Kant_O_XimPi: A viragem da História

28-06-2009
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•JorgeMessiasO calendário de Setembro recorda sempre os pavores da II Guerra Mundial. Porém, nas memórias da guerra, as raízes da paranóia nazi são em geral omitidas e também pouco se fala dos seus ocultos objectivos centrais, responsáveis pela maior chacina dos tempos modernos. Convém acentuar que o nazismo não é um fantasma para sempre arrumado nas prateleiras da História. Permanece anónimo e é frequentemente aproveitado como modelo inspirador das intrigas e das manobras dos caudilhos da actualidade.O partido nazi alemão data de 1919 mas a consolidação do seu poderio não foi obra de um dia. Hitler tomou posse como chefe do «governo de concentração nacional» (hoje, poder-se-ia dizer-se governo do bloco central) em Fevereiro de 1933. Neste intervalo do tempo a acção dos nazis foi sobretudo desordeira, através de arruaças de bandos terroristas. Só depois passou à tomada do poder, à instalação do regime e ao desencadear das guerras de agressão, fase que só terminou em 1941, com a invasão da URSS.Hitler, no apogeu, proclamou então a vitória da Nova Ordem Europeia (a globalização nazi). Instalou em toda a Europa o «estado concentracionário» que canalizava para a Alemanha o produto e o património dos territórios ocupados e impunha aos povos inferiores a disciplina férrea e brutal ditada pelas unidades policiais de ocupação (SS, Gestapo, polícias de fronteira, serviços de segurança central, Wermacht, etc.). Por toda a parte, sobretudo na Europa Central e do Leste, foram surgindo os campos de concentração e extermínio responsáveis pela tortura e morte de muitos milhões de seres humanos. Neles eram torturados e sucumbiram muitos milhões de comunistas, de judeus, de intelectuais, de resistentes, de idosos e de doentes, de ciganos – enfim de quantos recusavam servir o invasor ou tinham a desgraça de não pertencerem à raça teutónica dos super-homens.Por muito que o facto espante, o poder nazi nasceu de eleições reconhecidas como democráticas e livres. No parlamento, o partido nazi obteve a maioria absoluta e formou coligações com outras forças, católicas, latifundiárias, do poder financeiro e empresarial, das cúpulas da indústria dos armamentos, etc. Em bloco, fizeram aprovar um plano político quadrienal que previa a reorganização da economia, o fim da exploração dos camponeses e o pleno emprego. A proposta foi aprovada por unanimidade e atraiu a confiança popular.A partir de então, uma vez instalados no poder, os nazis foram absorvendo ou neutralizando as forças dos seus aliados, centralizaram as chefias e decretaram sucessivas medidas antiterroristas como a unificação das polícias, a mobilização da economia para o esforço de guerra ou a substituição do conceito de emprego pelo de ocupação no trabalho. O trabalhador desempregado tinha uma esperança a que se agarrar, uma imagem virtual do futuro. Foi à sombra destas políticas que engordaram as grandes fortunas nazis, o negócio das armas e da especulação e o domínio totalitário das áreas da investigação, da cultura e da comunicação social. O terrorismo existia, de facto, mas tinha origem no próprio Estado. Gabavam-se então, os nazis, de terem virado uma página da História.A assinatura da Concordata entre o Berlim e o Vaticano, logo em meados dos anos 30, representou o reconhecimento, por parte da Igreja, do regime nazi com todo o seu cortejo de horrores. Comentava Hitler com ironia: - O cristianismo é a base de toda a nossa Moral... Aliás, a Santa Sé pouco ou quase nada exigiu pela cedência: apenas um pouco mais de poder de intervenção na área da Educação. Quanto ao resto, Pio XI limitou-se a estender a passadeira aos criminosos: reconheceu o regime e foi até ao ponto de concordar com a dissolução do Partido Católico do Centro e sua posterior integração na esfera nazi. Berlim e o Papa viviam fascinados pelo projecto da Nova Cruzada Contra o Comunismo. Viu-se depois quanta miséria, sofrimento e morte este fundamentalismo sectário provocou.As utopias religiosas sempre estiveram presentes nas práticas nazis. Se o resistente fosse terrorista, então as guerras de agressão teriam a virtude moral de dissuadirem o terror. Por isso, os nazis diziam que os comunistas eram agentes do espírito do Mal. Tinham incendiado o Parlamento do Reich. Eram responsáveis pelo ataque a um centro de rádio que precedeu a invasão da Polónia. Depois, fuzilaram em Katyn 11 mil oficiais polacos. E os bolcheviques caluniavam a Alemanha ao não reconhecerem que os campos de concentração nazis desempenhavam um papel de grande importância social através da reeducação de delinquentes. No Tribunal de Nuremberga veio a provar-se que todos estes crimes tinham sido efectivamente cometidos mas pelas tropas e hordas nazis. Estes métodos de contra-informação continuam a ser actualmente praticados. Lembremos, ao acaso, exemplos como os das Torres de Nova Iorque, do Eixo do Mal, da Al-Caeda, das guerras do Kosovo, do Iraque e do Afeganistão, o presídio de Guantámano, os morticínios do Darfur, etc., etc.O nazismo não morreu. É um perigo persistente, bem vivo e actual. Ressurge a cada passo e alimenta-se da mentira, dos interesses do dinheiro ou mesmo de uma inocente maioria eleitoral!.in Avante 2008.09.18..


