Tecnopolis

22-10-2008
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O génio irascível de Steve Jobs (diz a lenda que os funcionários evitavam encontrá-lo no elevador com medo de estarem desempregados antes de as portas se abrirem) poderá ser substituído por uma postura calma e contida. E o estatuto de estrela poderá dar lugar ao rosto quase desconhecido de um executivo que é considerado um mestre precisamente nas áreas da empresa que mais passam despercebidas (como a gestão de “stocks” e o planeamento de vendas).

Tim Cook, 48 anos, o actual director de operações da Apple, é o mais bem posicionado para suceder a Jobs – mas, embora muitos analistas afirmem ser a altura, ainda ninguém sabe se a sucessão vai sequer ter lugar.

Contratar Cook foi uma das primeiras medidas de Jobs quando regressou, em 1998, ao lugar de CEO da empresa que fundara e da qual tinha sido praticamente expulso. A Apple estava perto da falência e Jobs costuma receber os louros de a ter resgatado. Mas Tim Cook, que tinha 16 anos de experiência em empresas de tecnologia como a IBM e a Compaq, foi uma peça fulcral (e quase sempre ignorada pelos media) na recuperação.

Cook é um trabalhador metódico, nota um artigo recente do “Washington Post”, onde são entrevistados vários ex-colegas do executivo. Mas não é menos exigente do que o próprio Jobs. Durante anos, teve o hábito de telefonar aos domingos aos colaboradores próximos para preparar a semana de trabalho. E não é surpresa para nenhum executivo na Apple receber e-mails de Cook às 4h30.

Foi logo em 1998 que o actual director de operações começou a ganhar o estatuto de número dois dentro da empresa. Desde então, tem vindo a somar responsabilidades: por exemplo, negoceia com as operadoras de telecomunicações a comercialização do iPhone e planeia a nível global a venda de produtos.

Em 2004, quando Jobs foi operado a um cancro pancreático, Cook assumiu durante dois meses o cargo de presidente executivo. Foi também nessa altura que agarrou as rédeas da mais histórica área da empresa: a dos computadores Macintosh.

O iPod e a música do iTunes podem ser os negócios que fizeram com que a Apple entrasse com o pé direito no século XXI e no mundo do entretenimento digital (e Cook também tem nisso a sua dose de responsabilidade). Em 2007, a empresa até deixou de se chamar Apple Computer, passando a ser simplesmente Apple. Mas tudo começou com os Macintosh, precisamente a área que Jobs escolheu dirigir no início da década de 80, quando os então jovens fundadores contrataram um CEO experiente. Chefiar a “secção Macintosh” tem um peso simbólico.

Agora, com Jobs de baixa até Julho por causa de um problema de saúde que a Apple se tem escusado a revelar, Tim Cook está de novo, temporariamente, ao leme da empresa.

Cinco anos mais novo do que Jobs, Cook é um entusiasta do exercício físico (talvez por isso faça também parte do conselho de administração da Nike). Frequenta o ginásio, faz caminhadas, é um adepto do ciclismo – e a energia do desportista nota-se no desempenho do gestor.

Uma reunião típica com Cook, contava a revista Fortune em Dezembro, pode durar horas, durante as quais o executivo bombardeia metodicamente os subordinados com perguntas, ao mesmo tempo que vai comendo barras energéticas em catadupa. É dos primeiros a chegar ao trabalho e dos últimos a sair. Está sempre pronto para viagens ou teleconferências a qualquer hora do dia. E espera que os outros também estejam.

Cresceu numa das poucas cidades do estado do Alabama que têm ligação ao mar. O pai trabalhava nas docas, a mãe era dona de casa e Cook tirou um curso de engenharia numa universidade de segunda linha.

Hoje, é multimilionário. Mas, contava a Fortune, quem o conhece garante que não aparenta riqueza. Tal como Jobs, tem por hábito andar de calças de ganga e sapatilhas (Nike, neste caso) – o que, de resto, é o traje de quase todos os executivos de topo da empresa.

É também pouco social, refere quem estudou ou trabalhou com ele. Contrariamente a Jobs, é muito introvertido e pouco se sabe da sua vida pessoal. Pelo menos, se Cook vier a ser presidente, ninguém terá de se preocupar se por acaso o encontrar no elevador: ele simplesmente não abre a boca, dizem os funcionários.

