A Cinco Tons: 22 de Março de 1968: retrato de época

05-08-2010
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Foi num dia assim, há uma data de anos. Num 22 de Março. De um ano singular: os jovens franceses, fossem estudantes, operários ou simplesmente gente comum levantou-se em massa para encontrar as praias que sabiam estar sob as calçadas. Eu era novo de mais para estar entre eles. Lembro-me das fotos que por cá chegavam. Foi nesse ano que entrei no Liceu de Beja. Conheci depois muita gente que tinha vivido aquela festa. Uma das maiores que Paris, uma cidade de muitas libertações, e a França viveram. Uma parte relevante de Maio de 1968 começou a 22 de Março, quando se constituiu o movimento estudantil, claro está, do 22 de Março, na Universidade de Nanterre. Dizem os livros que era um movimento de inspiração libertária, que tinha Daniel Cohn-Bendit (hoje eurodeputado, mas a História tem destas coisas) como principal "testa de cartaz" e que começa por ocupar as instalações universitárias por um período prolongado.O reitor fecha Nanterre e o movimento dirige-se para a Sorbonne. É o princípio de Maio de 68 e o movimento 22 de Março dissolve-se no movimento geral de contestação que percorre a França de uma a outra ponta, fazendo que todos os sonhos se tornassem possíveis. Aliás, 1968 foi um ano fértil em searas de esperança: na Polónia, o movimento estudantil mostrou o que valia; na Checoslováquia foi tempo de Primavera; nos Estados Unidos estava no auge o movimento anti-guerra no Vietname; em Itália, houve greves e manifestações de grande envergadura, protagonizadas por jovens estudantes e jovens operários. Em Portugal o movimento anti-guerra colonial crescia também nas universidades e nas principais cidades.Seria bom que os jovens portugueses, que se preparam para celebrar mais um inócuo Dia do Estudante, na próxima quarta-feira, olhassem para as bandeiras que costumam levantar e se interrogassem, de facto, sobre se os seus sonhos e as suas lutas não poderiam ter outro significado e outros objectivos. Por exemplo, o de querer transformar o mundo assumindo em pleno que é proibido proibir. Ou melhor ainda, como se dizia, nas ruas de Paris: a nova sociedade nascerá no dia em que o último burocrata for enforcado nas tripas do último capitalista. É uma força de expressão, claro, mas que diz muito do que se quer e do que se não quer como sociedade para viver.


Foi num dia assim, há uma data de anos. Num 22 de Março. De um ano singular: os jovens franceses, fossem estudantes, operários ou simplesmente gente comum levantou-se em massa para encontrar as praias que sabiam estar sob as calçadas. Eu era novo de mais para estar entre eles. Lembro-me das fotos que por cá chegavam. Foi nesse ano que entrei no Liceu de Beja. Conheci depois muita gente que tinha vivido aquela festa. Uma das maiores que Paris, uma cidade de muitas libertações, e a França viveram. Uma parte relevante de Maio de 1968 começou a 22 de Março, quando se constituiu o movimento estudantil, claro está, do 22 de Março, na Universidade de Nanterre. Dizem os livros que era um movimento de inspiração libertária, que tinha Daniel Cohn-Bendit (hoje eurodeputado, mas a História tem destas coisas) como principal "testa de cartaz" e que começa por ocupar as instalações universitárias por um período prolongado.O reitor fecha Nanterre e o movimento dirige-se para a Sorbonne. É o princípio de Maio de 68 e o movimento 22 de Março dissolve-se no movimento geral de contestação que percorre a França de uma a outra ponta, fazendo que todos os sonhos se tornassem possíveis. Aliás, 1968 foi um ano fértil em searas de esperança: na Polónia, o movimento estudantil mostrou o que valia; na Checoslováquia foi tempo de Primavera; nos Estados Unidos estava no auge o movimento anti-guerra no Vietname; em Itália, houve greves e manifestações de grande envergadura, protagonizadas por jovens estudantes e jovens operários. Em Portugal o movimento anti-guerra colonial crescia também nas universidades e nas principais cidades.Seria bom que os jovens portugueses, que se preparam para celebrar mais um inócuo Dia do Estudante, na próxima quarta-feira, olhassem para as bandeiras que costumam levantar e se interrogassem, de facto, sobre se os seus sonhos e as suas lutas não poderiam ter outro significado e outros objectivos. Por exemplo, o de querer transformar o mundo assumindo em pleno que é proibido proibir. Ou melhor ainda, como se dizia, nas ruas de Paris: a nova sociedade nascerá no dia em que o último burocrata for enforcado nas tripas do último capitalista. É uma força de expressão, claro, mas que diz muito do que se quer e do que se não quer como sociedade para viver.

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