Junho 3, 2008 – O Insurgente

23-05-2009
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Miguel Pinto, um amigo, escreve o que sente e sabe sobre o debate que ontem aconteceu no programa Prós e Contras e a questão da greve dos pescadores. Como tive a oportunidade de lho dizer, há aspectos com os quais discordo profundamente – a questão da união e a fobia pelo lucro-, que em quase nada belisca o essencial do conteúdo e a sua forma. As opiniões, se as houver, serão expressas na também democrática caixa de comentários.

Ainda não estou restabelecido do Prós e Contras de ontem, na RTP. O mote era a greve dos pescadores por causa dos combustíveis. Associações de Armadores vieram de todo o País para explicar uma mão cheia de nada.

Ficou provado que estas gentes que arriscam a vida para nos trazer o peixe estão cada vez mais de costas voltadas… uns para os outros. Cada qual falou do que mais lhe interessava e união foi coisa que não se viu. De quando em vez, lá voltava à tona a questão dos combustíveis. O Secretário de Estado Adjunto das Pescas foi o escolhido para pôr a cabeça no cepo. Das quotas de pesca aos lucros desmesurados dos peixeiros, passando pela velha questão do abate de embarcações, de tudo se falou. Houve um senhor que até chamou “amigo” ao membro do Governo. Esse senhor é de Sesimbra. Vergonha! Basta reparar na barriga dele para se perceber tudo. Despi a minha camisola aos quadrados e as botas de água, saltei para terra e vesti o fato do português comum… Não percebi nada do que disseram, nem ao certo que estavam ali a fazer, quanto mais a reivindicar.

Tantos pescadores esqueceram-se de dizer que abastecem os seus Audi e Mercedes com o gasóleo que deveria ir para as embarcações. Tantos pescadores esqueceram-se de dizer que chegaram a afundar barcos para receber o dinheiro do seguro, sanear as dívidas e ainda receberam dinheiro para um barco novo e moderno. Tantos pescadores esqueceram-se de dizer que vendem grande parte do pescado pela porta do cavalo ajudando mais à especulação. Tantos pescadores esqueceram-se de dizer que usam mais artes de pesca que as permitidas, entre elas ilegais, violando defesos e pescando fora de limites. Tantos pescadores esqueceram-se de dizer por que motivo aqueles senhores dos sindicatos de armadores ali estão, quanto ganham, o que fazem e com quem se relacionam. Tantos pescadores esqueceram-se de dizer que no Mar são uns cães uns para os outros e que só lhes interessa desbravar, doa a quem doer, quando acabar acaba para todos. Tantos pescadores esqueceram-se de dizer que grande parte dos naufrágios dos últimos anos na costa portuguesa se deveu à ganância desmesurada e a pescarem onde não deviam.

Mestres e armadores ganham que se fartam. O mais pequenino é que se lixa, como o mexilhão. Se o pequeno pescador procura o pão para pôr na mesa, o armador procura o carro topo de gama para pôr na garagem da sua vivenda.

O preço dos combustíveis tem um forte impacto no sector e respeito a greve, mas não nos podemos esquecer que as Pescas estão minadas a partir de dentro, já há muito tempo.

Agora que o tempo das vacas magras veio para ficar, a corda está a apertar no pescoço daqueles que ostentam maciços rostos de Cristo em ouro. Quanto aos que de rosto apenas têm sol e sal, vão continuar a fazer o que sempre fizeram, sobreviver. Quando esses morrerem, não se preocupem, o peixe deaviário veio para ficar. Bom apetite!

Leituras complementares: A crise mundial dos alimentos; contras e contras ; contras e contras (2) e diz que é uma espécie de estado de direito (2).

Miguel Pinto, um amigo, escreve o que sente e sabe sobre o debate que ontem aconteceu no programa Prós e Contras e a questão da greve dos pescadores. Como tive a oportunidade de lho dizer, há aspectos com os quais discordo profundamente – a questão da união e a fobia pelo lucro-, que em quase nada belisca o essencial do conteúdo e a sua forma. As opiniões, se as houver, serão expressas na também democrática caixa de comentários.

Ainda não estou restabelecido do Prós e Contras de ontem, na RTP. O mote era a greve dos pescadores por causa dos combustíveis. Associações de Armadores vieram de todo o País para explicar uma mão cheia de nada.

Ficou provado que estas gentes que arriscam a vida para nos trazer o peixe estão cada vez mais de costas voltadas… uns para os outros. Cada qual falou do que mais lhe interessava e união foi coisa que não se viu. De quando em vez, lá voltava à tona a questão dos combustíveis. O Secretário de Estado Adjunto das Pescas foi o escolhido para pôr a cabeça no cepo. Das quotas de pesca aos lucros desmesurados dos peixeiros, passando pela velha questão do abate de embarcações, de tudo se falou. Houve um senhor que até chamou “amigo” ao membro do Governo. Esse senhor é de Sesimbra. Vergonha! Basta reparar na barriga dele para se perceber tudo. Despi a minha camisola aos quadrados e as botas de água, saltei para terra e vesti o fato do português comum… Não percebi nada do que disseram, nem ao certo que estavam ali a fazer, quanto mais a reivindicar.

Tantos pescadores esqueceram-se de dizer que abastecem os seus Audi e Mercedes com o gasóleo que deveria ir para as embarcações. Tantos pescadores esqueceram-se de dizer que chegaram a afundar barcos para receber o dinheiro do seguro, sanear as dívidas e ainda receberam dinheiro para um barco novo e moderno. Tantos pescadores esqueceram-se de dizer que vendem grande parte do pescado pela porta do cavalo ajudando mais à especulação. Tantos pescadores esqueceram-se de dizer que usam mais artes de pesca que as permitidas, entre elas ilegais, violando defesos e pescando fora de limites. Tantos pescadores esqueceram-se de dizer por que motivo aqueles senhores dos sindicatos de armadores ali estão, quanto ganham, o que fazem e com quem se relacionam. Tantos pescadores esqueceram-se de dizer que no Mar são uns cães uns para os outros e que só lhes interessa desbravar, doa a quem doer, quando acabar acaba para todos. Tantos pescadores esqueceram-se de dizer que grande parte dos naufrágios dos últimos anos na costa portuguesa se deveu à ganância desmesurada e a pescarem onde não deviam.

Mestres e armadores ganham que se fartam. O mais pequenino é que se lixa, como o mexilhão. Se o pequeno pescador procura o pão para pôr na mesa, o armador procura o carro topo de gama para pôr na garagem da sua vivenda.

O preço dos combustíveis tem um forte impacto no sector e respeito a greve, mas não nos podemos esquecer que as Pescas estão minadas a partir de dentro, já há muito tempo.

Agora que o tempo das vacas magras veio para ficar, a corda está a apertar no pescoço daqueles que ostentam maciços rostos de Cristo em ouro. Quanto aos que de rosto apenas têm sol e sal, vão continuar a fazer o que sempre fizeram, sobreviver. Quando esses morrerem, não se preocupem, o peixe deaviário veio para ficar. Bom apetite!

Leituras complementares: A crise mundial dos alimentos; contras e contras ; contras e contras (2) e diz que é uma espécie de estado de direito (2).

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