Trix-Nitrix: Quebrar o Círculo Vicioso

04-07-2009
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A história da classe e do movimento operário em Portugal tem algumas originalidades de que a esquerda moderna ainda é um pouco devedora. Nesse sentido qualquer análise da situação da nossa esquerda e das suas perspectivas futuras tem que ter em conta a o seu passado e a especificidades que lhe são próprias. Comecemos pois pelo princípio.I – O PSComo se sabe o PCP não teve origem em qualquer dissidência do socialismo português mas sim no movimento anarco-sindicalista. Este facto só vem provar que nunca os socialistas tiveram qualquer influência visível na história da nossa classe operária. Tirando alguns próceres que no século XIX tentaram introduzir mais as ideias do Proudhon do que as de Marx em Portugal e deram origem ao socialismo português, aquilo que sobrou desta organização depois da República e do advento do fascismo foi um Ramada Curto, seu antigo secretário-geral, a apelar, no fim da vida, à defesa das colónias portuguesas.Bem podem hoje alguns historiadores com boa vontade descobrir a participação socialista no 18 de Janeiro de 1934, a greve geral contra a fasciszação dos sindicatos, que dificilmente encontrarão referências sólidas a essa intervenção. Nesse sentido, quando em 1973 se funda novamente o Partido Socialista português este é mais devedor das novas ideias que percorriam o socialismo europeu na época do que de qualquer passado histórico relacionado com a luta da nossa classe operária. Estou-me a recordar do António Reis, hoje Grão-Mestre da Maçonaria, a propor em 1974 como programa político do PS a adopção do “reformismo-revolucionário” então defendido por um sociólogo francês, André Groz.Por outro lado, e não de forma despicienda, este partido herda a velha ideologia republicana e oposicionista, com algum vocação maçónica e jacobina.Mas a carta de alforria ganha-a durante o PREC, depois de vencida em Congresso a sua ala esquerda, representada por Manuel Serra. Foi no anti-comunismo, ou como o PS gosta de dizer na luta contra o anarco-populismo, que o PS se destacou, ganhou apoios e gratidão na direita nacional e conquistou a admiração da social-democracia internacional mais ligada a um dos lados da guerra-fria. Para aqueles que esquecem estas coisas lembro a frase do socialista francês Jean-Pierre Chevènement que a dada altura do PREC teria afirmado, mais ou menos isto, sobre o socialismo europeu, “não morrer como no Chile e não trair como em Portugal.”Mas isto são histórias passadas. O PS tornou-se, vencida a esquerda revolucionária no 25 de Novembro, num dos principais partidos da rotação governamental, fazendo tudo para, juntamente com o PSD, bipolarizar a sociedade portuguesa, de modo a se evitarem coligações, principalmente à esquerda. Ou seja, depois do PREC, tentou-se por todos os meios impedir que na sociedade portuguesa houvesse uma alternativa de esquerda plural. Daí, que ainda recentemente André Freire, num estudo sobre os diversos partidos socialistas europeus, ter afirmado que o português era o que se situava mais ao centro, distanciando-se menos ideologicamente do seu opositor de direita.Esta é a história, e por muito que o PCP na sua máxima pujança eleitoral tentasse que a maioria numérica que a esquerda dispunha no Parlamento se transformasse em maioria política, nunca o PS acedeu a isso. Para romper este círculo vicioso o PCP tenta, aproveitando a situação criada com a saída do Ramalho Eanes de Presidente da República, apoiar a criação de um novo partido, o PRD, que pudesse romper e dividir o PS. Foi a sua última grande operação política, que redundou num profundo fracasso. É só ver a diminuição de votos e de percentagem que a partir daí, 1985, o PCP foi tendo.Mais uma vez o PS, de modo ainda pouco claro, mas que alguns, mais papistas que o Papa, tendem a verbalizar, começou a ensaiar a melodia do voto útil. Se não votam em mim terão a direita no poder. Por enquanto esta operação resume-se a começar a encostar o PSD à direita conservadora e se possível salazarenta, provavelmente só depois virá o apelo ao voto útil. É verdade que ainda estamos na fase da classificação dos partidos à esquerda do PS como extremistas, radicais e pouco confiáveis, mas com o tempo lá iremos à sedução dos seus votantes.II – O PCPComo já foi anteriormente afirmado a origem do PCP entronca no movimento anarco-sindicalista e dessa influência ser muito clara nas suas primeiras movimentações. No entanto, a