A Cinco Tons: "A biblioteca de sabão"

05-08-2010
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Num dos compartimentos da nossa “casa”, que servia de cozinha, sala de jantar e arrecadação, tinha eu a minha cama. Sobre a cama, pendurada da parede do lado da cabeceira, estava fixada a minha biblioteca, aquilo a que chamei a biblioteca de sabão. Biblioteca de sabão porque tinha-a feito a partir de tábuas de uns caixotes de sabão azul, obra que levou várias semanas a concluir, enquanto minha mãe pedia que arrumasse os “papéis” espalhados por aquela falta de espaço.
Claro que esta minha maneira de sentir as consequências de morar naquelas condições, não era partilhada nem talvez compreendida por meu pai – a sua escala de valores era outra.
Padeiro de profissão, escolarização e instrução bloqueadas ao nível do ensino primário, sem formação cívica geradora de apetências culturais, vivia com grande empenho para tentar alimentar a família – desde que o estômago estivesse satisfeito, o resto era secundário.
Momentos existiram em que a roda da fortuna criou condições materiais mínimas para a família poder aspirar a uma habitação minimamente condigna, mas não era essa a sua preocupação, tentava ganhar dinheiro, mas não tinha jeito para tal.

Esta é uma das “andanças” contada por Camilo Mortágua no seu livro “Andanças para a LIBERDADE”, VOLUME I 1934 – 1961, editado pela Esfera do Caos.


Num dos compartimentos da nossa “casa”, que servia de cozinha, sala de jantar e arrecadação, tinha eu a minha cama. Sobre a cama, pendurada da parede do lado da cabeceira, estava fixada a minha biblioteca, aquilo a que chamei a biblioteca de sabão. Biblioteca de sabão porque tinha-a feito a partir de tábuas de uns caixotes de sabão azul, obra que levou várias semanas a concluir, enquanto minha mãe pedia que arrumasse os “papéis” espalhados por aquela falta de espaço.
Claro que esta minha maneira de sentir as consequências de morar naquelas condições, não era partilhada nem talvez compreendida por meu pai – a sua escala de valores era outra.
Padeiro de profissão, escolarização e instrução bloqueadas ao nível do ensino primário, sem formação cívica geradora de apetências culturais, vivia com grande empenho para tentar alimentar a família – desde que o estômago estivesse satisfeito, o resto era secundário.
Momentos existiram em que a roda da fortuna criou condições materiais mínimas para a família poder aspirar a uma habitação minimamente condigna, mas não era essa a sua preocupação, tentava ganhar dinheiro, mas não tinha jeito para tal.

Esta é uma das “andanças” contada por Camilo Mortágua no seu livro “Andanças para a LIBERDADE”, VOLUME I 1934 – 1961, editado pela Esfera do Caos.

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