•JorgeMessiasO calendário de Setembro recorda sempre os pavores da II Guerra Mundial. Porém, nas memórias da guerra, as raízes da paranóia nazi são em geral omitidas e também pouco se fala dos seus ocultos objectivos centrais, responsáveis pela maior chacina dos tempos modernos. Convém acentuar que o nazismo não é um fantasma para sempre arrumado nas prateleiras da História. Permanece anónimo e é frequentemente aproveitado como modelo inspirador das intrigas e das manobras dos caudilhos da actualidade.O partido nazi alemão data de 1919 mas a consolidação do seu poderio não foi obra de um dia. Hitler tomou posse como chefe do «governo de concentração nacional» (hoje, poder-se-ia dizer-se governo do bloco central) em Fevereiro de 1933. Neste intervalo do tempo a acção dos nazis foi sobretudo desordeira, através de arruaças de bandos terroristas. Só depois passou à tomada do poder, à instalação do regime e ao desencadear das guerras de agressão, fase que só terminou em 1941, com a invasão da URSS.Hitler, no apogeu, proclamou então a vitória da Nova Ordem Europeia (a globalização nazi). Instalou em toda a Europa o «estado concentracionário» que canalizava para a Alemanha o produto e o património dos territórios ocupados e impunha aos povos inferiores a disciplina férrea e brutal ditada pelas unidades policiais de ocupação (SS, Gestapo, polícias de fronteira, serviços de segurança central, Wermacht, etc.). Por toda a parte, sobretudo na Europa Central e do Leste, foram surgindo os campos de concentração e extermínio responsáveis pela tortura e morte de muitos milhões de seres humanos. Neles eram torturados e sucumbiram muitos milhões de comunistas, de judeus, de intelectuais, de resistentes, de idosos e de doentes, de ciganos – enfim de quantos recusavam servir o invasor ou tinham a desgraça de não pertencerem à raça teutónica dos super-homens.Por muito que o facto espante, o poder nazi nasceu de eleições reconhecidas como democráticas e livres. No parlamento, o partido nazi obteve a maioria absoluta e formou coligações com outras forças, católicas, latifundiárias, do poder financeiro e empresarial, das cúpulas da indústria dos armamentos, etc. Em bloco, fizeram aprovar um plano político quadrienal que previa a reorganização da economia, o fim da exploração dos camponeses e o pleno emprego. A proposta foi aprovada por unanimidade e atraiu a confiança popular.A partir de então, uma vez instalados no poder, os nazis foram absorvendo ou neutralizando as forças dos seus aliados, centralizaram as chefias e decretaram sucessivas medidas antiterroristas como a unificação das polícias, a mobilização da economia para o esforço de guerra ou a substituição do conceito de emprego pelo de ocupação no trabalho. O trabalhador desempregado tinha uma esperança a que se agarrar, uma imagem virtual do futuro. Foi à sombra destas políticas que engordaram as grandes fortunas nazis, o negócio das armas e da especulação e o domínio totalitário das áreas da investigação, da cultura e da comunicação social. O terrorismo existia, de facto, mas tinha origem no próprio Estado. Gabavam-se então, os nazis, de terem virado uma página da História.A assinatura da Concordata entre o Berlim e o Vaticano, logo em meados dos anos 30, representou o reconhecimento, por parte da Igreja, do regime nazi com todo o seu cortejo de horrores. Comentava Hitler com ironia: - O cristianismo é a base de toda a nossa Moral... Aliás, a Santa Sé pouco ou quase nada exigiu pela cedência: apenas um pouco mais de poder de intervenção na área da Educação. Quanto ao resto, Pio XI limitou-se a estender a passadeira aos criminosos: reconheceu o regime e foi até ao ponto de concordar com a dissolução do Partido Católico do Centro e sua posterior integração na esfera nazi. Berlim e o Papa viviam fascinados pelo projecto da Nova Cruzada Contra o Comunismo. Viu-se depois quanta miséria, sofrimento e morte este fundamentalismo sectário provocou.As utopias religiosas sempre estiveram presentes nas práticas nazis. Se o resistente fosse terrorista, então as guerras de agressão teriam a virtude moral de dissuadirem o terror. Por isso, os nazis diziam que os comunistas eram agentes do espírito do Mal. Tinham incendiado o Parlamento do Reich. Eram responsáveis pelo ataque a um centro de rádio que precedeu a invasão da Polónia. Depois, fuzilaram em Katyn 11 mil oficiais polacos. E os bolcheviques caluniavam a Alemanha ao não reconhecerem que os campos de concentração nazis desempenhavam um papel de grande importância social através da reeducação de delinquentes. No Tribunal de Nuremberga veio a provar-se que todos estes crimes tinham sido efectivamente cometidos mas pelas tropas e hordas nazis. Estes métodos de contra-informação continuam a ser actualmente praticados. Lembremos, ao acaso, exemplos como os das Torres de Nova Iorque, do Eixo do Mal, da Al-Caeda, das guerras do Kosovo, do Iraque e do Afeganistão, o presídio de Guantámano, os morticínios do Darfur, etc., etc.O nazismo não morreu. É um perigo persistente, bem vivo e actual. Ressurge a cada passo e alimenta-se da mentira, dos interesses do dinheiro ou mesmo de uma inocente maioria eleitoral!.in Avante 2008.09.18..

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