principal razão da sua existência deve-se em primeiro lugar ao êxito da Revolução Soviética de 1917 e depois à existência da III Internacional e da sua influência no movimento operário internacional. Partido disciplinado e com características próprias para lutar contra a investida fascistas consegue, muito melhor que os anarco-sindicalistas, resistir à repressão fascista e poder organizar o movimento operário. Transforma-se com o tempo num grande partido nacional, que influencia toda a ideologia da Oposição. Podemos dizer, utilizando um conceito gramsciano, que conquistou a hegemonia ideológica da esquerda em Portugal durante o final dos anos 30, e depois durante os anos 40, 50, até meados dos anos 60. Não deixando, no entanto, de estar por detrás ou de influenciar profundamente a ideologia de esquerda que pôde renascer com a queda de Salazar e o advento de Marcelo.Não é por acaso que o PCP surge logo a seguir ao 25 de Abril como a grande força organizativa da esquerda portuguesa, que obriga Spínola a atribuir-lhe um lugar no Executivo, incapaz que se sentia de governar sem a participação do PCP.Mesmo hoje, quando alguns herdeiros do esquerdismo dos anos 60/70 falam da perda e fraqueza do PCP nesses anos, esquecem a força política e organizativa deste partido a seguir ao 25 de Abril. Ainda recentemente, num colóquio organizado no Museu da República e Resistência (1º Colóquio "Os Comunistas em Portugal"), um historiador brasileiro, nada favorável ás posições do PCP, reconheceu isto. É evidente que a sua força organizativa não correspondeu depois à sua força eleitoral, como eu já demonstrei aqui .Derrotada que estava a fase revolucionária houve no PCP alguma dificuldade em adaptar-se aos novos tempos. Continuou-se por razões meramente programáticas a acreditar que o país avançava para o socialismo, porque isso estava inscrito na nossa Constituição, quando há muito tempo que esta, neste aspecto crucial, não passava de uma ficção. Ainda recentemente num museu que foi recentemente inaugurado em Sines encontrei um cartaz da Câmara Municipal daquela cidade, de 1980, que falava das realizações do poder autárquico socialista. Dando a ideia que estaríamos a caminhar para o socialismo.Tirando esta ficção, que provavelmente foi um pouco inebriadora, sempre o PCP tentou forçar uma saída à esquerda. Daí o apelo a uma maioria de esquerda, que chegou a estar publicitada em cartazes, ou depois, o apelo discreto à formação do PRD. No entanto, o círculo fecha-se, com o governo de Cavaco a direita e as classes dominantes em Portugal encontram a sua estabilidade, o Muro de Berlim cai, começam as divergências e purgas no PCP, este partido reduz significativamente a sua votação. Duas soluções surgem entretanto no horizonte: o Novo Impulso, que visa a sua renovação, ou o enquistamento e o refúgio nos valores seguros. Esta última foi a opção vencedora. E hoje o PCP é um partido sectário e com laivos esquerdistas, que não desaparece, como os outros PC da Europa, mas que é incapaz de crescer, de romper com o cerco e as limitações que lhe criaram e em que ele próprio foi caindo.III – O BEO Bloco de Esquerda foi criado em 1999. Herdeiro da tradição esquerdista do final dos anos 60 e do PREC, rompeu com ela a e apresentou-se com uma outra cara. Abordando primeiro os chamados temas fracturantes, foi progressivamente voltando a sua atenção para os temas nacionais, surgindo com uma nova linguagem e uma grande flexibilidade táctica. Podemos dizer que no panorama político português foi a novidade que pode permitir com alguma razoabilidade romper com o círculo vicioso em que a esquerda portuguesa tinha caído: voto útil no PS, para não deixar a direita tomar o poder, ou fidelidade aos princípios, continuando a votar PCP.Ainda é cedo para avaliar o desenvolvimento futuro do Bloco. Para já, e perante o êxito nas eleições europeias, as tentativas de diálogo com a esquerda do PS (Teatro da Trindade e Aula Magna) e um claro evitar de confrontos desnecessários com o PCP, reconhecendo-lhe a importância e o valor histórico, têm permitido a este partido aglutinar as forças que se reclamam da esquerda.Para muitos resta o problema da ideologia. O Bloco, fugindo às discussões ideológicas e aos rótulos, cobra da tradição da social-democracia de esquerda e do movimento comunista, com toda a sua complexidade e diferenciação.Reconhecendo que são realidades muito diferentes o Bloco poderia ser na sociedade portuguesa aquilo que o PT foi na brasileira. Um partido aglutinador de toda a esquerda, principalmente a que vinha dos meios católicos e que rompia com as tradições clássicas da esquerda comunista e da que provinha da guerrilha.