempos em que a nação era "Nação", completam o perfil de um venerando predestinado.


«Há um consenso alargado sobre algumas das características de José Sócrates, eleito faz hoje dois anos. Como reage o primeiro-ministro a uma crítica? Como se prepara para uma reunião de trabalho? Como ensaia um debate televisivo? Como recruta os colaboradores? Resposta num perfil político de um homem que não acredita no acasoSe um dia se cruzar com José Sócrates, é bom que saiba o seguinte: o primeiro-ministro só o ouvirá com atenção, durante mais de cinco minutos, se tiver algo para lhe dizer que ele não saiba e queira muito saber. Considerandos filosóficos, políticos, históricos, contextualizações financeiras, geoestratégicas interessam-lhe pouco; por duas razões, essencialmente: José Sócrates julga conhecer mais do que ninguém sobre tudo e, frequentemente, conhece mesmo.No caso de as suas teses colidirem com as dele, ou se disser algo que lhe desagrada, a reacção pode ainda ser brusca. "Isso é um disparate", é o tipo de frase que José Sócrates usa frequentemente para cortar a palavra ao seu interlocutor. Nestas circunstâncias, a sua expressão de desagrado ou enfado é violenta, por vezes arrogante: como se o que acabasse de dizer fosse uma enormidade, uma estupidez. Na sequência do diálogo, para rematar a questão, o primeiro-ministro pode também discorrer longamente sobre o assunto, apresentando factos, com a segurança de quem diz uma verdade indiscutível. Atenção: ele pode discorrer longamente sobre o assunto - só ele.Outro conselho importante é usar piadas com parcimónia. Ou não usar, de todo: sobretudo se não for alguém do seu círculo de amigos, sobretudo se se tratar de uma conversa de trabalho. Mesmo socialistas populares pela sua bonomia, mesmo a esquerda pândega, já foram censurados pelo líder devido a notas de humor fora de tempo. Alberto Arons de Carvalho, que foi seu secretário de Estado no Governo de António Guterres, atesta isso mesmo. "Ele é transmontano, pode ser frio. Não gosta de brincar com coisas sérias e faz ver isso às pessoas", diz o deputado socialista. (…)»Natal ou Carnaval, um artigo destes faz sentido em qualquer destas duas quadras. A quem interessar, este retrato elogioso do homem continua aqui. O das suas políticas, esse, continuará a fazer-se ainda durante pelo menos mais dois anos. Um líder autoritário? Para muitos, talvez a maioria, será uma qualidade, evita a chatice de ter de pensar e de ter opinião. A pose sebastianista de salvador da pátria e os sacrifícios de uma austeridade "a bem da Nação", que lembram tempos em que a nação era "Nação", completam o perfil de um venerando predestinado.

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