A Cinco Tons: A bota não bate com a perdigota

05-08-2010
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Não fui à manifestação porque estive a trabalhar no sábado. Caso contrário era possível que tivesse ido. Mas assisti durante todo o dia às intervenções via rádio sobre os grupos que daqui e dali se dirigiam para Lisboa, como depois assisti em directo na SICN ao arranque da manifestação, ao essencial dos discursos e ao discurso de Carvalho da Silva na íntegra. E fiquei com a mesma opinião do wehavekaosinthegarden: tratou-se de um passeio pela Avenida da Liberdade, muito participado, é certo, mas duma total inocuidade política, desde as palavras de ordem, até ao tom dos discursos que, todos eles, pareciam destinados a "melhorar o capitalismo" e nunca a "mudar a vida". Diz o Miguel Sampaio que "a maior intervenção, a mais importante, foi a presença de toda aquela gente a gritar JÁ BASTA!". Mas há alguma dúvida de que existe um enorme descontentamento na sociedade portuguesa? Era preciso esta manifestação para se saber isso? Uma manifestação destas deveria ter servido para apontar saídas políticas e sociais, de efectiva ruptura com o "status quo", num momento em que a maioria das pessoas contesta o governo e considera justamente os mais poderosos, os que sempre governaram, como os causadores da crise que o país atravessa. E o que fez Carvalho da Silva? Um discurso, como um dos comentaristas diz, "sem chama" e dizendo que a CGTP ia usar todas as formas de luta permitidas pela constituição. Foi para isto que convocaram a manifestação? Só faltou dizer que iam fazer um abaixo-assinado a pedir ao governo para ser mais "bonzinho" e praticar "uma política mais de esquerda". Eu ouvi na reportagem da SIC Noticias uma boa meia dúzia de manifestantes, desempregados, desesperados, dizendo cobras e lagartos da situação politica e social que os levou à situação em que estão, radicais no que consideravam ser a saída para a crise, e depois ouvi Carvalho da Silva num dos discursos mais "soft" de que tenho memória. Alguma coisa aqui não bate bem. Nem a bota bate com a perdigota, nem a perdigota com a bota.Não duvido que tenha sido uma grande manifestação, em número de manifestantes e enquanto experiência de vida, de convívio e de camaradagem para muitos dos que lá foram e desfilaram. Não terá sido para todos porque já ouvi várias críticas a pessoas que lá foram e que vieram desiludidas pela falta de combatividade. Ainda há pouco estava a falar com um dos habituais participantes neste blog, via messenger, e o GUGAS dizia-me que "24 horas depois já ninguém fala da manif. Parece que foi um passeio de sábado"E, de facto, o que me parece é que foi uma manifestação inócua de que meia dúzia de horas depois já quase ninguém falava e que mal marcou a agenda política. Será que a Grécia fica assim tão longe da Avenida da Liberdade?Elias Matias 30 Maio, 2010 23:25


Não fui à manifestação porque estive a trabalhar no sábado. Caso contrário era possível que tivesse ido. Mas assisti durante todo o dia às intervenções via rádio sobre os grupos que daqui e dali se dirigiam para Lisboa, como depois assisti em directo na SICN ao arranque da manifestação, ao essencial dos discursos e ao discurso de Carvalho da Silva na íntegra. E fiquei com a mesma opinião do wehavekaosinthegarden: tratou-se de um passeio pela Avenida da Liberdade, muito participado, é certo, mas duma total inocuidade política, desde as palavras de ordem, até ao tom dos discursos que, todos eles, pareciam destinados a "melhorar o capitalismo" e nunca a "mudar a vida". Diz o Miguel Sampaio que "a maior intervenção, a mais importante, foi a presença de toda aquela gente a gritar JÁ BASTA!". Mas há alguma dúvida de que existe um enorme descontentamento na sociedade portuguesa? Era preciso esta manifestação para se saber isso? Uma manifestação destas deveria ter servido para apontar saídas políticas e sociais, de efectiva ruptura com o "status quo", num momento em que a maioria das pessoas contesta o governo e considera justamente os mais poderosos, os que sempre governaram, como os causadores da crise que o país atravessa. E o que fez Carvalho da Silva? Um discurso, como um dos comentaristas diz, "sem chama" e dizendo que a CGTP ia usar todas as formas de luta permitidas pela constituição. Foi para isto que convocaram a manifestação? Só faltou dizer que iam fazer um abaixo-assinado a pedir ao governo para ser mais "bonzinho" e praticar "uma política mais de esquerda". Eu ouvi na reportagem da SIC Noticias uma boa meia dúzia de manifestantes, desempregados, desesperados, dizendo cobras e lagartos da situação politica e social que os levou à situação em que estão, radicais no que consideravam ser a saída para a crise, e depois ouvi Carvalho da Silva num dos discursos mais "soft" de que tenho memória. Alguma coisa aqui não bate bem. Nem a bota bate com a perdigota, nem a perdigota com a bota.Não duvido que tenha sido uma grande manifestação, em número de manifestantes e enquanto experiência de vida, de convívio e de camaradagem para muitos dos que lá foram e desfilaram. Não terá sido para todos porque já ouvi várias críticas a pessoas que lá foram e que vieram desiludidas pela falta de combatividade. Ainda há pouco estava a falar com um dos habituais participantes neste blog, via messenger, e o GUGAS dizia-me que "24 horas depois já ninguém fala da manif. Parece que foi um passeio de sábado"E, de facto, o que me parece é que foi uma manifestação inócua de que meia dúzia de horas depois já quase ninguém falava e que mal marcou a agenda política. Será que a Grécia fica assim tão longe da Avenida da Liberdade?Elias Matias 30 Maio, 2010 23:25

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