É evidente que o Bloco sozinho não irá longe, precisa de compreender que, como força aglutinadora da esquerda, deverá juntar à sua volta outros parceiros ou mesmo se necessário ser capaz de diluir a sua identidade num movimento mais vasto que inclua a esquerda do PS, socialistas sem partido e dissidentes do PCP, que se têm vindo pelas razões aduzidas a afastar-se dele. No fundo o Bloco poderá ser um movimento aglutinador e, porque não, refundador da esquerda.IV – Conclusões provisóriasPelo que atrás foi dito há neste momento uma necessidade da esquerda romper, e do movimento operário, se ainda terá sentido falar nele como movimento autónomo, com o círculo vicioso em que há bastantes anos se tem vindo a deixar espartilhar.Ser capaz de assumir que o PS como um todo não foi capaz de se assumir como um parceiro de confiança, com quem seja possível estabelecer um programa comum de esquerda, como aquele que há uns largos anos se estabeleceu entre o PS e o PC francês. Que regularmente nos pede o seu voto para evitarmos ser governados pela direita e que posteriormente sem qualquer escrúpulo faz tudo aquilo que não seria de esperar de um partido de esquerda, mesmo que só cumprisse os mínimos exigidos. A situação actual é das mais gravosas, sendo José Sócrates e a sua equipa completamente responsáveis pela situação de degradação a que o Governo e o partido socialista chegaram.Por outro lado, a outra opção era quase até ao presente votar num PCP que sempre nos pediu o seu voto para se reforçar e conseguir fazer sair o país da situação de atoleiro em que ia progressivamente mergulhando, quer com os Governos do centro-direita, quer do centro-esquerda, ou seja do centrão. Nunca como hoje, aqueles que nele votaram sentiram a impotência desse voto.Hoje, a fugindo à chantagem do voto útil, é possível termos uma perspectiva, encarnada pelo Bloco, de rompermos com este bloqueio da esquerda. Nada disto é certo e muito menos garantido, no entanto só numa perspectiva de aglutinação de todos os descontentes é possível romper com o círculo vicioso em que a esquerda tem vivido nos últimos anos.


A história da classe e do movimento operário em Portugal tem algumas originalidades de que a esquerda moderna ainda é um pouco devedora. Nesse sentido qualquer análise da situação da nossa esquerda e das suas perspectivas futuras tem que ter em conta a o seu passado e a especificidades que lhe são próprias. Comecemos pois pelo princípio.I – O PSComo se sabe o PCP não teve origem em qualquer dissidência do socialismo português mas sim no movimento anarco-sindicalista. Este facto só vem provar que nunca os socialistas tiveram qualquer influência visível na história da nossa classe operária. Tirando alguns próceres que no século XIX tentaram introduzir mais as ideias do Proudhon do que as de Marx em Portugal e deram origem ao socialismo português, aquilo que sobrou desta organização depois da República e do advento do fascismo foi um Ramada Curto, seu antigo secretário-geral, a apelar, no fim da vida, à defesa das colónias portuguesas.Bem podem hoje alguns historiadores com boa vontade descobrir a participação socialista no 18 de Janeiro de 1934, a greve geral contra a fasciszação dos sindicatos, que dificilmente encontrarão referências sólidas a essa intervenção. Nesse sentido, quando em 1973 se funda novamente o Partido Socialista português este é mais devedor das novas ideias que percorriam o socialismo europeu na época do que de qualquer passado histórico relacionado com a luta da nossa classe operária. Estou-me a recordar do António Reis, hoje Grão-Mestre da Maçonaria, a propor em 1974 como programa político do PS a adopção do “reformismo-revolucionário” então defendido por um sociólogo francês, André Groz.Por outro lado, e não de forma despicienda, este partido herda a velha ideologia republicana e oposicionista, com algum vocação maçónica e jacobina.Mas a carta de alforria ganha-a durante o PREC, depois de vencida em Congresso a sua ala esquerda, representada por Manuel Serra. Foi no anti-comunismo, ou como o PS gosta de dizer na luta contra o anarco-populismo, que o PS se destacou, ganhou apoios e gratidão na direita nacional e conquistou a admiração da social-democracia internacional mais ligada a um dos lados da guerra-fria. Para aqueles que esquecem estas coisas lembro a frase