largo do rato: O PCP de Jerónimo de Sousa

27-06-2009
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Confesso que o que se tem escrito de pouco abonatório sobre a ascenção de Jerónimo de Sousa ao cargo de SG do PCP me espanta. Espanta, pela incompreensão que os comentadores revelam sobre a natureza do PCP e por acharem que um partido político deveria ter uma liderança de acordo com as suas opiniões.
O PCP é um partido marxista-leninista e como tal tem mantido uma coerência aos seus princípios, não sendo crível que pudesse sofrer uma alteração e continuasse comunista. Jerónimo de Sousa encarna a linha política do PCP, nomeadamente desde o 25 de Abril, quando as condições politicas se alteraram.
Mas o que mais me espanta, não são os comentadores críticos oriundos de outras propostas do expectro politico, mas sim dos chamados "renovadores" comunistas. Depois da queda do muro de Berlim, do colapso da União Soviética, e das sucessivas saídas de destacados militantes comunistas do PCP desde meados da década de 80, os "renovadores" ainda não perceberam a natureza do partido em que militam.
Mais, os principios ideológicos, o modelo de sociedade (o PCP enquanto projecto político M-L defende um poder apenas por ele dominado, com a propriedade "dos meios de produção" na posse do Estado e recorde-se que o PCP nunca chegou a fazer uma crítica substancial à realidade soviètica) e o modo de funcionamento e organização são inerentes á natureza comunista do partido. Sou aliás contra que o parlamento imponha aos partidos a forma como eles se devem organizar ou funcionar, para isso estão os eleitores e as suas escolhas...
Além disso, e em seu reforço, querer que o PCP mude é não ter sensibilidade para entender que as gerações de Alvaro Cunhal e Jerónimo de Sousa só podem dar coerência às suas vidas se não mudarem.
O propósito do PCP no pós-25 de Abril foi o de obter uma "democracia avançada" sobre a tutela dos militares, tal regime seria um regime democrático de esquerda (só a esquerda seria democrática) com o apoio do chamado MFA, um regime tipo sul-americano.
A par deste desiderato jogava-se o verdadeiro objectivo estratégico, da URSS e "pour cause" do PCP: a mudança dos territórios coloniais portugueses - nomeadamente Angola - para a esfera soviética.
O regime estabilizado pós-25 de Novembro garantiu ao PCP um quadro político-constitucional que seria próximo dos seus melhores desejos. Melo Antunes e o grupo dos 9, asseguraram que o PCP e a extrema esquerda não seriam beliscados depois dessa data e mais do que isso que a Constituinte continuaria a trabalhar sob a égide do Conselho da Revolução (pacto MFA-partidos) assegurando uma democracia de cariz "socialista" (grande relevo ao sector estatal, consagrando o "status quo" decorrente do 11 de Março).
È verdade que a realidade social em sistema aberto (pluralista,com eleições livres) não poderia ser sufocada pelo quadro constitucional-legal criado, mas este poderia condicionar a sua própria mudança e nomeadamente moderá-la. Foi nisto que o PCP apostou.
Primeiro defendendo o Conselho da Revolução, depois as "conquistas de Abril" o controlo operário (poder das Comissões de Trabalhadores nas empresas), a reforma agrária e as nacionalizações, depois qualquer alteração no sentido de maior abertura da sociedade servindo-se para isso dos limites à revisão constitucional. È certo que os socialistas (PS) também contribuiram para esse "peditório" tentando que Portugal fosse uma democracia avançada (a nossa constitução seria a das mais progressistas do mundo). Quem não se lembra da posição dos socialistas contra as privatizações (por exemplo da imprensa)?
Depois uma vez perdidas aquelas "trincheiras" o PCP apoiou-se no seu dominio da Intersindical e na exportação de quadros para o Alentejo e margem sul, de forma a assegurar a gestão das autarquias. Tem sido uma posição de salvar o que é salvável do PREC e da ordem constitucional então emergente.
A entrada de elementos ideológicamente próximos da esquerda não-democrática para os poderes não elegíveis (imprensa, forças armadas e de segurança, tribunais e escolas)juntamente com o quadro constiucional rígido têm sido auxiliares para impedir que a ordem jurídico-constitucional possa espelhar com maior fidelidade a matriz social de Portugal.
É certo que no período pré-25 de Novembro alguns sectores comunistas ainda julgaram poder fazer de Portugal uma nova Cuba, mas sectores do Comité Central e da embaixada soviètica depressa demoveram qualquer iniciativa do partido, cingindo-se ao objectivo primordial: Angola. Depois o PCP só poderia aspirar à sua pureza ideológica e a conservar o que pudesse do quadro pós-revolucionário. A sua renuncia ao comunismo levá-lo-iam a perder o domínio da Intersindical e dos poucos poderes que ainda possui.
Contrariamente ao que a opinião publicada propala julgo que o PCP continuará a existir eventualmente com um poder eleitoral mais reduzido. A iconografia do comunismo e uma posição (na prática) anti-sistema poderá ajudá-lo a penetrar em gerações mais jovens (tal como com o bloco de esquerda). Hoje mais do que saber qual foram a vida e as opções ideologicas de "Che" Guevara é altamente "in" ter uma T-shirt com a sua éfigie.

