O Acidental: A escolinha do professor Louçã (II)

24-12-2009
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Num rigoroso exclusivo para O Acidental, transcrevemos uma reportagem sobre os trabalhos da Escola de Verão do Bloco de Esquerda, que será publicada na revista ADIANTE – órgão oficial do BE.
Todas as escolas deviam ser assim
Foram três dias de liberdade, de festa e doutrinação. A Escola do Bloco de Esquerda foi mais uma vez um enorme sucesso: jovens do país inteiro demonstraram que este é um partido do futuro e com futuro. O ADIANTE estava lá e conta-lhe como tudo aconteceu.
Num evento repleto de grandes estrelas do panorama bloquista nacional, foram os alunos da escola que mais brilharam no certame que durou três dias. Jovens promessas que despontam agora graças aos ensinamentos consagrados de Saldanha Sanches, Mário Tomé e Fernando Rosas, entre muitos outros.
No que diz respeito ao campo das conferências, Isabel do Carmo provou que “velhos são os trapos”, explicando como é fácil fazer cocktails molotof com apenas alguns produtos de limpeza doméstica. Sobre a utilidade destes ensinamentos, falou-nos um dos alunos visivelmente entusiasmado: “sonhei em ser do Hamas mas sempre tive medo de chumbar nos exames de aptidão técnica.” Um dos momentos mais aguardados foi, porém, a intervenção do General Otelo Saraiva de Carvalho, que recordou as razões que fazem dele uma referência histórica para toda a extrema-esquerda. Numa notável metáfora, lembrou aos presentes que “Hitler também falhou um golpe, também esteve preso, mas não abandonou a luta revolucionária e chegou ao poder pela via democrática”. Uma afirmação que Francisco Louçã aplaudiu entusiasticamente.
Aulas de propaganda anticatólica divertiram os alunos, enquanto que, nos workshops, eram partilhadas e debatidas experiências. Num deles, ouvimos o relato de António Silva, mais conhecido por "Tó mata-bófias”, a propósito da discriminação dos delinquentes por parte da polícia. “Assim que nos vêem fugir com um autorádio na mão, vêm logo atrás de nós”, disse visivelmente perturbado.
Mas nem só de teoria viveu o encontro. Num dos principais exercícios práticos de toda a escola - “ser do contra só para chatear” -, despontaram verdadeiras estrelas da política bloquista na próxima década. O exercício consistia na distribuição de um texto do Dalai Lama, que deveria ser depois devidamente analisado e criticado. Fazendo bom uso da sua técnica cabalística, o vencedor, André Robles, distinguiu-se ao construir uma tese em que envolvia o monge tibetano na venda da Galp e, consequentemente, no apoio português à guerra do Iraque. “Foi muito fácil”, explicou-nos mais tarde, “no nosso subconsciente achamos sempre suspeito que uma pessoa possa realmente ser santa, portanto bastou-me aproveitar essa fraqueza para conseguir vender aquelas patranhas da bondade como uma conspiração para enfraquecer o espírito revolucionário.”
Outras actividades animaram as tardes. Miguel Portas exemplificou com grande sucesso como se pode enrolar uma ganza e ao mesmo tempo convocar uma manifestação por SMS, enquanto Diana Adringa divertiu o grupo com o seu conhecido número “olhem pra mim a defender a isenção”. Nota ainda para o concurso livre de arremesso de calhau à montra. Quase sem novidade, a malta do Fórum Social Português (FSP) voltou a ganhar à equipa da Linha Anti-Racismo conseguindo a melhor marca do ano na modalidade "montras de bancos americanos".
Rui Tavares, conhecido comentador deste desporto, confirmou que “a experiência em concursos internacionais tem criado um enorme fosso de qualidade entre o FSP e as restantes equipas da liga doméstica."
A discriminação das minorias minoritárias
Seria impossível relatar os acontecimentos que mais marcaram esta Escola do Bloco de Esquerda, passando ao lado de um dos mais comoventes depoimentos que tivemos oportunidade de assistir. Roberto Giraça é o líder do GTTEP/PSR (grupo transsexual com excesso de peso do PSR) e foi ele que, num testemunho marcado pela sinceridade, sensibilizou os presentes para o drama da discriminação dos transsexuais com excesso de peso por parte dos transsexuais com grandes figuraças e dos travestis em geral. “Quando estamos na praça a tentar arranjar clientes, elas gozam connosco e fazem comentários muito cruéis”, explicou Roberta, “mas têm medo do confronto físico connosco”. O GTTEP/PSR foi fundado há mais de dois anos por um grupo de duas transsexuais com excesso de peso que eram militantes do PSR, mas contou com o apoio em peso da direcção nacional do Partido.