do socialista francês Jean-Pierre Chevènement que a dada altura do PREC teria afirmado, mais ou menos isto, sobre o socialismo europeu, “não morrer como no Chile e não trair como em Portugal.”Mas isto são histórias passadas. O PS tornou-se, vencida a esquerda revolucionária no 25 de Novembro, num dos principais partidos da rotação governamental, fazendo tudo para, juntamente com o PSD, bipolarizar a sociedade portuguesa, de modo a se evitarem coligações, principalmente à esquerda. Ou seja, depois do PREC, tentou-se por todos os meios impedir que na sociedade portuguesa houvesse uma alternativa de esquerda plural. Daí, que ainda recentemente André Freire, num estudo sobre os diversos partidos socialistas europeus, ter afirmado que o português era o que se situava mais ao centro, distanciando-se menos ideologicamente do seu opositor de direita.Esta é a história, e por muito que o PCP na sua máxima pujança eleitoral tentasse que a maioria numérica que a esquerda dispunha no Parlamento se transformasse em maioria política, nunca o PS acedeu a isso. Para romper este círculo vicioso o PCP tenta, aproveitando a situação criada com a saída do Ramalho Eanes de Presidente da República, apoiar a criação de um novo partido, o PRD, que pudesse romper e dividir o PS. Foi a sua última grande operação política, que redundou num profundo fracasso. É só ver a diminuição de votos e de percentagem que a partir daí, 1985, o PCP foi tendo.Mais uma vez o PS, de modo ainda pouco claro, mas que alguns, mais papistas que o Papa, tendem a verbalizar, começou a ensaiar a melodia do voto útil. Se não votam em mim terão a direita no poder. Por enquanto esta operação resume-se a começar a encostar o PSD à direita conservadora e se possível salazarenta, provavelmente só depois virá o apelo ao voto útil. É verdade que ainda estamos na fase da classificação dos partidos à esquerda do PS como extremistas, radicais e pouco confiáveis, mas com o tempo lá iremos à sedução dos seus votantes.II – O PCPComo já foi anteriormente afirmado a origem do PCP entronca no movimento anarco-sindicalista e dessa influência ser muito clara nas suas primeiras movimentações. No entanto, a principal razão da sua existência deve-se em primeiro lugar ao êxito da Revolução Soviética de 1917 e depois à existência da III Internacional e da sua influência no movimento operário internacional. Partido disciplinado e com características próprias para lutar contra a investida fascistas consegue, muito melhor que os anarco-sindicalistas, resistir à repressão fascista e poder organizar o movimento operário. Transforma-se com o tempo num grande partido nacional, que influencia toda a ideologia da Oposição. Podemos dizer, utilizando um conceito gramsciano, que conquistou a hegemonia ideológica da esquerda em Portugal durante o final dos anos 30, e depois durante os anos 40, 50, até meados dos anos 60. Não deixando, no entanto, de estar por detrás ou de influenciar profundamente a ideologia de esquerda que pôde renascer com a queda de Salazar e o advento de Marcelo.Não é por acaso que o PCP surge logo a seguir ao 25 de Abril como a grande força organizativa da esquerda portuguesa, que obriga Spínola a atribuir-lhe um lugar no Executivo, incapaz que se sentia de governar sem a participação do PCP.Mesmo hoje, quando alguns herdeiros do esquerdismo dos anos 60/70 falam da perda e fraqueza do PCP nesses anos, esquecem a força política e organizativa deste partido a seguir ao 25 de Abril. Ainda recentemente, num colóquio organizado no Museu da República e Resistência (1º Colóquio "Os Comunistas em Portugal"), um historiador brasileiro, nada favorável ás posições do PCP, reconheceu isto. É evidente que a sua força organizativa não correspondeu depois à sua força eleitoral, como eu já demonstrei aqui .Derrotada que estava a fase revolucionária houve no PCP alguma dificuldade em adaptar-se aos novos tempos. Continuou-se por razões meramente programáticas a acreditar que o país avançava para o socialismo, porque isso estava inscrito na nossa Constituição, quando há muito tempo que esta, neste aspecto crucial, não passava de uma ficção. Ainda recentemente num museu que foi recentemente inaugurado em Sines encontrei um cartaz da Câmara Municipal daquela cidade, de 1980, que falava das realizações do poder autárquico socialista. Dando a ideia que estaríamos a caminhar para o socialismo.Tirando esta ficção, que provavelmente foi um pouco inebriadora, sempre o PCP tentou forçar uma saída à esquerda. Daí