O Vilacondense de Apoio: "O problema está nos salários", diz Valentim Loureiro

19-12-2009
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Público, edição impressa, de 10 de Maio de 2005 Luís Octávio Costa Os clubes portugueses continuam com "as calças na mão" e a gastarem o dinheiro que não têm. Esta volta a ser a conclusão do anuário das finanças do futebol profissional executado Deloitte. O presidente da Liga procurou apoiar-se no Estado. Laurentino Dias respondeu ao Totonegócio: "Houve, não haverá nova proposta" Valentim Loureiro voltou ontem a apresentar um cenário complicado para o futebol profissional português. "O que é que vai ser apresentado? Não é muito agradável...", resumiu o presidente da liga perante os dados relativos às finanças da temporada 2003-04 - anuário compilado pela empresa de auditoria Deloitte. Os custos totais dos clubes da SuperLiga voltaram a aumentar (quatro por cento), números que, segundo o estudo, "continuam a contribuir para deteriorar a situação financeira dos clubes". "O problema está nos salários", identificou Valentim Loureiro, que aproveitou para deixar alguns recados ao também presente Laurentino Dias, secretário de Estado do Desporto.A sexta edição do estudo em questão não revelou nenhuma surpresa. "Não trará novidades boas. As finanças do futebol profissional vão de mal a pior. Visto do lado de lá da fronteira, é um caso de sucesso, para quem convive no dia-a-dia já não é bem assim", disse o secretário de Estado. "Nem é preciso olhar para os números", adiantou Valentim, mais que preparado para as contas adversas no capítulo "custos", isto apesar do aumento das receitas (entre 1998-99 e 2003-04, aumentaram de 176,6 para 278,2 milhões de euros, representando um crescimento médio anual de 9,6 por cento) e da evolução positiva do cash flow das equipas relativamente às épocas anteriores (12,5 milhões de euros negativos em 2001-02, 4,9 milhões de euros negativos em 2002-03 e 57 milhões de euros na época em análise). "O futebol português continua a viver acima das suas possibilidades: despesas muito superiores às receitas", concluiu o major, que sensivelmente há dois anos tinha deixado no mesmo auditório a frase "está tudo de calças na mão" e que assina um prefácio no anuário com o título "urge encarar, urge reflectir"."Esgotadas" as receitas extras ("bingo", "bombas de gasolina", "terrenos cedidos pelas câmaras"...), "esbatido" o aumento de receitas televisivas e a afluência maciça aos Euro-estádios (em média, cada clube vendeu 162 mil bilhetes, mais 55 por cento que na época anterior, o que representa um valor médio por jogo de cerca de 9588 bilhetes vendidos), Valentim procurou a escapatória Estado, que "não fez religiosamente nada". "O Estado assinou um contrato, um compromisso, não fez nada e disse "agora paguem"", prosseguiu, lembrando Fernando Gomes, então responsável pela pasta Totonegócio ("assinou de boa fé", recordou o major), e virando-se para Laurentino Dias, a quem entregou uma série de dossiers. "Umas prendas", brincou Valentim, preparado com pastas sobre a autonomia da arbitragem (um órgão com autonomia técnica, administrativa e financeira, dotado de instalações próprias), a proposta de alteração do plano fiscal e o plano oficial de contas. "Matéria mais do que estudada" pela liga, sublinhou. "Mesmo quem quer apresentar uma candidatura à presidência da liga tem isto feito", disse, apontando para Rui Alves, presidente do Nacional.Face ao Totonegócio "assumido e não cumprido", como destacou Valentim, o secretário de Estado mostrou-se inflexível: "Houve, não haverá nova proposta. Que fique bem claro". Quanto às restantes propostas, Laurentino mostrou-se receptivo. "Tudo está definido no programa do Governo. E o que está escrito é para se fazer. Podem contar connosco", registou, apontando soluções mais para o final do ano, após a realização de um congresso de desporto. "O problema é grande de mais para ser resolvido nesta cerimónia", juntou.O efeito FC PortoNo resto, a Deloitte apresentou uma série de números, quase sempre condicionados pelo sucesso do FC Porto (nomeadamente a conquista da Champions). O "efeito FC Porto", como lhe chamaram os especialistas, fez disparar todos os gráficos, provocando o equilíbrio em linhas com tendência para o afundamento. Assim, os proveitos portistas representaram 40% do total das receitas, enquanto a concentração do volume de negócios dos três grandes representa 70% das receitas dos 18 clubes (FC Porto, 110 milhões de euros; Benfica 49,7; Sporting 34,2; Boavista, 9,8).Valentim aproveitou para comentar a reunião convocada para hoje por Benfica, Sporting, Belenenses e Marítimo: "Não fui convidado para estar presente". O