Kant_O_XimPi: Falsificaçoes da História

28-06-2009
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Panzer alemão emboscado e destruído pelos partizans da Resistance no dia da libertação de Paris (2ª Grande Guerra)..• JorgeCadimaA revisão da história da II Guerra começou ainda antes da guerra acabar Falsificações Às vezes, uma notícia é como uma fotografia – vale mais do que milhares de palavras. Segundo a Radio 4 da BBC. «Documentos descobertos pela BBC revelam que os comandantes britânicos e americanos garantiram que a libertação de Paris, em 25 de Agosto de 1944, aparecesse como uma vitória “apenas de brancos”[...]O programa Document da BBC viu provas que os soldados negros das colónias [francesas] – que constituiam cerca de dois terços das forças da França Livre – foram deliberadamente retirados da unidade que conduziu o avanço aliado para o interior da capital francesa». E ainda: «o dirigente das forças da França Livre, Charles de Gaulle, tornou claro que desejava que os seus franceses conduzissem a libertação de Paris. O Alto Comando Aliado [anglo-americano] concordou, mas sob uma condição: a divisão de De Gaulle não deveria incluir quaisquer soldados negros [...] No fim, quase todos ficaram felizes. De Gaulle obteve o seu desejo de ver uma divisão francesa conduzir a libertação de Paris, embora a escassez de tropas brancas significasse que muitos dos seus homens eram na realidade espanhóis. [...] Mas para os Tirailleurs senegaleses, houve poucos motivos para celebração. [...] Após a libertação da capital francesa, muitos foram simplesmente despidos dos seus uniformes e enviados para casa. Para agravar as coisas, em 1959 as suas pensões foram congeladas» (BBC, 7.4.09).A notícia ilustra muita coisa: como se falsifica a História com encenações bem propagandeadas que glorificam generais sem tropas; como a Libertação da ocupação nazi não representou a libertação dos povos colonizados pelo liberal-democrata e ocidental-civilizado império francês; como os Aliados anglo-americanos (também cúmplices na colonização de boa parte da Humanidade) encaram os povos: carne para canhão, que serve para morrer nas guerras que afirmam o seu poder, mas não para participar nas vitórias.Sem qualquer desprimor pelo valioso trabalho dos jornalistas da Radio 4, importa também salientar o que a notícia não diz. Quando as tropas aliadas entraram em Paris em 25 de Agosto, encontraram uma cidade já praticamente libertada pela Resistência francesa e o levantamento popular, com destaque para os Francs-Tireurs et Partisans (FTP), guerrilha em que os comunistas desempenharam o papel de vanguarda. Realidade reflectida na cerimónia de rendição do comandante das tropas alemães em Paris, von Choltitz, em que participa o comunista e comandante dos FTP, Coronel Henri Tanguy (Rol). Milhares de «franceses brancos» tiveram um papel decisivo na libertação da França. Mas eram em grande medida comunistas. Eram povo. O que escasseava eram «franceses brancos» da burguesia. Que, fiel ao seu grito de «antes Hitler que a Frente Popular» ou «antes a Prússia do que a Comuna», havia em boa medida escolhido o campo do colaboracionismo, do Marechal Pétain, da capitulação ou da passividade. A dominação de classe estava em primeiro lugar. Não era uma situação única entre as burguesias europeias. Pelo contrário. Mesmo sem falar na Alemanha e Itália, na Peninsula Ibérica, nos Balcãs ou na Escandinávia, a maioria da burguesia inglesa estava com o Pacto de Munique e tinha um fraquinho por Hitler, que havia “metido na ordem” os comunistas e os sindicatos. Churchill apenas chegou ao poder quando se tornou claro que Hitler não iria necessariamente respeitar o Império Britânico. E por toda a parte, de Estalinegrado a Paris, os comunistas desempenharam papel decisivo na derrota do nazi-fascismo.A revisão da história da II Guerra começou ainda antes da guerra acabar. Hoje, o revisionismo e a mais despudorada falsificação histórica alastram - veja-se a vergonhosa resolução do Parlamento Europeu de 2 de Abril. Os herdeiros de Vichy e de Munique, os fascistas que de novo assomam ao poder em Itália ou no leste europeu, e outros - que deveriam ter vergonha - aliam-se para falsificar a História. Querem crucificar e perseguir os comunistas. Mas o que os move é sobretudo o medo. O medo de que os povos se insurjam contra o capitalismo e a sua dominação de classe - geradora de guerra, crise, miséria e fascismo - tornando-se de novo actores da História e construtores do seu futuro colectivo. .in Avante - 2009.04.18,.