o apelo a uma maioria de esquerda, que chegou a estar publicitada em cartazes, ou depois, o apelo discreto à formação do PRD. No entanto, o círculo fecha-se, com o governo de Cavaco a direita e as classes dominantes em Portugal encontram a sua estabilidade, o Muro de Berlim cai, começam as divergências e purgas no PCP, este partido reduz significativamente a sua votação. Duas soluções surgem entretanto no horizonte: o Novo Impulso, que visa a sua renovação, ou o enquistamento e o refúgio nos valores seguros. Esta última foi a opção vencedora. E hoje o PCP é um partido sectário e com laivos esquerdistas, que não desaparece, como os outros PC da Europa, mas que é incapaz de crescer, de romper com o cerco e as limitações que lhe criaram e em que ele próprio foi caindo.III – O BEO Bloco de Esquerda foi criado em 1999. Herdeiro da tradição esquerdista do final dos anos 60 e do PREC, rompeu com ela a e apresentou-se com uma outra cara. Abordando primeiro os chamados temas fracturantes, foi progressivamente voltando a sua atenção para os temas nacionais, surgindo com uma nova linguagem e uma grande flexibilidade táctica. Podemos dizer que no panorama político português foi a novidade que pode permitir com alguma razoabilidade romper com o círculo vicioso em que a esquerda portuguesa tinha caído: voto útil no PS, para não deixar a direita tomar o poder, ou fidelidade aos princípios, continuando a votar PCP.Ainda é cedo para avaliar o desenvolvimento futuro do Bloco. Para já, e perante o êxito nas eleições europeias, as tentativas de diálogo com a esquerda do PS (Teatro da Trindade e Aula Magna) e um claro evitar de confrontos desnecessários com o PCP, reconhecendo-lhe a importância e o valor histórico, têm permitido a este partido aglutinar as forças que se reclamam da esquerda.Para muitos resta o problema da ideologia. O Bloco, fugindo às discussões ideológicas e aos rótulos, cobra da tradição da social-democracia de esquerda e do movimento comunista, com toda a sua complexidade e diferenciação.Reconhecendo que são realidades muito diferentes o Bloco poderia ser na sociedade portuguesa aquilo que o PT foi na brasileira. Um partido aglutinador de toda a esquerda, principalmente a que vinha dos meios católicos e que rompia com as tradições clássicas da esquerda comunista e da que provinha da guerrilha.É evidente que o Bloco sozinho não irá longe, precisa de compreender que, como força aglutinadora da esquerda, deverá juntar à sua volta outros parceiros ou mesmo se necessário ser capaz de diluir a sua identidade num movimento mais vasto que inclua a esquerda do PS, socialistas sem partido e dissidentes do PCP, que se têm vindo pelas razões aduzidas a afastar-se dele. No fundo o Bloco poderá ser um movimento aglutinador e, porque não, refundador da esquerda.IV – Conclusões provisóriasPelo que atrás foi dito há neste momento uma necessidade da esquerda romper, e do movimento operário, se ainda terá sentido falar nele como movimento autónomo, com o círculo vicioso em que há bastantes anos se tem vindo a deixar espartilhar.Ser capaz de assumir que o PS como um todo não foi capaz de se assumir como um parceiro de confiança, com quem seja possível estabelecer um programa comum de esquerda, como aquele que há uns largos anos se estabeleceu entre o PS e o PC francês. Que regularmente nos pede o seu voto para evitarmos ser governados pela direita e que posteriormente sem qualquer escrúpulo faz tudo aquilo que não seria de esperar de um partido de esquerda, mesmo que só cumprisse os mínimos exigidos. A situação actual é das mais gravosas, sendo José Sócrates e a sua equipa completamente responsáveis pela situação de degradação a que o Governo e o partido socialista chegaram.Por outro lado, a outra opção era quase até ao presente votar num PCP que sempre nos pediu o seu voto para se reforçar e conseguir fazer sair o país da situação de atoleiro em que ia progressivamente mergulhando, quer com os Governos do centro-direita, quer do centro-esquerda, ou seja do centrão. Nunca como hoje, aqueles que nele votaram sentiram a impotência desse voto.Hoje, a fugindo à chantagem do voto útil, é possível termos uma perspectiva, encarnada pelo Bloco, de rompermos com este bloqueio da esquerda. Nada disto é certo e muito menos garantido, no entanto só numa perspectiva de aglutinação de todos os descontentes é possível romper com o círculo vicioso em que a esquerda tem vivido nos últimos anos.

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