PALAVROSSAVRVS REX: PTERODACTILONIANA PAISAGEM

23-05-2009
marcar artigo


Sabor ferroso a sangue. Ferida.Jorra. Provo-o involuntariamente, quente, meu.No Céu, onde, com umas nuvenzinhas róseas muito a nordeste,a aurora lentamente se afoita, rósea, áurea, sanguínea, vejo o gume vestigial de uma lua recedente, muito a prumo toda dentro dum Azul Esbranquiçado.Acomete-me de repente sentir-me somente um homem só, pterodáctilo da escrita e do sonhocom a ponta dos meus dedos-asas, ao alijar só assim toda a espécie de sofrimentos.lkjOutros pterodáctilos, esses emplumados, cruzam os céus, centenas, milhares deles, níveos músculos alados nas alturas oscilam nos recessos mais recônditos dele.Vou pela auto-estrada e olho-os, hora de ponta celeste das gaivotas,voando em desencontro, enquanto piam celebrativas, deplorativas. Têm o Rio e a Cidade Iluminada por baixo, eis a Alfândega e a Ribeira. Rodando sobre a Ponte, sinto-me já perto de casa. É o triunfo das Aves e provavelmente da Grande Gripe prodigamente esparzida do Alto.lkjAfinal, um casal meu amigo lá casou, mas não foi por eles que o soube!A brisa matinal é o melhor perfume do Cosmos. Sangro ainda. Intromete-se-me o meu sangue com o seu paladar e dói-me esse casal de amigos agora casadosem que mo anunciassem, como seria de esperar, ou afinal não seria nada de esperar.Pterodáctilos por todo lado nestes Céus Litorais. Imobilizo o carro. Cheguei ao meu lar.Afinal, todos os meus amigos me traíram! Pardais, melros, em montePio poisam nas ruas, o ruído da fome avícola avulta pela minha janela automóvel num cagaçal festivo e faminto,pombas, rolas, tudo é das aves, o fresco amanhecer é todo delas.Afinal, todos os meus conhecidos me desconheceram. É do sono que penso nisso.E toda a gente outrora próxima me desagendou das suas agendas.Não os encontro. Nunca. Não lhes interessa encontrar-me, ver-me. Ouvir-me.lkjSou culpado de ser eu mesmo. Tornei-me-lhes evitável, assunto muito cochichado.Que ando muito irado, que estou muito diferente, que agora sou deselegante, desagradável, feroz, temível, cheio de palavras serrilhadas, afiadas, envenenadas, maledicentes, cozidas e cerzidas de raiva e baba rebelada. Que tenho agora demasiado inconformismo e rebeldia para ainda lhes parecer o mesmo indivíduo cordato e cristão.Que agora tenho demasiado Poema e demasiado longa Narrativa para lhes ser inteligível e interessável.Falhei na Indústria Conserveira dos Amigos, esse enlatado de luxo! E estou só.lkjNão quer dizer que esteja infeliz. Não. Simplesmente estou só,só como Fernando Pessoa a sós com a sua própria genialidade privativa e por desabrocharnos orgasmos de aclamação, de publicidade e de triunfo póstumos, só como certos presidiários inundados de cínico e do clarão desapontado com a Espécie, só como boa parte dos velhos, as mais crassas vítimas de Portugalque politicamente e socialmente e individualmente vai praticando com eles um cruel e asqueroso Geronticídio nesses Lares da Terceira Idade, onde certas Tias gerem proventosamente a idosa baba, a sopa idosa e o silêncio pesaroso ante-mortem, Geronticídio também nesses casebres miseravelmente degradados das cidades onde se escondem e escondem todas as faltas de pão e saúde.Geronticídio porque as partilhas, as contas bancárias, as jóias e os ourosvêm certos chacais filhos-cabrões-chulos de seus parkinsonianos pais alzeimerianos conflituar entre si e exigir antecipadamente como é próprio de Abutres Apressados.lkjEstar só é estar só higiénica, heróica e convictamente!lkjNinguém nas ruas. Ninguém