Ricardo Pinto – Aventar

20-05-2011
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Lembro-me de uma polémica com a Rádio Renascença lá para os finais dos anos 80 do século passado (não, antes que me perguntem, ainda não tenho 100 anos).

Descobriu-se, nessa altura, que a emissora católica tinha uma lista de músicas proibidas, porque contrárias à Fé católica. Como o «Menino do Bairro Negro» do Zeca (Frase fatal: «Bairro negro / Onde não há pão / Não há sossego»); «Cálice» do Chico Buarque (Frase fatal: «Pai / Afasta de mim esse cálice (Pai) / De vinho tinto de sangue»); ou o «Vídeo Maria» dos GNR (Frase fatal: «Por parecer latina/ Suponho que o nome dela é Maria / É casta, eu sei, se é virgem ou não / Depende da tua fantasia»).

Recordo, a propósito, a forma ousada como o PSR, nos Tempos de Antena para as Legislativas, através da voz de António Macedo, emitia essas músicas precisamente na Renascença, acompanhada das denúncias ao comportamento da Emissora.

Décadas depois, a RFM, chancela da Renascença para um público mais jovem, refinou o lápis azul da censura. Agora, censuram também as músicas estrangeiras mas de forma subtil. Quando chega a altura do palavrão, ouve-se um silêncio tão rápido que só dá pela putinice quem estiver atento e conhecer bem a música.

Como eu não dou para o peditório dos católicos, foi a minha filha que me chamou à atenção. Em «Pepas», de Farruko, no verso «Bebiendo, fumando y jodiendo», a palavra jodiendo é omitida. Em «Good 4 you», de Olivia Rodrigo, na frase «Baby, what the fuck is up with that?», há uma palavra que não ouvimos (adivinhem qual). Em «Abcdefu», Gayle canta «Fuck you and your mom and your sister and your job / And your broke-ass car and that shit you call art / Fuck you and your friends that I’ll never see again / Everybody but your dog, you can all fuck off». Sem comentários.

Por sorte, ainda com a ajuda da minha filha, consegui gravar uma das músicas malditas da RFM. Como podem ver acima, Justin Bieber canta «Lonely», uma espécie de autobiografia acerca dos custos da fama. Logo no início do vídeo (6 segundos), ouve-se claramente:’Cause I’ve had everything / But no one’s listening / And that’s just … lonely». Fucking, o silêncio dos três pontinhos. FUCKING. E logo a seguir (40 segundos): «And everybody saw me sick / And it felt like no one gave a … . Aqui, os três pontinhos correspondem a shit. SHIT.

Estava a imaginar a cena. No remanso do gabinete, o Putin da RFM – baixinho, anafado e careca – sacava do seu grosso mas laborioso lápis, ciosamente guardado debaixo da batina, e ia riscando, a azul, as palavras proibidas. O resto ficaria para os técnicos da RFM.

No entanto, enquanto pesquisava para escrever isto, acabei por perceber que as próprias plataformas mundiais, como a Musixmatch, também censuram as letras. As «clean versions», como lhe chamam, estendem-se aos próprios vídeos das músicas.

Afinal, não é só a RFM que desrespeita e despreza os seus ouvintes e os próprios artistas. É todo um mundo global dominado pelos valores do politicamente correcto. O mundo da guerra e da violência mas onde não pode dizer-se a palavra fuck. A RFM limita-se a dar um pequeno contributo, pondo em prática os valores da sua proprietária, a Igreja Católica: a hipocrisia, a falsidade, a mentira, a canalhice. A putinice.

Mas já que gostam tanto de publicar as mensagens dos ouvintes, publiquem também esta, ó RFM, e cantem-na usando a melodia da Gayle: «Fuck you and your God and your church and your pedo priests / And your speech of true / it’s false, fuck you».

Lembro-me de uma polémica com a Rádio Renascença lá para os finais dos anos 80 do século passado (não, antes que me perguntem, ainda não tenho 100 anos).

Descobriu-se, nessa altura, que a emissora católica tinha uma lista de músicas proibidas, porque contrárias à Fé católica. Como o «Menino do Bairro Negro» do Zeca (Frase fatal: «Bairro negro / Onde não há pão / Não há sossego»); «Cálice» do Chico Buarque (Frase fatal: «Pai / Afasta de mim esse cálice (Pai) / De vinho tinto de sangue»); ou o «Vídeo Maria» dos GNR (Frase fatal: «Por parecer latina/ Suponho que o nome dela é Maria / É casta, eu sei, se é virgem ou não / Depende da tua fantasia»).

Recordo, a propósito, a forma ousada como o PSR, nos Tempos de Antena para as Legislativas, através da voz de António Macedo, emitia essas músicas precisamente na Renascença, acompanhada das denúncias ao comportamento da Emissora.

Décadas depois, a RFM, chancela da Renascença para um público mais jovem, refinou o lápis azul da censura. Agora, censuram também as músicas estrangeiras mas de forma subtil. Quando chega a altura do palavrão, ouve-se um silêncio tão rápido que só dá pela putinice quem estiver atento e conhecer bem a música.

Como eu não dou para o peditório dos católicos, foi a minha filha que me chamou à atenção. Em «Pepas», de Farruko, no verso «Bebiendo, fumando y jodiendo», a palavra jodiendo é omitida. Em «Good 4 you», de Olivia Rodrigo, na frase «Baby, what the fuck is up with that?», há uma palavra que não ouvimos (adivinhem qual). Em «Abcdefu», Gayle canta «Fuck you and your mom and your sister and your job / And your broke-ass car and that shit you call art / Fuck you and your friends that I’ll never see again / Everybody but your dog, you can all fuck off». Sem comentários.

Por sorte, ainda com a ajuda da minha filha, consegui gravar uma das músicas malditas da RFM. Como podem ver acima, Justin Bieber canta «Lonely», uma espécie de autobiografia acerca dos custos da fama. Logo no início do vídeo (6 segundos), ouve-se claramente:’Cause I’ve had everything / But no one’s listening / And that’s just … lonely». Fucking, o silêncio dos três pontinhos. FUCKING. E logo a seguir (40 segundos): «And everybody saw me sick / And it felt like no one gave a … . Aqui, os três pontinhos correspondem a shit. SHIT.

Estava a imaginar a cena. No remanso do gabinete, o Putin da RFM – baixinho, anafado e careca – sacava do seu grosso mas laborioso lápis, ciosamente guardado debaixo da batina, e ia riscando, a azul, as palavras proibidas. O resto ficaria para os técnicos da RFM.

No entanto, enquanto pesquisava para escrever isto, acabei por perceber que as próprias plataformas mundiais, como a Musixmatch, também censuram as letras. As «clean versions», como lhe chamam, estendem-se aos próprios vídeos das músicas.

Afinal, não é só a RFM que desrespeita e despreza os seus ouvintes e os próprios artistas. É todo um mundo global dominado pelos valores do politicamente correcto. O mundo da guerra e da violência mas onde não pode dizer-se a palavra fuck. A RFM limita-se a dar um pequeno contributo, pondo em prática os valores da sua proprietária, a Igreja Católica: a hipocrisia, a falsidade, a mentira, a canalhice. A putinice.

Mas já que gostam tanto de publicar as mensagens dos ouvintes, publiquem também esta, ó RFM, e cantem-na usando a melodia da Gayle: «Fuck you and your God and your church and your pedo priests / And your speech of true / it’s false, fuck you».

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