OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida

24-12-2009
marcar artigo

Séculos de presépios...

Acordo com isto:

«A legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo "não é uma prioridade" para o PS. A afirmação é de Vitalino Canas - o porta-voz socialista considera prematura qualquer iniciativa para alterar, no Parlamento, o actual quadro legal. "A Assembleia da República ainda não estará em condições de aprovar essa iniciativa", afirmou ao DN, acrescentando que este "debate ainda não foi feito" na sociedade portuguesa.» (DN)

O que, obviamente, me lembrou Cavaco na TV há poucos dias:

«Olhe, eu acho que Portugal enfrenta neste momento desafios tão fortes que esse não é com certeza um problema que preocupa os portugueses, ainda por cima um problema fracturante (...) Nós temos tantos outros problemas que eu não posso especular sobre se os partidos na Assembleia da República vão ou não avançar com essa proposta; e em primeiro lugar deve ocorrer o debate no sítio próprio que é a Assembleia da República; aí é que se manifestam as diferentes [...]» (Cavaco Silva)

(Acho mesmo que Vitalino deveria propor um debate público sobre o direito de voto para as mulheres. Nunca se fez! Como foi possível legislar, assim, sem mais nem menos?! E os pretos, meu deus, os pretos, não se discutiu se as empresas podem ou não discriminar nas contratações de empregados! Não houve um movimento social, ou cívico, ou um debate na AR!)

E, agora, pio mais fino:

«Se da parte do PS fica claro que o casamento homossexual será uma questão para o médio prazo, também da parte do Bloco de Esquerda - partido que se tem manifestado claramente a favor da mudança da lei - não há a intenção de avançar para já com uma proposta concreta. "Não queremos tomar uma iniciativa legislativa sem que ela seja acompanhada por um debate cívico", afirmou ao DN Luís Fazenda. O líder da bancada parlamentar do BE não deixa dúvidas de que os bloquistas avançarão nesse sentido, mas escusa-se também a avançar uma agenda mais concreta - para já o espaço deve ser dado "à sociedade civil e aos movimentos cívicos", no sentido de "uma maior sensibilização pública".» (DN)

Espera aí, Luís. Concordo que, tacticamente, uma proposta do BE na AR poderia colocar em perigo por muitos anos o fim da discriminação legal a que os gays e lésbicas estão sujeitos (o Cavaco tem, perversamente, razão...). Acho mesmo que, sem o PS, nada feito (daí as declarações de Canas serem assustadoras, vindas dum PS com maioria absoluta). Mas, por favor, que o BE não vá pelo argumento da "sensibilização". A não ser que, claro, em Portugal precisemos ainda de sensibilizar as pessoas sobre o que é a Constituição e a igualdade de direitos. Como gay, não quero que as pessoas (e muito menos "a sociedade") gostem de mim, nem que me "aceitem", nem que tenham uma súbita epifania que as leve a perceber que, com a alteração da lei, as suas vidas contiuarão na mesma, apenas melhorando a vida de outros. Não quero nada disso. Só quero igualdade de direitos. Só quero respeito.

PS: Na segunda-feira será apresentado publicamente o Manifesto pela Igualdade da candidatura de Francisco Louçã. Nele se defende, com todas as letras, o fim da discriminação no acesso ao casamento. mva | 10:32|

Séculos de presépios...

Acordo com isto:

«A legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo "não é uma prioridade" para o PS. A afirmação é de Vitalino Canas - o porta-voz socialista considera prematura qualquer iniciativa para alterar, no Parlamento, o actual quadro legal. "A Assembleia da República ainda não estará em condições de aprovar essa iniciativa", afirmou ao DN, acrescentando que este "debate ainda não foi feito" na sociedade portuguesa.» (DN)

O que, obviamente, me lembrou Cavaco na TV há poucos dias:

«Olhe, eu acho que Portugal enfrenta neste momento desafios tão fortes que esse não é com certeza um problema que preocupa os portugueses, ainda por cima um problema fracturante (...) Nós temos tantos outros problemas que eu não posso especular sobre se os partidos na Assembleia da República vão ou não avançar com essa proposta; e em primeiro lugar deve ocorrer o debate no sítio próprio que é a Assembleia da República; aí é que se manifestam as diferentes [...]» (Cavaco Silva)

(Acho mesmo que Vitalino deveria propor um debate público sobre o direito de voto para as mulheres. Nunca se fez! Como foi possível legislar, assim, sem mais nem menos?! E os pretos, meu deus, os pretos, não se discutiu se as empresas podem ou não discriminar nas contratações de empregados! Não houve um movimento social, ou cívico, ou um debate na AR!)

E, agora, pio mais fino:

«Se da parte do PS fica claro que o casamento homossexual será uma questão para o médio prazo, também da parte do Bloco de Esquerda - partido que se tem manifestado claramente a favor da mudança da lei - não há a intenção de avançar para já com uma proposta concreta. "Não queremos tomar uma iniciativa legislativa sem que ela seja acompanhada por um debate cívico", afirmou ao DN Luís Fazenda. O líder da bancada parlamentar do BE não deixa dúvidas de que os bloquistas avançarão nesse sentido, mas escusa-se também a avançar uma agenda mais concreta - para já o espaço deve ser dado "à sociedade civil e aos movimentos cívicos", no sentido de "uma maior sensibilização pública".» (DN)

Espera aí, Luís. Concordo que, tacticamente, uma proposta do BE na AR poderia colocar em perigo por muitos anos o fim da discriminação legal a que os gays e lésbicas estão sujeitos (o Cavaco tem, perversamente, razão...). Acho mesmo que, sem o PS, nada feito (daí as declarações de Canas serem assustadoras, vindas dum PS com maioria absoluta). Mas, por favor, que o BE não vá pelo argumento da "sensibilização". A não ser que, claro, em Portugal precisemos ainda de sensibilizar as pessoas sobre o que é a Constituição e a igualdade de direitos. Como gay, não quero que as pessoas (e muito menos "a sociedade") gostem de mim, nem que me "aceitem", nem que tenham uma súbita epifania que as leve a perceber que, com a alteração da lei, as suas vidas contiuarão na mesma, apenas melhorando a vida de outros. Não quero nada disso. Só quero igualdade de direitos. Só quero respeito.

PS: Na segunda-feira será apresentado publicamente o Manifesto pela Igualdade da candidatura de Francisco Louçã. Nele se defende, com todas as letras, o fim da discriminação no acesso ao casamento. mva | 10:32|

marcar artigo