XimPi

28-06-2009
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Poesia sobre os ciganosROMANCE DO CIGANO QUE VIU CHEGAR O ALFERES* Cecilia MeirelesNão vale muito, o rosilho:mas o homem que vem montado,embora venha sorrindo,traz sinal de desgraçado.Parece vir perseguido,sem que se seja soldado;deixou marcas no caminhocomo de homem algemado.Fala e pensa como um vivo,mas deve estar condenado.Tem qualquer coisa no juízo,mas sem ser um desvairado.A estrela do seu destinoleva o desenho estropiado:metade com grande brilhoa outra, de brilho nublado;quanto mais fica um, sobrio,mais se ilumina o outro lado.Cante Cigano(Janita Salomé)by N/ABendita la mareque tiene que dá como diñabaRosita y mosquetaspor la madrugáEn na praito berdetendi mi pañuelocomo salieron mare tres Rositacomo tres luserosEspanha/PopularAos Poetas* Miguel TorgaSomos nósAs humanas cigarras!Nós,Desde os tempos de Esopo conhecidos.Nós,Preguiçosos insectos perseguidos.Somos nós os ridículos comparsasDa fábula burguesa da formiga.Nós, a tribo faminta de ciganosQue se abrigaAo luar.Nós, que nunca passamosA passar!...Somos nós, e só nós podemos terAsas sonoras,Asas que em certas horasPalpitam,Asas que morrem, mas que ressuscitam~Da sepultura!E que da planuraDa searaErguem a um campo de maior alturaA mão que só altura semeara.Por isso a vós,Poetas, eu levantoA taça fraternal deste meu canto,E bebo em vossa honra o doce vinhoDa amizade e da paz!Vinho que não é meu,mas sim do mosto que a beleza traz!E vos digo e conjuro que canteis!Que sejais menestreisDe uma gesta de amor universal!Duma epopeia que não tenha reis,Mas homens de tamanho natural!Homens de toda a terra sem fronteiras!De todos os feitios e maneiras,Da cor que o sol lhes deu à flor da pele!Crias de Adão e Eva verdadeiras!Homens da torre de Babel!Homens do dia a diaQue levantem paredes de ilusão!Homens de pés no chão,Que se calcem de sonho e de poesiaPela graça infantil da vossa mão!Chamaram-me cigano* (letra e música de Zeca Afonso)Chamaram-me um diaCigano e maltês.Menino, não és boa rês!Abri uma covaNa terra mais funda,Fiz dela a minha sepultura.Entrei numa gruta,Matei um tritão,Mas tive o diabo na mão.Havia um comboioJá pronto a largar,E vi o diabo a tentar.Pedi-lhe um cruzado,Fiquei logo ali,Num leito de penas dormi.Puseram-me a ferros,Soltaram o cão,Mas tive o diabo na mão.Voltei de charola,de cilha e arnês,Amigo, vem cá outra vez!Subi uma escada,Ganhei dinheirama,Senhor D. Fulano Marquês!Perdi na roleta,Ganhei ao gamão,Mas tive o diabo na mão.Ao dar uma voltaCaí do lancilE veio o diabo a ganir.Nadavam piranhasNa lagoa escura,Tamanhas que nunca tal vi!Limpei a viseira,Peguei no arpão,Mas tive o diabo na mão.Ciganos* Miguel TorgaTudo o que voa é ave.Desta janela abertaA pena que se eleva é mais suaveE a folha que plana é mais liberta.Nos seus braços azuis o céu aqueceTodo o alado movimento.É no chão que arrefeceO que não pode andar no firmamento.Outro levante, pois, ciganos!Outra tenda sem pátria mais além!DesumanosSão os sonhos, também...PORTO DA SAUDADE * Alceu Valença (refrão do povo nordestino)Faz tanto tempo, tempo é rua SoledadeLeia saudade quando escrevo solidãoQuis o destino tortuoso dos ciganosE as aventuras dos pneus de um caminhãoQue atravessava o riacho de salobroDeixando marcas desenhadas pelo chãoO vento vinha e varria a minha voltaA ventania e o tempo não têm compaixãoOh mana deixa eu irOh mana eu vou sóOh mana deixa eu irPro sertão de CaicóFaz tanto tempo, tempo é porto da saudadePraias do Rio de Janeiro no verãoQuero o destino das águas dos oceanosMe evaporando preu chover no riachãoMergulharia no riacho de salobroLevando a culpa como se eu fosse cristãoO vento vinha e varria à minha voltaA ventania e o tempo não têm compaixãoPUNHAL DE PRATA * Alceu ValençaEu sempre andei descalçoNo encalço dessa meninaE a sola dos meus passosTem a pele muito finaEu sempre olhei os olhosBem no fundoNa retinaE a menina dos olhosMe mataMe alucinaEu sempre andei sozinhoA mão esquerda vaziaA mão direita fechadaSem medoPor garantiaDe encontrar quem me amaNara que me