A Cinco Tons: O ónus da prova dos políticos

05-08-2010
marcar artigo


José Sócrates alcançou, no início do seu mandato, quer no PS quer no governo, níveis de simpatia e de confiança que não são fáceis de atingir e que se traduziram num estado de graça relativamente prolongado.Essa situação elevou os níveis de expectativas dos portugueses, porque se criaram as condições “políticas de governabilidade”, necessárias a que o PS, pela primeira vez, pudesse pôr em prática o seu programa e a sua política, sem grandes limitações, uma vez que tinha maioria absoluta na Assembleia da República.A meio da legislatura anterior, muito antes de ser declarada a crise internacional, José Sócrates começou a mostrar dificuldades em resultado: em primeiro lugar, da política do seu governo, que pouco se distinguiu da dos governos assumidamente de direita e se revelou incapaz de resolver os principais problemas do país; depois, do seu estilo autoritário, prepotente, pouco dado ao diálogo e à negociação e com dificuldade de lidar com a crítica, principalmente quando feita através da comunicação social; e, finalmente, dos inúmeros casos em que se viu enredado e dos quais nunca se conseguiu desvincular, porque nunca os conseguiu explicar satisfatoriamente. A crise internacional, que, numa primeira abordagem, tentou negar para, depois, usar como bode expiatório de todos os males e insuficiências da sua governação veio por a nu a sua inconsistência, banalizar a sua personagem e pôr em causa a sua credibilidade e, até, o seu carácter.O estado de graça dos seus governos foi caindo e os níveis de simpatia e de confiança foram-se esboroando até ao ponto de poucos serem os que poriam hoje as mãos no lume por ele.Por mais declarações formais e institucionais que faça, como a de ontem à noite, repetindo o que já disse muitas vezes, os níveis de confiança não serão recuperados se não provar cabalmente que as suspeitas que sobre ele recaem não têm razão de ser e que nem ele, nem familiares e amigos seus, nem o PS foram, em qualquer dos casos, beneficiados.Ao contrário do que acontece nas restantes situações, na política cabe aos políticos provar que são sérios e honestos quando sobre eles recaem suspeitas e não à opinião pública (nem à publicada) provar estas.Se Sócrates não quiser entender isto e insistir em mostrar-se acima de quaisquer suspeitas tem os seus dias de líder político contados. É apenas uma questão de encontrar o momento mais oportuno para apeá-lo. Este contra-ataque que encetou nos últimos dias e que vai prolongar por mais alguns de nada lhe valerá e até pode contribuir ainda mais para o seu desgaste, porque revela não querer assumir a necessidade de reverter para si o ónus da prova. O seu fim poderá ser penoso para si e para os que o têm apoiado.


José Sócrates alcançou, no início do seu mandato, quer no PS quer no governo, níveis de simpatia e de confiança que não são fáceis de atingir e que se traduziram num estado de graça relativamente prolongado.Essa situação elevou os níveis de expectativas dos portugueses, porque se criaram as condições “políticas de governabilidade”, necessárias a que o PS, pela primeira vez, pudesse pôr em prática o seu programa e a sua política, sem grandes limitações, uma vez que tinha maioria absoluta na Assembleia da República.A meio da legislatura anterior, muito antes de ser declarada a crise internacional, José Sócrates começou a mostrar dificuldades em resultado: em primeiro lugar, da política do seu governo, que pouco se distinguiu da dos governos assumidamente de direita e se revelou incapaz de resolver os principais problemas do país; depois, do seu estilo autoritário, prepotente, pouco dado ao diálogo e à negociação e com dificuldade de lidar com a crítica, principalmente quando feita através da comunicação social; e, finalmente, dos inúmeros casos em que se viu enredado e dos quais nunca se conseguiu desvincular, porque nunca os conseguiu explicar satisfatoriamente. A crise internacional, que, numa primeira abordagem, tentou negar para, depois, usar como bode expiatório de todos os males e insuficiências da sua governação veio por a nu a sua inconsistência, banalizar a sua personagem e pôr em causa a sua credibilidade e, até, o seu carácter.O estado de graça dos seus governos foi caindo e os níveis de simpatia e de confiança foram-se esboroando até ao ponto de poucos serem os que poriam hoje as mãos no lume por ele.Por mais declarações formais e institucionais que faça, como a de ontem à noite, repetindo o que já disse muitas vezes, os níveis de confiança não serão recuperados se não provar cabalmente que as suspeitas que sobre ele recaem não têm razão de ser e que nem ele, nem familiares e amigos seus, nem o PS foram, em qualquer dos casos, beneficiados.Ao contrário do que acontece nas restantes situações, na política cabe aos políticos provar que são sérios e honestos quando sobre eles recaem suspeitas e não à opinião pública (nem à publicada) provar estas.Se Sócrates não quiser entender isto e insistir em mostrar-se acima de quaisquer suspeitas tem os seus dias de líder político contados. É apenas uma questão de encontrar o momento mais oportuno para apeá-lo. Este contra-ataque que encetou nos últimos dias e que vai prolongar por mais alguns de nada lhe valerá e até pode contribuir ainda mais para o seu desgaste, porque revela não querer assumir a necessidade de reverter para si o ónus da prova. O seu fim poderá ser penoso para si e para os que o têm apoiado.

marcar artigo