Está nas bancas o DVD do documentário “Uma Verdade Inconveniente” apresentado por Al Gore e premiado recentemente com um óscar. Utilizando os seus contactos privilegiados, o ex-vice-presidente dos Estados Unidos da América apresenta o problema do aquecimento global de forma clara e precisa, dando-nos um instrumento importante para despertarmos consciências adormecidas. Aconselho, portanto, o seu visionamento a todos os que pretendem informar-se melhor sobre as consequências da emissão de Gases de Efeito de Estufa na atmosfera para a vida na terra.Dito isto, temos que esclarecer um ponto: Al Gore não é um ecologista. Tal como Bill Clinton, trata-se apenas de alguém que conseguiu atingir um estatuto que lhe permite viajar pelo mundo num jacto particular e cobrar 200 000 dólares por uma conferência onde os jornalistas (que também pagam generosamente pela sua comparência) são impedidos de fazer perguntas ou de o interpelar. Os milhões que consegue angariar nestas conferências servem para financiar a sua vida de luxo: segundo o Tenesee Center for Policy Research a sua maior mansão (Gore tem três), localizada em Nashville, consome mais de 20 vezes electricidade que a média nacional americana, registando ainda um consumo extravagante de gás natural.A estas acusações, Gore responde que anula o impacto negativo do seu estilo de vida no meio ambiente investindo em mecanismos de compensação das emissões, seguindo a lógica neo-liberal presente no comércio de emissões ao abrigo do Protocolo de Quioto. Gore está, portanto, a se coerente com os seus princípios. A sua mensagem baseia-se na ideia de que o aquecimento global pode ser travado dentro do actual modelo civilizacional. Não há necessidade de lutar contra o consumismo, os interesses dos grandes industriais, a utilização desenfreada do automóvel ou o esbanjamento de recursos naturais. Tudo o que temos que fazer é tomar algumas simples medidas, sugeridas no sítio do filme, como usar lâmpadas de poupança ou reduzir a utilização do automóvel. Caso as nossas emissões de dióxido de carbono (CO2) sejam realmente elevadas, podemos sempre redimir-nos dos nossos pecados comprando direitos de emissão.Al Gore é assim hoje o rosto visível de um negócio multimilionário montado em torno da pretensa defesa do meio ambiente, aproveitando-se da ingenuidade dos ambientalistas. Não o preocupa as consequências ecológicas das múltiplas guerras que apoiou enquanto vice-presidente (listagem aqui), ou o efeito das radiações provocadas pelo bombardeamento massivo do Iraque e da Jugoslávia com bombas de urânio empobrecido (descrito neste vídeo do exército dos EUA). Não o preocupa que o mundo dito civilizado se encontre de tal forma dependente do petróleo que gaste biliões de dólares em políticas neo-colonialistas para controlar este precioso recurso. Não o preocupa a pobreza extrema em que se encontra 2/3 da população mundial ou o facto de os países mais pobres serem forçados a recorrer a tecnologias poluentes para suprirem as suas necessidades energéticas. O novo tele-evangelista apenas se preocupa em juntar o Jet-7 em encontros milionários ou em promover mega-eventos como o “Live Earth”, que juntará artistas em nos sete continentes (incluindo a Antártida!), sem se preocupar com a pegada ecológica dessas iniciativas.É contra esta visão reducionista do problema do aquecimento global que o jornalista do “Guardian” George Monbiot escreveu o livro “Heat: How to Stop the Planet Burning”. Podem encontrar um resumo do livro no sítio oficial.(Texto publicado originalmente no Ecoblogue do Blocomotiva).
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Está nas bancas o DVD do documentário “Uma Verdade Inconveniente” apresentado por Al Gore e premiado recentemente com um óscar. Utilizando os seus contactos privilegiados, o ex-vice-presidente dos Estados Unidos da América apresenta o problema do aquecimento global de forma clara e precisa, dando-nos um instrumento importante para despertarmos consciências adormecidas. Aconselho, portanto, o seu visionamento a todos os que pretendem informar-se melhor sobre as consequências da emissão de Gases de Efeito de Estufa na atmosfera para a vida na terra.Dito isto, temos que esclarecer um ponto: Al Gore não é um ecologista. Tal como Bill Clinton, trata-se apenas de alguém que conseguiu atingir um estatuto que lhe permite viajar pelo mundo num jacto particular e cobrar 200 000 dólares por uma conferência onde os jornalistas (que também pagam generosamente pela sua comparência) são impedidos de fazer perguntas ou de o interpelar. Os milhões que consegue angariar nestas conferências servem para financiar a sua vida de luxo: segundo o Tenesee Center for Policy Research a sua maior mansão (Gore tem três), localizada em Nashville, consome mais de 20 vezes electricidade que a média nacional americana, registando ainda um consumo extravagante de gás natural.A estas acusações, Gore responde que anula o impacto negativo do seu estilo de vida no meio ambiente investindo em mecanismos de compensação das emissões, seguindo a lógica neo-liberal presente no comércio de emissões ao abrigo do Protocolo de Quioto. Gore está, portanto, a se coerente com os seus princípios. A sua mensagem baseia-se na ideia de que o aquecimento global pode ser travado dentro do actual modelo civilizacional. Não há necessidade de lutar contra o consumismo, os interesses dos grandes industriais, a utilização desenfreada do automóvel ou o esbanjamento de recursos naturais. Tudo o que temos que fazer é tomar algumas simples medidas, sugeridas no sítio do filme, como usar lâmpadas de poupança ou reduzir a utilização do automóvel. Caso as nossas emissões de dióxido de carbono (CO2) sejam realmente elevadas, podemos sempre redimir-nos dos nossos pecados comprando direitos de emissão.Al Gore é assim hoje o rosto visível de um negócio multimilionário montado em torno da pretensa defesa do meio ambiente, aproveitando-se da ingenuidade dos ambientalistas. Não o preocupa as consequências ecológicas das múltiplas guerras que apoiou enquanto vice-presidente (listagem aqui), ou o efeito das radiações provocadas pelo bombardeamento massivo do Iraque e da Jugoslávia com bombas de urânio empobrecido (descrito neste vídeo do exército dos EUA). Não o preocupa que o mundo dito civilizado se encontre de tal forma dependente do petróleo que gaste biliões de dólares em políticas neo-colonialistas para controlar este precioso recurso. Não o preocupa a pobreza extrema em que se encontra 2/3 da população mundial ou o facto de os países mais pobres serem forçados a recorrer a tecnologias poluentes para suprirem as suas necessidades energéticas. O novo tele-evangelista apenas se preocupa em juntar o Jet-7 em encontros milionários ou em promover mega-eventos como o “Live Earth”, que juntará artistas em nos sete continentes (incluindo a Antártida!), sem se preocupar com a pegada ecológica dessas iniciativas.É contra esta visão reducionista do problema do aquecimento global que o jornalista do “Guardian” George Monbiot escreveu o livro “Heat: How to Stop the Planet Burning”. Podem encontrar um resumo do livro no sítio oficial.(Texto publicado originalmente no Ecoblogue do Blocomotiva).