Da Literatura: CONTRA NÚMEROS...

30-09-2009
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Sobre o estudo que Ricardo Reis publicou ontem no i, Carlos Santos comenta e desmonta o essencial de um texto de José Gomes André publicado aqui. Uma verdadeira close reading. Pode e deve ser lido aqui e aqui. Ricardo Reis é professor de Economia na Universidade de Columbia, em Nova Iorque; Carlos Santos é professor de Economia e Gestão na Universidade Católica Portuguesa, no Porto. Deixo alguns highlights na esperança de que leiam o texto de Carlos Santos na íntegra:[1] Ricardo Reis calculou «a taxa anual média de crescimento do peso dos gastos correntes do Estado no PIB, para cada um dos governos após 1986, agregando os anos em que Cavaco Silva foi PM, os anos em que Guterres foi PM, e os anos Barroso/Lopes. [...] Ricardo Reis analisou «a evolução de um rácio (gastos correntes/PIB). Nesse sentido, o ritmo de crescimento do PIB está lá.»[2] A conclusão foi que «o governo Barroso/Lopes foi o que fez crescer mais o peso dos gastos correntes no PIB, seguido dos governos de Cavaco Silva e só depois dos de António Guterres.»Cai por terra a lenda do Guterres dissipador.[3] Ainda mais surpreendente: «O governo de José Sócrates apresenta a menor taxa de crescimento média anual dos gastos no PIB (apenas 0,11% contra os 0,65% de Barroso/Lopes).[4] Sendo, na aparência, o partido «mais fiscalmente conservador, o PSD, é na prática o que mais tem alimentado a máquina do Estado (usualmente designado por Monstro, ou Leviathan, na Economia Pública). O que mostra bem o desajustamento entre o discurso de contenção de gastos do PSD, na oposição, e a sua prática governativa.»Para política de verdade é deveras esclarecedor.[5] Vai o PSD defender a «solução germânica»? O Parlamento [alemão] aprovou uma inconcebível regra de contenção orçamental (peso do défice no PIB máximo de 0,35%) no pico da crise! Isto só pode ser conseguido se, numa altura em que a Alemanha é um dos países europeus mais afectados pela crise, os impostos forem aumentados brutalmente. Estima-se que seja necessária uma subida do IVA para 25%!»[6] Aos adeptos da tese do Monstro, «não há nada como exemplificar para mostrar como é coerente e tem uma explicação: é que o governo de José Sócrates fez crescer o Monstro mesmo muito menos que os de Cavaco Silva em maioria absoluta. Para José Sócrates, tomemos 3,5 anos de referência a um crescimento anual médio de 0,11%. Para os 8 anos de maioria absoluta PSD consideremos 0,3% de crescimento anual médio dos gastos. A média para os 11,5 anos de maioria absoluta seria aproximadamente 0,24%.»[7] «Em síntese, é perfeitamente possível que em maioria absoluta o rácio da despesa no PIB cresça a uma taxa anual média mais baixa, e que o PS seja o partido mais fiscalmente responsável. O segredo é que o Governo de José Sócrates foi mesmo bastante responsável no controlo da máquina do Estado, o que não sucedeu no cavaquismo!»[8] Enquanto foi primeiro-ministro, Santana Lopes provocou «um crescimento [do rácio] 160% superior ao de Durão Barroso! A conclusão é clara. Santana Lopes foi um péssimo PM, mas não inocentemos Barroso desta forma.»[9] Apesar do despesismo de Santana Lopes enquanto PM, «Manuela Ferreira Leite, ministra das Finanças de Barroso, fez crescer o rácio 0,45% ao ano, o que é muito mais que Guterres, e muitíssimo mais que José Sócrates.»[10] «Em síntese [...] José Gomes André elimina não só a aúrea de Manuela Ferreira Leite, como consegue arrastar para a lama a única solução governativa que o PSD pudesse ter para oferecer ao país, ao destruir a credibilidade de um dos mais reputados economistas do PP.»Etiquetas: Economia, Finanças, Política nacional

