AL TEJO: PARA MEMÓRIA FUTURA

23-12-2009
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O Pelourinho de Montemor-o-NovoPelourinho ou picota, são colunas de pedra, colocadas em lugar público, de cidades ou vilas, onde eram torturados e expostos, criminosos. Tinham também direito de pelourinho, os grandes donatários, os bispos, os cabidos e os mosteiros, como prova e instrumento da jurisdição feudal.Em Portugal, a partir do século XII, os pelourinhos ou picotas (esta a designação mais antiga e popular) dos municípios, localizavam-se quase sempre em frente do edifício da câmara. Muitos tinham no topo uma pequena casa em forma de guarita, feita de grades de ferro, onde os delinquentes eram expostos à vergonha pública. Noutros locais, os presos eram amarrados às argolas e açoutados ou mutilados, consoante a gravidade do delito, e os costumes da época. Também junto a ele eram anunciados à população, leis e decisões de âmbito local ou nacional, e ainda, era local de leilões, arrematações, fixação de preços, colocação de avisos, alvarás, posturas, etc. De estilo românico, gótico ou renascentista, muitos dos pelourinhos em Portugal constituem exemplares de notável valor artístico. Segundo Alexandre Herculano e Teófilo Braga, os pelourinhos tiveram origem na “columna moenia romana” que distinguia com certos privilégios, as cidades que os possuíam. Os pelourinhos, normalmente, são constituídos por uma base, sobre a qual assenta uma coluna ou fuste, e terminam por um capitel. Nalguns pelourinhos, em vez da base construída pelo homem, eram aproveitados afloramentos naturais. Consoante o remate do pelourinho, estes podem classificar-se em: de gaiola, de roca, de pinha, de coluço (gaiola fechada), de tabuleiro (gaiola com colunelos), de chapa rasa, de bola, do tipo bragançano e de extravagantes (de características invulgares). Portugal, possui actualmente, trezentos e cinquenta e oito pelourinhos, distribuídos, pelos dezoito distritos, da seguinte forma: Aveiro – 16; Beja – 6; Braga – 16; Bragança – 39; Castelo Branco – 22; Coimbra – 29; Évora – 13; Faro – 4; Guarda – 47; Leiria – 4; Lisboa – 8; Portalegre – 3; Porto – 13; Santarém 15; Setúbal – 11; Viana do castelo – 16; Vila Real – 19 e Viseu – 67. Os pelourinhos existentes no nosso Distrito situam-se em Alandroal, Arraiolos, Azaruja, Borba, Cabeção, Estremoz, Glória, Monsaraz, Redondo, Terena, Veiros, Viana do Alentejo e Vila Viçosa. O primeiro Pelourinho existente em Montemor-o-Novo era de “paao” (madeira), e foi colocado junto à Câmara Municipal dentro do castelo. Posteriormente, por carta régia de 13 de Julho de 1519, endereçada aos vereadores, foi mandado substituir o Pelourinho que se encontrava junto aos Paços do Concelho, em virtude do mesmo se encontrar quebrado. Foi executada uma bela peça em granito, que terá sido colocada no mesmo local, onde permaneceu até 1725, ano em que foi feita a mudança para o arrabalde (actual Centro Histórico), tendo sido colocado na Praça Velha (actualmente Cândido dos Reis). A mudança do monumento foi entregue a Luís de Sousa, que cobrou 14.400 réis da mudança e 600 réis da calçada que fez em redor do Pelourinho. Finalmente, quando o novo edifício da Câmara Municipal já estava implantado no local aonde hoje se encontra, em 1749 a autarquia decidia transferir mais uma vez o pelourinho para junto das suas instalações, colocando-o num local nobre: o Largo dos Paços do Concelho. Aí permaneceu cerca de 200 anos, até que, talvez, nos fins do primeiro quartel do século XIX, alguém à boa maneira liberal, o destruiu, a ponto dele, nada restar, a não ser a fotografia e umas poucas referências escritas. Para os liberais, os pelourinhos constituíam o estigma de símbolos do poder despótico, feudal e absoluto, pelo que os mandaram derrubar, provocando verdadeira tempestade de destruição, dando-lhes os mais diversos e inexplicáveis destinos. Ainda em 1930 Luís Chaves no seu estudo “Os Pelourinhos Portugueses”, incluía o de Montemor-o-Novo, que classificava no grupo dos que eram rematados com “cone embolado”, tal como os de Arraiolos e Santiago do Cacém. Mas um inquérito determinado em 1933 pelo governo à situação dos pelourinhos do país, cujos resultados foram publicados em 1935, já ele não figurava, o