tro.blog.dita: O uso do valor

16-06-2005
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Neste blogocosmos tenho encontrado uma direita, melhor, algumas direitas que por vezes são de leitura interessante. Geralmente porque expressam com mais clareza e honestidade aquilo que me me afasta violentamente do que a direita [me] representa. Mais clareza e honestidade do que a que se encontra habitualmente na classe política e mesmo nos comentadores políticos.Ao ler Finalmente, algo por que lutar redescubro, no entanto, uma frescura que me deu o impulso de criar a parceria do Pólos [que tenho esperanças que ressuscite o mais brevemente possível]:- um discurso sem complexos ou tiques de combate ideológico, um ideário humano que se questiona a si próprio, a primazia das pessoas sobre as coisas, a defesa da direita assente em valores.Isto torna Em Busca da Límpida Medida um interlocutor. Algo tão simples e fundamental como isso: um interlocutor. O que é mais do que vislumbro nos ilustres infames das colunas que fui lendo. Mais que uma voz que sabe argumentar e tem sentido de crítica [espero mais que isso], o autor tem o que o Helder sempre me revelou: honestidade intelectual acima de lealdades partidárias, respeito pela beleza e miséria humanas acima das utopias, sensatez e boa-vontade aliadas à esperança e à angústia que a condição humana faz despertar.A esquerda e a direita sempre tiveram as suas estratégias na instrumentalização dos valores.Eu:Tive uns quinze anos de catequese, 20 de catolicismo praticante, dois em que dei catequese. Uma família que perdeu tudo [o que é de ordem material] ao "retornar" de Moçambique.Tenho convicções religiosas que me acompanham nas dúvidas e nas atitudes. Ponho as pessoas acima de tudo e tento aprender como colcocar Deus antes do resto. Tenho fé no futuro e um respeito imenso pelas tradições e pelo património que nos foi deixado pelas gerações anteriores.SOU INCONTORNAVELMENTE DE ESQUERDA.A direita mais presumivelmente coerente tem como porta vozes os actuais ministros do PP. Magistralmente conduzida, a comunicação dos supostos valores do partido assenta em coisas que assustam [algum]a esquerda. A família, o respeito, a firmeza, o pulso forte, a tradição. E compreende-se a consternação. A fabricada propaganda da nossa recente ditadura tinha palavras de ordem... da mesma ordem.A esquerda mais próxima do poder parece ter uma espinha dorsal flutuante. Diriam os infames que é invertebrada. Na lógica bipartidarista, o apelo do eleitorado de centro é sereia intoxicante que insere nuances discursivas que alguns [à cabeça, o PCP] não perdoam.Rejeito, corrijo, abomino a assunção de uma ideologia de uma forma messiânica. É uma das tragédias do comunismo. O fanatismo dos ayatolas soviéticos é tão desprezível [e foi tão catastrófico] como a dialéctica implacável dos nazis.Sugere-se a tempos que a política assume valores. Os valores fundamentais. Que fundam a sociedade. Que a afundam, dizem os que defendem valores diferentes. Avança-se, por outro lado, com a ideia de que há valores humanos transversais, mais urgentes e essenciais que as agendas políticas.Sobre isto dirá o LOPO coisas mais acertadas que eu, mas afirmo convictamente [ainda assim] que há diferenças de fundo entre Ideias e Valores. É útil à demagogia e ao embate de partidos e cores a [con]fusão dos dois conceitos. O que me causa aversão em algum discurso direitista - como nas aparições de Bagão Félix de hoje na televisão - é o assumir de elementos constituintes do equilíbrio de uma família como valores do seu partido e, quando interessa dizer, da sua família partidária. Dou exemplos, "há que assumir responsabilidades", como um bom pai de família, "ter sentido de estado", como um pai prático e consciente tem noção de que o ninho está acima do seu conforto pessoal, "explicar aos portugueses que...", como o paizinho faz ver ao seu filho...O LOPO vê algo mais fresco e saudável à direita. Eu vejo mais abertura e sentido prático na abordagem dos problemas à esquerda. Não estou a falar do PS, ou melhor, dos muitos PS's que existem no tempo e no espaço da política portuguesa. Eu voto Bloco de Esquerda. Tenho votado Bloco de Esquerda. Em função das propostas que apresentarem, vou provavelmente votar Bloco de Esquerda nas próximas legislativas.Na esquerda em que me revejo estão a solidariedade mas também a competência que leva a apresentar soluções e alternativas para as questões sociais, a tolerência e a coragem e prontidão de lembrar e procurar alterar leis incompletas, exclusivas e atacar as mentalidades medievais. Mas, mais importante que isso:no autor de Em Busca da Límpida Medida, no co-autor do hibernante Pólos, confirmo a possibilidade de se discutir politicamente o que é verdadeiramente essencial sem disfarçados sofismos, sem deixar que o voluntarismo argumentativo e a euforia discursiva turvem a lucidez, confirmo que a vontade de perceber, diagnosticar e contribuir para a cura das nossas misérias é - não digo transversal -, comum a todos os que têm boa vontade. E é assim que tenho a certeza que faz sentido haver esquerda e direita.E possibilidade de que as suas ideias sejam discutidas e implementadas.A minha utopia imediata é que acabe a podre usurpação das sandálias de D. Sebastião ou de Jesus Cristo. Que me acenem com valores de cada vez que me dizem que é preciso - só não vê quem não quer -, ir por ali... que triste caminho o da demagogia que [o Sousa Tavares comentava-o na TVI há bocado] começa as frases com "é preciso acabar com a demagogia...", que nulidade. Isso não vale nada. Nada.