Texto publicado no suplemento Economia, a 23 de Janeiro

O génio irascível de Steve Jobs (diz a lenda que os funcionários evitavam encontrá-lo no elevador com medo de estarem desempregados antes de as portas se abrirem) poderá ser substituído por uma postura calma e contida. E o estatuto de estrela poderá dar lugar ao rosto quase desconhecido de um executivo que é considerado um mestre precisamente nas áreas da empresa que mais passam despercebidas (como a gestão de “stocks” e o planeamento de vendas).

Tim Cook, 48 anos, o actual director de operações da Apple, é o mais bem posicionado para suceder a Jobs – mas, embora muitos analistas afirmem ser a altura, ainda ninguém sabe se a sucessão vai sequer ter lugar.

Contratar Cook foi uma das primeiras medidas de Jobs quando regressou, em 1998, ao lugar de CEO da empresa que fundara e da qual tinha sido praticamente expulso. A Apple estava perto da falência e Jobs costuma receber os louros de a ter resgatado. Mas Tim Cook, que tinha 16 anos de experiência em empresas de tecnologia como a IBM e a Compaq, foi uma peça fulcral (e quase sempre ignorada pelos media) na recuperação.

Cook é um trabalhador metódico, nota um artigo recente do “Washington Post”, onde são entrevistados vários ex-colegas do executivo. Mas não é menos exigente do que o próprio Jobs. Durante anos, teve o hábito de telefonar aos domingos aos colaboradores próximos para preparar a semana de trabalho. E não é surpresa para nenhum executivo na Apple receber e-mails de Cook às 4h30.

Foi logo em 1998 que o actual director de operações começou a ganhar o estatuto de número dois dentro da empresa. Desde então, tem vindo a somar responsabilidades: por exemplo, negoceia com as operadoras de telecomunicações a comercialização do iPhone e planeia a nível global a venda de produtos.

Em 2004, quando Jobs foi operado a um cancro pancreático, Cook assumiu durante dois meses o cargo de presidente executivo. Foi também nessa altura que agarrou as rédeas da mais histórica área da empresa: a dos computadores Macintosh.

O iPod e a música do iTunes podem ser os negócios que fizeram com que a Apple entrasse com o pé direito no século XXI e no mundo do entretenimento digital (e Cook também tem nisso a sua dose de responsabilidade). Em 2007, a empresa até deixou de se chamar Apple Computer, passando a ser simplesmente Apple. Mas tudo começou com os Macintosh, precisamente a área que Jobs escolheu dirigir no início da década de 80, quando os então jovens fundadores contrataram um CEO experiente. Chefiar a “secção Macintosh” tem um peso simbólico.

Agora, com Jobs de baixa até Julho por causa de um problema de saúde que a Apple se tem escusado a revelar, Tim Cook está de novo, temporariamente, ao leme da empresa.

Cinco anos mais novo do que Jobs, Cook é um entusiasta do exercício físico (talvez por isso faça também parte do conselho de administração da Nike). Frequenta o ginásio, faz caminhadas, é um adepto do ciclismo – e a energia do desportista nota-se no desempenho do gestor.

Uma reunião típica com Cook, contava a revista Fortune em Dezembro, pode durar horas, durante as quais o executivo bombardeia metodicamente os subordinados com perguntas, ao mesmo tempo que vai comendo barras energéticas em catadupa. É dos primeiros a chegar ao trabalho e dos últimos a sair. Está sempre pronto para viagens ou teleconferências a qualquer hora do dia. E espera que os outros também estejam.

Cresceu numa das poucas cidades do estado do Alabama que têm ligação ao mar. O pai trabalhava nas docas, a mãe era dona de casa e Cook tirou um curso de engenharia numa universidade de segunda linha.

Hoje, é multimilionário. Mas, contava a Fortune, quem o conhece garante que não aparenta riqueza. Tal como Jobs, tem por hábito andar de calças de ganga e sapatilhas (Nike, neste caso) – o que, de resto, é o traje de quase todos os executivos de topo da empresa.

É também pouco social, refere quem estudou ou trabalhou com ele. Contrariamente a Jobs, é muito introvertido e pouco se sabe da sua vida pessoal. Pelo menos, se Cook vier a ser presidente, ninguém terá de se preocupar se por acaso o encontrar no elevador: ele simplesmente não abre a boca, dizem os funcionários.

Texto publicado no suplemento Economia, a 23 de Janeiro

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