Confesso que o que se tem escrito de pouco abonatório sobre a ascenção de Jerónimo de Sousa ao cargo de SG do PCP me espanta. Espanta, pela incompreensão que os comentadores revelam sobre a natureza do PCP e por acharem que um partido político deveria ter uma liderança de acordo com as suas opiniões.
O PCP é um partido marxista-leninista e como tal tem mantido uma coerência aos seus princípios, não sendo crível que pudesse sofrer uma alteração e continuasse comunista. Jerónimo de Sousa encarna a linha política do PCP, nomeadamente desde o 25 de Abril, quando as condições politicas se alteraram.
Mas o que mais me espanta, não são os comentadores críticos oriundos de outras propostas do expectro politico, mas sim dos chamados "renovadores" comunistas. Depois da queda do muro de Berlim, do colapso da União Soviética, e das sucessivas saídas de destacados militantes comunistas do PCP desde meados da década de 80, os "renovadores" ainda não perceberam a natureza do partido em que militam.
Mais, os principios ideológicos, o modelo de sociedade (o PCP enquanto projecto político M-L defende um poder apenas por ele dominado, com a propriedade "dos meios de produção" na posse do Estado e recorde-se que o PCP nunca chegou a fazer uma crítica substancial à realidade soviètica) e o modo de funcionamento e organização são inerentes á natureza comunista do partido. Sou aliás contra que o parlamento imponha aos partidos a forma como eles se devem organizar ou funcionar, para isso estão os eleitores e as suas escolhas...
Além disso, e em seu reforço, querer que o PCP mude é não ter sensibilidade para entender que as gerações de Alvaro Cunhal e Jerónimo de Sousa só podem dar coerência às suas vidas se não mudarem.
O propósito do PCP no pós-25 de Abril foi o de obter uma "democracia avançada" sobre a tutela dos militares, tal regime seria um regime democrático de esquerda (só a esquerda seria democrática) com o apoio do chamado MFA, um regime tipo sul-americano.
A par deste desiderato jogava-se o verdadeiro objectivo estratégico, da URSS e "pour cause" do PCP: a mudança dos territórios coloniais portugueses - nomeadamente Angola - para a esfera soviética.
O regime estabilizado pós-25 de Novembro garantiu ao PCP um quadro político-constitucional que seria próximo dos seus melhores desejos. Melo Antunes e o grupo dos 9, asseguraram que o PCP e a extrema esquerda não seriam beliscados depois dessa data e mais do que isso que a Constituinte continuaria a trabalhar sob a égide do Conselho da Revolução (pacto MFA-partidos) assegurando uma democracia de cariz "socialista" (grande relevo ao sector estatal, consagrando o "status quo" decorrente do 11 de Março).
È verdade que a realidade social em sistema aberto (pluralista,com eleições livres) não poderia ser sufocada pelo quadro constitucional-legal criado, mas este poderia condicionar a sua própria mudança e nomeadamente moderá-la. Foi nisto que o PCP apostou.
Primeiro defendendo o Conselho da Revolução, depois as "conquistas de Abril" o controlo operário (poder das Comissões de Trabalhadores nas empresas), a reforma agrária e as nacionalizações, depois qualquer alteração no sentido de maior abertura da sociedade servindo-se para isso dos limites à revisão constitucional. È certo que os socialistas (PS) também contribuiram para esse "peditório" tentando que Portugal fosse uma democracia avançada (a nossa constitução seria a das mais progressistas do mundo). Quem não se lembra da posição dos socialistas contra as privatizações (por exemplo da imprensa)?
Depois uma vez perdidas aquelas "trincheiras" o PCP apoiou-se no seu dominio da Intersindical e na exportação de quadros para o Alentejo e margem sul, de forma a assegurar a gestão das autarquias. Tem sido uma posição de salvar o que é salvável do PREC e da ordem constitucional então emergente.
A entrada de elementos ideológicamente próximos da esquerda não-democrática para os poderes não elegíveis (imprensa, forças armadas e de segurança, tribunais e escolas)juntamente com o quadro constiucional rígido têm sido auxiliares para impedir que a ordem jurídico-constitucional possa espelhar com maior fidelidade a matriz social de Portugal.
É certo que no período pré-25 de Novembro alguns sectores comunistas ainda julgaram poder fazer de Portugal uma nova Cuba, mas sectores do Comité Central e da embaixada soviètica depressa demoveram qualquer iniciativa do partido, cingindo-se ao objectivo primordial: Angola. Depois o PCP só poderia aspirar à sua pureza ideológica e a conservar o que pudesse do quadro pós-revolucionário. A sua renuncia ao comunismo levá-lo-iam a perder o domínio da Intersindical e dos poucos poderes que ainda possui.
Contrariamente ao que a opinião publicada propala julgo que o PCP continuará a existir eventualmente com um poder eleitoral mais reduzido. A iconografia do comunismo e uma posição (na prática) anti-sistema poderá ajudá-lo a penetrar em gerações mais jovens (tal como com o bloco de esquerda). Hoje mais do que saber qual foram a vida e as opções ideologicas de "Che" Guevara é altamente "in" ter uma T-shirt com a sua éfigie.

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