PALAVROSSAVRVS REX: A VERDADEIR BICEFALIA, O CÉU E O INFERNO RUSSOS

30-09-2009
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«Dimitri Medvedev é presidente da Rússia há sensivelmente cem dias e é supostamente o homem mais poderoso do país. Para ganhar confiabilidade, ele precisa, porém, se tornar mais autónomo, comenta Ingo Mannteufel. Mas o presidente Dimitri Medvedev teve azar. O conflito na Ossétia do Sul azedou um balanço relativamente positivo dos seus primeiros cem dias no poder. lkjAlém disso, a guerra contra a Geórgia abalou a posição de Medvedev e desmascarou a farsa de uma nova dominação dupla na Rússia, da democracia bicéfala "a dois" do primeiro-ministro Vladimir Putin.Até o início do conflito na Ossétia do Sul e da ação militar da Rússia contra a Geórgia, o balanço dos primeiros dias do presidente Medvedev no cargo era, para parâmetros russos, até positivo.lkjEle conseguiu, em primeiro lugar, não cometer grandes erros internos. Teria sido fatal, caso ele tivesse, logo no começo, criado problemas com algum dos grupos poderosos da elite que lidera o país. Em segundo lugar, Medvedev conseguiu, através de declarações acanhadas, emancipar-se até certo ponto de Putin, tendo-se afirmado como personalidade própria, mesmo que dentro de determinados limites.Em suas viagens ao exterior, ele pôde ganhar pontos com seu estilo cordial, humano, e declarações liberais e favoráveis à Europa. lkjA notícia de que Medvedev havia cessado o processo de acirramento da lei que regula os Media, iniciado sob o governo Putin, foi bem recebida no Ocidente.Quando o primeiro-ministro Putin criou polémica com um ataque de raiva público contra a empresa russa de mineração e aço Mechel, e as acções desta despencaram na bolsa, Medvedev manifestou-se com cautela contra a pressão estatal sobre uma empresa – sem, é claro, citar nominalmente seu primeiro-ministro.Essas atitudes não foram, com certeza, actos heróicos, mas considerando as condições do complexo sistema de poder na Rússia, foram, por um momento, sinais de uma política independente do novo presidente Medvedev. lkjMas então veio a guerra no Cáucaso. A tentativa da Geórgia de assumir novamente o controlo da região da Ossétia do Sul prejudicou sensivelmente o balanço dos cem primeiros dias de Medvedev no poder. No primeiro dia do conflito, ele parecia sem saber o que fazer, tendo assumido com dificuldades o papel de comandante-mor da Rússia.Foi então que Putin, da distante Pequim, deu, como de costume, as cartas, marcadas ainda por uma visita surpresa, no sábado seguinte, a Vladikavkas, na Ossétia do Norte. Medvedev parecia, nesse momento, um vice que ficou em casa e que somente repassava os comandos de uma reação militar dura e intransigente da Rússia contra a Geórgia, sem tomar decisões próprias. Atitude que atirou por terra todas as tentativas de aproximação de Medvedev à Europa.lkjCom a invasão pelas tropas russas da Geórgia, aumentou ainda mais o distanciamento entre o Ocidente e a Rússia. As palavras liberais e pró-europeias de Medvedev caíram praticamente em esquecimento. A divisão de papéis entre bad cop (Putin) e o good cop (Medvedev) também não vão funcionar mais. Tanto dentro quanto fora da Rússia, a mensagem é clara: o poder no país está nas mãos de Putin.Se Medvedev quiser ser aceite como presidente tanto pelo povo russo quanto pelo exterior, terá de mostrar, com ações e palavras, que não é o homem mais poderoso da Rússia somente segundo a Constituição do país. Mesmo que isso traga desvantagens para seu mentor e primeiro-ministro Putin.»


«Dimitri Medvedev é presidente da Rússia há sensivelmente cem dias e é supostamente o homem mais poderoso do país. Para ganhar confiabilidade, ele precisa, porém, se tornar mais autónomo, comenta Ingo Mannteufel. Mas o presidente Dimitri Medvedev teve azar. O conflito na Ossétia do Sul azedou um balanço relativamente positivo dos seus primeiros cem dias no poder. lkjAlém disso, a guerra contra a Geórgia abalou a posição de Medvedev e desmascarou a farsa de uma nova dominação dupla na Rússia, da democracia bicéfala "a dois" do primeiro-ministro Vladimir Putin.Até o início do conflito na Ossétia do Sul e da ação militar da Rússia contra a Geórgia, o balanço dos primeiros dias do presidente Medvedev no cargo era, para parâmetros russos, até positivo.lkjEle conseguiu, em primeiro lugar, não cometer grandes erros internos. Teria sido fatal, caso ele tivesse, logo no começo, criado problemas com algum dos grupos poderosos da elite que lidera o país. Em segundo lugar, Medvedev conseguiu, através de declarações acanhadas, emancipar-se até certo ponto de Putin, tendo-se afirmado como personalidade própria, mesmo que dentro de determinados limites.Em suas viagens ao exterior, ele pôde ganhar pontos com seu estilo cordial, humano, e declarações liberais e favoráveis à Europa. lkjA notícia de que Medvedev havia cessado o processo de acirramento da lei que regula os Media, iniciado sob o governo Putin, foi bem recebida no Ocidente.Quando o primeiro-ministro Putin criou polémica com um ataque de raiva público contra a empresa russa de mineração e aço Mechel, e as acções desta despencaram na bolsa, Medvedev manifestou-se com cautela contra a pressão estatal sobre uma empresa – sem, é claro, citar nominalmente seu primeiro-ministro.Essas atitudes não foram, com certeza, actos heróicos, mas considerando as condições do complexo sistema de poder na Rússia, foram, por um momento, sinais de uma política independente do novo presidente Medvedev. lkjMas então veio a guerra no Cáucaso. A tentativa da Geórgia de assumir novamente o controlo da região da Ossétia do Sul prejudicou sensivelmente o balanço dos cem primeiros dias de Medvedev no poder. No primeiro dia do conflito, ele parecia sem saber o que fazer, tendo assumido com dificuldades o papel de comandante-mor da Rússia.Foi então que Putin, da distante Pequim, deu, como de costume, as cartas, marcadas ainda por uma visita surpresa, no sábado seguinte, a Vladikavkas, na Ossétia do Norte. Medvedev parecia, nesse momento, um vice que ficou em casa e que somente repassava os comandos de uma reação militar dura e intransigente da Rússia contra a Geórgia, sem tomar decisões próprias. Atitude que atirou por terra todas as tentativas de aproximação de Medvedev à Europa.lkjCom a invasão pelas tropas russas da Geórgia, aumentou ainda mais o distanciamento entre o Ocidente e a Rússia. As palavras liberais e pró-europeias de Medvedev caíram praticamente em esquecimento. A divisão de papéis entre bad cop (Putin) e o good cop (Medvedev) também não vão funcionar mais. Tanto dentro quanto fora da Rússia, a mensagem é clara: o poder no país está nas mãos de Putin.Se Medvedev quiser ser aceite como presidente tanto pelo povo russo quanto pelo exterior, terá de mostrar, com ações e palavras, que não é o homem mais poderoso da Rússia somente segundo a Constituição do país. Mesmo que isso traga desvantagens para seu mentor e primeiro-ministro Putin.»

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