O país do Burro: Dos grandes para os pequenos

29-09-2009
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Os portugueses quiseram que as eleições de hoje funcionassem como o imposto sobre as grandes fortunas e tributaram fortemente PS e PSD. Beneficiaram da redistribuição de votos os partidos mais pequenos, que, mais ou menos, cresceram todos.O PS comemorou uma “extraordinária vitória” que incluiu, entre outras, a perda de mais de 500 mil votos, mais de 20 deputados e a maioria absoluta.Sem nada para comemorar esta noite, apesar de ter conquistado mais 6 mandatos e 6 mil votos que há quatro anos, o PSD voltou a comemorar a vitória das últimas europeias e, à semelhança do que vinha a fazer antes das legislativas, antecipou uma estrondosa vitória nas autárquicas que abrirá caminho a uma nova liderança.O Bloco de esquerda, apesar de durante toda a campanha ter sido o alvo a abater pelos média, obteve a maior votação de sempre e superou largamente a fasquia do meio milhão de votos. Duplicou o número de deputados eleitos e triplicou o número de círculos eleitorais com deputados eleitos. Perdeu deputados para o CDS em vários círculos por escassas centenas de votos.Embora menos, a CDU aumentou a sua votação e o número de mandatos. Um dado muito importante, uma vez que, da soma com os deputados eleitos pelo Bloco de Esquerda, se desfez a maioria que bloqueou a fiscalização da constitucionalidade de diplomas tão importantes como o Código do Trabalho e toda a legislação relativa às carreiras da Administração Pública. Seguramente que todos eles serão agora devidamente apreciados.E deixei propositadamente o melhor resultado dos últimos 26 anos do CDS-PP para o fim. Subiu imenso, é agora a terceira força com maior representação parlamentar, a prova provada de que, em momentos de crise profunda como a que atravessamos, soluções securitárias e de retirada de apoios sociais aos mais pobres colhem enormes apoios. Mas não foi esta a razão porque deixei o CDS para o final. Foi, sim, a de que, com a composição que resultará das eleições de hoje, por um lado, aqueles que votaram no PS para salvar a esquerda – que ainda acreditam morar ali –, poderão vê-la agora coligada com a direita radical; e, da mesma forma, aqueles que votaram na direita radical para vencer a esquerda e o socialismo que preferem continuar a localizar no PS, poderão ver a honestidade do seu líder em todo o seu esplendor numa coligação com o inimigo da campanha. Sublinhe-se que, em ambos os casos, por uma questão das tais auto-atribuidas “responsabilidade política” e “sentido de Estado”, evidentemente. Para isso é que estas expressões foram inventadas. Há quem goste. Da minha parte, regresso quando esta maldita gripe me deixar em paz. Queiram desculpar alguma imprecisão que possa haver no texto acima: para além de contente com o resultado de hoje, 39ºC e tal fazem de mim um dos homens mais quentes de Portugal. (editado)


Os portugueses quiseram que as eleições de hoje funcionassem como o imposto sobre as grandes fortunas e tributaram fortemente PS e PSD. Beneficiaram da redistribuição de votos os partidos mais pequenos, que, mais ou menos, cresceram todos.O PS comemorou uma “extraordinária vitória” que incluiu, entre outras, a perda de mais de 500 mil votos, mais de 20 deputados e a maioria absoluta.Sem nada para comemorar esta noite, apesar de ter conquistado mais 6 mandatos e 6 mil votos que há quatro anos, o PSD voltou a comemorar a vitória das últimas europeias e, à semelhança do que vinha a fazer antes das legislativas, antecipou uma estrondosa vitória nas autárquicas que abrirá caminho a uma nova liderança.O Bloco de esquerda, apesar de durante toda a campanha ter sido o alvo a abater pelos média, obteve a maior votação de sempre e superou largamente a fasquia do meio milhão de votos. Duplicou o número de deputados eleitos e triplicou o número de círculos eleitorais com deputados eleitos. Perdeu deputados para o CDS em vários círculos por escassas centenas de votos.Embora menos, a CDU aumentou a sua votação e o número de mandatos. Um dado muito importante, uma vez que, da soma com os deputados eleitos pelo Bloco de Esquerda, se desfez a maioria que bloqueou a fiscalização da constitucionalidade de diplomas tão importantes como o Código do Trabalho e toda a legislação relativa às carreiras da Administração Pública. Seguramente que todos eles serão agora devidamente apreciados.E deixei propositadamente o melhor resultado dos últimos 26 anos do CDS-PP para o fim. Subiu imenso, é agora a terceira força com maior representação parlamentar, a prova provada de que, em momentos de crise profunda como a que atravessamos, soluções securitárias e de retirada de apoios sociais aos mais pobres colhem enormes apoios. Mas não foi esta a razão porque deixei o CDS para o final. Foi, sim, a de que, com a composição que resultará das eleições de hoje, por um lado, aqueles que votaram no PS para salvar a esquerda – que ainda acreditam morar ali –, poderão vê-la agora coligada com a direita radical; e, da mesma forma, aqueles que votaram na direita radical para vencer a esquerda e o socialismo que preferem continuar a localizar no PS, poderão ver a honestidade do seu líder em todo o seu esplendor numa coligação com o inimigo da campanha. Sublinhe-se que, em ambos os casos, por uma questão das tais auto-atribuidas “responsabilidade política” e “sentido de Estado”, evidentemente. Para isso é que estas expressões foram inventadas. Há quem goste. Da minha parte, regresso quando esta maldita gripe me deixar em paz. Queiram desculpar alguma imprecisão que possa haver no texto acima: para além de contente com o resultado de hoje, 39ºC e tal fazem de mim um dos homens mais quentes de Portugal. (editado)

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