Sobre o estudo que Ricardo Reis publicou ontem no i, Carlos Santos comenta e desmonta o essencial de um texto de José Gomes André publicado aqui. Uma verdadeira close reading. Pode e deve ser lido aqui e aqui. Ricardo Reis é professor de Economia na Universidade de Columbia, em Nova Iorque; Carlos Santos é professor de Economia e Gestão na Universidade Católica Portuguesa, no Porto. Deixo alguns highlights na esperança de que leiam o texto de Carlos Santos na íntegra:[1] Ricardo Reis calculou «a taxa anual média de crescimento do peso dos gastos correntes do Estado no PIB, para cada um dos governos após 1986, agregando os anos em que Cavaco Silva foi PM, os anos em que Guterres foi PM, e os anos Barroso/Lopes. [...] Ricardo Reis analisou «a evolução de um rácio (gastos correntes/PIB). Nesse sentido, o ritmo de crescimento do PIB está lá.»[2] A conclusão foi que «o governo Barroso/Lopes foi o que fez crescer mais o peso dos gastos correntes no PIB, seguido dos governos de Cavaco Silva e só depois dos de António Guterres.»Cai por terra a lenda do Guterres dissipador.[3] Ainda mais surpreendente: «O governo de José Sócrates apresenta a menor taxa de crescimento média anual dos gastos no PIB (apenas 0,11% contra os 0,65% de Barroso/Lopes).[4] Sendo, na aparência, o partido «mais fiscalmente conservador, o PSD, é na prática o que mais tem alimentado a máquina do Estado (usualmente designado por Monstro, ou Leviathan, na Economia Pública). O que mostra bem o desajustamento entre o discurso de contenção de gastos do PSD, na oposição, e a sua prática governativa.»Para política de verdade é deveras esclarecedor.[5] Vai o PSD defender a «solução germânica»? O Parlamento [alemão] aprovou uma inconcebível regra de contenção orçamental (peso do défice no PIB máximo de 0,35%) no pico da crise! Isto só pode ser conseguido se, numa altura em que a Alemanha é um dos países europeus mais afectados pela crise, os impostos forem aumentados brutalmente. Estima-se que seja necessária uma subida do IVA para 25%!»[6] Aos adeptos da tese do Monstro, «não há nada como exemplificar para mostrar como é coerente e tem uma explicação: é que o governo de José Sócrates fez crescer o Monstro mesmo muito menos que os de Cavaco Silva em maioria absoluta. Para José Sócrates, tomemos 3,5 anos de referência a um crescimento anual médio de 0,11%. Para os 8 anos de maioria absoluta PSD consideremos 0,3% de crescimento anual médio dos gastos. A média para os 11,5 anos de maioria absoluta seria aproximadamente 0,24%.»[7] «Em síntese, é perfeitamente possível que em maioria absoluta o rácio da despesa no PIB cresça a uma taxa anual média mais baixa, e que o PS seja o partido mais fiscalmente responsável. O segredo é que o Governo de José Sócrates foi mesmo bastante responsável no controlo da máquina do Estado, o que não sucedeu no cavaquismo!»[8] Enquanto foi primeiro-ministro, Santana Lopes provocou «um crescimento [do rácio] 160% superior ao de Durão Barroso! A conclusão é clara. Santana Lopes foi um péssimo PM, mas não inocentemos Barroso desta forma.»[9] Apesar do despesismo de Santana Lopes enquanto PM, «Manuela Ferreira Leite, ministra das Finanças de Barroso, fez crescer o rácio 0,45% ao ano, o que é muito mais que Guterres, e muitíssimo mais que José Sócrates.»[10] «Em síntese [...] José Gomes André elimina não só a aúrea de Manuela Ferreira Leite, como consegue arrastar para a lama a única solução governativa que o PSD pudesse ter para oferecer ao país, ao destruir a credibilidade de um dos mais reputados economistas do PP.»Etiquetas: Economia, Finanças, Política nacional

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