PALAVROSSAVRVS REX: MARIA JOÃO PIRES, A BRASILEIRA

30-09-2009
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O comparativamente escasso ou comparativamente nulo investimento na Cultura de que Sócrates se 'penitenciou' por penitenciar em fim de mandato tem consequências como esta: o abalançar definitivo de Maria João Pires para a pátria da Língua Portuguesa sob os direitos e deveres da cidadania brasileira. Ganha o Brasil. Perde Portugal. E a hemorragia vai longa. Pode discutir-se a idiossincrasia especiosa da artista, mas um artista é um artista. Ou se aceita o João César Monteiro («Não se nasce português, fica-se português...», in Vai e Vem, 2003) e o Luiz Pacheco excêntricos que habitam nessas almas ou todos perdemos de uma forma ou de outra. Escritores, artistas, intelectuais que os governos portugueses se habituaram a desprezar activamente são, na verdade, investimentos de futuro sistematicamente perdidos e estragados. Goste-se dele ou não, Saramago é um bom exemplo de uma zanga com algum sentido. As gravações, os objectos e a memória dos mais excelentes, como Maria João Pires, constituem activos incalculáveis pelos séculos portugueses do porvir. Sistematicamente, os sucessivos governos de Portugal fazem sofrer os seus melhores ou com preconceito ou com actos de uma enorme cegueira despreziva. Ora, do que os governos portugueses se mostram incapazes para com os seus ilustres das artes e do virtuosismo enquanto vivos, como Jorge de Sena cujos ossos só agora descansarão na sua ingrata e não-ditosa pátria amada, outros governos do Mundo se mostrarão bem capazes porque nestas coisas a sensibilidade, o afecto e a lucidez contam muito. E, ao que parece, falho de tudo o que é razoável e humano, este Governo, inflado da grande Soberba de um só homem, também se mostrou imensamente falho em sensibilidade. Não faltarão insultos rascas a este gesto da pianista, porém, como se compreende! Como se compreende na sua luminosa naturalidade magoada!: «A pianista Maria João Pires vai renunciar à nacionalidade portuguesa, tornando-se aos 65 anos cidadã brasileira. A notícia é avançada pela Antena 2 da RDP, que adianta que a pianista se fartou “dos coices e pontapés que tem recebido do Governo português".»


O comparativamente escasso ou comparativamente nulo investimento na Cultura de que Sócrates se 'penitenciou' por penitenciar em fim de mandato tem consequências como esta: o abalançar definitivo de Maria João Pires para a pátria da Língua Portuguesa sob os direitos e deveres da cidadania brasileira. Ganha o Brasil. Perde Portugal. E a hemorragia vai longa. Pode discutir-se a idiossincrasia especiosa da artista, mas um artista é um artista. Ou se aceita o João César Monteiro («Não se nasce português, fica-se português...», in Vai e Vem, 2003) e o Luiz Pacheco excêntricos que habitam nessas almas ou todos perdemos de uma forma ou de outra. Escritores, artistas, intelectuais que os governos portugueses se habituaram a desprezar activamente são, na verdade, investimentos de futuro sistematicamente perdidos e estragados. Goste-se dele ou não, Saramago é um bom exemplo de uma zanga com algum sentido. As gravações, os objectos e a memória dos mais excelentes, como Maria João Pires, constituem activos incalculáveis pelos séculos portugueses do porvir. Sistematicamente, os sucessivos governos de Portugal fazem sofrer os seus melhores ou com preconceito ou com actos de uma enorme cegueira despreziva. Ora, do que os governos portugueses se mostram incapazes para com os seus ilustres das artes e do virtuosismo enquanto vivos, como Jorge de Sena cujos ossos só agora descansarão na sua ingrata e não-ditosa pátria amada, outros governos do Mundo se mostrarão bem capazes porque nestas coisas a sensibilidade, o afecto e a lucidez contam muito. E, ao que parece, falho de tudo o que é razoável e humano, este Governo, inflado da grande Soberba de um só homem, também se mostrou imensamente falho em sensibilidade. Não faltarão insultos rascas a este gesto da pianista, porém, como se compreende! Como se compreende na sua luminosa naturalidade magoada!: «A pianista Maria João Pires vai renunciar à nacionalidade portuguesa, tornando-se aos 65 anos cidadã brasileira. A notícia é avançada pela Antena 2 da RDP, que adianta que a pianista se fartou “dos coices e pontapés que tem recebido do Governo português".»

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