Panzer alemão emboscado e destruído pelos partizans da Resistance no dia da libertação de Paris (2ª Grande Guerra)..• JorgeCadimaA revisão da história da II Guerra começou ainda antes da guerra acabar Falsificações Às vezes, uma notícia é como uma fotografia – vale mais do que milhares de palavras. Segundo a Radio 4 da BBC. «Documentos descobertos pela BBC revelam que os comandantes britânicos e americanos garantiram que a libertação de Paris, em 25 de Agosto de 1944, aparecesse como uma vitória “apenas de brancos”[...]O programa Document da BBC viu provas que os soldados negros das colónias [francesas] – que constituiam cerca de dois terços das forças da França Livre – foram deliberadamente retirados da unidade que conduziu o avanço aliado para o interior da capital francesa». E ainda: «o dirigente das forças da França Livre, Charles de Gaulle, tornou claro que desejava que os seus franceses conduzissem a libertação de Paris. O Alto Comando Aliado [anglo-americano] concordou, mas sob uma condição: a divisão de De Gaulle não deveria incluir quaisquer soldados negros [...] No fim, quase todos ficaram felizes. De Gaulle obteve o seu desejo de ver uma divisão francesa conduzir a libertação de Paris, embora a escassez de tropas brancas significasse que muitos dos seus homens eram na realidade espanhóis. [...] Mas para os Tirailleurs senegaleses, houve poucos motivos para celebração. [...] Após a libertação da capital francesa, muitos foram simplesmente despidos dos seus uniformes e enviados para casa. Para agravar as coisas, em 1959 as suas pensões foram congeladas» (BBC, 7.4.09).A notícia ilustra muita coisa: como se falsifica a História com encenações bem propagandeadas que glorificam generais sem tropas; como a Libertação da ocupação nazi não representou a libertação dos povos colonizados pelo liberal-democrata e ocidental-civilizado império francês; como os Aliados anglo-americanos (também cúmplices na colonização de boa parte da Humanidade) encaram os povos: carne para canhão, que serve para morrer nas guerras que afirmam o seu poder, mas não para participar nas vitórias.Sem qualquer desprimor pelo valioso trabalho dos jornalistas da Radio 4, importa também salientar o que a notícia não diz. Quando as tropas aliadas entraram em Paris em 25 de Agosto, encontraram uma cidade já praticamente libertada pela Resistência francesa e o levantamento popular, com destaque para os Francs-Tireurs et Partisans (FTP), guerrilha em que os comunistas desempenharam o papel de vanguarda. Realidade reflectida na cerimónia de rendição do comandante das tropas alemães em Paris, von Choltitz, em que participa o comunista e comandante dos FTP, Coronel Henri Tanguy (Rol). Milhares de «franceses brancos» tiveram um papel decisivo na libertação da França. Mas eram em grande medida comunistas. Eram povo. O que escasseava eram «franceses brancos» da burguesia. Que, fiel ao seu grito de «antes Hitler que a Frente Popular» ou «antes a Prússia do que a Comuna», havia em boa medida escolhido o campo do colaboracionismo, do Marechal Pétain, da capitulação ou da passividade. A dominação de classe estava em primeiro lugar. Não era uma situação única entre as burguesias europeias. Pelo contrário. Mesmo sem falar na Alemanha e Itália, na Peninsula Ibérica, nos Balcãs ou na Escandinávia, a maioria da burguesia inglesa estava com o Pacto de Munique e tinha um fraquinho por Hitler, que havia “metido na ordem” os comunistas e os sindicatos. Churchill apenas chegou ao poder quando se tornou claro que Hitler não iria necessariamente respeitar o Império Britânico. E por toda a parte, de Estalinegrado a Paris, os comunistas desempenharam papel decisivo na derrota do nazi-fascismo.A revisão da história da II Guerra começou ainda antes da guerra acabar. Hoje, o revisionismo e a mais despudorada falsificação histórica alastram - veja-se a vergonhosa resolução do Parlamento Europeu de 2 de Abril. Os herdeiros de Vichy e de Munique, os fascistas que de novo assomam ao poder em Itália ou no leste europeu, e outros - que deveriam ter vergonha - aliam-se para falsificar a História. Querem crucificar e perseguir os comunistas. Mas o que os move é sobretudo o medo. O medo de que os povos se insurjam contra o capitalismo e a sua dominação de classe - geradora de guerra, crise, miséria e fascismo - tornando-se de novo actores da História e construtores do seu futuro colectivo. .in Avante - 2009.04.18,.

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