em lado nenhum. Só aves, pios, a fome de ratodas aves pela manhãzinha. Tudo está deserto. Já não tenho amigos! É isso. Não os mereço omnipresentes e invasivos.Não me merecem. Dois ou três tenho, vá!, que me pagam associativamente um jantar quando me vêem uma só vez e pela primeira vez na vidaporque anelam perceber, cara a cara comigo, se só em bytes instilo vinagree não no trato pessoal, onde tresando a amor e ternura. Tiram a prova jantarina e depois partem tranquilizados. Amigos!lkj Amigos talvez só mesmo um, extraordinário cantor e músico, e que por vezes me encontra a malucar umas raivas, umas tristezas e umas apatiasà porta e em serviço do meu Pub, onde ocasionalmente toca, e por isso mesmo vem, intuitivo, todo sorrisos antecipando o próprio humor-rebuçado, a contar-me aquelass anedotas certas, a fazer-me rir muito. Ele, com quem é sempre muito bom conversar, ele, a quem é bom escutar e sentir-me por igual escutado e falar do que calhe, nossas filhas, nossas mulheres, do trabalho, desta amizade da boa.lkjMas, pronto, falhei de ser inteiramente convencional, não tenho sucesso por que me procurem inquisitivos, e falhei ainda mais de ser inteiramente social, porque sou mais interiorístico e perdido em saberes, textos e palavras. Preciso de amigos que me amem e aceitem apesar disso e para além disso desconvencional e associal.Não preciso de amigos que se gabam de me conhecerem bem somente para melhor me desmoralizarem e menoscabarem, Amigos da Onça e de Peniche.Fui espremido, ponto negro social espremido do rosto amistoso, por vizinhos e conhecidos.Fui desolhado e tresolhado, riscado e emendado, deslargado e emprastado contra a parede.Fui metrocado e metralhado: não sou sequer digno de um talvez ou de um moche a mim.Que eu não tinha o direito de me tresmalhar e me tornar um Pródigo Guardador de Porcos, dizem eles e pensam ainda mais que o dizem, os Porcos das Incertezas,os Porcos do Labirinto da Vida, os Porcos do Desconforto e da Luta Acérrimapor Pão e Dignidade, rasgada a cortina Matrix com que afinal Tudo nos Mente.lkjOs meus amigos, vizinhos e conhecidos, afinal casam e não me dizem nada.Os meus conhecidos, vizinhos e amigos, afinal têm planos muito honestos e cumprem-nose vão todos aos aniversários e casamentos uns dos outros sem mim e afinal são mais amigos uns dos outros e mais sensíveis uns com os outros que eu com eles,que não vou a casamentos nem a aniversários porque não sei ou não posso ou me esqueço.E ignoram informar-me, e preferem ofertar-me com a sensação de que lhes morri. Ah, então é isso?, estou-lhes morto?! E não poderia jamais escrever o que penso sem que lhes morresse?E não poderia afinal dizer abertamente que acredito em Cristo-Deus sem que lhes morresse? kljhPois então já me lhes fizeram o funeral e nem para ele me convidaram?Não é justo. Na verdade, isso não é nada aceitável. Não deixarei de me queixar à Entidade Reguladora Amizade da Boca para Fora,e à Comissão de Farra e Convívio Natural entre gente que mutuamente se viu o cu.Vou mandar vir a ASAE inspeccionar essas instalações venosas e canalizações coronárias com muito mau hálito e preocupante colestrol espiritual. Então eu aqui, muito sozinho, ignorado e cuspido, sem saber de casamentos,e vós, aí, afinal a murmurar de mim e a tecer exclusões cirúrgicas e silêncios sornas?!E querem que eu vos perdoe essas habilidades sabiamente engendradas?lkjFrancamente, amigos, vizinhos e conhecidos, não vos explicaram que murmurar é feio? Murmurar é como influenciar à boca das urnas. Vício filho da puta!


