XimPi

28-06-2009
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CANTAR ALENTEJANOVicente Campinas*Chamava-se CatarinaO Alentejo a viu nascerSerranas viram-na em vidaBaleizão a viu morrerCeifeiras na manhã friaFlores na campa lhe vão pôrFicou vermelha a campinaDo sangue que então brotouAcalma o furor campinaQue o teu pranto não findouQuem viu morrer CatarinaNão perdoa a quem matouAquela pomba tão brancaTodos a querem p’ra siÓ Alentejo queimadoNinguém se lembra de tiAquela andorinha negraBate as asas p’ra voarÓ Alentejo esquecidoInda um dia hás-de cantar* Este poema foi musicado por José Afonso, no álbum «Cantigas de Maio», editado no Natal de 1971RETRATO DE CATARINA EUFÉMIAJosé Carlos Ary dos SantosDa medonha saudade da medusaque medeia entre nós e o passadodessa palavra polvo da recusade um povo desgraçado.Da palavra saudade a mais bonitaa mais prenha de pranto a mais noveloda língua portuguesa fiz a fita encarnadaque ponho no cabelo.Trança de trigo roxoCatarina morrendo alpenduradado alto de uma foice.Soror Saudade Viva assassinadapelas balas do solna culatra da noite.Meu amor. Minha espiga. Meu heróiMeu homem. Meu rapaz. Minha mulherde corpo inteiro como ninguém foide pedra e alma como ninguém quer.CATARINA EUFÉMIASophia de Mello Breyner Anderson O primeiro tema da reflexão grega é a justiçaE eu penso nesse instante em que ficaste expostaEstavas grávida porém não recuastePorque a tua lição é esta: fazer frente Pois não deste homem por tiE não ficaste em casa a cozinhar intrigasSegundo o antiquíssimo método obíquo das mulheresNem usaste de manobra ou de calúniaE não serviste apenas para chorar os mortosTinha chegado o tempoEm que era preciso que alguém não recuasseE a terra bebeu um sangue duas vezes puroPorque eras a mulher e não somente a fêmeaEras a inocência frontal que não recuaAntígona poisou a sua mão sobre o teu ombro no instante em que morresteE a busca da justiça continuaCatarina Eufémia (1928 – 1954)Personifica o exemplo de coragem e tenacidade na luta pela liberdade. Trabalhadora rural, Catarina Eufémia reivindicava pão e melhores salários quando foi assassinada em terras de Baleizão pelas forças do regime salazarista. Viviam-se tempos difíceis no Alentejo. Com condições de vida precárias, os camponeses saíram à rua para protestar. Catarina Eufémia - que se supõe ter sido militante comunista - liderava o movimento. Era o símbolo da dedicação aos ideais, como a justiça e a igualdade, um símbolo da resistência do proletariado rural alentejano à repressão e à exploração do salazarismo e, ao mesmo tempo, um símbolo do combate pela liberdade e da emancipação da mulher portuguesa. A sua trágica história tornou-se numa lenda e inspirou vários poetas ao longo de décadas. Todo o país estava em luta. Os trabalhadores sofriam a repressão e a exploração económica. Lutavam por condições mais dignas e melhores salários. Sentiam na pele o regime ditatorial de Salazar. No Alentejo, os trabalhadores agrícolas estavam em greve. Já se recorria a mão-de-obra de outras zonas do País que se sujeitava às condições precárias que ofereciam os empresários. A década de 50 foi um período de grandes tensões sociais. E a PIDE estava à espreita, assim como a GNR, que tinha postos nas próprias herdades. Em 19 de Maio de 1954, a situação agravou-se. Os assalariados rurais de Baleizão abordaram abertamente um grupo de trabalhadores recém-chegados para que, também eles, reivindicassem melhores condições de trabalho. Os ânimos aqueceram. Catarina Eufémia, uma ceifeira analfabeta, estava à frente do movimento. Mulher de coragem e determinação, lutava por uma sociedade mais justa e, como a própria afirmava, por “pão e trabalho”. Ao ser abordada pelo tenente Carrajola, da GNR, Catarina respondeu com autoridade. No mesmo momento levou vários tiros e morreu. Tinha 26 anos e três filhos. Crê-se que estava grávida. A notícia chocou o País. Catarina Eufémia morreu como uma resistente, exigindo mais dignidade para os trabalhadores agrícolas. (...)retirado do site da RTP - Concurso Os Grandes PortuguesesFoto de Catarinalitogravura de José Dias Coelho, dirigente do PCP assassinado pela PIDE em 1961Um dossier sobre Catarina Eufémia pode ser encontrado em:..Quarta, 19 Maio 2004Catarina Eufémia - 50 anos depois da morte


