Blog do Azinhas: O rugby, a hipocrisia e os disparates...

18-02-2008
marcar artigo


O País anda em delírio com os nobres lusitanos que, em França, defendem as cores de Portugal no Mundial de Rugby. É justo. Digo-o sem ironia. A presença de Portugal, uma equipa completamente amadora, no Mundial, pela primeira vez, é obviamente coisa de saudar e aplaudir. O orgulho português faz o resto, com bandeirinhas à janela e mesas dos cafés cheias de canecos de imperial e tremoços descascados para ver os jogos na Sport TV.Confesso que não partilho deste delírio colectivo. Respeito os atletas portugueses, desejo-lhes imensa sorte, torço por eles, evidentemente, vibro com os seus ensaios, mas não comungo deste estado de euforia. Nunca gostei de rugby, nunca percebi bem as regras da modalidade (confesso que também nunca fiz um grande esforço por entendê-las...).Coloquemos, pois, as coisas em perspectiva. Na minha opinião, na perspectiva certa. Desejo-lhes sorte, vibro com eles, agradeço-lhes o esforço, o talento, o suor, mas não páro a minha vida. Ninguém me pode levar a mal a franqueza. O que acontece é que há para aí oito milhões de portugueses que nunca viram um jogo de rugby, que não sabem quanto vale um ensaio, que nunca ouviram falar do CDUL nem do Agronomia. Gente para quem Uva é apenas o nome de uma fruta. Mas andam histéricos, emproados, falando do rugby como se adorassem a modalidade desde sempre, como se a apoiassem, se se interessassem por ela. É um jeitinho muito português. "Não percebo nada de política, mas acho que...", "não gosto de ler, mas os livros do Saramago são excelentes...".E vai daí, com o fácil oportunismo dos pequenos partidos que vêem na coisa o trampolim do politicamente correcto, é esta gente que, de repente, desatou a zurzir na RTP, porque aqui del rei, a televisão pública, paga com o dinheiro de todos nós (o equivalente a um maço de tabaco por mês...), não transmite em sinal aberto a competição. Pois, não transmite... nem podia transmitir. Um Mundial não é uma prova-pirata em que as televisões aparecem por lá, encavalitam uma câmara na varanda da Dona Arminda e filmam o jogo para os tugas. Um Mundial tem regras, tem direitos de transmissão exclusiva. Um Mundial é um negócio de milhões. Em Portugal quem detém esses direitos é a Sport TV. E é normal que assim seja.Quem fala de cor, fá-lo ou para chatear ou por ignorância. Porque talvez se soubessem que os direitos foram negociados há muito e se tivessem conhecimento que o Rugby, por não ter qualquer tradição internacional competitiva em Portugal, não faz parte do lote das modalidades de interesse público definidas por decreto ministerial, ter-se-iam poupado ao disparate.O comum dos mortais, cidadão amante de rugby ou pura e simplesmente português que vibra com o desporto, até pode não saber. O CDS-PP, porém, tinha obrigação de fazer o trabalhito de casa. Era fácil, bastava consultar o dito decreto... está lá tudo o que é definido como interesse público e, portanto, passível de ser, obrigatoriamente, transmitido em sinal aberto.Está mal? Pois, provavelmente está. Talvez os "Lobos" (como agora se lhes chama na rua, como se a familiaridade do epíteto estivesse no léxico popular de todos nós...) merecessem que a modalidade figurasse de pleno direito na lista. Mas o que acontece é que não está. E assim sendo, as regras são para cumprir. A Sport TV fez a melhor proposta, ganhou os direitos exclusivos. E os cafés agradecem...Fotos: DN----------------------------PS - O 'Público' ajudou à festa: na edição de terça-feira, na página 14, em baixo, uma breve esclarece em título que: "Mundial de Râguebi: RTP diz que não tem interesse público". Ou é má-fé, ou é apenas falta de rigor: não é a RTP que diz, é o Governo que decretou. A televisão pública apenas justificou, pela voz de Luís Marinho, director de informação.


