Soube pela imprensa que morrera Ruth Garcês. Nunca fiz parte do seu círculo de amizades ou relações, mas fui seu aluno, em Lourenço Marques, entre 1962 e 1964. Para quem não sabe quem ela foi, o site da Ordem dos Advogados refere o essencial: «Faleceu a Primeira Magistrada Judicial Portuguesa. Nascida em 1934, na cidade de Lourenço Marques, Ruth Garcês foi a primeira mulher a ingressar na carreira de magistratura, depois de se ter licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, em 1956. Em 1977, a magistrada ingressou na carreira de Juiz de Direito, seguindo depois para o Tribunal da Relação de Lisboa, onde foi também a primeira Juiz Desembargadora do país. Ruth Garcês foi condecorada pelo Presidente da República, e, em 2005, jubilou-se por limite de idade e fixou em definitivo a sua residência na vila de Porto de Mós.» O óbito terá ocorrido no passado dia 9. A minha memória retém a imagem de uma mulher muito bela, inteligente, sensível, generosa, que um dia — contra a opinião de colegas e superiores hierárquicos —, com extrema naturalidade, sem resquício de retórica, foi capaz de dizer a um rapaz de treze anos que ele tinha o direito de ser feliz. Naquele tempo, quem fugia da norma não tinha direitos. Foram pessoas como ela que ajudaram a mudar esse estado de coisas. Tenho pena, sinceramente tenho, de nunca lhe ter podido dizer obrigado. A foto ao alto foi «roubada» à Isabella Oliveira, que também me fez chegar a notícia.
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Soube pela imprensa que morrera Ruth Garcês. Nunca fiz parte do seu círculo de amizades ou relações, mas fui seu aluno, em Lourenço Marques, entre 1962 e 1964. Para quem não sabe quem ela foi, o site da Ordem dos Advogados refere o essencial: «Faleceu a Primeira Magistrada Judicial Portuguesa. Nascida em 1934, na cidade de Lourenço Marques, Ruth Garcês foi a primeira mulher a ingressar na carreira de magistratura, depois de se ter licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, em 1956. Em 1977, a magistrada ingressou na carreira de Juiz de Direito, seguindo depois para o Tribunal da Relação de Lisboa, onde foi também a primeira Juiz Desembargadora do país. Ruth Garcês foi condecorada pelo Presidente da República, e, em 2005, jubilou-se por limite de idade e fixou em definitivo a sua residência na vila de Porto de Mós.» O óbito terá ocorrido no passado dia 9. A minha memória retém a imagem de uma mulher muito bela, inteligente, sensível, generosa, que um dia — contra a opinião de colegas e superiores hierárquicos —, com extrema naturalidade, sem resquício de retórica, foi capaz de dizer a um rapaz de treze anos que ele tinha o direito de ser feliz. Naquele tempo, quem fugia da norma não tinha direitos. Foram pessoas como ela que ajudaram a mudar esse estado de coisas. Tenho pena, sinceramente tenho, de nunca lhe ter podido dizer obrigado. A foto ao alto foi «roubada» à Isabella Oliveira, que também me fez chegar a notícia.