Pleitos, Apostilas e Comentários: Dar utilidade à dinamite

27-06-2009
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2426No fim-de-semana da Páscoa, fortes razões emocionais (aquela coisa, saudade, que os portugueses dizem ser únicos na “transliteração”) me levaram ao Douro - à região vinhateira do Douro, Património Mundial da Humanidade segundo a UNESCO, orgulho do indigenato - à Régua (sou do tempo em que a velha-guarda elevava o tom ao dizerem-se da Princesa do Douro). Da “ascendência real” suspeitei e da beleza edificada da dama ainda mais o que nunca significou, que pudesse deixar de vir a ter uma beleza com que poucos ou lugar algum ombreasse. A Natureza não a deserdou antes pelo contrário, mas que se permitiu entregar na mão de licenciados, pós-graduados e doutorados em fealdade que, com requintes de (só pode ter sido!) malvadez, souberam dar cabo de tudo o que a poderia manter bela como devia naturalmente ser, não é menos verdade.Os monumentos à fealdade, os atentados urbanísticos por lá se vão orgulhosamente sucedendo. Há duas dezenas de anos ainda pensei que enfim, poderia ser que houvesse uma espécie de reconstrução - a substituição do tabique por tijolo e marquises em alumínio e vidros fumados ... bem, do mal o menos! seriam os efeitos da modernidade conceptualizada por patos-bravos e pedreiros a quem este país se entregou de há trinta e três anos para cá. Fatal como o destino! a desgraça está sempre acompanhada, e mal. O erro foi o de julgar que, a estupidez, estaria confinada e constrita à malha urbana existente. Enganei-me! a boçalidade expõe-se quando o alarve exibe o bandulho e se orgulha do arroto. Nestes casos, a boçalidade, dilui-se e aloja-se muito mais naqueles que permitem do que nos outros, que pedem permissão e fazem. Hoje chega-se à Régua e lá na parte superior da parte alta da cidade ergue-se majestático uma ode à alarvidade urbanística, um hino à imbecilidade autárquica. Implantado numa cota para aí de 80 metros acima do nível do rio Douro, edificado a quatro ou cinco metros do limite da Estrada Nacional, ao desfazer da curva que nos tira do túnel da A24, encaixado entre quatro ou cinco socalcos ... oito pisos da mais pura arte empreiteira do país, proveniente do Autocad de arquitecto (?!) de nobilíssima casta ... Ei-lo! Ao alto! para se ver ao longe ... Imagino os dizeres dos panfletos publicitários: Edifício com vistas soberbas.Não precisa de subir a S. Leonardo ou de se maçar a ir a S. Salvador do Mundo ...P.S.: fico na expectativa de que o Presidente da Câmara (Nuno Gonçalves) tenha enviado fotografias ao comité da Unesco. O emblemático é para ser exibido, divulgado.

2426No fim-de-semana da Páscoa, fortes razões emocionais (aquela coisa, saudade, que os portugueses dizem ser únicos na “transliteração”) me levaram ao Douro - à região vinhateira do Douro, Património Mundial da Humanidade segundo a UNESCO, orgulho do indigenato - à Régua (sou do tempo em que a velha-guarda elevava o tom ao dizerem-se da Princesa do Douro). Da “ascendência real” suspeitei e da beleza edificada da dama ainda mais o que nunca significou, que pudesse deixar de vir a ter uma beleza com que poucos ou lugar algum ombreasse. A Natureza não a deserdou antes pelo contrário, mas que se permitiu entregar na mão de licenciados, pós-graduados e doutorados em fealdade que, com requintes de (só pode ter sido!) malvadez, souberam dar cabo de tudo o que a poderia manter bela como devia naturalmente ser, não é menos verdade.Os monumentos à fealdade, os atentados urbanísticos por lá se vão orgulhosamente sucedendo. Há duas dezenas de anos ainda pensei que enfim, poderia ser que houvesse uma espécie de reconstrução - a substituição do tabique por tijolo e marquises em alumínio e vidros fumados ... bem, do mal o menos! seriam os efeitos da modernidade conceptualizada por patos-bravos e pedreiros a quem este país se entregou de há trinta e três anos para cá. Fatal como o destino! a desgraça está sempre acompanhada, e mal. O erro foi o de julgar que, a estupidez, estaria confinada e constrita à malha urbana existente. Enganei-me! a boçalidade expõe-se quando o alarve exibe o bandulho e se orgulha do arroto. Nestes casos, a boçalidade, dilui-se e aloja-se muito mais naqueles que permitem do que nos outros, que pedem permissão e fazem. Hoje chega-se à Régua e lá na parte superior da parte alta da cidade ergue-se majestático uma ode à alarvidade urbanística, um hino à imbecilidade autárquica. Implantado numa cota para aí de 80 metros acima do nível do rio Douro, edificado a quatro ou cinco metros do limite da Estrada Nacional, ao desfazer da curva que nos tira do túnel da A24, encaixado entre quatro ou cinco socalcos ... oito pisos da mais pura arte empreiteira do país, proveniente do Autocad de arquitecto (?!) de nobilíssima casta ... Ei-lo! Ao alto! para se ver ao longe ... Imagino os dizeres dos panfletos publicitários: Edifício com vistas soberbas.Não precisa de subir a S. Leonardo ou de se maçar a ir a S. Salvador do Mundo ...P.S.: fico na expectativa de que o Presidente da Câmara (Nuno Gonçalves) tenha enviado fotografias ao comité da Unesco. O emblemático é para ser exibido, divulgado.

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