Sabor ferroso a sangue. Ferida.Jorra. Provo-o involuntariamente, quente, meu.No Céu, onde, com umas nuvenzinhas róseas muito a nordeste,a aurora lentamente se afoita, rósea, áurea, sanguínea, vejo o gume vestigial de uma lua recedente, muito a prumo toda dentro dum Azul Esbranquiçado.Acomete-me de repente sentir-me somente um homem só, pterodáctilo da escrita e do sonhocom a ponta dos meus dedos-asas, ao alijar só assim toda a espécie de sofrimentos.lkjOutros pterodáctilos, esses emplumados, cruzam os céus, centenas, milhares deles, níveos músculos alados nas alturas oscilam nos recessos mais recônditos dele.Vou pela auto-estrada e olho-os, hora de ponta celeste das gaivotas,voando em desencontro, enquanto piam celebrativas, deplorativas. Têm o Rio e a Cidade Iluminada por baixo, eis a Alfândega e a Ribeira. Rodando sobre a Ponte, sinto-me já perto de casa. É o triunfo das Aves e provavelmente da Grande Gripe prodigamente esparzida do Alto.lkjAfinal, um casal meu amigo lá casou, mas não foi por eles que o soube!A brisa matinal é o melhor perfume do Cosmos. Sangro ainda. Intromete-se-me o meu sangue com o seu paladar e dói-me esse casal de amigos agora casadosem que mo anunciassem, como seria de esperar, ou afinal não seria nada de esperar.Pterodáctilos por todo lado nestes Céus Litorais. Imobilizo o carro. Cheguei ao meu lar.Afinal, todos os meus amigos me traíram! Pardais, melros, em montePio poisam nas ruas, o ruído da fome avícola avulta pela minha janela automóvel num cagaçal festivo e faminto,pombas, rolas, tudo é das aves, o fresco amanhecer é todo delas.Afinal, todos os meus conhecidos me desconheceram. É do sono que penso nisso.E toda a gente outrora próxima me desagendou das suas agendas.Não os encontro. Nunca. Não lhes interessa encontrar-me, ver-me. Ouvir-me.lkjSou culpado de ser eu mesmo. Tornei-me-lhes evitável, assunto muito cochichado.Que ando muito irado, que estou muito diferente, que agora sou deselegante, desagradável, feroz, temível, cheio de palavras serrilhadas, afiadas, envenenadas, maledicentes, cozidas e cerzidas de raiva e baba rebelada. Que tenho agora demasiado inconformismo e rebeldia para ainda lhes parecer o mesmo indivíduo cordato e cristão.Que agora tenho demasiado Poema e demasiado longa Narrativa para lhes ser inteligível e interessável.Falhei na Indústria Conserveira dos Amigos, esse enlatado de luxo! E estou só.lkjNão quer dizer que esteja infeliz. Não. Simplesmente estou só,só como Fernando Pessoa a sós com a sua própria genialidade privativa e por desabrocharnos orgasmos de aclamação, de publicidade e de triunfo póstumos, só como certos presidiários inundados de cínico e do clarão desapontado com a Espécie, só como boa parte dos velhos, as mais crassas vítimas de Portugalque politicamente e socialmente e individualmente vai praticando com eles um cruel e asqueroso Geronticídio nesses Lares da Terceira Idade, onde certas Tias gerem proventosamente a idosa baba, a sopa idosa e o silêncio pesaroso ante-mortem, Geronticídio também nesses casebres miseravelmente degradados das cidades onde se escondem e escondem todas as faltas de pão e saúde.Geronticídio porque as partilhas, as contas bancárias, as jóias e os ourosvêm certos chacais filhos-cabrões-chulos de seus parkinsonianos pais alzeimerianos conflituar entre si e exigir antecipadamente como é próprio de Abutres Apressados.lkjEstar só é estar só higiénica, heróica e convictamente!lkjNinguém nas ruas. Ninguém em lado nenhum. Só aves, pios, a fome de