Neste blogocosmos tenho encontrado uma direita, melhor, algumas direitas que por vezes são de leitura interessante. Geralmente porque expressam com mais clareza e honestidade aquilo que me me afasta violentamente do que a direita [me] representa. Mais clareza e honestidade do que a que se encontra habitualmente na classe política e mesmo nos comentadores políticos.Ao ler Finalmente, algo por que lutar redescubro, no entanto, uma frescura que me deu o impulso de criar a parceria do Pólos [que tenho esperanças que ressuscite o mais brevemente possível]:- um discurso sem complexos ou tiques de combate ideológico, um ideário humano que se questiona a si próprio, a primazia das pessoas sobre as coisas, a defesa da direita assente em valores.Isto torna Em Busca da Límpida Medida um interlocutor. Algo tão simples e fundamental como isso: um interlocutor. O que é mais do que vislumbro nos ilustres infames das colunas que fui lendo. Mais que uma voz que sabe argumentar e tem sentido de crítica [espero mais que isso], o autor tem o que o Helder sempre me revelou: honestidade intelectual acima de lealdades partidárias, respeito pela beleza e miséria humanas acima das utopias, sensatez e boa-vontade aliadas à esperança e à angústia que a condição humana faz despertar.A esquerda e a direita sempre tiveram as suas estratégias na instrumentalização dos valores.Eu:Tive uns quinze anos de catequese, 20 de catolicismo praticante, dois em que dei catequese. Uma família que perdeu tudo [o que é de ordem material] ao "retornar" de Moçambique.Tenho convicções religiosas que me acompanham nas dúvidas e nas atitudes. Ponho as pessoas acima de tudo e tento aprender como colcocar Deus antes do resto. Tenho fé no futuro e um respeito imenso pelas tradições e pelo património que nos foi deixado pelas gerações anteriores.SOU INCONTORNAVELMENTE DE ESQUERDA.A direita mais presumivelmente coerente tem como porta vozes os actuais ministros do PP. Magistralmente conduzida, a comunicação dos supostos valores do partido assenta em coisas que assustam [algum]a esquerda. A família, o respeito, a firmeza, o pulso forte, a tradição. E compreende-se a consternação. A fabricada propaganda da nossa recente ditadura tinha palavras de ordem... da mesma ordem.A esquerda mais próxima do poder parece ter uma espinha dorsal flutuante. Diriam os infames que é invertebrada. Na lógica bipartidarista, o apelo do eleitorado de centro é sereia intoxicante que insere nuances discursivas que alguns [à cabeça, o PCP] não perdoam.Rejeito, corrijo, abomino a assunção de uma ideologia de uma forma messiânica. É uma das tragédias do comunismo. O fanatismo dos ayatolas soviéticos é tão desprezível [e foi tão catastrófico] como a dialéctica implacável dos nazis.Sugere-se a tempos que a política assume valores. Os valores fundamentais. Que fundam a sociedade. Que a afundam, dizem os que defendem valores diferentes. Avança-se, por outro lado, com a ideia de que há valores humanos transversais, mais urgentes e essenciais que as agendas políticas.Sobre isto dirá o LOPO coisas mais acertadas que eu, mas afirmo convictamente [ainda assim] que há diferenças de fundo entre Ideias e Valores. É útil à demagogia e ao embate de partidos e cores a [con]fusão dos dois conceitos. O que me causa aversão em algum discurso direitista - como nas aparições de Bagão Félix de hoje na televisão - é o assumir de elementos constituintes do equilíbrio de uma família como valores do seu partido e, quando interessa dizer, da sua família partidária. Dou exemplos, "há que assumir responsabilidades", como um bom pai de família, "ter sentido de estado", como um pai prático e consciente tem noção de que o ninho está acima do seu conforto pessoal, "explicar aos portugueses que...", como o paizinho faz ver ao seu filho...O LOPO vê algo mais fresco e saudável à direita. Eu vejo mais abertura e sentido prático na abordagem dos problemas à esquerda. Não estou a falar do PS, ou melhor, dos muitos PS's que existem no tempo e no espaço da política portuguesa. Eu voto Bloco de Esquerda. Tenho votado Bloco de Esquerda. Em função das propostas que apresentarem, vou provavelmente votar Bloco de Esquerda nas próximas legislativas.Na esquerda em que me revejo estão a solidariedade mas também a competência que leva a apresentar soluções e alternativas para as questões sociais, a tolerência e a coragem e prontidão de lembrar e procurar alterar leis incompletas, exclusivas e atacar as mentalidades medievais. Mas, mais importante que isso:no autor de Em Busca da Límpida Medida, no co-autor do hibernante Pólos, confirmo a possibilidade de se discutir politicamente o que é verdadeiramente essencial sem disfarçados sofismos, sem deixar que o voluntarismo argumentativo e a euforia discursiva turvem a lucidez, confirmo que a vontade de perceber, diagnosticar e contribuir para a cura das nossas misérias é - não digo transversal -, comum a todos os que têm boa vontade. E é assim que tenho a certeza que faz sentido haver esquerda e direita.E possibilidade de que as suas ideias sejam discutidas e implementadas.A minha utopia imediata é que acabe a podre usurpação das sandálias de D. Sebastião ou de Jesus Cristo. Que me acenem com valores de cada vez que me dizem que é preciso - só não vê quem não quer -, ir por ali... que triste caminho o da demagogia que [o Sousa Tavares comentava-o na TVI há bocado] começa as frases com "é preciso acabar com a demagogia...", que nulidade. Isso não vale nada. Nada.

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