NOVA FRENTE

26-06-2009
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Calhou ler ontem o livro "Como Sobrevivemos ao Comunismo sem Perder o Sentido de Humor" (Ed. Pedra da Lua, 2008), de Slavenka Drakulic, jornalista croata que publicou este relato em 1991, sob o título original de "How We Survived Communism and Even Laugh". Em razão da sua actividade profissional, Drakulic pôde viajar ainda antes da queda do muro pela RDA, Hungria, Checoslováquia, Bulgária e até alguns países ocidentais.

Da sua experiência pessoal, familiar e profissional sob o socialismo real, fala em escassez de alimentos, apartamentos sobrelotados, automóveis pouco fiáveis, trabalhos enfadonhos, deficientes cuidados de saúde — e ainda da opressão, da censura, do medo. Enfim, tudo o que já se sabia havia décadas no Ocidente inteiro, salvo no crânio intelectual do dr. Vital Moreira e outras sumidades refractárias ao saber. Para ilustrar a tara colectivista, a autora refere o episódio da "nacionalização das máquinas de flippers privadas" (pág. 16). Na página 24, relata a história de um velhote romeno que, após a queda de Ceausescu, comeu uma banana pela primeira vez na vida. Mamou a banana inteira, com casca e tudo, pois ignorava que tinha de a descascar.

A tara igualitária, por sua vez, forçou as mulheres a trabalhar como os homens. A autora explica: "Assim, [as mulheres] passaram a trabalhar na construção civil, nas auto-estradas, nas minas, nos campos e nas fábricas" (pág. 31). Alcançamos aqui a antiquíssima questão da aparência das esquerdistas. O ideal socialista de mulher é uma matrona encorpada, de bigodaça e com capacidade para levantar halteres. A higiene diária, a maquilhagem e a moda são fraquezas da burguesia. Conta Drakulic que, na Bulgária, não havia tampões nem pensos higiénicos (pág. 36). Isto é bem a caricatura de um regime e de uma ideologia: puderam construir faraónicos edifícios, exibir vasto armamento e emancipar a Odete Santos — mas não conseguiram produzir um simples penso higiénico. Em matéria religiosa, havia ditames claros: "Deus não existe, a religião é o ópio do povo e as igrejas nada mais são que monumentos da história e da cultura" (pág. 124).

Que tem isto a ver connosco em 2009? Segundo as sondagens conhecidas, dois terços dos votos cabem ao PS, ao PCP e ao Bloco de Esquerda. Dois terços dos votos são para repartir irmamente por socialistas, estalinistas, trotsquistas, maoístas e outras espécies afins. Ora, o sonho prometido destes albaneses recuperados lembra, em vários passos, o testemunho da jornalista croata. As mesmas manias, a mesma tara igualitária, o mesmo ódio à Igreja — a mesmíssima síndrome colectivista, agravada agora pela crise internacional. Creio que também nós vamos precisar de sentido de humor. Por enquanto ainda há pensos higiénicos.

Calhou ler ontem o livro "Como Sobrevivemos ao Comunismo sem Perder o Sentido de Humor" (Ed. Pedra da Lua, 2008), de Slavenka Drakulic, jornalista croata que publicou este relato em 1991, sob o título original de "How We Survived Communism and Even Laugh". Em razão da sua actividade profissional, Drakulic pôde viajar ainda antes da queda do muro pela RDA, Hungria, Checoslováquia, Bulgária e até alguns países ocidentais.

Da sua experiência pessoal, familiar e profissional sob o socialismo real, fala em escassez de alimentos, apartamentos sobrelotados, automóveis pouco fiáveis, trabalhos enfadonhos, deficientes cuidados de saúde — e ainda da opressão, da censura, do medo. Enfim, tudo o que já se sabia havia décadas no Ocidente inteiro, salvo no crânio intelectual do dr. Vital Moreira e outras sumidades refractárias ao saber. Para ilustrar a tara colectivista, a autora refere o episódio da "nacionalização das máquinas de flippers privadas" (pág. 16). Na página 24, relata a história de um velhote romeno que, após a queda de Ceausescu, comeu uma banana pela primeira vez na vida. Mamou a banana inteira, com casca e tudo, pois ignorava que tinha de a descascar.

A tara igualitária, por sua vez, forçou as mulheres a trabalhar como os homens. A autora explica: "Assim, [as mulheres] passaram a trabalhar na construção civil, nas auto-estradas, nas minas, nos campos e nas fábricas" (pág. 31). Alcançamos aqui a antiquíssima questão da aparência das esquerdistas. O ideal socialista de mulher é uma matrona encorpada, de bigodaça e com capacidade para levantar halteres. A higiene diária, a maquilhagem e a moda são fraquezas da burguesia. Conta Drakulic que, na Bulgária, não havia tampões nem pensos higiénicos (pág. 36). Isto é bem a caricatura de um regime e de uma ideologia: puderam construir faraónicos edifícios, exibir vasto armamento e emancipar a Odete Santos — mas não conseguiram produzir um simples penso higiénico. Em matéria religiosa, havia ditames claros: "Deus não existe, a religião é o ópio do povo e as igrejas nada mais são que monumentos da história e da cultura" (pág. 124).

Que tem isto a ver connosco em 2009? Segundo as sondagens conhecidas, dois terços dos votos cabem ao PS, ao PCP e ao Bloco de Esquerda. Dois terços dos votos são para repartir irmamente por socialistas, estalinistas, trotsquistas, maoístas e outras espécies afins. Ora, o sonho prometido destes albaneses recuperados lembra, em vários passos, o testemunho da jornalista croata. As mesmas manias, a mesma tara igualitária, o mesmo ódio à Igreja — a mesmíssima síndrome colectivista, agravada agora pela crise internacional. Creio que também nós vamos precisar de sentido de humor. Por enquanto ainda há pensos higiénicos.

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