“Este movimento é muito representativo da sociedade cívica”, contou-nos Francisco Louçã - e, na realidade, o Grupo tem quase oito membros. “O problema é esta sociedade sectária onde vivemos”, sintetizou António Serdezelo, convidado para o painel de comentadores. “Criou-se um sistema discriminatório, onde as minorias maioritárias acham que podem discriminar as minorias minoritárias”
Para garantir uma representatividade mais alargada entre os transsexuais discriminados por transsexuais, o GTTEP tem vindo a discutir os seus critérios de entrada, falando-se numa possível redução de quilos. “Não posso negar que a redução do peso mínimo para os 120 quilos não tenha sido debatida. É uma verdade que o grupo aumentaria a sua massa crítica, mas por outro lado existe um receio de perder um pouco de peso na sua dimensão ideológica”, acrescentou Giraça.
Mesmo sem uma decisão definitiva sobre esta matéria, as transsexuais com excesso de peso vão continuar a sua acção enveredando pela vertente cultural com algumas iniciativas que pretendem sensibilizar os públicos transsexual e transformista para o seu drama. Na Escola de Verão, tiveram a oportunidade de apresentar uma notável intervenção teatral, intitulada “Moby Dick - Mártir de uma causa. Vítima da incompreensão dos homens”.
A luta de classes começa no primeiro ciclo do preparatório “Infelizmente a comunicação social, dominada pela direita, só se preocupa com as praxes, ignorando o drama dos nerds no resto do ano lectivo". Foi com este mote que decorreu o workshop “A luta de classes sub18” que animou a Escola de Verão na tarde de sábado. Foram quase seis, os "totós" – nerds em inglês - que se juntaram a bloquistas mais experimentados para discutir o problema da discriminação no preparatório e secundário.
“Às vezes dão-nos tantos calduços que parece que estamos a ser torturados numa prisão iraquiana”, confessou um aluno que preferiu manter o anonimato para se proteger de possíveis represálias. “Não temos liberdade de expressão! Gozam com o nosso acne e com as lancheiras que trazemos com o almoço” continuou o mesmo aluno para grande indignação de todos os presentes. “É pior que o Tarrafal. As miúdas mais giras nunca nos falam e preferem ficar ao lado dos brutamontes do rugby”, revelou outro colega.
Para espanto de todos, foi Luís Fazenda quem teve a mais importante palava de consolo, afirmando a dado passo ter sido ele próprio também "vítima da discriminação". Mais: "também levei muitos estalos quando tinha a vossa idade, mas olhem para o que me tornei hoje!” Apesar do efeito desta inesperada confissão, foi a ausência de Ana Drago que mais marcou esta reunião. Alguns boatos espalhados pela direita reacionária afirmavam que a jovem dirigente não estava presente por “recusar-se a partilhar a mesma sala com totós”. Mas, em declarações ao ADIANTE, Ana Drago desdramatizou, justificando a sua ausência com uma súbita indisposição.
Este importante workshop terminou com a decisão de criar um Grupo de Trabalho multidisciplinar capaz de criar uma aliança entre gays, nerds e freaks nos liceus de todo o país. “Só juntos conseguiremos combater o poder hegemónico dos betos e dos surfistas”, concluiu o recém-nomeado presidente do grupo de trabalho, Luís Fazenda Junior.
Um prémio de sonho Como no ano passado, também agora esta II Escola de Verão do Bloco de Esquerda terminou em festa com a entrega do mais desejado prémio. Antes, houve ainda a oportunidade de ouvir a conferência “Hoje o Bairro Alto, amanhã o Mundo”, do Grande Timoneiro Francisco Louçã. Uma explicação realista de como aproveitar os defeitos das democracias burguesas e dos sistemas capitalistas para promover um regime do proletariado.
Foi então que, sob fortes aplausos, foi entregue o prémio de melhor aluno da Escola de Verão. A entrega da distinção coube a Daniel Oliveira, consistindo num convite formal para escrever no Barnabé. O fim-de-semana acabou em festa. Rebentaram-se uns "pôrros" e cantou-se o hino da IV Internacional.