odeiaCom esse punhal de prataBrilhando na lua cheiaEu sendo mouro sou um ciganoEu rasgo o oceanoEu quebro esse marMorena, vem...La guitarra* (Poema de la siguiriya gitana in: Poema del cante jondo)Empieza el llantode la guitarra.Se rompen las copasde la madrugada.Empieza el llantode la guitarra.Es inútil callarla.Es imposiblecallarla.Llora monótonacomo llora el agua,como llora el vientosobre la nevada.Es imposiblecallarla.Llora por cosaslejanas.Arena del Sur calienteque pide camelias blancas.Llora flecha sin blanco,la tarde sin mañana,y el primer pájaro muertosobre la rama.Oh, guitarra!Corazón malheridopor cinco espadasÉ talvez um excesso de tristezas...*** Quando acampam de noite, é no relento,Que vão sonhar seu Sonho aventureiro;Seu teto é o vácuo azul do Firmamento,Lar? o lar do cigano é o mundo inteiro. Às vezes, em vigílias ambulantes,A noite em fora, entre canções dalmatas,Vão seguindo ao luar, vão delirantes,Alados no langor das serenatas. Gemem guzlas e vibram castanholas,E este rumor de errantes cavatinasLembra coisas das terras espanholas,Nas saudades das terras levantinas. E, então, seus vultos tredos envolvidosEm vestes rotas, sórdidas, imundas.Vão passando por ermos esquecidos,Como um grupo de sombras vagabundas. Lá vem os saltimbancos, às dezenas,Levantando a poeira das estradas,Vêm gemendo bizarras cantilenas,No tumulto das danças agitadas. Povo sem Fé, sem Deus e sem Bandeira!Todos o temem como horrível gente,Mas ele na existência aventureira,Ri-se do medo alheio, indiferente. E, livres como o Vento e a Luz volante,Sob a aparência de Infelicidade,Realizam, na sua vida errante,O poema da eterna Liberdade.Poema integrante da série Poemas Inéditos.In: LEONI, Raul de. Trechos escolhidos. Org. Luiz Santa Cruz. Rio de Janeiro: Agir, 1961. (Nossos clássicos, 58). O AMOR* Sophia de Mello Breyner Não há para mim outro amor nem tardes limpas A minha própria vida a desertei Só existe o teu rosto geometria Clara que sem descanso esculpirei. E noite onde sem fim me afundarei. in O Cristo Cigano, 1961


Poesia sobre os ciganosROMANCE DO CIGANO QUE VIU CHEGAR O ALFERES* Cecilia MeirelesNão vale muito, o rosilho:mas o homem que vem montado,embora venha sorrindo,traz sinal de desgraçado.Parece vir perseguido,sem que se seja soldado;deixou marcas no caminhocomo de homem algemado.Fala e pensa como um vivo,mas deve estar condenado.Tem qualquer coisa no juízo,mas sem ser um desvairado.A estrela do seu destinoleva o desenho estropiado:metade com grande brilhoa outra, de brilho nublado;quanto mais fica um, sobrio,mais se ilumina o outro lado.Cante Cigano(Janita Salomé)by N/ABendita la mareque tiene que dá como diñabaRosita y mosquetaspor la madrugáEn na praito berdetendi mi pañuelocomo salieron mare tres Rositacomo tres luserosEspanha/PopularAos Poetas* Miguel TorgaSomos nósAs humanas cigarras!Nós,Desde os tempos de Esopo conhecidos.Nós,Preguiçosos insectos perseguidos.Somos nós os ridículos comparsasDa fábula burguesa da formiga.Nós, a tribo faminta de ciganosQue se abrigaAo luar.Nós, que nunca passamosA passar!...Somos nós, e só nós podemos terAsas sonoras,Asas que em certas horasPalpitam,Asas que morrem, mas que ressuscitam~Da sepultura!E que da planuraDa searaErguem a um campo de maior alturaA mão que só altura semeara.Por isso a vós,Poetas, eu levantoA taça fraternal deste meu canto,E bebo em vossa honra o doce vinhoDa amizade e da paz!Vinho que não é meu,mas sim do mosto que a beleza traz!E vos digo e conjuro que canteis!Que sejais menestreisDe uma gesta de amor universal!Duma epopeia que não tenha reis,Mas homens de tamanho natural!Homens de toda a terra sem fronteiras!De todos os feitios e maneiras,Da cor que o sol lhes deu à flor da pele!Crias de Adão e Eva verdadeiras!Homens da torre de Babel!Homens do dia a diaQue levantem paredes de ilusão!Homens de pés no chão,Que se calcem de sonho e de poesiaPela graça infantil da vossa mão!Chamaram-me cigano* (letra e música de Zeca Afonso)Chamaram-me um diaCigano e maltês.Menino, não és boa rês!Abri uma covaNa terra mais funda,Fiz dela a minha