Domingo de Manhã: a (outra) disputa

04-10-2009
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Quando a capacidade argumentativa falha, ou quando a entendemos muito para além do nível do destinatário, linguagem ininteligível para esse outro e, logo, improfícua, vinga o jargão, a asneira, o palavrão, que quanto mais grosso, como se sabe, melhor, que o mesmo não quer dizer, mais eficaz. Ou seja, uma coisa não leva inevitavelmente à outra.O deputado social-democrata José Eduardo Martins, por razões que só ele conhecerá, entendeu que a argumentação convencional que lhe cumpria no âmbito do debate parlamentar (ou para lamentar), não servia os seus intentos nem os da sua bancada, ficava mesmo aquém do bom funcionamento da coisa, não servia o combate com o seu antagonista, o deputado socialista Afonso Candal e, vai daí, foi ao paiol laranja e muniu-se de artilharia mais pesada, que o mesmo é dizer, abriu a boca e pôs os pontos nos is, «seu isto e seu aquilo, vai bardáqui, vai bardali, seu grandessíssimo filho disto e depois daquilo», e por aí fora, até onde a imaginação (minha e vossa) nos levar e sem que eu fira os vossos ouvidos com as querelas parlamentares passadas a limpo e sem censura neste blog.Não foi a primeira vez que o parlamento luso assistiu ao vernáculo puro e duro da discussão política, fulanizada neste ou naquele protagonista, nos ódios recalcados - ou não - entre este ou aquele oponente, mais vivos aqui ou mais atenuados ali, num esquema de interesses que vão muito para lá da política e se confundem, amiúde, com interesses pessoais, particulares, mesquinhos porque para além da coisa pública. E esta discussão não será a última. Certeza disso, tenho eu de sobra.Acho, isso sim, ao contrário do que li em imensos sítios, que a discussão marginal até terá sido positiva, ao instalar entre as filas do auditório parlamentar, os bancos corridos e sórdidos da tasca nacional, (daquelas que o imaginário popular traz à memória e não os novos estabelecimentos que por aqui se vêem), mais os vapores do vinho a martelo presentes na atmosfera desses antros, e o cheiro a ranço que penetra nas fibras da roupa e se recusa a sair. Por momentos, foi o país real que entrou por aquelas paredes dentro, se instalou momentaneamente naquele ambiente imaculado, museológico até, tomou conta da energia reinante e, qual vendedor ambulante acossado, retirou veloz pelas escadarias imponentes com a trouxa debaixo do braço, e retornou ao velho casario.E está tudo bem.Só e preciso é que não se passe do vernáculo, às catanas, à vingança corpórea e selvagem, que esse é território de onde não se regressa, ou de onde dificilmente se retorna. Enquanto as coisas ficarem no palavrão, muito bem vai o mundo. Não há nada como um bocadinho de sal e pimenta no marasmo estéril da discussão política em Portugal. Ao menos assim, sempre se vê um pouquinho de alma nos jovens políticos portugueses, profissionais de uma arte em franca expansão.

Quando a capacidade argumentativa falha, ou quando a entendemos muito para além do nível do destinatário, linguagem ininteligível para esse outro e, logo, improfícua, vinga o jargão, a asneira, o palavrão, que quanto mais grosso, como se sabe, melhor, que o mesmo não quer dizer, mais eficaz. Ou seja, uma coisa não leva inevitavelmente à outra.O deputado social-democrata José Eduardo Martins, por razões que só ele conhecerá, entendeu que a argumentação convencional que lhe cumpria no âmbito do debate parlamentar (ou para lamentar), não servia os seus intentos nem os da sua bancada, ficava mesmo aquém do bom funcionamento da coisa, não servia o combate com o seu antagonista, o deputado socialista Afonso Candal e, vai daí, foi ao paiol laranja e muniu-se de artilharia mais pesada, que o mesmo é dizer, abriu a boca e pôs os pontos nos is, «seu isto e seu aquilo, vai bardáqui, vai bardali, seu grandessíssimo filho disto e depois daquilo», e por aí fora, até onde a imaginação (minha e vossa) nos levar e sem que eu fira os vossos ouvidos com as querelas parlamentares passadas a limpo e sem censura neste blog.Não foi a primeira vez que o parlamento luso assistiu ao vernáculo puro e duro da discussão política, fulanizada neste ou naquele protagonista, nos ódios recalcados - ou não - entre este ou aquele oponente, mais vivos aqui ou mais atenuados ali, num esquema de interesses que vão muito para lá da política e se confundem, amiúde, com interesses pessoais, particulares, mesquinhos porque para além da coisa pública. E esta discussão não será a última. Certeza disso, tenho eu de sobra.Acho, isso sim, ao contrário do que li em imensos sítios, que a discussão marginal até terá sido positiva, ao instalar entre as filas do auditório parlamentar, os bancos corridos e sórdidos da tasca nacional, (daquelas que o imaginário popular traz à memória e não os novos estabelecimentos que por aqui se vêem), mais os vapores do vinho a martelo presentes na atmosfera desses antros, e o cheiro a ranço que penetra nas fibras da roupa e se recusa a sair. Por momentos, foi o país real que entrou por aquelas paredes dentro, se instalou momentaneamente naquele ambiente imaculado, museológico até, tomou conta da energia reinante e, qual vendedor ambulante acossado, retirou veloz pelas escadarias imponentes com a trouxa debaixo do braço, e retornou ao velho casario.E está tudo bem.Só e preciso é que não se passe do vernáculo, às catanas, à vingança corpórea e selvagem, que esse é território de onde não se regressa, ou de onde dificilmente se retorna. Enquanto as coisas ficarem no palavrão, muito bem vai o mundo. Não há nada como um bocadinho de sal e pimenta no marasmo estéril da discussão política em Portugal. Ao menos assim, sempre se vê um pouquinho de alma nos jovens políticos portugueses, profissionais de uma arte em franca expansão.

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