ratodas aves pela manhãzinha. Tudo está deserto. Já não tenho amigos! É isso. Não os mereço omnipresentes e invasivos.Não me merecem. Dois ou três tenho, vá!, que me pagam associativamente um jantar quando me vêem uma só vez e pela primeira vez na vidaporque anelam perceber, cara a cara comigo, se só em bytes instilo vinagree não no trato pessoal, onde tresando a amor e ternura. Tiram a prova jantarina e depois partem tranquilizados. Amigos!lkj Amigos talvez só mesmo um, extraordinário cantor e músico, e que por vezes me encontra a malucar umas raivas, umas tristezas e umas apatiasà porta e em serviço do meu Pub, onde ocasionalmente toca, e por isso mesmo vem, intuitivo, todo sorrisos antecipando o próprio humor-rebuçado, a contar-me aquelass anedotas certas, a fazer-me rir muito. Ele, com quem é sempre muito bom conversar, ele, a quem é bom escutar e sentir-me por igual escutado e falar do que calhe, nossas filhas, nossas mulheres, do trabalho, desta amizade da boa.lkjMas, pronto, falhei de ser inteiramente convencional, não tenho sucesso por que me procurem inquisitivos, e falhei ainda mais de ser inteiramente social, porque sou mais interiorístico e perdido em saberes, textos e palavras. Preciso de amigos que me amem e aceitem apesar disso e para além disso desconvencional e associal.Não preciso de amigos que se gabam de me conhecerem bem somente para melhor me desmoralizarem e menoscabarem, Amigos da Onça e de Peniche.Fui espremido, ponto negro social espremido do rosto amistoso, por vizinhos e conhecidos.Fui desolhado e tresolhado, riscado e emendado, deslargado e emprastado contra a parede.Fui metrocado e metralhado: não sou sequer digno de um talvez ou de um moche a mim.Que eu não tinha o direito de me tresmalhar e me tornar um Pródigo Guardador de Porcos, dizem eles e pensam ainda mais que o dizem, os Porcos das Incertezas,os Porcos do Labirinto da Vida, os Porcos do Desconforto e da Luta Acérrimapor Pão e Dignidade, rasgada a cortina Matrix com que afinal Tudo nos Mente.lkjOs meus amigos, vizinhos e conhecidos, afinal casam e não me dizem nada.Os meus conhecidos, vizinhos e amigos, afinal têm planos muito honestos e cumprem-nose vão todos aos aniversários e casamentos uns dos outros sem mim e afinal são mais amigos uns dos outros e mais sensíveis uns com os outros que eu com eles,que não vou a casamentos nem a aniversários porque não sei ou não posso ou me esqueço.E ignoram informar-me, e preferem ofertar-me com a sensação de que lhes morri. Ah, então é isso?, estou-lhes morto?! E não poderia jamais escrever o que penso sem que lhes morresse?E não poderia afinal dizer abertamente que acredito em Cristo-Deus sem que lhes morresse? kljhPois então já me lhes fizeram o funeral e nem para ele me convidaram?Não é justo. Na verdade, isso não é nada aceitável. Não deixarei de me queixar à Entidade Reguladora Amizade da Boca para Fora,e à Comissão de Farra e Convívio Natural entre gente que mutuamente se viu o cu.Vou mandar vir a ASAE inspeccionar essas instalações venosas e canalizações coronárias com muito mau hálito e preocupante colestrol espiritual. Então eu aqui, muito sozinho, ignorado e cuspido, sem saber de casamentos,e vós, aí, afinal a murmurar de mim e a tecer exclusões cirúrgicas e silêncios sornas?!E querem que eu vos perdoe essas habilidades sabiamente engendradas?lkjFrancamente, amigos, vizinhos e conhecidos, não vos explicaram que murmurar é feio? Murmurar é como influenciar à boca das urnas. Vício filho da puta!

marcar artigo