PALAVROSSAVRVS REX: "BOA FICAGEM!", SOLNADO ENTRE NÓS

30-09-2009
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O testemunho de Leonor Xavier sobre Solnado, de que transcrevo um luminoso excerto, vale a pena ser lido e relido. Sela, quanto a mim, a certeza de que há almas intrincadamente homólogas pela compaixão de que são capazes, pela grandeza de que se deixam habitar, pela humildade profunda que as contamina de Amor e Liberdade em extremo. O último Solnado de que Leonor fala, tão sensível aos últimos, é-me completamente alter ego, íntimo, perceptível, franqueando abismado a Porta da Plenitude: «Em face das infinitas pessoas que agora pronunciaram o seu nome, e ao longo dos rituais da morte, penso do Raul que é um homem que muito amou e foi amado. Pelos mais simples e anónimos, pelos desconhecidos, pelos drogados e pelos bêbados, pelos cachorros e pelas crianças. Aos menos importantes prestava atenção, às crianças abria os braços com o corpo inclinado para trás, dos cachorros não tinha medo, dos bêbados aturava os caprichos, para os drogados tinha sempre uma moeda. E agora dou por mim a achar que só o Raul tirou do anonimato tantas e tantas pessoas que dele guardaram uma palavra, um encontro, que lhe prestaram um serviço fugaz, que com ele trocaram uma frase, por acaso. Nestes anos, nunca acontecia que um desses não chegasse perto na rua e lhe lembrasse uma passagem na guerra em Angola, um café, uma viagem, um auditório de televisão. Levava as mulheres a acreditar na sedução, porque era um sedutor. Com elas e com toda a gente. O Raul foi um sedutor. Dizia palavras sagradas como Liberdade. Praticava a cidadania. Nunca o vi sequer em transgressão no trânsito, porque para ele a integridade era fundamental. Era tão doce e resignado como doente, nas vezes todas que esteve internado nos hospitais. Os médicos choram por ele. E quem o tratou sabe como percebeu a dimensão superior do sofrimento. Homem perplexo com a vida e as expressões da fé. Homem de fé, místico, conversou sobre vida e morte com Frei Bento Domingues, frei dominicano, nos últimos dias. Não sabíamos, nenhum de nós, que fosse para já.» Leonor Xavier, Visão


O testemunho de Leonor Xavier sobre Solnado, de que transcrevo um luminoso excerto, vale a pena ser lido e relido. Sela, quanto a mim, a certeza de que há almas intrincadamente homólogas pela compaixão de que são capazes, pela grandeza de que se deixam habitar, pela humildade profunda que as contamina de Amor e Liberdade em extremo. O último Solnado de que Leonor fala, tão sensível aos últimos, é-me completamente alter ego, íntimo, perceptível, franqueando abismado a Porta da Plenitude: «Em face das infinitas pessoas que agora pronunciaram o seu nome, e ao longo dos rituais da morte, penso do Raul que é um homem que muito amou e foi amado. Pelos mais simples e anónimos, pelos desconhecidos, pelos drogados e pelos bêbados, pelos cachorros e pelas crianças. Aos menos importantes prestava atenção, às crianças abria os braços com o corpo inclinado para trás, dos cachorros não tinha medo, dos bêbados aturava os caprichos, para os drogados tinha sempre uma moeda. E agora dou por mim a achar que só o Raul tirou do anonimato tantas e tantas pessoas que dele guardaram uma palavra, um encontro, que lhe prestaram um serviço fugaz, que com ele trocaram uma frase, por acaso. Nestes anos, nunca acontecia que um desses não chegasse perto na rua e lhe lembrasse uma passagem na guerra em Angola, um café, uma viagem, um auditório de televisão. Levava as mulheres a acreditar na sedução, porque era um sedutor. Com elas e com toda a gente. O Raul foi um sedutor. Dizia palavras sagradas como Liberdade. Praticava a cidadania. Nunca o vi sequer em transgressão no trânsito, porque para ele a integridade era fundamental. Era tão doce e resignado como doente, nas vezes todas que esteve internado nos hospitais. Os médicos choram por ele. E quem o tratou sabe como percebeu a dimensão superior do sofrimento. Homem perplexo com a vida e as expressões da fé. Homem de fé, místico, conversou sobre vida e morte com Frei Bento Domingues, frei dominicano, nos últimos dias. Não sabíamos, nenhum de nós, que fosse para já.» Leonor Xavier, Visão

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