1. Eu ouvi! Ouvi – com estes ouvidos que a terra há-de comer – Alberto João Jardim dizer que quer que o PSD volte a ser social-democrata, e que não se revê no neo-liberalismo.Aqui para nós – o homem já devia ter feito as honras a várias garrafas de vinho da Madeira quando proferiu estas declarações. Num território onde os índices de miséria são confrangedores, mas onde se inauguram auto-estradas todos os dias (bem, quase...); numa zona onde a informação é controlada, e onde cada vizinho é um potencial delator, porque quase todos dependem do Governo regional e quase todos têm medo de perder o emprego (público, claro está); numa ilha onde existe uma zona franca que subtrai milhões aos cofres do Estado – de que tipo de social-democracia é que estamos exactamente a falar? É que, para ser franco, A. J. Jardim lembra-me mais uma versão carnavalesca de Kim Jong-Il que Olof Palme...2. O governo da coligação PSD-PP está de saída. Já não era sem tempo. Todos sabemos que a maioria dos seus elementos eram pessoas impreparadas, irresponsáveis, incompetentes, aventureiras e desprovidas de qualquer noção de honradez ou de sentido de Estado. Um dos membros do governo que melhor corresponde a este perfil é a (ainda) ministra da Educação, Maria do Carmo Seabra. Esta ministra achou interessante mover um processo disciplinar contra funcionários do ministério pelo fracasso ridículo do concurso de colocação de professores no ano passado. Entre estes funcionários estão dois directores gerais que foram nomeados pelo governo de António Guterres. Como referi na altura, geriram bem os concursos de colocação de professores durante quatro anos – e no último resolveram tornar-se incompetentes! Possivelmente, só para deixar a ministra ficar mal... Dizer que a ministra da educação demissionária é irresponsável é excessivamente brando.3. Nem todos os ministros e secretários de estado correspondem ao padrão delineado no número anterior. O ministro da justiça, José Pedro Aguiar-Branco, teve uma acção positiva, que culminou com o alargamento do sistema de «pulseiras electrónicas» fora das duas maiores comarcas. O facto de esta medida ter sido iniciada pelo ministro socialista José Vera Jardim não retira mérito a Aguiar-Branco. Pelo contrário – demonstra a sensibilidade deste último ao problema do excesso de prisão preventiva e de população prisional. Que, lamentavelmente, não encontra correspondência nos juizes de instrução criminal e nos magistrados do Ministério Público.4. Outro membro competente do futuro ex-governo foi o secretário de Estado adjunto da administração interna, Paulo Pereira Coelho. E não o gabo só por ser filho de Francisco Pereira Coelho, a cujas aulas de Direito da Família e de Direito Civil assisti com interesse. P. Pereira Coelho exclamou uma vez, causando algum escândalo, que tinha vergonha da nossa protecção civil. Não me escandalizei, porque me revejo naquelas palavras. Talvez P. Pereira Coelho tivesse oportunidade de fazer algo de positivo num governo que não fosse tão mau como o que agora está de saída – mas, nas circunstâncias que encontrou, que podia ele ter feito? Hoje mesmo, P. Pereira Coelho protestou a sua revolta pela escassez de apoios aos familiares de bombeiros mortos no combate a fogos e manifestou vontade de rever a legislação em questão. Já vai tarde, e ele é apenas secretário de Estado e não é ele quem tem o poder decisório – mas a sua atitude agradou-me.5. Mas, como referi, Aguiar-Branco e Pereira Coelho foram apenas excepções. Maria do Carmo Seabra foi a regra...
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1. Eu ouvi! Ouvi – com estes ouvidos que a terra há-de comer – Alberto João Jardim dizer que quer que o PSD volte a ser social-democrata, e que não se revê no neo-liberalismo.Aqui para nós – o homem já devia ter feito as honras a várias garrafas de vinho da Madeira quando proferiu estas declarações. Num território onde os índices de miséria são confrangedores, mas onde se inauguram auto-estradas todos os dias (bem, quase...); numa zona onde a informação é controlada, e onde cada vizinho é um potencial delator, porque quase todos dependem do Governo regional e quase todos têm medo de perder o emprego (público, claro está); numa ilha onde existe uma zona franca que subtrai milhões aos cofres do Estado – de que tipo de social-democracia é que estamos exactamente a falar? É que, para ser franco, A. J. Jardim lembra-me mais uma versão carnavalesca de Kim Jong-Il que Olof Palme...2. O governo da coligação PSD-PP está de saída. Já não era sem tempo. Todos sabemos que a maioria dos seus elementos eram pessoas impreparadas, irresponsáveis, incompetentes, aventureiras e desprovidas de qualquer noção de honradez ou de sentido de Estado. Um dos membros do governo que melhor corresponde a este perfil é a (ainda) ministra da Educação, Maria do Carmo Seabra. Esta ministra achou interessante mover um processo disciplinar contra funcionários do ministério pelo fracasso ridículo do concurso de colocação de professores no ano passado. Entre estes funcionários estão dois directores gerais que foram nomeados pelo governo de António Guterres. Como referi na altura, geriram bem os concursos de colocação de professores durante quatro anos – e no último resolveram tornar-se incompetentes! Possivelmente, só para deixar a ministra ficar mal... Dizer que a ministra da educação demissionária é irresponsável é excessivamente brando.3. Nem todos os ministros e secretários de estado correspondem ao padrão delineado no número anterior. O ministro da justiça, José Pedro Aguiar-Branco, teve uma acção positiva, que culminou com o alargamento do sistema de «pulseiras electrónicas» fora das duas maiores comarcas. O facto de esta medida ter sido iniciada pelo ministro socialista José Vera Jardim não retira mérito a Aguiar-Branco. Pelo contrário – demonstra a sensibilidade deste último ao problema do excesso de prisão preventiva e de população prisional. Que, lamentavelmente, não encontra correspondência nos juizes de instrução criminal e nos magistrados do Ministério Público.4. Outro membro competente do futuro ex-governo foi o secretário de Estado adjunto da administração interna, Paulo Pereira Coelho. E não o gabo só por ser filho de Francisco Pereira Coelho, a cujas aulas de Direito da Família e de Direito Civil assisti com interesse. P. Pereira Coelho exclamou uma vez, causando algum escândalo, que tinha vergonha da nossa protecção civil. Não me escandalizei, porque me revejo naquelas palavras. Talvez P. Pereira Coelho tivesse oportunidade de fazer algo de positivo num governo que não fosse tão mau como o que agora está de saída – mas, nas circunstâncias que encontrou, que podia ele ter feito? Hoje mesmo, P. Pereira Coelho protestou a sua revolta pela escassez de apoios aos familiares de bombeiros mortos no combate a fogos e manifestou vontade de rever a legislação em questão. Já vai tarde, e ele é apenas secretário de Estado e não é ele quem tem o poder decisório – mas a sua atitude agradou-me.5. Mas, como referi, Aguiar-Branco e Pereira Coelho foram apenas excepções. Maria do Carmo Seabra foi a regra...