CANTAR ALENTEJANOVicente Campinas*Chamava-se CatarinaO Alentejo a viu nascerSerranas viram-na em vidaBaleizão a viu morrerCeifeiras na manhã friaFlores na campa lhe vão pôrFicou vermelha a campinaDo sangue que então brotouAcalma o furor campinaQue o teu pranto não findouQuem viu morrer CatarinaNão perdoa a quem matouAquela pomba tão brancaTodos a querem p’ra siÓ Alentejo queimadoNinguém se lembra de tiAquela andorinha negraBate as asas p’ra voarÓ Alentejo esquecidoInda um dia hás-de cantar* Este poema foi musicado por José Afonso, no álbum «Cantigas de Maio», editado no Natal de 1971RETRATO DE CATARINA EUFÉMIAJosé Carlos Ary dos SantosDa medonha saudade da medusaque medeia entre nós e o passadodessa palavra polvo da recusade um povo desgraçado.Da palavra saudade a mais bonitaa mais prenha de pranto a mais noveloda língua portuguesa fiz a fita encarnadaque ponho no cabelo.Trança de trigo roxoCatarina morrendo alpenduradado alto de uma foice.Soror Saudade Viva assassinadapelas balas do solna culatra da noite.Meu amor. Minha espiga. Meu heróiMeu homem. Meu rapaz. Minha mulherde corpo inteiro como ninguém foide pedra e alma como ninguém quer.CATARINA EUFÉMIASophia de Mello Breyner Anderson O primeiro tema da reflexão grega é a justiçaE eu penso nesse instante em que ficaste expostaEstavas grávida porém não recuastePorque a tua lição é esta: fazer frente Pois não deste homem por tiE não ficaste em casa a cozinhar intrigasSegundo o antiquíssimo método obíquo das mulheresNem usaste de manobra ou de calúniaE não serviste apenas para chorar os mortosTinha chegado o tempoEm que era preciso que alguém não recuasseE a terra bebeu um sangue duas vezes puroPorque eras a mulher e não somente a fêmeaEras a inocência frontal que não recuaAntígona poisou a sua mão sobre o teu ombro no instante em que morresteE a busca da justiça continuaCatarina Eufémia (1928 – 1954)Personifica o exemplo de coragem e tenacidade na luta pela liberdade. Trabalhadora rural, Catarina Eufémia reivindicava pão e melhores salários quando foi assassinada em terras de Baleizão pelas forças do regime salazarista. Viviam-se tempos difíceis no Alentejo. Com condições de vida precárias, os camponeses saíram à rua para protestar. Catarina Eufémia - que se supõe ter sido militante comunista - liderava o movimento. Era o símbolo da dedicação aos ideais, como a justiça e a igualdade, um símbolo da resistência do proletariado rural alentejano à repressão e à exploração do salazarismo e, ao mesmo tempo, um símbolo do combate pela liberdade e da emancipação da mulher portuguesa. A sua trágica história tornou-se numa lenda e inspirou vários poetas ao longo de décadas. Todo o país estava em luta. Os trabalhadores sofriam a repressão e a exploração económica. Lutavam por condições mais dignas e melhores salários. Sentiam na pele o regime ditatorial de Salazar. No Alentejo, os trabalhadores agrícolas estavam em greve. Já se recorria a mão-de-obra de outras zonas do País que se sujeitava às condições precárias que ofereciam os empresários. A década de 50 foi um período de grandes tensões sociais. E a PIDE estava à espreita, assim como a GNR, que tinha postos nas próprias herdades. Em 19 de Maio de 1954, a situação agravou-se. Os assalariados rurais de Baleizão abordaram abertamente um grupo de trabalhadores recém-chegados para que, também eles, reivindicassem melhores condições de trabalho. Os ânimos aqueceram. Catarina Eufémia, uma ceifeira analfabeta, estava à frente do movimento. Mulher de coragem e determinação, lutava por uma sociedade mais justa e, como a própria afirmava, por “pão e trabalho”. Ao ser abordada pelo tenente Carrajola, da GNR, Catarina respondeu com autoridade. No mesmo momento levou vários tiros e morreu. Tinha 26 anos e três filhos. Crê-se que estava grávida. A notícia chocou o País. Catarina Eufémia morreu como uma resistente, exigindo mais dignidade para os trabalhadores agrícolas. (...)retirado do site da RTP - Concurso Os Grandes PortuguesesFoto de Catarinalitogravura de José Dias Coelho, dirigente do PCP assassinado pela PIDE em 1961Um dossier sobre Catarina Eufémia pode ser encontrado em:..Quarta, 19 Maio 2004Catarina Eufémia - 50 anos depois da morte

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