Nacional e o Boavista já confirmaram a sua ausência. O Benfica poderá mesmo ser o único clube da direcção da liga a marcar presença.Os números desta sexta edição do anuário ficam definitivamente condicionados pela prestação do FC Porto, principalmente no seu percurso europeu até à conquista da Liga dos Campeões pelas mãos de José Mourinho. Sempre activos na evolução das receitas, na última época os portistas conseguiram influenciar 40 por cento dos totais da SuperLiga. Refira-se que, embora o FC Porto tenha ganho a Champions, das quatro equipas que participaram nas meis-finais foi a menos favorecida em termos de receitas, muito condicionadas pelos critérios de distribuição do market pool (receitas televisivas).Este foi um dos capítulo mais positivos do estudo. Em média, e seguindo a lógica dos Euro-estádios, cada clube vendeu 162 mil bilhetes, mais 55 por cento do que na época anterior, o que representa um valor médio por jogo de cerca de 9588 bilhetes vendidos. O FC Porto coloca-se na liderança com mais de 40 mil bilhetes/jogo e com a mais alta taxa de ocupação do seu estádio (Dragão). No resto, e além dos três grandes, apenas o Guimarães teve assistência acima da média, sendo que também o Marítimo conseguiu uma positiva taxa de ocupação do seu terreno de jogo (Barreiros)."As equipas da SuperLiga continuam fortemente endividadas e descapitalizadas. Apesar da contenção das políticas salariais e de contratação, o peso dos custos com pessoal no total das receitas continua elevado", pode ler-se nas conclusões do estudo. Uma das despesas mais evidentes continua a ser os salários dos jogadores. Entre a temporada de 1999/00 até à época transacta, registou-se um aumento de 32 milhões de euros (de 106 para 138). Os custos com o pessoal representam em média 50 por cento das receitas totais.Entre 1998/99 e 2003/04, as receitas aumentaram de 176,6 para 278,2 milhões de euros, representando um crescimento médio anual de 9,6 por cento. O mercado tradicional rendeu às equipas da SuperLiga aproximadamente 165 milhões de euros em termos de receitas, mais 34,7 milhões de euros que na anterior edição. Os maiores volumes de receitas foram geradas pelo FC Porto (110), Benfica (49,7) e Sporting (34,2). O Boavista (9,8) e o Braga (9,6) são as equipas mais próximas do pódio. Quadros retirados de um estudo elaborado pela Deloitte para a Liga de Clubes e jornal A Bola

Público, edição impressa, de 10 de Maio de 2005 Luís Octávio Costa Os clubes portugueses continuam com "as calças na mão" e a gastarem o dinheiro que não têm. Esta volta a ser a conclusão do anuário das finanças do futebol profissional executado Deloitte. O presidente da Liga procurou apoiar-se no Estado. Laurentino Dias respondeu ao Totonegócio: "Houve, não haverá nova proposta" Valentim Loureiro voltou ontem a apresentar um cenário complicado para o futebol profissional português. "O que é que vai ser apresentado? Não é muito agradável...", resumiu o presidente da liga perante os dados relativos às finanças da temporada 2003-04 - anuário compilado pela empresa de auditoria Deloitte. Os custos totais dos clubes da SuperLiga voltaram a aumentar (quatro por cento), números que, segundo o estudo, "continuam a contribuir para deteriorar a situação financeira dos clubes". "O problema está nos salários", identificou Valentim Loureiro, que aproveitou para deixar alguns recados ao também presente Laurentino Dias, secretário de Estado do Desporto.A sexta edição do estudo em questão não revelou nenhuma surpresa. "Não trará novidades boas. As finanças do futebol profissional vão de mal a pior. Visto do lado de lá da fronteira, é um caso de sucesso, para quem convive no dia-a-dia já não é bem assim", disse o secretário de Estado. "Nem é preciso olhar para os números", adiantou Valentim, mais que preparado para as contas adversas no capítulo "custos", isto apesar do aumento das receitas (entre 1998-99 e 2003-04, aumentaram de 176,6 para 278,2 milhões de euros, representando um crescimento médio anual de 9,6 por cento) e da evolução positiva do cash flow das equipas relativamente às épocas anteriores (12,5 milhões de euros negativos em 2001-02, 4,9 milhões de euros negativos em 2002-03 e 57 milhões de euros na época em análise). "O futebol português continua a viver acima das suas possibilidades: despesas muito superiores às receitas", concluiu o major, que sensivelmente há dois anos tinha deixado no mesmo auditório a frase "está tudo de calças na mão" e que assina um prefácio no anuário com o título "urge encarar, urge reflectir"."Esgotadas" as receitas extras ("bingo", "bombas de gasolina", "terrenos cedidos pelas câmaras"...), "esbatido" o aumento de receitas televisivas