[Rodrigo Moita de Deus]

Num rigoroso exclusivo para O Acidental, transcrevemos uma reportagem sobre os trabalhos da Escola de Verão do Bloco de Esquerda, que será publicada na revista ADIANTE – órgão oficial do BE.
Todas as escolas deviam ser assim
Foram três dias de liberdade, de festa e doutrinação. A Escola do Bloco de Esquerda foi mais uma vez um enorme sucesso: jovens do país inteiro demonstraram que este é um partido do futuro e com futuro. O ADIANTE estava lá e conta-lhe como tudo aconteceu.
Num evento repleto de grandes estrelas do panorama bloquista nacional, foram os alunos da escola que mais brilharam no certame que durou três dias. Jovens promessas que despontam agora graças aos ensinamentos consagrados de Saldanha Sanches, Mário Tomé e Fernando Rosas, entre muitos outros.
No que diz respeito ao campo das conferências, Isabel do Carmo provou que “velhos são os trapos”, explicando como é fácil fazer cocktails molotof com apenas alguns produtos de limpeza doméstica. Sobre a utilidade destes ensinamentos, falou-nos um dos alunos visivelmente entusiasmado: “sonhei em ser do Hamas mas sempre tive medo de chumbar nos exames de aptidão técnica.” Um dos momentos mais aguardados foi, porém, a intervenção do General Otelo Saraiva de Carvalho, que recordou as razões que fazem dele uma referência histórica para toda a extrema-esquerda. Numa notável metáfora, lembrou aos presentes que “Hitler também falhou um golpe, também esteve preso, mas não abandonou a luta revolucionária e chegou ao poder pela via democrática”. Uma afirmação que Francisco Louçã aplaudiu entusiasticamente.
Aulas de propaganda anticatólica divertiram os alunos, enquanto que, nos workshops, eram partilhadas e debatidas experiências. Num deles, ouvimos o relato de António Silva, mais conhecido por "Tó mata-bófias”, a propósito da discriminação dos delinquentes por parte da polícia. “Assim que nos vêem fugir com um autorádio na mão, vêm logo atrás de nós”, disse visivelmente perturbado.
Mas nem só de teoria viveu o encontro. Num dos principais exercícios práticos de toda a escola - “ser do contra só para chatear” -, despontaram verdadeiras estrelas da política bloquista na próxima década. O exercício consistia na distribuição de um texto do Dalai Lama, que deveria ser depois devidamente analisado e criticado. Fazendo bom uso da sua técnica cabalística, o vencedor, André Robles, distinguiu-se ao construir uma tese em que envolvia o monge tibetano na venda da Galp e, consequentemente, no apoio português à guerra do Iraque. “Foi muito fácil”, explicou-nos mais tarde, “no nosso subconsciente achamos sempre suspeito que uma pessoa possa realmente ser santa, portanto bastou-me aproveitar essa fraqueza para conseguir vender aquelas patranhas da bondade como uma conspiração para enfraquecer o espírito revolucionário.”
Outras actividades animaram as tardes. Miguel Portas exemplificou com grande sucesso como se pode enrolar uma ganza e ao mesmo tempo convocar uma manifestação por SMS, enquanto Diana Adringa divertiu o grupo com o seu conhecido número “olhem pra mim a defender a isenção”. Nota ainda para o concurso livre de arremesso de calhau à montra. Quase sem novidade, a malta do Fórum Social Português (FSP) voltou a ganhar à equipa da Linha Anti-Racismo conseguindo a melhor marca do ano na modalidade "montras de bancos americanos".
Rui Tavares, conhecido comentador deste desporto, confirmou que “a experiência em concursos internacionais tem criado um enorme fosso de qualidade entre o FSP e as restantes equipas da liga doméstica."
A discriminação das minorias minoritárias
Seria impossível relatar os acontecimentos que mais marcaram esta Escola do Bloco de Esquerda, passando ao lado de um dos mais comoventes depoimentos que tivemos oportunidade de assistir. Roberto Giraça é o líder do GTTEP/PSR (grupo transsexual com excesso de peso do PSR) e foi ele que, num testemunho marcado pela sinceridade, sensibilizou os presentes para o drama da discriminação dos transsexuais com excesso de peso por parte dos transsexuais com grandes figuraças e dos travestis em geral. “Quando estamos na praça a tentar arranjar clientes, elas gozam connosco e fazem comentários muito cruéis”, explicou Roberta, “mas têm medo do confronto físico connosco”. O GTTEP/PSR foi fundado há mais de dois anos por um grupo de duas transsexuais com excesso de peso que eram militantes do PSR, mas contou com o apoio em peso da direcção nacional do Partido.