que faz pensar que teria sido destruído no intervalo entre esses três anos. Fiquemo-nos, então pela descrição e pela imagem do antigo pelourinho montemorense: “sobre uma base quadrangular, proveniente da remodelação setecentista, que devia assentar sobre degraus, a base da coluna – decoração manuelina – sustentava um fuste liso coroado por capitel, também liso, encimado por remate cónico, por sua vez acrescentado com complemento decorativo metálico em forma de globo e tendo na parte inferior quatro ferros metálicos formando ângulos rectos. Capoulas Santos, não me recorda se, na qualidade de vereador, ou de deputado municipal, propôs, a partir da foto existente do pelourinho, a sua reconstrução. Depois de várias intervenções, foi pedido o parecer da Comissão Municipal de Arte e Arqueologia, a qual deu parecer desfavorável à proposta do nosso conterrâneo Luís Capoulas Santos, pelo que a sua moção, acabou por ser rejeitada. Duas décadas depois deste episódio, verifiquei que em Alvalade do Sado, antigo concelho, extinto em 1836, actualmente freguesia de Santiago do Cacém, no ano de 2000, e integrado nas comemorações dos 490 anos do Foral, a população desta vila alentejana, viu de novo erguido na Praça D. Manuel I, o seu pelourinho, uma aspiração de longos anos, que só agora se viu concretizada. Em 1957, devido ao elevado estado de degradação do pelourinho de Alvalade do Sado, vítima do terramoto de 1755, ao qual faltavam muitas peças, foi decidido retirá-lo da praça central da vila. Meio século depois, o retirado pelourinho, foi redesenhado pelos desenhadores municipais, de forma que na restauração ele se aproximasse o mais possível daquilo que era o original. Obtido o parecer da Direcção Geral de Monumentos Nacionais, realizou-se o seu restauro, sendo o pelourinho inaugurado em Setembro de 2000. Em Montemor-o-Novo, não existem peças do desaparecido pelourinho, mas, existe uma fotografia. Para bom entendedor…Augusto MesquitaNota: Publicado na folha de Montemor e transcrito com autorização do autor. O sublinhado e a inclusão do pelourinho do Alandroal são da responsabilidade do administrador do blogue.


O Pelourinho de Montemor-o-NovoPelourinho ou picota, são colunas de pedra, colocadas em lugar público, de cidades ou vilas, onde eram torturados e expostos, criminosos. Tinham também direito de pelourinho, os grandes donatários, os bispos, os cabidos e os mosteiros, como prova e instrumento da jurisdição feudal.Em Portugal, a partir do século XII, os pelourinhos ou picotas (esta a designação mais antiga e popular) dos municípios, localizavam-se quase sempre em frente do edifício da câmara. Muitos tinham no topo uma pequena casa em forma de guarita, feita de grades de ferro, onde os delinquentes eram expostos à vergonha pública. Noutros locais, os presos eram amarrados às argolas e açoutados ou mutilados, consoante a gravidade do delito, e os costumes da época. Também junto a ele eram anunciados à população, leis e decisões de âmbito local ou nacional, e ainda, era local de leilões, arrematações, fixação de preços, colocação de avisos, alvarás, posturas, etc. De estilo românico, gótico ou renascentista, muitos dos pelourinhos em Portugal constituem exemplares de notável valor artístico. Segundo Alexandre Herculano e Teófilo Braga, os pelourinhos tiveram origem na “columna moenia romana” que distinguia com certos privilégios, as cidades que os possuíam. Os pelourinhos, normalmente, são constituídos por uma base, sobre a qual assenta uma coluna ou fuste, e terminam por um capitel. Nalguns pelourinhos, em vez da base construída pelo homem, eram aproveitados afloramentos naturais. Consoante o remate do pelourinho, estes podem classificar-se em: de gaiola, de roca, de pinha, de coluço (gaiola fechada), de tabuleiro (gaiola com colunelos), de chapa rasa, de bola, do tipo bragançano e de extravagantes (de características invulgares). Portugal, possui actualmente, trezentos e cinquenta e oito pelourinhos, distribuídos, pelos dezoito distritos, da seguinte forma: Aveiro – 16; Beja – 6; Braga – 16; Bragança – 39; Castelo Branco – 22; Coimbra – 29; Évora – 13; Faro – 4; Guarda – 47; Leiria – 4; Lisboa – 8; Portalegre – 3; Porto – 13; Santarém 15; Setúbal – 11; Viana do castelo – 16; Vila Real – 19 e Viseu – 67. Os pelourinhos existentes no nosso Distrito situam-se em Alandroal, Arraiolos, Azaruja, Borba, Cabeção, Estremoz, Glória, Monsaraz, Redondo, Terena, Veiros, Viana do Alentejo e Vila Viçosa. O primeiro Pelourinho existente em Montemor-o-Novo era de “paao” (madeira), e foi colocado junto à Câmara Municipal dentro do castelo. Posteriormente, por carta régia de 13 de Julho de 1519, endereçada aos vereadores, foi mandado substituir o Pelourinho que se encontrava junto aos Paços do Concelho, em virtude do mesmo se encontrar quebrado. Foi executada uma bela peça em granito, que terá sido colocada no mesmo local, onde permaneceu até 1725, ano em que foi feita a mudança para o arrabalde (actual Centro Histórico), tendo sido colocado na Praça Velha (actualmente Cândido dos Reis). A mudança do monumento foi entregue a Luís de Sousa, que cobrou 14.400 réis da mudança e 600 réis da calçada que fez em redor do Pelourinho. Finalmente, quando o novo edifício da Câmara Municipal já estava implantado no local aonde hoje se encontra, em 1749 a autarquia decidia transferir mais uma vez o pelourinho para junto das suas instalações, colocando-o num local nobre: o Largo dos Paços do Concelho. Aí permaneceu cerca de 200 anos, até que, talvez, nos fins do primeiro quartel do século XIX, alguém à boa maneira liberal, o destruiu, a ponto dele, nada restar, a não ser a fotografia e umas poucas referências escritas. Para os liberais, os pelourinhos constituíam o estigma de símbolos do poder despótico, feudal e absoluto, pelo que os mandaram derrubar, provocando verdadeira tempestade de destruição, dando-lhes os mais diversos e inexplicáveis destinos. Ainda em 1930 Luís Chaves no seu estudo “Os Pelourinhos Portugueses”, incluía o de Montemor-o-Novo, que classificava no grupo dos que eram rematados com “cone embolado”, tal como os de Arraiolos e Santiago do Cacém. Mas um inquérito determinado em 1933 pelo governo à situação dos pelourinhos do país, cujos resultados foram publicados em 1935, já ele não figurava, o que faz pensar que teria sido destruído no intervalo entre esses três anos. Fiquemo-nos, então pela descrição e pela imagem do antigo pelourinho montemorense: “sobre uma base quadrangular, proveniente da remodelação setecentista, que devia assentar sobre degraus, a base da coluna – decoração manuelina – sustentava um fuste liso coroado por capitel, também liso, encimado por remate cónico, por sua vez acrescentado com complemento decorativo metálico em forma de globo e tendo na parte inferior quatro ferros metálicos formando ângulos rectos. Capoulas Santos, não me recorda se, na qualidade de vereador, ou de deputado municipal, propôs, a partir da foto existente do pelourinho, a sua reconstrução. Depois de várias intervenções, foi pedido o parecer da Comissão Municipal de Arte e Arqueologia, a qual deu parecer desfavorável à proposta do nosso conterrâneo Luís Capoulas Santos, pelo que a sua moção, acabou por ser rejeitada. Duas décadas depois deste episódio, verifiquei que em Alvalade do Sado, antigo concelho, extinto em 1836, actualmente freguesia de Santiago do Cacém, no ano de 2000, e integrado nas comemorações dos 490 anos do Foral, a população desta vila alentejana, viu de novo erguido na Praça D. Manuel I, o seu pelourinho, uma aspiração de longos anos, que só agora se viu concretizada. Em 1957, devido ao elevado estado de degradação do pelourinho de Alvalade do Sado, vítima do terramoto de 1755, ao qual faltavam muitas peças, foi decidido retirá-lo da praça central da vila. Meio século depois, o retirado pelourinho, foi redesenhado pelos desenhadores municipais, de forma que na restauração ele se aproximasse o mais possível daquilo que era o original. Obtido o parecer da Direcção Geral de Monumentos Nacionais, realizou-se o seu restauro, sendo o pelourinho inaugurado em Setembro de 2000. Em Montemor-o-Novo, não existem peças do desaparecido pelourinho, mas, existe uma fotografia. Para bom entendedor…Augusto MesquitaNota: Publicado na folha de Montemor e transcrito com autorização do autor. O sublinhado e a inclusão do pelourinho do Alandroal são da responsabilidade do administrador do blogue.

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