O País anda em delírio com os nobres lusitanos que, em França, defendem as cores de Portugal no Mundial de Rugby. É justo. Digo-o sem ironia. A presença de Portugal, uma equipa completamente amadora, no Mundial, pela primeira vez, é obviamente coisa de saudar e aplaudir. O orgulho português faz o resto, com bandeirinhas à janela e mesas dos cafés cheias de canecos de imperial e tremoços descascados para ver os jogos na Sport TV.Confesso que não partilho deste delírio colectivo. Respeito os atletas portugueses, desejo-lhes imensa sorte, torço por eles, evidentemente, vibro com os seus ensaios, mas não comungo deste estado de euforia. Nunca gostei de rugby, nunca percebi bem as regras da modalidade (confesso que também nunca fiz um grande esforço por entendê-las...).Coloquemos, pois, as coisas em perspectiva. Na minha opinião, na perspectiva certa. Desejo-lhes sorte, vibro com eles, agradeço-lhes o esforço, o talento, o suor, mas não páro a minha vida. Ninguém me pode levar a mal a franqueza. O que acontece é que há para aí oito milhões de portugueses que nunca viram um jogo de rugby, que não sabem quanto vale um ensaio, que nunca ouviram falar do CDUL nem do Agronomia. Gente para quem Uva é apenas o nome de uma fruta. Mas andam histéricos, emproados, falando do rugby como se adorassem a modalidade desde sempre, como se a apoiassem, se se interessassem por ela. É um jeitinho muito português. "Não percebo nada de política, mas acho que...", "não gosto de ler, mas os livros do Saramago são excelentes...".E vai daí, com o fácil oportunismo dos pequenos partidos que vêem na coisa o trampolim do politicamente correcto, é esta gente que, de repente, desatou a zurzir na RTP, porque aqui del rei, a televisão pública, paga com o dinheiro de todos nós (o equivalente a um maço de tabaco por mês...), não transmite em sinal aberto a competição. Pois, não transmite... nem podia transmitir. Um Mundial não é uma prova-pirata em que as televisões aparecem por lá, encavalitam uma câmara na varanda da Dona Arminda e filmam o jogo para os tugas. Um Mundial tem regras, tem direitos de transmissão exclusiva. Um Mundial é um negócio de milhões. Em Portugal quem detém esses direitos é a Sport TV. E é normal que assim seja.Quem fala de cor, fá-lo ou para chatear ou por ignorância. Porque talvez se soubessem que os direitos foram negociados há muito e se tivessem conhecimento que o Rugby, por não ter qualquer tradição internacional competitiva em Portugal, não faz parte do lote das modalidades de interesse público definidas por decreto ministerial, ter-se-iam poupado ao disparate.O comum dos mortais, cidadão amante de rugby ou pura e simplesmente português que vibra com o desporto, até pode não saber. O CDS-PP, porém, tinha obrigação de fazer o trabalhito de casa. Era fácil, bastava consultar o dito decreto... está lá tudo o que é definido como interesse público e, portanto, passível de ser, obrigatoriamente, transmitido em sinal aberto.Está mal? Pois, provavelmente está. Talvez os "Lobos" (como agora se lhes chama na rua, como se a familiaridade do epíteto estivesse no léxico popular de todos nós...) merecessem que a modalidade figurasse de pleno direito na lista. Mas o que acontece é que não está. E assim sendo, as regras são para cumprir. A Sport TV fez a melhor proposta, ganhou os direitos exclusivos. E os cafés agradecem...Fotos: DN----------------------------PS - O 'Público' ajudou à festa: na edição de terça-feira, na página 14, em baixo, uma breve esclarece em título que: "Mundial de Râguebi: RTP diz que não tem interesse público". Ou é má-fé, ou é apenas falta de rigor: não é a RTP que diz, é o Governo que decretou. A televisão pública apenas justificou, pela voz de Luís Marinho, director de informação.

marcar artigo