“Este movimento é muito representativo da sociedade cívica”, contou-nos Francisco Louçã - e, na realidade, o Grupo tem quase oito membros. “O problema é esta sociedade sectária onde vivemos”, sintetizou António Serdezelo, convidado para o painel de comentadores. “Criou-se um sistema discriminatório, onde as minorias maioritárias acham que podem discriminar as minorias minoritárias”
Para garantir uma representatividade mais alargada entre os transsexuais discriminados por transsexuais, o GTTEP tem vindo a discutir os seus critérios de entrada, falando-se numa possível redução de quilos. “Não posso negar que a redução do peso mínimo para os 120 quilos não tenha sido debatida. É uma verdade que o grupo aumentaria a sua massa crítica, mas por outro lado existe um receio de perder um pouco de peso na sua dimensão ideológica”, acrescentou Giraça.
Mesmo sem uma decisão definitiva sobre esta matéria, as transsexuais com excesso de peso vão continuar a sua acção enveredando pela vertente cultural com algumas iniciativas que pretendem sensibilizar os públicos transsexual e transformista para o seu drama. Na Escola de Verão, tiveram a oportunidade de apresentar uma notável intervenção teatral, intitulada “Moby Dick - Mártir de uma causa. Vítima da incompreensão dos homens”.
A luta de classes começa no primeiro ciclo do preparatório “Infelizmente a comunicação social, dominada pela direita, só se preocupa com as praxes, ignorando o drama dos nerds no resto do ano lectivo". Foi com este mote que decorreu o workshop “A luta de classes sub18” que animou a Escola de Verão na tarde de sábado. Foram quase seis, os "totós" – nerds em inglês - que se juntaram a bloquistas mais experimentados para discutir o problema da discriminação no preparatório e secundário.
“Às vezes dão-nos tantos calduços que parece que estamos a ser torturados numa prisão iraquiana”, confessou um aluno que preferiu manter o anonimato para se proteger de possíveis represálias. “Não temos liberdade de expressão! Gozam com o nosso acne e com as lancheiras que trazemos com o almoço” continuou o mesmo aluno para grande indignação de todos os presentes. “É pior que o Tarrafal. As miúdas mais giras nunca nos falam e preferem ficar ao lado dos brutamontes do rugby”, revelou outro colega.
Para espanto de todos, foi Luís Fazenda quem teve a mais importante palava de consolo, afirmando a dado passo ter sido ele próprio também "vítima da discriminação". Mais: "também levei muitos estalos quando tinha a vossa idade, mas olhem para o que me tornei hoje!” Apesar do efeito desta inesperada confissão, foi a ausência de Ana Drago que mais marcou esta reunião. Alguns boatos espalhados pela direita reacionária afirmavam que a jovem dirigente não estava presente por “recusar-se a partilhar a mesma sala com totós”. Mas, em declarações ao ADIANTE, Ana Drago desdramatizou, justificando a sua ausência com uma súbita indisposição.
Este importante workshop terminou com a decisão de criar um Grupo de Trabalho multidisciplinar capaz de criar uma aliança entre gays, nerds e freaks nos liceus de todo o país. “Só juntos conseguiremos combater o poder hegemónico dos betos e dos surfistas”, concluiu o recém-nomeado presidente do grupo de trabalho, Luís Fazenda Junior.
Um prémio de sonho Como no ano passado, também agora esta II Escola de Verão do Bloco de Esquerda terminou em festa com a entrega do mais desejado prémio. Antes, houve ainda a oportunidade de ouvir a conferência “Hoje o Bairro Alto, amanhã o Mundo”, do Grande Timoneiro Francisco Louçã. Uma explicação realista de como aproveitar os defeitos das democracias burguesas e dos sistemas capitalistas para promover um regime do proletariado.
Foi então que, sob fortes aplausos, foi entregue o prémio de melhor aluno da Escola de Verão. A entrega da distinção coube a Daniel Oliveira, consistindo num convite formal para escrever no Barnabé. O fim-de-semana acabou em festa. Rebentaram-se uns "pôrros" e cantou-se o hino da IV Internacional.
[Rodrigo Moita de Deus]

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