e a afluência maciça aos Euro-estádios (em média, cada clube vendeu 162 mil bilhetes, mais 55 por cento que na época anterior, o que representa um valor médio por jogo de cerca de 9588 bilhetes vendidos), Valentim procurou a escapatória Estado, que "não fez religiosamente nada". "O Estado assinou um contrato, um compromisso, não fez nada e disse "agora paguem"", prosseguiu, lembrando Fernando Gomes, então responsável pela pasta Totonegócio ("assinou de boa fé", recordou o major), e virando-se para Laurentino Dias, a quem entregou uma série de dossiers. "Umas prendas", brincou Valentim, preparado com pastas sobre a autonomia da arbitragem (um órgão com autonomia técnica, administrativa e financeira, dotado de instalações próprias), a proposta de alteração do plano fiscal e o plano oficial de contas. "Matéria mais do que estudada" pela liga, sublinhou. "Mesmo quem quer apresentar uma candidatura à presidência da liga tem isto feito", disse, apontando para Rui Alves, presidente do Nacional.Face ao Totonegócio "assumido e não cumprido", como destacou Valentim, o secretário de Estado mostrou-se inflexível: "Houve, não haverá nova proposta. Que fique bem claro". Quanto às restantes propostas, Laurentino mostrou-se receptivo. "Tudo está definido no programa do Governo. E o que está escrito é para se fazer. Podem contar connosco", registou, apontando soluções mais para o final do ano, após a realização de um congresso de desporto. "O problema é grande de mais para ser resolvido nesta cerimónia", juntou.O efeito FC PortoNo resto, a Deloitte apresentou uma série de números, quase sempre condicionados pelo sucesso do FC Porto (nomeadamente a conquista da Champions). O "efeito FC Porto", como lhe chamaram os especialistas, fez disparar todos os gráficos, provocando o equilíbrio em linhas com tendência para o afundamento. Assim, os proveitos portistas representaram 40% do total das receitas, enquanto a concentração do volume de negócios dos três grandes representa 70% das receitas dos 18 clubes (FC Porto, 110 milhões de euros; Benfica 49,7; Sporting 34,2; Boavista, 9,8).Valentim aproveitou para comentar a reunião convocada para hoje por Benfica, Sporting, Belenenses e Marítimo: "Não fui convidado para estar presente". O Nacional e o Boavista já confirmaram a sua ausência. O Benfica poderá mesmo ser o único clube da direcção da liga a marcar presença.Os números desta sexta edição do anuário ficam definitivamente condicionados pela prestação do FC Porto, principalmente no seu percurso europeu até à conquista da Liga dos Campeões pelas mãos de José Mourinho. Sempre activos na evolução das receitas, na última época os portistas conseguiram influenciar 40 por cento dos totais da SuperLiga. Refira-se que, embora o FC Porto tenha ganho a Champions, das quatro equipas que participaram nas meis-finais foi a menos favorecida em termos de receitas, muito condicionadas pelos critérios de distribuição do market pool (receitas televisivas).Este foi um dos capítulo mais positivos do estudo. Em média, e seguindo a lógica dos Euro-estádios, cada clube vendeu 162 mil bilhetes, mais 55 por cento do que na época anterior, o que representa um valor médio por jogo de cerca de 9588 bilhetes vendidos. O FC Porto coloca-se na liderança com mais de 40 mil bilhetes/jogo e com a mais alta taxa de ocupação do seu estádio (Dragão). No resto, e além dos três grandes, apenas o Guimarães teve assistência acima da média, sendo que também o Marítimo conseguiu uma positiva taxa de ocupação do seu terreno de jogo (Barreiros)."As equipas da SuperLiga continuam fortemente endividadas e descapitalizadas. Apesar da contenção das políticas salariais e de contratação, o peso dos custos com pessoal no total das receitas continua elevado", pode ler-se nas conclusões do estudo. Uma das despesas mais evidentes continua a ser os salários dos jogadores. Entre a temporada de 1999/00 até à época transacta, registou-se um aumento de 32 milhões de euros (de 106 para 138). Os custos com o pessoal representam em média 50 por cento das receitas totais.Entre 1998/99 e 2003/04, as receitas aumentaram de 176,6 para 278,2 milhões de euros, representando um crescimento médio anual de 9,6 por cento. O mercado tradicional rendeu às equipas da SuperLiga aproximadamente 165 milhões de euros em termos de receitas, mais 34,7 milhões de euros que na anterior edição. Os maiores volumes de receitas foram geradas pelo FC Porto (110), Benfica (49,7) e Sporting (34,2). O Boavista (9,8) e o Braga (9,6) são as equipas mais próximas do pódio. Quadros retirados de um estudo elaborado pela Deloitte para a Liga de Clubes e jornal A Bola

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