sepultura.Entrei numa gruta,Matei um tritão,Mas tive o diabo na mão.Havia um comboioJá pronto a largar,E vi o diabo a tentar.Pedi-lhe um cruzado,Fiquei logo ali,Num leito de penas dormi.Puseram-me a ferros,Soltaram o cão,Mas tive o diabo na mão.Voltei de charola,de cilha e arnês,Amigo, vem cá outra vez!Subi uma escada,Ganhei dinheirama,Senhor D. Fulano Marquês!Perdi na roleta,Ganhei ao gamão,Mas tive o diabo na mão.Ao dar uma voltaCaí do lancilE veio o diabo a ganir.Nadavam piranhasNa lagoa escura,Tamanhas que nunca tal vi!Limpei a viseira,Peguei no arpão,Mas tive o diabo na mão.Ciganos* Miguel TorgaTudo o que voa é ave.Desta janela abertaA pena que se eleva é mais suaveE a folha que plana é mais liberta.Nos seus braços azuis o céu aqueceTodo o alado movimento.É no chão que arrefeceO que não pode andar no firmamento.Outro levante, pois, ciganos!Outra tenda sem pátria mais além!DesumanosSão os sonhos, também...PORTO DA SAUDADE * Alceu Valença (refrão do povo nordestino)Faz tanto tempo, tempo é rua SoledadeLeia saudade quando escrevo solidãoQuis o destino tortuoso dos ciganosE as aventuras dos pneus de um caminhãoQue atravessava o riacho de salobroDeixando marcas desenhadas pelo chãoO vento vinha e varria a minha voltaA ventania e o tempo não têm compaixãoOh mana deixa eu irOh mana eu vou sóOh mana deixa eu irPro sertão de CaicóFaz tanto tempo, tempo é porto da saudadePraias do Rio de Janeiro no verãoQuero o destino das águas dos oceanosMe evaporando preu chover no riachãoMergulharia no riacho de salobroLevando a culpa como se eu fosse cristãoO vento vinha e varria à minha voltaA ventania e o tempo não têm compaixãoPUNHAL DE PRATA * Alceu ValençaEu sempre andei descalçoNo encalço dessa meninaE a sola dos meus passosTem a pele muito finaEu sempre olhei os olhosBem no fundoNa retinaE a menina dos olhosMe mataMe alucinaEu sempre andei sozinhoA mão esquerda vaziaA mão direita fechadaSem medoPor garantiaDe encontrar quem me amaNara que me odeiaCom esse punhal de prataBrilhando na lua cheiaEu sendo mouro sou um ciganoEu rasgo o oceanoEu quebro esse marMorena, vem...La guitarra* (Poema de la siguiriya gitana in: Poema del cante jondo)Empieza el llantode la guitarra.Se rompen las copasde la madrugada.Empieza el llantode la guitarra.Es inútil callarla.Es imposiblecallarla.Llora monótonacomo llora el agua,como llora el vientosobre la nevada.Es imposiblecallarla.Llora por cosaslejanas.Arena del Sur calienteque pide camelias blancas.Llora flecha sin blanco,la tarde sin mañana,y el primer pájaro muertosobre la rama.Oh, guitarra!Corazón malheridopor cinco espadasÉ talvez um excesso de tristezas...*** Quando acampam de noite, é no relento,Que vão sonhar seu Sonho aventureiro;Seu teto é o vácuo azul do Firmamento,Lar? o lar do cigano é o mundo inteiro. Às vezes, em vigílias ambulantes,A noite em fora, entre canções dalmatas,Vão seguindo ao luar, vão delirantes,Alados no langor das serenatas. Gemem guzlas e vibram castanholas,E este rumor de errantes cavatinasLembra coisas das terras espanholas,Nas saudades das terras levantinas. E, então, seus vultos tredos envolvidosEm vestes rotas, sórdidas, imundas.Vão passando por ermos esquecidos,Como um grupo de sombras vagabundas. Lá vem os saltimbancos, às dezenas,Levantando a poeira das estradas,Vêm gemendo bizarras cantilenas,No tumulto das danças agitadas. Povo sem Fé, sem Deus e sem Bandeira!Todos o temem como horrível gente,Mas ele na existência aventureira,Ri-se do medo alheio, indiferente. E, livres como o Vento e a Luz volante,Sob a aparência de Infelicidade,Realizam, na sua vida errante,O poema da eterna Liberdade.Poema integrante da série Poemas Inéditos.In: LEONI, Raul de. Trechos escolhidos. Org. Luiz Santa Cruz. Rio de Janeiro: Agir, 1961. (Nossos clássicos, 58). O AMOR* Sophia de Mello Breyner Não há para mim outro amor nem tardes limpas A minha própria vida a desertei Só existe o teu rosto geometria Clara que sem descanso esculpirei. E noite onde sem fim me afundarei. in O Cristo Cigano, 1961

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